quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Memórias 6

Introdução e Prefácio (v.memórias 1)
Amadora
11-4-1990
« Faltam ainda apurar os votos »
Vê-se claramente que a frase está errada, por infringir as regras que a Sintaxe impõe.

Aqui temos a lei: o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa, o que não se verifica na frase inicial, pois tem o verbo (faltam) no plural, e o sujeito (apurar) no singular. O termo «votos» não é sujeito, mas complemento directo de «apurar».
Outro arranjo diferente:

faltam ainda os votos por apurar.
Agora, está correcta, porque o sujeito é "votos"
Atendamos às frases seguintes: falta lembrar os que já morreram; falta ainda contar os ausentes; falta premiar os melhores alunos.
Faltam os meios , para vencermos; falta ordenar as coisas, para tudo correr bem
Nota
O infifnitivo impessoal a servir de sujeito exige que este fique no singular: falta distribuir os bens, por maneira equitativa.
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Amadora
12-4-1990
Ontem, já pela tardimha, deparou-se-me alguém, que falou e discorreu, com grande eloquência, acompanhando os dizeres com lágrimas sentidas.
É agente funerário, mas ao presente, já sócio da Firma e pessoa conceituada,
Orçará pelos 4o, aproximadamente.

Falava ele, a respeito do sogro, que falecera, havia 12 meses. Pelo tom de voz e exprssão do rosto, verifiquei logo ser um caso
especial o que então ocorria. Não me enganei, porque as lágrimas
sentidas vieram confirmá-lo Palavras amistosas, falas enternecidas, afirmações veementes, tudo contribuía para avolumar a funda saudade bem como a tristeza que a morte do sogro lhe havia originado.
Um caso de pasmar!

Nunca, em tempo algum, uma palavra mais alta, leve pormenor que fosse discordante, qualquer atitude que viesse desdizer!!
" E foram 10 anos que vivemos juntos, na mesma casa!"
Este facto curioso encheu-me logo de profunda admiração,
gerando enorme pasmo!
Numa família, basta um membro com prestígio igual e coração generoso, para tudo se afinar, criando ambiente, em que
os elememtos sejam felizes
*****

Amadora
13-4-1990
À boca do Metro ( Saldanha)
Aproximava-se a hora de virem por mim, pois fora combinado que, às 9 e 30, chegaria ali um meio de transporte.
Aqui em Lisboa, distrai-se a gente com muitíssimas coisas,
por ser, na verdade, um meio cosmopolita, onde nada falta.

Chegando ao local, antes da hora. olhava curioso para os
jornais, afim de passar o tempo de sobejo, sem haver tédio. Nisto,
como se fora nota discordante, ouço uma voz, arranhante e persistente, que dizia, com entoação e bastante arreganho: Anda
hoje a roda! Só restam duas! Há horas felizes! É de tentar!

O indivíduo tinha bom fôlego e não desistia.
Eu, porém, é que não aguentava!
Sempre o mesmo! Um berreiro infernal! Que grande maçada!
Quando cessará esta enorme vergonha de carácter nacional?!
Somente ruídos! Só poluição!

Por que não imitar os povos civilizados?! Quem deseja
comprar não terá olhos, para ver as cautelas?!
Havia, no entanto, solução para o caso: sair dali!
Mas como fazê-lo. se posteriormente não iam encontrar-me?!

Amadora
14-4-199o
Visita ingrata
Não foi esta, decerto, a primeira vez que se avistou comigo.
Haverá três anos que o facto ocorreu, permanecendo juntos,
por meia semana.
Avalio muito bem quanta honra e bem-estar proporcionam,.às vezes, determinados hóspedes. Tanto assim é,
que desejamos ao vivo, se repitam em breve atitudes semelhantes.

A que me ocupa, agora, não pertence a este número, porque, em vez de alegria, bem-estar e ventura, me encheu de tristeza, causando nervos e insegurança.

Não se trata de pessoas, bem entendido, ao menos por agora.
Foi uma dor, assanhada e violenta que me veio da coluna. É um belo petisco! Nem aos inimigoa eu desejo tal coisa! Basta, na verdade, pequeno movimento, em qualquer parte do corpo mortal
e aí tenho logo essa agulha ponteaguda a verrumar sem visos de piedade, a espinal-medula!

Não há posição que traga repouso. De corpo estendido, vai-se aguentando, mas o problema reside, cabalmente, no acto de
levantar. Sem ajuda estranha, não há possibilidade!
Começou no dia 12, pelas 10 e 30. É, pois o terceiro dia, mas sinto melhoras.
Lá diz o povo: O hóspede e a lebre, ao terceiro dia fede.

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Amadora
15-4-1990
Ressurreição de Jesus Cristo
Televisão e Imprensa alardearam forte, aos quatro ventos, o
facto assombroso que o mundo presenciou, ficando estupefacto:
a descida na Lua.
Não quero eu negar a grandiosidade e a mesma importância
que tal caso apresenta. não é esse o meu intento.
O que desejo apenas é fazer o paralelo entre esse caso e a
Ressurreição do Senhor Jesus.

Um corpo morto e sepultado, ao longo de três dias, erguer-se do
túmulo e exercer as funções, próprias do seu múnus!... Ninguém o fez jamais nem é possível chegar a consegui-lo.

Ficou assim demonstrada a sua Divindade. Só Deus tem poder para restaurar o que a morte destrói. É, pois, digna de crédito a sua mensagem. Vale a pena servir a um Senhor tão excelso, grande e belo, indulgente e amoroso.

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Amadora
16-4-1990
Aplicação

Qualquer discípulo não é mais que o Mestre. Ora bem. Se Este
sofreu, sendo embora inocente, ninguém pode furtar-se a levar a sua cruz.. Seria um contra-senso, enorme estupidez.

O prémio do Céu alcança-se lutando e fazendo sacrifício.
Quanto há de belo é fruto de renúncia que gera o sofrimento.

O provérbio latino de todos conhecido. vem a talho de foice:
Per angusta, ad augusta ( pelos espinhos, à glória). A tradução é
de Bocage.
Há outra frase latina também consagrada: Sine efusione
sanguinis, non est redemptio.( sem derramamento de sangue, não
há redenção)
Tudo isto me diz bem claro que tenho de levar com mita
paciência a cruz da vida, afim de alcançar a bem-aventurança.
-.
*****
Amadora
17-4-1990
Uma Carta
De Guimarães acaba de chegar, como outras do género vieram de lá. O Notário da cidade traz-me alegria, derramando sobre mim vivas ondas de luz e intenso calor.

Desta vez, é a sua reacção â leitura do meu livro, A Segunda Noite. Como vem positiva a sua reacção, insuflou-me coragem e doce bem-estar.
Isto serve de alento e abre-me a porta, afim de lançar-me em nova arrancada.
Não decidi, mas há quem sugira o Diário seguinte - 1976.
Será, realmente de tomar em conta? Estou indeciso
Pensava eu que seria melhor um tipo diferente, para variar: conto, novela; romance ou crítica, ensaio, teatro...memórias.
Como fazer?
Vou ponderar, sobre o que há-de seguir-se!

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Amadora
18-4-1990
Foi esta manhã, no Largo do Calvário, lá na capital
Ela e ele seguiam a par, fumando os dois e mostrando claro, nos
seus ademanes, sinais de confiança e muito à-vontade.

Andarão, talvez, pelos 20 e poucos.
Será um casalinho? Tratar-se-á, por ventura, de namoradinhos,
preparando cuidadosos um feliz matrimónio?

O que posso desejar-lhes é muito boa sorte e filhos amigos.
Entretanto, faço desde já um reparo sério: não acho bem que fumem os dois nem sequer um deles. Porquê?

As razões são muitas. Vejamos algumas.
Na época actual, reveste inportância o factor económico: é basilar
Quanto menos despesas, maior garantia, para triunfar na vida.
Que é que representam dois fumadores , no mesmo lar?! E se os filhos, levados pelo exemplo, fizerem o mesmo?!
Notemos uma coisa: os filhos já saem drogados do ventre materno!
Apesar de tudo, o que mais agrava a situação é a ruína física dos filhos infelizes
Não será um problema de alta gravidade e até de consciência?!
É assim que se prepara o futuro dos filhos?!

*****'
Amadora
19-4-1990
Cá se fazem, cá se pagam!

Os grandes senhores da União Soviética, por suma ambição e
declarada inveja, retaliação e vil despotismo, fizeram sossobrar
o Império Português, que estávamos preparando, com muito senso, lentidão e prudência , para gerir por si o próprio destino.

Houve ingerência nos assuntos alheios , o que é deveras injusto, inadmissível e contra os direitos que assistem desde sempre a todas as nações.
Como resultado, veio o que sabemos: desmembramento do mundo lusófono, administrado por nós, assassínios e pilhagem, por toda a parte; anarquia geral; liberdade inteira para os malfeitores; entrega de tudo, sem condições; guerra civil que vigora ainda, levando à ruína os vários povos, quer em Angola quer em Moçambique ou ainda em Timor.

Numa palavra, autêntico inferno, para todas as raças.
Miséria , fome... descrédito!!
Quem tirou vantagens da bárbara acção, que a História Imparcial há-de condenar, devido à maneira como foi feita?!

Não foram certamente os povos do Império que sucumbem
ao ferro, à fome e à pilhagem!
O Leste e os satélites e talvez mais alguém é que sabem do caso!
Ora, como isso foi um crime e a Divina Providência não dorme jamais, veio em breve a resposta

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Amadora
20-4-1990 (cont,).
A URSS, afinal de contas, amordaçou vários povos, que eram independentes e viviam a seu lado, com leis e regimes
aceitáveis e bons. Alguns dentre eles viviam o Cristianismo, que ali fora proibido, com todo o rigor.

Além disso, tinham língua própria, costumes diferentes e nada em
comum com a gente da mordaça.

Com estes povos fez ela um Império, extenso e colossal, usando para tanto o enorme poderio que as suas riquezas lhe
proporcionavam. bem como por igual o terrível aparelho de carácter militar.
Humanidade e respeito? Dignidade humana e compreensão?
Isso tudo, afinal. foi letra morta! A lei do mais forte, a voz do canhão, o império da força, medo e repressão eram , na verdade, o pão de cada dia!

Bom. Chegou para todos o momento solene da liberdade...
a hora da vingança... o tempo dos ajustes.
Por que se ergue então contra esses direitos?! Porquê?! Nós,
Portugueses fazíamos mal? Ela faz bem?! Moral diferente para casos iguais?!
A rigor, nem são bem iguais!, uma vez que, no Império Português, não havia escravidão. Respeitava-se a fundo o credo alheio e assim as tradições dos vários povos, suas crenças e ritos.
Cada um deles pensava como queria, não indo contra as leis,que eram humanas..

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Amadora
21-4-1990
Arejar
Esta palavra deriva de "ar."Juntando a ela o sufixo ejar que designa aqui acção frequente, surge arejar.

Trata-se, pois, de palavra derivada por sufixação.
Não se pergunta aqui de que acção se trata, pois sabemos claro haver secagem, exposição, movimentação,substituição, comunicação e o mais. Por meio do ar, conseguimos tudo isto.

Entre as formas de matéria ( solo, ar, água, animais e plantas), ocupa o ar uma posição de relevo. Pois não é ele que veicula o
oxigénio, de que os seres vivos não podem prescindir, a todo
momento?!
Que seria de nós. sem este elemento?! E se tivéssemos de
comprá-lo?! Atingiria preços a que só os ricos poderiam chegar!
Deus- Providência resolveu-nos o caso, sem que lhe
pedíssemos, estendendo o benefício a ricos e pobres!

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Amadora
22-4-1990
Entremos desde já pela secagem

Secar alguma coisa é tirar-lhe a humidade ou então enxugar.
Secam-se os figos, expondo-os ao Sol e também ao ar.
O mesmo sucede à roupa de uso ou a qualquer objecto que se
encontre molhado.
Por demais sabemos nós que, em dadas circunstâncias, a
humidade é nefasta.
O calor, portanto seca os objectos, permitindo neles a evaporação, mas se não fosse o vento ( ar em movimento ) a
acção debilitava-se, podendo até ser neutralizada
Desde que o ar fique saturado, cessa desde logo a evaporação
É neste passo que tem vez o ar. Em seu movimento, arrasta
para longe as camadas saturadas, permitindo assim a continuação da referida secagem.
Diríamos, pois, que é um bom auxiliar do próprio Sol, nas
acções mencionadas.
Verifica-se bem o caso entre mãos, quando temos ao Sol a
roupa lavada.
Se não fizer vento,leva imenso tempo e não fica bem enxuta.
Sendo frouxo o calor, mas auxiliado por algum vento, muda
logo tudo como por encanto!
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Amadora
23-4-1990
A secagen referida obtém-se, exactamente, pela exposição. Quanto mais vasta for a superfície, exposta ao Sol,
maior decerto o efeito alcançado, mas a exposição não tem
apenas esse fim em vista.

Expõe-se ao ar a roupa de uso, ainda não molhada, para
sair o mau cheiro; abrem-se as portas e assim também as janelas
com o mesmo fim; minguam-se ainda vestidos e saias o que faz a
gente nova, com enorme desaforo.

A diferença, no tocante à pressão, movimenta o ar, permitindo a
este que purifique o meio ambiente, substituindo o ar pobre por
outro enriquecido e chegando aos objectos que se encontrem expostos.
O contacto com o ar (comunicação), faculta aos homens. animais e plantas a conservação da própria vida, fornecendo oxigénio.
De tudo isto se vê que a exposição de braços e pernas que as
gaiatas desnudam fica assim um tanto fora das razões, acima indicadas. Ou será também, para evitarem o mau cheiro do corpo?!
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Amadora
24-4-1990
O Marcos António! Um ano e pouco meses!
O que ele já faz e deixa perceber! Encantou-me o petiz.

A Maria de lurdes (Milu) que foi aluna em Manteigas e
exerce o magistério nesta cidade, crê-se ditosa bem como seu marido. Os tios do 3º navegam também, nas mesmas águas.
Se eles não têm filhos! Pois o meúdo é aquele ser por quem Deus falou!
Para a Maria Catarina, que anda pelos 9, caiu ele do Céu.
Sozinha como era, vivia bem triste e desconsolada. Agora, porém, as coisas mudaram e de forma radical!
Brincam os dois, estendem-se ao comprido, no próprio soalho... cavalitam em seguida... eu sei lá! Fazem cabriolas rolam ditosos nas alcatifas. Às vezes, parecem diabretes em
carne humana!
O Marcoa António já liga o video, a televisão e o próprio radio. Entretanto, sendo alto o som, foge com medo!
Em casa da Milu, tudo agora converge para o menino-prodígio.
Deus o conserve e faça feliz!

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Amadora
25-4-1990
Hoje é feriado
Manifestação de enorme regozijo; cravos na lapela; foguetes e música! Discursos inflamados também não faltaram!
A mim, a rigor, pouco isso me diz! "Coração ferido não
louva amigo!"
Roubaram-me os bens; matarm entes queridos; vejo dizimar os povos do Império, com sanha e crueldade!
Observo constanternado que há miséria em Portugal; enorme atraso, analfabetismo, viver infra-humano.

Que dizem as barracas? Que revela também a desnutrição?!
Tudo isto e o mais consequência directa da tal Revolução que só
aproveitou sos felizes comunistas!
Por que deixou a tropa o leme do País nas mãos dessa gente?!
Se fossem outros por timoneiros , o 25 de Abril seria um triunfo, levando-me a aplaudi-lo, com toda a efusão! Assim,
minguado louvor é o que hoje lhe tributo

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Amadora
26-4-1990
Lá por Benfica
Vive ainda enclausurado e falam já dele! É o Pedro Manuel! Caso
interessante como se deixa ver!
Sendo primogénito, gera cuidados, funda ansiedade e ternura sem igual. Quem mo disse foi o pai, o amigo Vítor, da Agência Aurindo.
É um jovem florescente, incansável e honesto que, ao vir da tropa, logo se enamorou da simpática Isabel.
São ambos felizes e põem sua mira no lar adorado, onde o
Pedro Manuel irá surgir, dentro em pouco tempo!
Gostei de ouvi-lo, assim ardoroso, apaixonado, enternecido!
Por este andar, aos 40 anos ou coisa assim, podem ser avós.
A vida continua, e o lar de sonho é, na verdade, o grande incentivo que alenta a existência, lhe dá sentido e a torna desejável.

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Amadora
27-4-1990
Há quanto já?

Escrevo o meu Diário, há longo tempo! Quase desde sempre, embora, a princípio o fizesse realmente sem regularidade.
Avançando o tempo, alterou-se a frequência, cada vez mais, em
sentido crescente, até que por fim, já era em pleno, em 1967.

Disse-o já, por mais de uma vez: houve dois anos ( 87 e 88)
em que fiz outra coisa, retomando o fio, em 89. O ano em curso irá ser talvez o último deles.
Se Deus me der saúde, consagrarei então as minhas horas livres a boas leituras e, além disso, a outros géneros.
É este um plano que está imaduro. Apesar de tudo, vai-se esboçando em linhas gerais.

Entrevistas polémicas com um ex-Padre? A ideia aclara-se e vai tomando corpo. Veremos o que dá. Caso siga em frente, poderá ir além de 1 volume.
Queria, a valer, dar-lhe envergadura e expor o que sinto,
baseado na experiência como em fenómenos que as Ciências humanas estão revelando, afim de que as gentes se apercebam disso.
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Amadora
28-4-1990
Hoje, sem falta, vou fazer uma visita, com muito
empenho e certo alvoroço. É que eu, realmente, vivi em Pinhel, durante sete anos, dando aulas em barda, no Externato da cidade e já, antes disso, no chamado Colégio de João Pinto
Ribeiro.
Mediou esse tempo entre 50 e 57.
Faz-me lembrar o soneto de Camões "Sete anos de pastor Jacó servia", embora os motivos fossem diferentes.
Bom. A verdade incontestável é que eu fiquei preso e jamais a saudade me deixou alguma vez.
Em seguida, fui para Manteigas, distanciando-me bastante e perdendo o contacto com os factos anteriores. Isto
criava no peito certo vazio que me deixava anelante e harto
saudoso.
Seria meu desejo estreitar relações, pelo menos algumas,
para dar cumprimento a vários anseios. Entretanto, os anos correrm, chegando também inúmeros cuidados, e a minha ansiedade esbateu-se um pouco, embora, a rigor,jamais se extinguisse.
Acontece, pois, um facto agradável.
Augusta Ferreira exerce o magistério, aqui na cidade, há já 19
anos. E eu sem saber!
Foi a Milu, também aluna em Manteigas, quem a descobriu,
Ora, vão passando já umas 4 dezenas Não era boa altura, para troca de impressões e matar saudades?!

Amadora
29-4-1990
O Abril em Portugal ganhou foros de cidade.
Quase proverbial tornou-se famoso, atingndo limites, nunca
supostos. Podemos afirmar que ninguém desconhece o encanto e a beleza deste céu maravilhoso... deste clima sem igual!
Os povos do Norte entram em delícia, pois os seus países não gozam deste bem. que a Divina Providência legou aos Portugueses, Levados por tal facto, vêm turistas de sítios remotos, para esquecer, neste belo rincão, o destempero da neve importuna, os arrepios do gelo constante, o frenesmi de
ventanias molestas.
Outros ainda resolvem ficar, olvidando seus lares, aonde vão apenas, de raro em raro.
Até os Espanhóis, sobretudo os da Galiza, que são mais portugueses do que muitos julgarão, se lançam em cheio nesta faixa atlântica., abençoada por Deus.

O ano corrente, embora o tempo não fosse ideal, teve amostras risonhas que não podem olvidar-se. Houve, de facto. algumas quezílias, mas esses contras fizeram realçar os momentos deleitosos que Abril nos trouxe.

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Amadora
30-4-1990
Serão de 29

Pelas 17 horas ou um pouco mais, já eu subia a ignorada Avenida, Combatentes Lusos da Grande Guerra, para só me deter, em frente da cifra 43, 3º Esquerdo.

Era a primeira vez que trilhava aquele piso e fazia-o realmente, por uma tarde chuvosa, acompanhada a trovões. Urgia, pois, acelerar a marcha, afim de livrar-me de muitos incómodos.
Uma vez localizado o prédio em causa, certifico-me em
breve do botão a premir.: 3º Esquerdo. A resposta em vista não se fez esperar, dado que a porta da entrada me ofereceu passagem, com muita presteza..

Penetro eu logo, fugindo à chuva e, como ia fatigado, olhei em volta, não houvesse acaso algum elevador. Entretanto, nada me dizia que ele existisse.
Lembro-me então de que, provavelmente, havia só três andares, o que não obriga a montar elevador.

O remédio, portanto, era logo subir, não atendendo aos protestos da coluna. Reajo, pois , e não sinto fadiga. Levava-me o desejo que tinha ali asas, para voar célere.
Ao fim do 2º, olho para cima, e vejo prestesmente a porta já aberta, enquanto o rosto amigo da Agusta Ferreira
se abria em sorriso.
Havia 4o anos que a vira em Pinhel, pela primeira vez.

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Amadora
1-5-1990
Rente a 4o anos é já muita coisa, na existência de alguém. Foi, realmente, em 50, que deixei a Guarda,
( Outeiro de S, Miguel), para exercer o cargo docente, na
cidade fronteiriça, que me foi albergando, ao longo de sete
anos.
Sendo asim, havia muito a contar, relembrando o passado. A talho de foice, vêm logo cenas, ocorridas nas aulas: classificações e vultos amigos, alguns dos quais a morte já levou.
Neste dialogar que parecia de facto não ter já fim, levámos boa parte do agradável serão.
Não faltaram igualmente pormenores variados, sobre factos ulteriores, que foram decorrendo. ao longo de 4 décadas.
Por sua parte, o José Marques a quem a hospedeira unira seu destino, proporcionava achegas de muta valia, pois
havia estudado, já no Fundão, já depois na Guarda, lugares saudosos que eu timha percorrido, alguns anos antes.

Desta maneira, os assuntos desdobravam-se, uma vez que as pessoas eram, em geral, conhecidas de ambos.
Para concluir, veio leve refeição, muitíssimo variada, para rematar o alegre convívio que logo prometemos se
repetiria, num futuro próximo.

*****
Amadora
2-5-1990
Uma Carta

Alguém conhecido fez ontem chegar uma carta inesperada.
Melhor diria, talvez, novas inesperadas, ao menos parte delas.

Efectivamente, uma simples carta não é surpresa, tratando-se
claro está, de pessoas amigas. Pedem-me ali que leia também
as folhas anexas e diga, por fim, alguma coisa de meu.

Se bem interpretei, o que não acho fãcil, há grande solidão e muitas carências, de natureza afectiva. Isto me espanta, uma
vez que a pessoa, embora viúva, tem um casalinho.
Não basta à mãe absorver-se nos filhos e fazer deles o único objectivo da sua existência?!
Em teoria, assim parece. Os factos, porém, dizem que não.
Onde acharemos a causa disto? É exactamente o que proponho achar, embora à distância, baseando-me apenas em dados obtidos, através da missiva.
Antevejo duas causas que pretendo analisar, logo que haja ocasião: 1. descoberta de um terceiro; 2.mentalidade nova que em tudo se afasta dos padrões habituais, nada ligando ao que dizem os mais velhos

*****
Amadora
3-5-1990
Novo Encontro
::
Este, afinal, já fora combinado: por esta razão, não foi surpresa. De facto, havia un assunto que estava pendente e
requeria a presença do meu amigo Serra, a quem por norma
uso recorrer, em questões momentosas.

Trata-se, claro está, de A Segunda Noite, livro-diário, que saiu a lume e não tem publicidade.que o revele ao público. Ora, sabemo-lo bem! À margem disto, não podem comprá-lo! É como tudo. Para amar é preciso conhecer.

Quem lançou a ideia foi . como é hábito, esse meu amigo: uma entrevista, no Jornal de Manteigas que vai para a
França, Estados Unidos, Alemanha e Bélgica e outras regiões.
Com uma tiragem de 5ooo exemplares, pode ser uma cartada, bastante proveitosa.
É um Semanário, bem entendido, mas vale a rigor por muito mais, pois os meus alunos bem como alunas farão
chegar a notícia aos ouvidos de muitos.
Por outro lado, é a hora H!

*****
Amadora (cont.)
4-5-1990
Oportunidade

A querida Angola encontra-se a braços, com enormes problemas, devido à guerrilha que agora é temível.
A UNITA, ao presente, faz a guerra total, com enorme prejuízo para o governo luandino.

O "Último Assalto"feito a Mavinga, com o objectivo de conquistar a Jamba, foi na verdade, um grande fiasco, não
obstante, é claro, os 20.000 homens, peritos estrangeiros, 400
tanques, aviões e helicópteros.

A chuva, por um lado, e o aperto da UNITA que envolveu os
soldados do MPLA, inutilizaram o "Plano Final"com largos
prejuízos para o inimigo.

Além disto, o apoio firme dos Estados Unidos, e a falta de apoio, franco e macisso ao governo de Luanda, proveniente da Rússia, que tem,à data, inúmeros problemas. dentro da nação,
constituem razões que urge ponderar, com brevidade.

De notar ainda que estão sem água, luz e provisões, muitas
cidades, incluindo a capital.
Não será esta A Segunda Noite?!
Melhor ensejo para a Entrevista não podia haver.

*****
Amadora
5-5-1990 (cont.)
Chave da Entrevista
1. A Segunda Noite supõe uma primeira. Qual é ela? Porquê Segunda Noite?
2. Sintetize o conteúdo da Obra.
3.A que leitores é destinado o trabalho literário?
4, Porquê o lançamento, na vila de Manteigas?
5. Quais os pontos fulcrais de A Segunda Noite?
6. Os pontinhos vermelhos que vemos na capa dizem alguma
coisa?
7. Exponha a mensagem que traz a contra-capa.
8. Qual é, afinal, a importância das cores, apresentadas na capa? Porquê o vermelho e o preto, por igual?
9. Seria possível uma sociedade multi- racial?
lo.Ainda hoje se mantém o conceito de " Império"?
11.Aplicou Portugal, na ordem prática, esse conceito?
12. Colonizar será destruir?
13. É necessária a colonização?
14 Distingue-se a nossa de qualquer outra?

*****
Amadora
6-5-1990
" Vão haver mais casos"

Após um trabalho, deveras fatigante, a pobre cabeça fica pesada.
requerendo mudança ou distracção. Em tas circunstâncias, vale
a televisão, quando os programas são do meu gosto.Às vezes,
porém, sai-me o contrário do que eu aprecio.

É o caso da frase que vemos no topo. Se mal estava, pior fiquei!
E se a pessoa visada ocupa um lugar de certo relevo, na sociedade?! Então, é que são elas! Nem os Santos me valem!

A Gramática protesta, mas os pontapés são tais e tantos
que ela perde o tempo, em dura refrega.
Um erro de Sintaxe é o que há de mais grave, contra um idioma, porque vai atingi-lo na própria raiz!
O solecismo é o cancro do Português.

Iremos nós permitir que este glorioso idioma algum dia se apague
à superfície da Terra?! Não tem ele, atrás de si, uma história longa, longa e bem documentada que vai a 3506 anos?!
Não é ele, ainda hoje, o mais utilizado, nos quatro cantos do mundo, pelo conjunto de crentes,quando falam com Deus em
Português?!
Abaixo os agressores desta Língua imortal que até no Paraíso vai ter a primasia!

*****
Amadora
7-5-1990 (cont,)
Vai haver mais casos
Esta frae é do mesmo quilata de muitas outras, bem conhecidas e
utilizadas, há séculos já. Vejamos algumas: há homens; há perigos; há ladrões; há vivendas.

Como se vê, nunca o verbo da oração fica no plural, como
seria: hão homens; hão perigos...
Em casos deste género, o verbo haver fica no singular, seja
embora do plural o termo que o segue

A dita fórmula já está consagrada. e aceita, em geral.
Diz a Gramática: o verbo haver, se usado impessalmente, exige
sempre a terceira pessoa do singular.
Na frase em estudo, achamos também a conjugação, dita
perifrástica, devendo a regra incidir sobre o verbo auxiliar que é
o primeiro.
A partir daqui, usamos, pois, a terceira pessoa do singular: vai e não vão haver. A prova de Língua Pátria, qando negativa, deve ser eliminatória, como fazem há muito, os povos civilizados

Amadora
8-5-1990
Por que é que sucede o erro em foco?

Segundo me parece, vem do seguinte: o locutor deixa-se arrastar
por uma tendência de carácter geral, que não tem uso ali - fazer que o verbo concorde com o sujeito em número e pessoa. Este
será, pois, o incentivo psicológico

Entretanto, segundo a tradição, que é de longa data, o substantivo que segue o verbo haver não é considerado sujeito da
oração ( vai haver mais casos), mas de preferência complemento directo,(análise tradicional)

Sei muito bem que alguns discordam ( eu também), embora.
na verdade, sejam minoria.
Apesar de tudo, até na discordância o verbo haver fica no singular. Dar-se-ia então um caso anómalo: verbo no singular e sujeito no plural, mas há erros já consagrados pelo usu da Língua

Veja-se, por exemplo: eu parece.me...
Notemos ainda a construção latina de " há homens":sunt homines
Fernão Lopes (século XIV): som alguns...

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Amadora
9~5~1990
"Um grupo de pessoas que vinha à frente..."
Este caso não é tão grave como o anterior.

Colhi-o também num dos programas da televisão e merece alguns
reparos. Efectivamente, o relativo "que", introdutor da segunda oração, na frase incompleta, tem por antecedente a palavra "pessoas", do sex feminino e do número plural.

Além disso, é sujeito da oração ( que , as quais pessoas) vinham e
não vinha..
Assim nos livramos de reparos que, muitas vezes. nos dispõem mal.
Poderiam objectar: a concordância no singular ( vinha) tanbém é correcta, porque se refere a (grupo)
Há gostos para tudo. Eu, no entanto, por ser mais clara e
rigorosa, dou.lhe preferência

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Amadora
10-3-1990
Pelo correio enviei três cartas.

Havia já tempo que as trazia na ideia, sem poder realizar o que tanto desejava: à professora Ção Lopes, acusando o cheque, referente ao livro; à "nossa Aninha",professora na Guarda; ao padre Gomes Neves, residente em Manteigas.

Era minha obrigação e, ao mesmo tempo, verdadeiro prazer.
Foi-se parte de um dia, mas não houve mal, pois o fiz com gosto. Lá diz o provérbio : Quem corre de gosto não cansa.
Todos estes casos se prendem, afinal, com A Segunda Noite, que já se encontra à venda.. Quanto mais conhecido, mais
procurado!
Pois bem. É preciso abrir caminho, que me encontro nas trevas, sem publicidade!
Alguém sabe aí quem é, na verdade, o Pedro da Fonseca?
Entretanto, um dia virá, em que a luz se faça.
As 15000 páginas ou um pouco mais que já levo escritas, nada
valerão?!
Verei mais tarde, se Deus me ajudar

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Amadora
11-5-1990
" O nosso irmão Vítor"

Após o funeral, que fora pomposo e até abafado em flores a rodos, dirige-se a dama ao Agente funerário, para ultimar os vários ajustes, que faltavam ainda: questão de pagamentos,
várias certidões e alguns pedidos, respeitantes à campa.

Havendo já exposto o que levava em mente, diz-lhe o proprietário da referida Agência: Olhe, mnha senhora, eu sei com quem trato.
Há tempo de sobejo, nos dias que vêm. Ajustamos as coisas, na Missa fúnebre do 7º dia.

Oh! Palavras escaldantes para aquela entidade!
Como se fora um raio,emanado lá do céu, apruma-se a dama, arregala os olhos e entra em frenesim, procurando em breve justificar a sua reacção e, ao mesmo tempo, mostrar bem claro
que a sua família vale mais do que julgam

Não será isto discriminação?!
E falam despudorados contra a África d o Sul?! Incoerêcias!

Amadora
12-5-1990
Vale a pena esclarecer, um pouquito mais, a cena a que aludi, expondo os dizeres que pude colher, pois estava presente.
Quando a sujeita ouviu a expressão " Missa no 7º dia", ficou descontrolada e entrou em frenesim. Por que seria?

Justificou a atitude, com os ditos seguintes: Missa do 7ºdia?!
Não há mais nenhuma! Missas daquelas?! Abrenúncio! Cruzes!Canhoto!
O infeliz do padre nem o nome sabia! Era só: O nosso irmão Vítor! O nosso irmão Vítor! Que pobre cerimónia!
Fiquei enfartada! Daquilo nunca mais

Ficou para ensino, em dias da minha vida!
A gente a pagar, para ter de assistir a este desplante! Que sensaboria!
Portanto, não há mais Missa! Incluo também a do 7º dia!
Acabou-se! Quem manda sou eu!

Interessa lá o que os outros pensam ou querem dizer?!
Quem paga sou eu! Tenho, pois o direito de exigr se faça como intento e quero! A gosto meu! Com maneiras polidas e do século
XX!. O nome por inteiro, bem entoado e claranente expresso!

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Amadora
13-5-1990 (cont.)
Tais despropósitos merecem comentário. É o que vou
fazer, já de seguida.
Se atendo agora às palavras descabidas que ouvi pronunciar, aquela senhora não sabe o que diz e, nesta insuficiência, merece desculpa.
Que pediu Jesus Cristo para os seus carrascos? "Perdoai-lhes, que não sabem o que fazem".
Os disparates vou corrigilos, porque é necessário. Àquela senhora também eu perdoo.
Não foi, afinal, o que Santo Agostinho escreveu um dia? «Diligite homines; interficite errores: Amai os homens: extirpai os erros
Onde está,pois, o referido erro? Em julgar a senhora que a Missa é banal, improfíqua e vã, não se dizendo o nome todo;

em privar de sufrágios quem não pode valer-se e depende inteiramente da nossa caridade; em não saber também que o celebrante não precisa do nome, bastando conformar-se com a intenção de alguém; em falar com rompante e arrogância tal. que manifesta desdém pelo celebrante, pessoa instruída que estudou Filosofia e Teologia.
Não será isto discriminação?!

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Amadora
14-5-1990
Conformemente ao que estava ajustado, segue hoje para Manteigas a minha fotografia, afim de acompanhar a
entrevista escrita, que o jornal da vila irá publicar.
É a primeira vez que tal acontece.Nem me lembrava de que o facto ocorreria.
Efectivamente, foi o Director daquele jornal que teve a lembrança e a mandou pedir.
Lá vai, pois e que seja em boa hora, com vista à divulação
de A Segunda Noite.
Sem o conhecerem, não o podem ler nem apreciar.
Escolhi. para tanto aquela que me apresenta, na idade madura ou seja, após os 40: nem antes destes nem chegado aos 50
Estará bem assim?!

Se conseguir avistar-me com a Directora do Jornal - O
Diabo, a intimorata Lagoa e me publicar a mesma entrevista, utilizarei uma foto de agora.
Ando em brasas com este caso, uma vez que, sem público, não posso desenredar-me
Os outros livros aguardam o bom êxito dos primeiros a sair
Não me importo de ganhar! Queria somente que ajudassem na despesa. Nada mais havendo, já me dou porsatisfeito. Apesar de tudo, não iria renunciar ao que fosse a mais.
Teria, por certo, boa aplicação.

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AMADORA
15-5-1990
No ar ou no chão?
Cada coisa,afinal, com o seu destino. Efectivamente, a Natureza o impõe, agindo de harmonia, com a vontade santa de Deus Criador e Providência de tudo.

Assim: aos animais que vivem na água deu barbatanas, para se deslocarem e proveu-os de guelras, para respirar; aos que se deslocam no meio aéreo dotou-os com asas, aos que vivem no solo forneceu órgãos, acomodados à situação.

É o caso do ser humano que utiliza de facto os membros inferiores , na locomoção. Ainda fora disto, se não está deitado,
apoia sempre no chão os referidos órgãos.
Ora, aconteceu ontem notar uma excepção à regra geral.

Certo rapaz apoiava encantado a planta do pé numa área vertical, formando um quatro.
Este caso deu-me que pensar.Com efeito, além de ser este facto
contra o uso normal, deixa em nós todos grande perturbação.
Estaremos caminhando em sentido contrário ao de outros povos? Eles avançam, e nós recuamos?! Será realmente o regresso à selva? Deus nos acuda!

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Amadora
16-5-1990
Outra decepção
Diz a sentença: Quanto mais vivermos mais ainda veremos!
Aos 72 anos, já era muito bom não haver decepções! Se foram tantas, ao longo da vida! Que rosário vultuoso de contas inúmeras! Com ser isto assim, veio mais uma, afim de juntar a outras muitas!
Enchem a boca uns e os outros, alardeando o à-vontade em que agora se vive! Tecem elogios ao regime democrático e
exaltam conceitos que lhes são muito queridos.
Democracia! Liberdade total!
Também eu os bendiria, se fossem entendidos, bem apreciados e
tidos em conta! Entretanto, não é realmente aquilo que eu vejo!
Qual foi então a causa verdadeira do meu desapontamento?
Ela aí vai.
Formara eu um plano que deveras apreciava: falar directamente com alguns Directores da nossa Imprensa, com fins
publicitários, no tocante ao meu livro; publicar uma entrevista em
certos jornais.
Encontros projectados jamais os consegui! Não estão para atender! Alguém se encarrega. Eles não podem! Nunca estão! Dias e horas sempre trocados! Número exacto do seu telefone jamais cedido!
Não vou criticar a sua atitude! Eles que o fazem têm decerto
razões que aceito
Conclusão: há menos liberdade, no tempo de agora que antes de Abril! Será isto exacto? Os factos diários falam por si.

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Amadora
17-5-1990
Um dia assinalado!
Nunca mais se varreu da memória o dia 17 do mês corrente!
É que as marcas, deixadas na alma, nem o tempo sequer as pôde eliminar! Tão fundas raízes penetraram no meu ser!

Passava então o ano do Senhor, 1934. Era este, exactamente,
o primeiro ano dos meus estudos. na vila do Fundão ( hoje cidade).
Aperrado como andava, naquele Internato; cheiinho de saudades que aumentavam, dia a dia; ansioso de libertar-me, para
dar expansão aos meus sentimentos e logo afirmar-me qual ser
humano, criado livre por Deus, aguardava este dia, afim de escapar-me, como faz o passarinho que foge da gaiola, para sentir o ar puro e ver as maravilhas da Mãe- Natureza, criada por Deus.

Que ocorria ,então, a 17 de Maio? Começavam os exames de matérias leves: Religião e Música
No mês seguinte, viriam as pesadas: Língua Portuguesa,
Francês e Matemãtica,
Era assim o princípio da minha libertação. As férias!
Necessitava ambiente em que fosse alguém! Não peça de máquina, apertada por estranhos que não viviam os meus problemas nem prezavam, de facto, a sua missão. Havia
excepções!
Regulamento férreo, ditatorial e autoritário abarcava a minha vida que ficava sufocada e harto oprimida.


Obrigavam-me a viver como autêntico velho, sendo eu
muito jovem Forçavam-me a tudo, sem me consultar!
Entroncavam-me a capricho, sem pedir consentimento.
Sujeitavam-me a leis que nem velhos toleravam! Que era
eu então?!
Um ser amarfanhado, tolhido e manuseado por gente irreflectida
que destroçava o meu pobre ser, barrando a evolução que o deixava infantil.
Travado assim, impondo via única, fui trucidado, jamais realizando as minhas aspirações que ficaram sepultadas no querer e prepotência de pessoas duras e autoritárias

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Amadora
18-5-1990 Pressões
O maior inimigo e o mais figadal, se tomamos em conta a liberdade humana e a total realização do ser viador!

Nas Ciências da Natureza , define-se pressão como força
exercida e logo aplicada na superficie dum corpo.É ,pois, uma energia que vai contrariar os impulsos da matéria ou as suas ten-dências.
Se passamoa agora ao campo do espírito, focando também esse dom precioso que Deus nos concedeu - a liberdade -
verifica-se o mesmo: força, leis e ordens que, tantas vezes, barram peremptórias as tendências de alguém, as suas aspirações, numa palavra, a sua realização como ser livre.

Onde começam tais leis e como se aplicam?
Quais são, afinal, os seus graves efeitos? Será permitida,justa e razoável a sua aplicação?! Como devem proceder os educadores?
Que nos dizem, afinal, as Ciências Humanas, no tocante à vocacção, seja ainda no campo civil?
Pais e professores, encarregados e pedagogos encontram-se a nível, para exercer o nobre cargo, neste particular?

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Amadora
19~5~-1990
As chamadas pressões, (molas contrariantes) começam no lar, prolongando~se depois e confirmando-se ainda na população; revitalizam-se na própria Escola,; passam depois ao Internato e assumem, por vezes, força de lei, em certos países não democráticos.
Hoje, com os "media", criou-se anda nova pressão, de tipo universal.
Durante vários séculos, vingaram em pleno as "imagens colectivas" ou seja, determinados conceitos, fundamente enraizados, mercê de Deus e suas leis,seu poder e grandeza, acerca dos pais, filhos e mulher,casamento e amor, trabalho
prestado e remuneração e assim por diante.

Deus era, na verdade o centro do mundo e do próprio homem, tudo convergindo para O louvar, engrandecer e exaltar.

Juntamente, associava-se a ideia de imortalidade. sanção moral, e efeitos do pecado, quer neste mundo, quer além- túmulo.
Com o mesmo objectivo, provava-se amiúde a existência de Deus, respeitava-se a Igreja, fundada por Jesus Cristo, tomando em conta as suas directrizes.

Em nossos dias, todos estes conceitos se vão alterando e de tal jeito se está procedendo, que viram as coisas para o lado contrário
De certo extremo, volta-se para o outro.
O centro de tudo é hoje o homem, que manuseia as coisas à
sua vontade
As conquistas da Ciência bem como da Técnica, às quais se junta o bem-estar alcançado,subiram-lhe à cabeça.

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Amadora
20-5-1990 (cont.)
Esta civilização do nosso tempo é de raiz ateia.
O reviramento de conceitos milenários é fomentdo pela televisão e outros meios, assaz poderosos de Comunicação.

O mundo encontra-se, aviva-se e convence.
Os novos conceitos agradam a todos, postergando-se tudo o que
chamam obsoleto
A liberdade total é o fascínio do homem.
Caminhando assim, alija-se tudo quanto era travão, ficando a natureza sem freio nenhum.

Acabaram as pressões, já familiares, já de outra origem.
Grande combate! Assim, desagrega-se a família, são banidos os costumes, julgados intangíveis, ignora-se a Igreja e seus fundamentos e tudo gira à margem de Deus..
É o materialismp, em toda a nudez e forte pujança.
Para onde caminhamos?

Faltam as pressões e deixaram de actuar os travões da Moral. Cada um faz apenas aquilo que lhe agrada. Os pais demitiram-se. Os que tentam reagir não conseguem realizar os
seus ideais
É que a vida familiar está desagregada e muito dispersa

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Amadora
21-5-1990
Força, lei, imperativo; imagens colectivas; o fanatismo; opinião do vulgo; pressões morais: onde começam e como se aplicam.
Todos sabem, afinal. que a fonte vulgar e mais influente é o
próprio lar, onde temos origem, o qual pode ser reflexo do pendor
vigente na população.
Daqui provêm ,decerto ,as grandes raízes que acompanham a todos, ao longo da existência.
Antes de chegar a televisão, era sem dúvida mais poderosa do que hoje
Aduzo para exemplo a minha aldeia serrana.
Só na segunda metade do século XX, começou a ter luz, estrada e
calçadas, o telefone e água potável.
Desligada do mundo, não influíam conceitos de fora. Nem
imprensa nem Radio!

A imagem colectiva, padrão educativo, era de tipo único e bastante uniforme, tendo sua origem e garantia no Prior da aldeia.
Também o Mestre-Escola era considerado.Estas duas personagens é que imperavam. A norma suprema vinha dali.

Evidentemente, o prestígio seguro dos pedagogos e a maneira de viver impunham-se a todos: os critérios a aplicar; a
maneira de reagir, em frente dos casos; a solução e diferendos de cunho familiar dos problemas iam sempre buscar-se àquelas duas fontes

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Amadora
22-5-1990
A maneira de aplicar era estreita e apertada.
Nem um desvio! Ele disse... Ela declarou... O temperamento e assim o carácter de cada um; as suas tendências ou aspirações; a
maneira de agir, em ordem ao futuro; o seu ideal, mais acalentado; isso tudo somado, nada contava!
Havia,decerto, um caminho único: esse,afinal,é que tinha de seguir-se!
Não se analisava nem discutia.Como se ele, na verdade viesse lá do Céu!, era urgente segui-lo!
Assim, pois, a vontade própria ficava esmagada, uma vez que não contava!
As práticas religiosas eram impostas, não havendo o cuidado, para realizar a chamada "análise", no campo educativo.
A triste síntese é que se punha em prática!
Levar e não guiar!! Dirigir e não forçar!

Claro! Daqui, pois o automatismo ... a total ineficácia! Sem
penetração, tudo à superfície! Mais tarde já, extemporaneamente,
ia tudo ao ar! Convicções não havia!

Método único: o Mesre disse.
A pobre criaança era simples autómato... objecto apenas!... Uma
coisa! Não tinha querer! Aquilo que chamavam boa educação nunca o fora! Domesticação isso é que sim!
Daqui, portanto, as graves sequelas, na vida prática.
Vè-se bem claro que era travada , estupidamente, a evolução da
pobre criatura! Uma vez assim, que havia de esperar-se?!
Automatismo, desvios graves, falta de convicções, desacerto
lastimoso na escolha da vocação

A imaturidade, no campo afectivo, e no sexual, originava catástrofes de certa monta! Inêxito na vida!Rendimento frouxo;
desinteresse e desalento; por vezes, desespero; e forte nervosismo;
homossexualidade, ao menos latente e inconsciente; frequentes deserções e náusea da vida.

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Amadora
23-5-1990
As medidas empregadas e o caminho seguido, como foi hábito, já de longa data, é o que há de mais injusto, irracional e por isso condenável, pois torce a vontade, o querer e as tendências que o educando tem e merecem respeito.

Este caminho leva,naturalmente,à destruição.
Que lucrou, afinal, a criança-objecto?!
Em vez de construir, que faz o educador?
Abala os fundamentos da personalidade. Só destruir! O pobre
educando nunca passa de tal fase, preparando-se a fundo para ser infeliz!
É isto que se espera de tais influências?! Verdadeiros
assassinos da nossa liberdade é isto o que eles são!

Como resultado fica um autómato... um ser imaturo, sem
vontade própria nem iniciativa!
Que infelicidade! Que destino cruel e de lamentar!
Não será bom tempo de alterar esses métodos?! É urgente
fazê-lo, apeando para sempre conceitos e agir que são do passado
e não respeitam jamais a liberdade e integridade, no pobre ser humano!
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Amadora
24-5-1990
Cono devem agir os nossos educadores?
Almeida Garrete dá-lhes a norma, no seu belo tratado " Da
Educação". O pupilo deve ser guiado mas não levado; dirigido,
sim, mas não forçado!

É o chamado método que se baseia na análise e posterga a síntese .Esta é condenável, como via a seguir, na educação.
Com efeito, impõe categórica e dogmaticamente. Por este processo, o educando torna-se autómato, o mesmo é dizer que não
há proveito e só dados negativos podem seguir-se, de tal educação

A criança, pela análise, torna-se artífice de suas próprias ideias e sentimentos. Por que há deserções , desvios e cedências? Por ter
falhado a acção dos pedagogos
Quem foi o culpado? Todos, sim, menos o educando!
A educação é obra de paciência, observação e respeito, amor
e argúcia. À margem disto, falha inteiramente.

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Amadora
25-5-1990
Os dados importantes das Ciências Humanas.

São eloquentes e elicidativos. Não deixam no espírito dúvida nenhuma e abrem caminho para eliminar o que estava errado, no campo educacional.
Dirigir mas não levar: guiar, mas não forçar, como salienta Garrete, a quem sigo.na matéria

O máximo respeito,em ordem à criança, para não destruir-lhe a personalidade nem traçar-lhe jamais um destino infeliz.
Não travar, de modo nenhum, a sua evolução, no campo social,
afectivo e psicológico!

As fases de evolução não podem ser impedidas nem prolongadas
nem retorcidas ou retardadas.
O educador não pode substituir, em coisa nenhuma o seu pupilo. Jamais transformá-lo em objecto seu... em mera coisa de que não prescinde.
Amar, sim, mas não possuir. Ajudar, claro está, jamais na
vida a super-protecção!.

Tanto é danosa a ajuda excessiva e a protecção descabida
como a sua contrária - carência de afecto, autoritarismo e afecto
excessivo, a ponto de barrar a evolução natural.

Esta levará o educando, em outros moldes, a descobrir o chamado
terceiro, para quem o pupilo deseja viver e em sua companhia.
Dá-se este caso, ao chegar a puberdade. Para haver opções, é
precso liberdade, exigência premente, sem a qual ninguém pode
assumir a responsabilidade, em qualquer domínio.

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Amadora
26-5-1990
Variemos um pouco o nosso discorrer.
Figuras de estilo
Trago ainda no ouvido os ornatos de Gramática: elipse, zeugma
assíndeto, anástrofe, pleonasmo e anacolutia; as de : Pensamento:
interrogação, imagem,apóstrofe, reticências, prosopopeia, perífrase e hipérbole; Tropos: metáfora, ironia, sinédoque e metonímia
Quando era aluno, pensava eu que nada mais havia, nesta
matéria Puro engano! Se não vejamos.
Passado algum tempo,viajava de auto-carro, onde tive uma surpresa,algo inesperada: dois jovens palradores mantinham um diálogo que a todos cativava, pelo colorido, variedade e animação.
Não se julgue talvez que os ornatos em causa eram os já poídos, estafados e gastos que vêm nos livros! Nada disso! Eram novos em folha, altamente inspirados e farfalhudos!

Ora, atendamos a simples amostras, só de tangência, pois deixo apenas as terminações, por serem fortes,esquisitas e e duras, assaz malcriadas, atrevidas e brejeiras,inconvenientes e harto grosseiras: erda, orra,alho,ano,pá...

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Amadora
27-5-1990
Dois senhores
Já nos tempos de criança, andava na memoria aquela frase da Escritura, empregada na igreja, pelo velho Prior, Padre José
Maria.
Ninguém pode servir a dois senhores! Ou há-de amar um e odiar o outro ou ligar-se ao primeiro e desprezar o segundo.
A insistência do Pároco e as suas convicções actuavam em nós, por modo eficiente.
Os anos passaram e a vida transcorreu, mas aquilo,afinal,
jamais se obliterou, não obstante haver falecido, em 1942! Em
breve se perfazem 50 anos! Como o tempo foge!

A que propósito é que isto vem? Muito smplesmente.
Há poucos dias, ouviu Dona Agusta um colóquio singular que fez
vir ao de cima aquela frase do início.

Dizia uma senhora, parecendo convencida: É muito bom andar a bem com Deus, mas convém igualmente andar a bem com o diabo!Trazê-los ambos contentes é que é aconeselhável e muito proveitoso!
Para confirmar o dito estúpido, citava um caso por ela verificado. Uma filha sua pedira a Deus lhe concedesse um favor,
mas por desgraça, não foi atendida.

Nisto, recorre ao diabo, com muito fervor e linguagem humilde, sendo logo despachada a sua pretensão: Meu diabinho,
já que nada consegui, rogando a Deus,venho agora a ti, para me ajudares, no que vou expor-te.
Foi logo alcançada a graça que pedira. Vê, senhora, fui logo
atendida! Eu, realmente, fui testemunha!

Andar a bem com os dois, isso é que é bom!

Amadora
28-5-1990
Desçamos um pouco, avaliando calmos a filosofia
daquela senhora.
Como a não conheço nem tenho pormenores, que permitam deduzir a su psocologia bem como a lucidez ou até a incultura
em que possa encontar-se, avalio o facto de maneira geral, com tudo a priori.
Seria apenas para gracejar? Revela isto a ignorância de coisas essenciais, na prática da vida? Tratar-se-á talvez de mulher
supersticiosa, em alto grau?
Várias hipóteses se apresentam, desde logo. Boa fé no caso, embora de lamentar?
Bom. deixemos estas faces e vamos debruçar-nos sobre o
essencial.
Todos os cristãos são abrangidos por uma lei que veio do Céu.: os 10 Mandamentos. Ora, acontece que o segundo dentre eles proíbe,de facto, o recurso ao Demónio.
" Não jurar o seu santo nome em vão"

A atitude assumida revela claramenre desprezo e desagrado, em ordem a Deus, opondo-lhe o diabo, para amesquinhá-lO.
Enorme ofensa ao Senhor de tudo, a quem o mesmo diabo tem de obedecer! Se ele é criatura!
Se ele chega apenas aonde o Céu lhe permite!
Como classificar o agir da mulher?!

Amadora
29-5-1990
Aos três anos lançado num poço!

"Até no melhor pano cai a nódoa, assim reza o provérbio.
Coisas se dizem que nos deixam aturdidos."Acreditá-las? Se elas
são verídicas! Contra factos, não valem argumentos!

Contou-me há poucos dias um professor da Casa Pia o seguinte caso: entre os seus alunos, cheios de problemas, há um que se avantaja, pela depressão em que o vê mergulhado.

De olhar incerto, fixo no vácuo, dava-lhe a imprssão de que o seu espírito se encontrava longe.
Jamais um sorriso,um sinal de regozijo, ainda que os outros se mostrassem alegres, em casos esporádicos.
Aquela tristeza estampada no rosto, fazia-lhe mossa

Um vulto humano, já saturado, em verdes anos? Doença
maligna a fazer em seu corpo trabalho de sapa?
Doença mental ou esquisofrenia?!
Tirando-se de cuidados, chama-o à fala, muito à puridade,
afim de ajudã-lo, sando possível
Foi então que ele se abriu, revelando a causa da sua desventura.
"Minha mãe lançou-me a um poço, nos meus três anos"

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Amadora
30-5-1990
A Feira do Livro

Vivi sempre interessado no mercado livresco. Acontece o facto, desde os vedes anos. da minha adolescência. Entretanto, nessa data recuada, faltavam os meios. Quem não tem asas há-de rastejar, forçosamente.
Uma vez no Internato, já homenzinho, aguçou-se o apetite,
subindo enormemente o desejo de instruir-me.Como, porém, não fosse autorizada qualquer leitura, estranha aos programas, vigentes ao tempo, fui contrariado nos meus ideais.
Para desforra servia-me das férias, em que o tempo era gasto, lendo a capricho. Isso me valeu, para alargar noções e
abrir o espírito, acanhado pelo ambiente, criado na aldeia.
Que seria de mim, se não fosse a leitura!
Ficaria ignorante, pela vida fora!

O dinheiro amealhado, os presentes que me davam e tudo o
que era meu, ia sendo conduzido para a compra de livros.
Se então já houvera o desconto favorável que agora se faz, na Feira do Livro, havia de aproveitá-lo, com grande empenho!

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Amadora
31-5-1990
Anunciou a Radio qe se encontra em ação a Feira do
Livro, na capital portuguesa. Já antes disso me havia constado. O
que eu não sabia era a duração que, afinal, se estende até ao lo de Junho.
Este ano, de modo especial me vejo interessado, porque o meu livro A Segunda Noite, se encontra ali, em exposição.
Para avaliar, desloquei-me ao Parque. Eduardo VII, onde se erguem já os Pavilhões de venda..

As Editoras representadas vão a mais de 100. Sendo isto
assim, não faltaria a de Santo Adrião ( Póvoa ).
Designa-se ela por E!uropress.
Quando lá passei, afim de averiguar, procurei o meu livro, na parte inferior e à mão de semear.
Não o vendo entre os outros, enchi-me de tristeza, pensando
o pior.
Enquanto me preparava, para abandonar o referido Parque.
olho, uma vez mais, em todos os sentidos, até que o enxergo, na parte de trás, ao lado de outro
Por que não mais perto, ficando acessível a quem o folheasse? Não seria a razão, mas julgo, na minha, que era preferível: examinavam a capa, os dizeres da contra-capa e a nota
inicial - Ao Leitor
Era bem melhor, segundo me parece! Mas, enfim, não sou ali chamado, para dar opinião. Desejaria, no entanto que o público o visse, para dar satisfação aos meus anseios.

*****
Amadora
1-6-1990
"Partings are always said,"como dizem os Ingleses
O Maio florido e cheio de promessas, enlevo de almas e dado a sonhos, fica gravado no coração.
Como tudo o que é belo, risonho e amável,deixa-nos saudosos, não podendo afazer-nos à ideia amarfanhante de vê-lo
partir.
Que saudade imensa vai penetrando no peito ansiado, enquanto os olhos se marejam de lágrimas!i Por que não ficar, para sempre connosco, afim de aliviar-nos, em momentos de angústia?!
Oh! Quem dera uma vez poder realizar este grande objectivo! Segurar com firmeza o que enleva a minha alma,
enchendo-a de gozo! Agarrar, com avidez, os momentos belos
da minha existência, para que nada aí no mundo os pudesse empolgar!
Tão poucos eles são, na existência conturbada, e nem
estes afinal eu posso fazer meus!
Triste realidade!
Adeus, adeus, Maio tão querido! Volta depressa, que a vida me foge!
*****
Amadora
2-6-1990
Será este mês o Canto de Cisne?
Não tenho em vista falar de obra-prima, ou algo parecido! Muito
longe disso!
O que eu viso somente é o possível termo da escrita habitual, mais claro talvez: pôr fim aos Diários.

Já são tantos os volumes,que será bom tempo. Terei eu coragem, para o fazer?! O hábito de longe criou decerto raízes fundas. Ignoro, para já, como vou reagir.

Claro se torna que não ia ficar de braços cruzados!
Enveredaria por outro caminho. Era desagradável e até impossível
nada fazer. O aspecto moral pesa também, no caso que me respeita.
Como pude aguentar-me, sem disparatar, em grau maior?!
Valeu-me decerto a sublimaçáo.
Que género, pois, iria ofertar-me algum amparo e dar ainda
intenso prazer? Assuntos vários, de carácter afecivo, como efeito de leituras e casos observados, tanto em mim como em outros.
Não seria de tentar?!
Mais concretamente: deserções no clero bem como divórcios no casamento.
*****
Amadora
3-6-1990 (cont.)
Assuntos candentes e, por isso mesmo, dignos de atenção!
Convém sobremodo averiguar as causas, tentando investigar as
razões verdadeiras dos factos apavorantes, com vista à solução de
tão graves problemas.
Acertarei eu? Acharei realmente airosa saída, para tais casos?!
Que é que revela a Psicologia dos últimos anos? Haverá, na verdade, traição ou deserção?

Teia de nossos dias, merece atenção, bastante cuidado e compreensão. Os casos pavorosos, no clero e nos casados, são da nossa época ou de todos os tempos? Terão eles, de facto, causa comum? Como vai Deus julgar esses factos?! Não está em causa o próprio lar?! Que é que se impõe, com grande urgência?
O divórcio, afinal, dará solução às graves contendas de certos casais?
Por ser angustiosa tal situação, requer urgentemente seja tratada,
com muita diligência e grande empenho.

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Amadora
4-6-1990 (cont,)
A Psicologia, as Ciências Humanas e a Antropologia, vieram elucidar-nos, acerca de problemas que são basilares, no
destino do homem. Devido a tais estudos, conclui-se desde logo que os meios utilizados, para formar o homem, são condenáveis,em toda a linha., porque os seus efeitos são desastrosos: deserções no clero; divórcios nos casados!

Não será este um dos maiores males de que enferma a sociedade?! Ousarei ate dizer que é o maior de todos. Se destrói pela base a ventura do homem!
Que tristeza imensa cai para logo no meu coração, verificando tais coisas! 'É que eu próprio fui vítima disso!
assiste-me, pois, um direito sagrado que é também dever: alertar a
sociedade e levá-la a transformar o processo educativo.

Que surpresa amargurante e, ao mesmo tempo, geradora de pasmo! Quem iria dizer que são iguais as causas, já para as deserções do clero católico, já para os divórcios?!

E o caso, afinal é que não se trata de mera hipótese ou
sugestão que alguém lançasse! São dados inconcussos que não
sofrem discussão nem admitem dúvida.! Tão claros e palpáveis
eles se apresentam!
Estou, pois, decidido a levar a bom termo nobre campanha que seja luz e guia nas trevas lastimosas em que a informação do homem infeliz se tem processado.

Amadora
5-6-1990
Não basta dizer que isto ou aquilo era bom no passado. É preciso demonstrar que o não é, igualmente, em nossos dias.
Realidades houve que harto se impuseram, umas vezes com verdade e autenticidade; outras ainda, com o prestígio e aura do bom nome, embora os efeitos não condissessem.

Seja como for, o certo e provado é que tudo se encontra, em franca mutação e este movimento é irreversível. Intentar alguém opor-lhe resistência é perder o tempo.
Passou o comboio e este alguém perdeu-o irremediavelmente. Sinais dos tempos! Importa e urge estudá-los a sério, para encontrar a resposta adequada.

Conceitos houve que vingaram, sem razão, mercê do prestígio e autoridade que então reconheceram a quem os lançara.
Não se encontra em foco o que escreveu o famoso S.Jerónimo, sobre o casamento e a sexualidade?!
Prova-se hoje â saciedade que ele estava errado.

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Amadora
6- 6-1990 (cont,)
Para darmos resposta e achar uma base de justificação, importa,de facto, olhar para aHistória bem assim,para outras Ciências, acerca do homem.

Que nos dizem,afinal, sobre casamentos e frequentes divórcio E quanto ao clero a sua deserção, em números pasmosos?! Apontam-nos elas causas verdadeiras, no passado e no presente? Vejamos em seguida um pouco disso.
Primeiramente,consultemos a História. Virão, depois, mais outras fontes.
Quanto ao passado, informa ela, no tocante a divórcios e prévios casamentos: daqueles poucos havia; quanto a estes, não obstante os indicarem os próprios pais, se é que os não impunham, eram mais duráveis, apresentando em regra maior estabilidade.

Em nossos dias, tudo se virou: liberdade na escolha e,
apesar disso, frequentes divórcios, ao fin de alguns meses ou poucos anos.
Estes são os factos. Ora, como nada existe, sem que haja, uma razão, temos de procurá-la com seriedade e muito cuidado. uma vez que os factos põem em causa a própria sociedade e o géneto humano.
Devemos, pois, olhar estes factos, muito seriamente,, descobrindo as raízes de tão grande chaga

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Amadora
7-6-1990 (cont,)
É agora a vez das outras Ciências, Antes, porém, de ouvirmos a sua voz, só uns momentos, para que a História finalize o discurso.
Que nos diz ela, sobre o celibato, já negativo, já positivo ou
institucional?
Foquemos agora o celibato dos padres..
Não obstante a rigorosa e longa preparação, por vários anos, com
meios e técnicas, bem seleccionadas, já de ordem humana, já de
tipo divino, apareceram sempre, e hoje mais que nunca, vozes
discordantes , factos inauditos, contestações, violentos protestos,
inconformidade, traumas profundos.

Conclusão: algo está mal! Coisas aí há que estão erradas!
Neste discorrer, põe-se logo em causa a lei compulsiva que data já de 1031 ( século XI), na Igreja católica, ligada a Roma, cá no Ocidente,
Se, de uma assentada, houve nada menos que 80000 a desertar1... Isto não diz nada?! Algo a corrigir! Se os meios utilizados não conseguem os fins...
Neste passo, têm a palavra as Ciências humanas que, nos
últimos anos revelaram aspectos, jamais considerados nem imaginados!
Falem então: a Psicologia, a Psicanálise, a Antropologia,
etc.
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Amadora
8-6-1990 (cont.)
Para ascender a um cargo e assumir desde logo a responsabilidade, é preciso, ja´se vê, que o indivíduo em causa, haja atingido maturidade bastante, na esfera sexual e afectiva.
Sem isto, pois, não há liberdde nem segurança. Portamto, nem falar em opções!

Ora, sucede que o lar, as pressões sociais, exigências religiosas, mal compreeedidas e desvirtuadas; o meio aldeão; o
terrível fanatismo; o aferro vincado a certas velharias, que já não
têm vez, na época actual; o atraso das gentes ; a infeliz e má preparação dos candidatos redundam sempre em grandes falências.
Descobriu-se em nossos dias que foi sempre errada a noção
tradicional de sexualidade, vendo nela apenas a face erótica.
Apurou-se, pois, que a vertente principal da sexualidade é a energia, a criatividade, coragem e ternura que pode redundar no próprio amor.
Já o famoso Marañon o deixou bem claro: "Sexualidade não
é a sensualidade que faz estontear; nem sequer a aproximação dos sexos. Antes de mais é ela o poder criador, existente no homem"
É uma força poderosa, fonte geradora de criatividade e grande energia.
Esteve o erro geral em ver só erotismo na sexualidade

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Amadora
9-6-1990 (cont,)
As consequências funestas que disso resultaram, são
incalculáveis: Tudo era mau, tudo proibido e até vergonhoso.
Fez-se deslogo enorme tabu. Envolveu-se o caso em enrme silêncio. Daqui, então, uma série imensa de altos disparates!

Fará impressão dizer-se, a propósito, que um indivíduo,
aos 24 ou 25 anos, não tenha ainda liberdade suficiente , para assumir encargos e ser responsável?!
As Ciências Humanas dão a resposta.
O ser humano evolui constantemente, percorrendo, na existência. fases diversas, que devem ser respeitadas: nem prolongar nem obstruir; nem distorcer nem retardar.

Se o lar ou o Internato saírem destas normas, aí temos indivíduos incapazes de opções, já para o casamento já para o sacerdócio e vida consagrda, por modo geral

À primeira vista, alguém julga incorrecto aproximar os dois estados, mas as conclusões a que chegaram os Psicólogos, não
deixam, realmente, qualquer pequena dúvida.
Convém reflectir, sobre este assunto.

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Amadora
10-6-1990 (cont.)
A educação, para ser eficaz, e tornar feliz o objecto dela, há-de oriemtar-se neste sentido: ajudar o pupilo a ser na vida adulto
seu sexo, consciente e autónomo e o mais equilibrado que seja possível.
Ora,se olharmos, a sério, para o sistema, usado entre nós,
verificamos, logo à partida, que se afasta cabalmente das linhas referidas, de tal modo e jeito, que obtém o contrário do que intenta conseguir.

Se pegarmos agora naquele definição, voltando-a às avessas,
obtemos exactamente o que se tem verificado, ao longo dos séculos: indivíduo falhado; divórcios aos montes , padres que abandonam. Porquê? Porque os meios empregados agiram
desfavoráveis.

De mistura, pode haver ainda outras causas influentes.
Corrigindo o sistema, dá-se um grande passo, nesta matéria..
Nem tudo ao certo ficará resolvido? Não, com certeza,
mas corta-se a fundo a raiz principal das grandes tragédias.

Emendado o sistema, no Lar e no Internato e deixado o celibato como opção ideal,( por sugestão de Santo Epifânio),já
tudo mudará.
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Amadora
11-6-1990
Debrucemo-nos um pouco sobre a tal definição: tornar
o educando adulto do doseu sexo.
Primeiro, no lar. Não é, decerto, obrigá-lo desde logo a viver como adulto! Isso é exactamente aquilo que se tem feito, no nosso País, já nos próprios lares, já nos Internatos.

Se não, vejamos: obrigar as criancinhas a ir à Missa e a
outras funções de espiritualidade, que a sua idade e compreensão
não integram ainda;
chegar,àsvezes, a ponto de oprimi-las e até castigar, por haverem transgredido; exigir-lhes atenção e responsabilidade que os seus anos verdes ainda não comportam; dar-lhes castigo, por motivo de infracção,
como se elas,de facto, já fossem adultas; vigiar e policiar o seu comportamento, em vista compulsiva de futuro desempenho, tendo-as à força numa linha única, a isso conducente

Disparate maior não conheço eu : Falo até na minha experiência de, nos anos distantes da meninice.

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Amadora
12-6-1990 (cont,)
Em extremo condenável o que temos feito e urge mudar!
Vemos desdede já que o invés está certo. Preparar a criança, para
ser adulta (responsãvel), mas do seu sexo. Não de modo nenhum obrigá-la, nessa idade, a viver como adulta.

Do seu sexo. É importante a alínea em causa.
Como alcançar tão belo resultado?
Vejamos o assunto em práticas usadas.
Figuremos um menino que é´filho único de mãe viúva.
Tal ambiente é já inadequado. Efectivamente, falta no caso a relação"homem", sem a qual o petiz não pode evoluir, favoravelmente.
Em tempos idos, vi eu, algures, esta definição, relativa ao homem: animal de imitação.

A quem pode seguir, se existe só a mãe?! Esta, por sua vez, aferra-se a ele. por tal modo e feitio, que se torna absorvente,
possessiva,invasora.

Nestas circunstâncias, o filho infeliz é derivativo, mas de tal ordem,que não passa de objecto para uso da mãe. Não prescinde dele,substitui-o em tudo, dá-lhe como vemos, super-protecção.

Adivimha-lhe os gostos, previne o seus desejos.
É esta, precisamente a via da desgraça. A criança não pode
evoluir, passando logo da fase egocêntrica à fase oblativa.

Em vão se abeira da puberdade: mantém-se infantil... não
descobre a mulher. Ficará para mais tarde, em tempo indevido.
Temos assim, mais um infeliz! Talvez até um homossexual,
consciente ou inconsciente
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Amadora
13-6-1990 (cont.)
O que parece bom redunda, por certo, no maior dos males:
dependência total; infantilismo; receio de tudo; inexistência de
pragmatismo e de ânsia premente de viver para alguém e com esse alguém; falta lastimosa de meios de conquista; carência de aptidão para a vida a dois; o dobrar-se sobre si; jamais prazer a dois!
Tudo isto o impossibilita para ser adulto e, portanto responsável.
Sendo assim,não é livre para tomar opções e asumir, alguma vez, a responsabilidade. Esta só existe, onde reina a liberdade.
A mãe referida é como assexual, o que nada favorece o
desenvolvimento de carácter psíquico. Bem ao invés, apenas o
atrofia.
A criança prossegue, contando mais anos e cresce a olhos vista, mas psiquicamente mantém-se infantil. A sua evolução foi
interrompida: ficará deste jeito, durante muitos anos; possivelmente, a vida inteira.

Não casará e, se o fizer, já ao destempo, não dará certo.
Qualquer mulher, não sendo prolongamento da mãe invasosora, não serve para ele.

Se entrar no sacerdócio, teremos ali futuro desertor... um
homossexual, pelo menos em potência... um ser imadro, no campo sexual e no afectivo.
Será, de facto, uma pessoa dura, mandatária e volúvel,
desequilibrada, asaz arrogante e quase insensível, superficial e nada prática. Um desertor?

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Amadora
14-6-1990
Não podem as mães amar os seus filhos?
Podem, com certeza, em qualquer grau. Nas tem de ser um
amor dacrificado, jamais egoísta; desinteressado, pronto a renúncias, caso seja preciso; deve facultar a iniciativa; não ter
ciúmes de o filho, no futuro, se dar a outrem.

Evitandoestes contras, com amor oblativo, pode amar em extremo, considerando o filho como autêntica pessoa e jamais como objecto seu, para usu exclusivo.
Aquele menino de que atrás falei, vive num meio, por inteiro assexuado, piorando as cisas, se a mãe, na verdade, se dava mal com seu marido.

Em tal caso, imprimirá rancor na alma da criança., levando
esta assim , a efeminar-se.
O contexto familiar é o que há de pior,no caso em foco.
Tenderá,sim, para adulto do outro sexo, errando inteiramente os caminhos da ventura. Vai anelar, em toda a vida, pelos carinhos da mãe, que é tudo para o menino.
Jamais se pode assumir como como ente decidido, com
iniciativa,, cálculo formado, sentimentos oblativos.
Horrorosas tempestades se vão desencadear, no porvir que o espera
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Amadora
15-6-1990
Consciente. Para ser tal, o nosso educando, ha´-de reflectir, amiudadas vezes, acerca da bondade ou ainda a feald
nas suas acções. Para que isto se realize, precisa ele maturidade, ao menos suficiente,quer sexual, quer afectiva..Só deste modo pode ser livre e assumir encargos ou tomar opções.

Entretanto, se ele está dependente e nunca teve iniciativa, tudo quanto faz não brota da sua forja: vem do exterior. É-lhe imposto ou sugerido.
Não é dado ao sacrifício nem se preparou,para tomar qualquer decisão. É que ele apenas faz o que alguém lhe manda ou então sugere.
Não sendo consciente, é imaduro e, por isso, não tem. de facto, responsabilidade. A mãe irresponsável interrompe,sem tino, a dita evolução, fazendo assin que permaneça infantil.
Afinal, a ventura ou a desventura está pendente de nossas mães
O homem será na vid o que a mãe quiser. É preciso e urgente educar as mães, para não falharem, na sua missão

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Amadora
16-6-1990 (cont. ) Autónomo
Este predicado é também indispensável.
Efectivamente, caso se verifique, pode o sujeito ser livre e responsável,quando seja necssário. Ficando a vida inteira ligado
aos pais, em plena dependência, nunca toma decisões: alguém o faz, em sua vez.
Chegada a fase em que isso, realmente, devia ocorrer, passa
em vão o tempo azado, pois a criança (adolescente) já estacionara,
continuando infantil.
Em tais circunstâncias, não se encontra apta, para enfrentar os problemas da vida.
É o que sucede, exactamente, no caso do filho,cuja mãe é viúva,,sendo ele único
Amor absorvente,egocentrista e não oblativo, conduz o filho a situações lastimosas. É adolescente, passou a puberdade, mas não evoluiu.
Não descobre o "terceiro" que lhe passa indiferente; tem medo de tudo e não utiliza os meios da conquista. É um inepto, sem iniciativa.
Que podemos esperar de tal indivíduo? Um marido em
potência? Um sacerdote ou religioso, em potência também?
Nem uma coisa nem outra"
O que temos ali é uma coisa inútil, de prazer a um, talvez até um homossexual, embora inconsciente. Tudo isto, afinal, por não ser autónomo.
Sem liberdade não há, decerto, responsabilidade!

Amadora
17-6-1990
O mais equilibrado que seja possível.
Este equilíbrio só pode alcançá-lo , de facto, se viver num ambiente, acomodado a isso, quero eu dizer, onde pai e mãe vivam sempre em boa harmonia., criando para o filho um ambiente de bem-estar, paz e encanto.

Para isso,urge a valer reeducar os pais, afim de não errarem o caminho a seguir e as medidas a tomar.

Se a criança evoluiu de jeito normal, sendo bem acolhida e
satisfazendo necessidades básicas ( alimento e afecto, serenidade,
bem-estar e segurança, grande à-vontade, convívio de iguais,
ausência de agressões, de berros e do mais, passará os estádios,
com muito proveito, assegurando um bom equilíbrio para o futuro.

Se houver carências do que é basilar, para garantir um êxito
feliz, virão os traumas, lá no porvir e, com eles, por igual, os graves sintomas que darão em nevroses ou até em psicoses.
O estado psíquico ( recalcamentos, conflitos e pulsões,
histeria fatal), manifesta-se logo em graves perturbações que
tendem a piorar e que provocam enorme desequilíbrio.

Amadora
18-6-1990 O Inconsciente
Durante vários séculos, ninguém deu atenção a este grande
factor, que reveste, por certo, enorme importância, no comportamento do ser humano..

Quer fosse ignorado quer não lhe ligassem, era realmente como se não existisse. Foi um grande mal e continua sendo,
porque há, na verdade, sectores diversos, em que ele , de facto, é tomado em conta.
Ora, isto afinal origina tragédias, no tocante à preparação para a vida social, já no campo civil, já no religioso.

Atendeu-se apenas ao chamado "consciente"( ainda hoje não é geral a aceitação daquele dado), quando, realmente, chega a ser maior, em certos casos, o peso do inconsciente.

Como esta matéria é de tomar em conta, a nível de educação e preparação para a mesma vida, urge fazer já algumas reflexões,
acerca do assunto
As descobertas de Freud, Médico , Psiquiatra e notável
Analista, foram muito contestadas. Era natural! Trata-se,,
realmente, de assunto escabroso e tinham por suspeito o seu modo
de agir.
O certo, porém, é que ele tem razão, ensinando muita coisa
que importa saber, para evitar neuroses ( doenças funcionais) e
vidas falhadas
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Amadora
19-6-1990 (cont.)
O chamado inconsciente será uma invenção, mera teoria
que Freud arquitectou e na qual a fantsia actuou grandemente?
Vamos ver que não é. O famoso Analista fundou-se ao que dizem, na sua experiência, transformando assim em dados científicos o que era simples teoria, lá nos primórdios.
A nossa mesma experiência ratifica os seus dados.

Existe o inconsciente? Que vem a ser isso?!
Quando, num momento, não ocorre uma palavra e esta vem depois,feito algum esforço ou mesmo sem ele, onde estava o termo?! Existia, decerto, caso contrário, não vinha à tona. Jamais
aparecia!
Por vezes, trata-se até de nomes utilizados com muita frequência, chegando nós a dizer: sei isto tão bem! Está debaixo
da língua"
Pergunto eu: onde estava este nome?!
Na instância psíquica, chamada inconsciente.

Disseram!Quando ouvimos palavras que não foram ditas, exprimindo, por vezes, a realização de um desejo oculto, donde vieram elas?!
Alguém esclarece ou tenta fazê-lo?! Disseram!
Não foi isso! Foi o nosso inconsciente que as trouxe ao de cima, revelando as profundezas da própria alma.

Amadora
20-6.-1990
Outros casos mais se nos deparam ainda, conducentes
ao mesmo. Juntemos alguns.

Ideias nos surgem que não têm, julgamos, qualquer razão de ser. Imaginemos isto: uma pessoa honesta e assaz meticulosa, que
observa os Mandamentos, é assaltada pela ideia de roubar.
Crê, de momento, ser isso oportuno. Facilidade não falta! Ninguém que testemunhe!

Como justificar esta grande ruptura?!
Veio essa ideia do chamado inconsciente. Mas se a pessoa é contra o roubo! Não importa! Ela tem, de facto, uma aspiração
que vem de longa data e não pôde realizá-la, pela falta de ecursos.
Já se tinha esquecido, conformando-se, por fim, com a sua mediania. Entretanto, na hora oportuna, veio logo ao de cima.Donde
procedeu? Do inconsciente, esse grande armazém, onde tudo se guarda!
Coisas aparecem de que nem nos lembramos, pois remontam já aos tempos da infância.
A instância psíquica do inconsciente é muito vasta e influi
profundamente na existência humana.

Amadora
21-6-1990
Palavras ou sílabas que saem erradas, ao escrevê-las.
Acontece com todos: saber exactamente como grafar-se
determinada palavra e, apesar disso, escrevê-la errada!

:À segunda leitura, se não antes dela, sem esforço nenhum,
descobrimos, com surpresa que está viciada..
A minha experiência abona tal facto: fico admirado...
altamente surpreendido!
Como foi possível, se eu não tenho dúvidas, a tal respeito?!

O certo e sabido é que o facto se deu.!
Pergunta-se então: onde se encontrava a grafia correcta?
Se ela existia, encontrava-se algures. Essa zona psíquica é o
chamado inconsciente.

Os casos referidos bem como os sonhos, de que vão ocupar-se outros Diários, denotam, à evidência, que existe, de facto, o chamado inconsciente e que tem repercussão, na vida de cada um

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Amadora
22-6-1990 Sonhos
Entre as provas certas de que existe o inconsciente, encontra-se esta - o sonho.
Efectivamente, ele traz ao de cima coisas diversas, algumas das quais já prendem as raízes nos tempos longínquos da nossa infância. Haviam esquecido.

Outras ainda não se tinham olvidado, mas estavam esperando no pré-inconsciente e vieram à tona, com mais facilidade. Um terceiro grupo expressa claro a luta que travamos,
para conbater o instinto desenfreado bem como a insistência infrene de quanto desaprovamos, a todo momento.

Estes casos são mais frequentes em assuntos melindrosos de
tipo sexual.
A pessoa luta, para deter as paixões, tendo sempre em vista o
domínio do instinto e, com a ajuda celeste, poder sair-se bem. No entretanto, vem o sonho, apresentando exactamente aquilo que na vigília tínhamos repelido.

Sucede até verificarmos,às vezes, certos porrnenores e vários incentivos,assaz aliciantes: situações delicadas, com imagens ao vivo.
Donde é que vieram estes pormenores? Onde situar aquilo que julgávamos estar sepultado, pelo facto de a consciência (censura moral) o ter reprovado?
E tudo aquilo que já estava esquecido?

Amadora
23-6-1889 (cont,)
A ignorância dos séculos, neste particular, deu origem à `frase: o sonho é mentiroso!
Puro engano! Ele pertence, realmente,ao número actuante das
grandes verdades., chegando a comandar a nossa existência.,
junto com outros dados que guarda o inconsciente.

Por este motivo,forçoso é prestar-lhe atenção., pois é benéfico e proporciona belos serviços, na educação. É como um farol que
vem aclarar posições complicadas e livra a pessoa de grandes enredos.
Acusam-no até de barrar o sono , mas isso é falso! Bem ao
contrário, protege o repouso, só contrariando, se for impotente,com vista a eliminar pressões e censuras.
Satisfeito o desejo, continu o repouo em doce bem-estar, paz
e harmonia.
Pois que é o sonho? Manifestação de algum desejo, aspiração ou tendência que foram reprimidos pela censura moral,
familiar ou social ou por outra pressão de qualquer natureza .

O conteúdo do sonho jaz no inconsciente, onde está recalcado, oprimido e sufocado, mercê de amarras que surgem da consciência, bem ou mal formada

Foi erro grave julgar e defender, que estão adormecidos,
mortos e extintos os recalcamentos, pulsões e tendêbcias.
Por meio do sonho, voltam à liça e jamais vão calar-se,
enquanto há vida
*****
Amadora
24-6-1990 (cont.)
Aparecem no sonho elementos obscuros, dando a impressão de que tudo é falso.
Notemos o seguinte: ainda no sonho, a dita censura (obstáculo), actua diligente, impedindo a clareza da situação pessoal.
Por outro lado, não actuando ali a nossa connsciência, podem surgir elementos estranhos que vêm associar-se aos já existentes. Tudo isto contribui notavelmente para surpreender a pessoa visada.
Como sabemos, pela nossa experiência, o sonho bate sempre em teclas esoeciais: os maiores anseios que foram barrados; as
tendências mais secretas, que julgávamos extintas; os esforços tenazes que nunca tivereram êxito; a aspiração mais querida que ficou frustrada; coisas aliciantes que foram vedadas.

Isto,porém. é trazido para cima, devido ao sonho, tão depreciado e tido por mentira . É muitíssimo bom rever estas alíneas; urgente,
direi, prestar-lhes atenção; muito perigoso aquele desinteresse,encolher de ombros e até galhofa a que esteve condicionado
Sem isso, continuaremos falhando, através da existência,
contribuindo notavelmente para que o homem fique para sempre mergulhado em trevas e seja infeliz.

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Amadora
25-6-1990 Importância do Sonho
É chegada a hora de atribuir valor ao que é sério demais,
para ficar subestimado e posto à margem.
O sonho é mentira. Deve banir-se tal afirmação, deduzindo
ilações de tal ocorrência.
Esta acção de vigilância,, acompanhamento e útil direcção
há-de ter início no próprio lar.

São os pais os primeiros a notar os sintomas que revelam nas crianças: desejos frustrados, aspirações travadas ou então diferidas na realização; projectos de futuro; insegurança e incerteza; prostração e desânimo; inquietude e sofrimento;
anelos e angústia.

Por via de regra, os pais acham graça e ficam por ali.
Não sabem, decerto, que se encontram à vista sin,ais e raízes que urge aproveitar, para se orientarem. Será isso, na verdade que vai actuar, no futuro distante. encaminhando a criança para enorme desgraça, caso seus pais não respondam ao sonho
É então que se forjam as armas que hão-de amordaçar o filho infeliz, não havendo alguém que tire partido, recorrendo ao
que chamam sonhos mentirosos.

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Amadora
26-6-1990 Aproveitamento (vocação)
Acertar, a rigor, o caminho a seguir,nos trilhos da vida, é base e garantia, para alguém se realizar, rendendo o seu trabalho e dando seguramça, paz e bem-estar àquele que o executa.

É ditoso, por certo, aquele que não erra, ao propor-se neste mundo uma carreira segura, habilmente aconodada à maneira de sentir e ao seu ideal.

Pode ser bem diferente daquela que, às vezes,pojectam os
os pais.Muitos destes encontramos a fazer pressão, já directamente e sem ambages,já por outras vias que chamam indirectas e um tanto manhosas, com vista a encaminharem os próprios filhos, em dado sentido.

Carreiras e alvos iguais aos seus ou outros ainda, do agrado pessoal. Fazer deste modo é criminoso! Preparam os filhos para a ruína total.
Serão infelizes: o seu trabalho jamais deleitará; ficarão frustrados e sempre insatisfeitos.

A vocação, seja qual for o ramo a encarar, brota das profundezas da alma humana. Há-de surgir por modo espontâneo,
provindo como água que sai do rochedo, em toda a pureza e autenticidade. Por isso, importa saber como se há-de actuar

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Amadora
27-6-1990 (cont.) O Sonho pode ajudar.
Esta bela achega tanto aproveita à gente adulta, incluindo o sonhador, como aos pais, à mesma criança e a outros educadores.
Suponhamos agora que se trata de criança.

O objecto dos sonhos hão-de ser brinquedos que têm ou não; pessoas do convívio que amam ou repelem, pelas suas atitudes;
lugares frequentados ou a frequentar; outras crianças que têm, ao que julgam, mais liberdade, pelo que sentem grande emulação;
casos idênticos, sempre em consonância com a sua idade e psiquismo próprio.
Durante o sono, vêm ao de cima, por meio do sonho, todos os elementos que fazem o seu mundo, já satisfatõrio, já detestado.

No primeiro caso, dulcificam a vida, tornando-a amada e, ao
mesmo tempo, favorecem o sono; no segundo, criam má vontade, pulsões e protestos, ódio e malquerença; insatisfação e até
insegurança; recalcamentos ; desejo de vingança; confusão para sempre e até insónias, a barrar o repouso;, aumentando assim a
infelicidade.
Estão já criadas todas as condições para um ser infeliz, pois
tudo isto vai decerto pesar, ao longo da vida., uma vez que actua.à maneira de travão, no evoluir da afectividade.,social e sexual bem
como psicológica da mesma criança.

Amadora
28-6-1990 (cont.)
Convém aproveitar quaisquer elementos, fornecidos pelo sonho. Quanto à censura, não deixa realizar o que está recalcado, no grande armazém do nosso inconsciente, ficando sem liberdade
ao longo do sono.
Com este ensejo, faltam os comandos que reprsentam ali as
pressões e desvios,, proibições e imperativos; distorções e lei moral,etc,etc.
Vigiando os sonhos, nos quais os petizes falam alto, por vezes e bem perceptível, adquirem os pais noções precisas,para
agirem devidamente.

Preciso é, naverdade, encarar o ser vivo como autêntica pessoa e não como objecto; limar as arestas e satisfazer quanto seja possível,aspirações legítimasou encaminhá-las noutro
sentido que seja do agrado, no mundo infantil.

A criança é tímida: receia a fundo perder o amor e assim o
carinho que os pais lhe votam, razão pela qual se não maniestam,
durante a vigília, só o fazendo, ao longo do sono.

A felicidade bem como a paz do futuro ser dependem, ao
certo destes cuidados. Numa palavra: o sonho é utilíssimo, ainda
para a escolha da mesma vocação

Amadora
29-6-1990
Vejamos agora o caso dos adultos, a partir da adolescência,
Nesta idade, já o próprio sujeito se pode orientar, pela introspecção. O sonho, afinal, é como um espelho,em que ele se
mira. Urge aproveitá-lo, agindo seguidamente,, em conformidade.
É que o sonho fornece elementos que brotam espontâneos das
profundezas da alma humana, ignorados, por vezes, do próprio indivíduo.
Esses dados podem estar em contradição com o rumo escolhido,manipulado ou escolhido por alguém estranho

Em tal caso, doa a quem doer, o sonhador há-de ser pronto, decidido e ousado, para libertar-se do querer alheio; suas aspirações e manhas sub-reptícias. Não hesitar! Caso
contrário, esta colaborando na própria desgraça.. Que o não impeçam lágrimas de alguém; interesses ocultos; aspiraçõesde outrem
O sonho dá-nos elementos que não deixam dúvida.
Algumas vezes, atribui-se ao diabo o que vem de nós próprios:
tendências e memórias, pulsões e desvios e recalcamentos.

Tudo fica armazenado no chamado inconsciente. Este, afinal, comanda a vida com o consciente.
Pena foi e grande que, durante séculos, não fosse tomado na devida conta!
*****
Amadora
30-6-1990 Consequências do não atendimento

Em primeiro lugar, vejamos ao de leve algumas razões que levam o pupilo a não tomar decisões e não ser enérgico, em dadas ocasiões que seriam propícias. Trata-se agora do educando adulto.
No meu parecer, é isso causado pela deformação, operada no seu espírito pelos educadores. Se o pupilo é generoso, simples
e dócil; bem intencionado; sempre disponível e com recta intenção, ouve milhares de vezes frases cortantes, solenes e sagradas:
Aquele que se afasta deste caminho é traidor e não se salva.Quem olha para trás ou para o lado já delinquiu, ofendendo ao
Senhor. Aquele que entre aqui deve seguir em frente.

Isto e o mais, pela repetição, imprime carácter. Nada aí no mundo consegue desgravá-lo! Actua constante e age qual amarra
que tolhe os movimentos.

É assim criado, artificialmente,um sinal de pecado e reprovação, caso ele desista.
Ora, isso não é verdade! Partiram eles de princípios intocáveis, certos e seguros, quando é mais que duvidoso o caso
mãos
O educando estuda simplesmente a su vocação: não a tem já certa! Está descobrindo o caminho a seguir

Duvidando, persistiu e continuou, pela via errada.Sobrepôs, à
sua , vontades estranhas, não se apercebendo de que era levado e
não guiado; forçado e não dirigido.Educação de síntese e não de
análise (caminho errado e perigosíssimo) traria a desgraça
Precisa-se, de facto,uma reforma total, a partir do berço, para todos os elementos da sociedade.

Temos uma História com 35o6 anos,documentada,
cientificamente. No passado, fizemos realmente o que ninguém conseguiu. É vergonhoso estarmos na cauda, quando em paralelo
com outros povos.
Fomos pioneiros, por Terra (« Se mais mundos houvera,lá
chegara»!) Mar e Ar.
Os aviões do mundo inteiro utilizam o invento de Gago Coutinho. Que disse Armstrong, ao voltar da Lua?



Silva Porto?????????????????????????????????????????????
5-2-1975
Um dito célebre de Napoleão: O povo requer 3 efes:festa, farinha e forca.
Dando algum desconto ao último efe, pois o grande Chefe seria absorvente e um pouco agressivo, hemos de confessar que
que há na sentança bastante realismo, muita exactidão e aguda
psicologia..
Um povo irreligioso e não evoluído, seja ele qual for, é
ferina alcateia, cujos instintos se impõem como lei, sem respeito
nemhum pelos direitos dos outros.

Quem pode viver, no meio de tigres?
Infeliz do homem que a vida atirou para meios infestados! Não vai ter paz nem se realiza. Só verbo de encher, passa o tempo enervado, lamentando sempre a vida que o esmaga.

Não terá ele direito aos bens deste mundo quer sejam materiais, quer espirituais?!
Alguém serve de estorvo às suas aspirações? Que sociedade é esta , em que nós vivemos?!

Primeiamente, cumpre advertir; criar, além disso, Obras adequadas e Centros vários de Regeneração, prestando aos molestos assistência pronta e especializada

Não havendo ali recuperação, devem ser logo retirados do lugar e prestar serviços, em zonas fechadas.

Festa, diversão, recreio, afim de esquecer, ao menos, por umas horas, a miséria da vida; farinha também, para manter a
existência carente e poder subsistir, trabalhando com afinco;

forca, por igual, para deter a besta humana, quando instintos perversos a levam ao crime, originando angústia nos outros mortais.
*****
Chitembo
9-2-1975
Este Domingo que chamam Gordo, vai já no fim.
Dia chuvoso e, por esta razão, harto aborrecido, passa de momento, com ar desfavorável.

Isto é campo ou melhor ainda, lugar exíguo, onde escassa dúzia de casais modestos, ou se desconhecem ou pouco se amam.
Devido a isto, imagine-se o tédio que logo nos invade, quando o
tempo de chuva obriga a reclusão.

Apesar de tudo, este remanso não cai mal, após um mês tempestuoso. Não se prolongando por mais de oito dias,é bem
suportável e eficiente.
O aconchego da família, o sossego e a paz que nos rodeiam,
a compreensão e a boa harmonia que reinam aqui são factores valiosos que interessam a todos e muito influem na recuperação.

Por outro lado, a floresta densa que nos envolve, proporciona a todos muito boa carne, que se torna delícia, após bom cozinhado.
Foi o caso que, hoje de madrugada, jaziam inertes, atrás do portão, vítimas anafadas: uma cabra mocha e um antílope
Ao meio dia, tirou-se a prova.

Os bifes?! Uma delícia! Até o meu estômago, ulcerado e combalido, funcionou, à maravilha, durante a digestão. Nem pareço doente! Assim,... comer sem regra!
Bem preciso é refazer o físico! O trabalho é muito e as canseiras vão aumentando!
A época presente não traz calmia nem permite repouso.
Agora, pois, toca a desforrar

*****
Chitembo
12-2-1975
Último dia, nas férias de Carnaval.
Tudo o que é bom passa veloz como se, na verdade, fôssemos deserdados ou a sorte ingrata bafejasse apenas os outros viventes.

Na realidade, com as outras pessoas o mesmo sucede, pois que, sendo criadas para outro destino, jamais serão felizes no
mundo terrestre, em que agora vivem.
Há vislumbres de ventura, momentos fugazes de alguma
realidade que pronto arrebata, mas é tudo efémero e deveras imperfeito.
Daqueles momentos que chamamos ditosos, que é o que fica?!
Enjoo somente, se as coisas se prolongam ou há desejo de mais, numa ânsia infinita, que nada preenche.

Se Deus realmente nos criou para Ele, como vamos nós,
loucamente pensando, forjar neste mundo, um destino diferente?!

É hoje o primeiro dia, no tempo quaresmal, dado à reflexão e exame sério dos graves problemas da existência humana.
Um favor do Céu que todos nós hemos de aproveitar, afim de que a vida não seja um logro.
A noite foi chuvosa, mantendo-se inalterãvel, ainda pela manhã.
Indesejável. talvez, vai o tempo agora,como Deus é servido,na zona tropical, A água abundante ressuma de toda a parte, o que
orna as plantas mimosas e verdes.
Para o mundo vegetal, nada existe melhor, se o calor não falta.
Gostaria, no entanto,de uma abertura seca, para o meu regresso a Silva Porto
*****
Silva Porto
14-2-1975
Racha pelo centro o mês de Fevereiro, que tem sido molhado e tão ventoso, como nunca vi, desde que sou gente.
Dizer mal dele confesso não ser grato, pois foi nele que eu vi a luz do mundo. Em 19, fecham-se para sempre os meus 57. Como o tempo foge!
A existência humana figura lindo sonho, com manchas frequentes e desaires à mistura. Do sonho belo temos só fugacidade... irrealidade! Nada se concretiza do que havíamos
pensado ou se algo ficou, abriu fenda aqui, buraco além, por falta de esforço ou pelos obstáculos, erguidos por outrem, na via que trilhamos
Vieram uns de nós mesmos; procederam outros, da negra inveja; surgiram outros ainda não sabemos donde!
Endireitar é tarefa dura , ingrato labor.
Rectificar a nossa vida, tornando-a sempre morigerada, útil e
digna, é já fazer muito. Será, por ventura, o melhor caminho que temo a seguir
Digo o melhor, por que as outras vias são barradas pela inveja e vedadas talvez por liberdades alheias.
E então no dia de hoje em que os direitos se vomitam logo por todos os poros!
Deveres a cumprir é coisa inexistente, à face da Terra!
É impossível imaginar alguém com direitos apenas: é que em tal caso, as outras pessoas deixavam de os ter.
Onde acabarão os direitos de alguém? Quem marca o limite?
Será o egoísmo e a tola vaidade?!

*****
Silva Porto
28-2-1975
Derradeira aventura, ocorrida em Silva Porto
Deu-se este caso ainda há pouco.
Personagens? Quem os não conhece! Como tinha de ser, alunos sem miolo! Calculem! O que isto deixa ver, quer em trafulhice,
quer em desaforo!
Verdadeira negação de capacidade e valores humanos! Tudo
se encontra, menos seriedade, carácter e senso ou lealdade !

A vigarice pedante, no aspecto mais vilão, comprometedor e até
mesquinho achou terreno bom em alguns alunos do 7º ano do
Liceu Silva Cunha, após o baile dos Finalistas.

Foram 5 os compartes desse acto hediondo.
Efectuados vários roubos, em casas particulares, aos próprios pais e à Secretaria, não duvidam sequer em chamar seu ao dinheiro do
baile.
Seguidamente, urdiram a peça de maneira tal, que fugiram logo para a vizinha Zâmbia, com tudo o que levavam.

Não tenho noção de qual o montante, mas dizem ser alto.
Além do mais, fizeram-se acompanhar de objectos de Escritório,
Laboratório e artigos de vestuário.

Para finalizar, pediram o carro a uma professora que mostrou renitência. Acedeu, porém, ao rogo de uma colega, que
ajudou no pedido, sem se aperceber do grande logro.
O final da peça?
Apanhados todos pela Polícia, já se encontram de regresso,,pelo
menos três deles.
Veremos, finalmente, qual o andamento que a farsa vai tomar.
*****
Chitembo
13-3-1975
A cadelita, Lili, começou vida nova. Ontem, foi para a
Metrópole o Chefe da Polícia desta localidade, Amigo de meu
cunhado, quis deixar-lhe uma lembrança - a Lili.

A cadelinha é viva, muito airosa ede corpo exíguo. Predomina a cor preta, havendo partes de amarelo torrado. Tem
olhos fulgurantes, de cor acastanhada.
Bem claro se vê que passou já ontem aos novos patrões.
Veio nervosa e contrariada, sendo necessário prendê-la com
barbante.
Encarregou-se o Carlitos que tem jeito e paciência ,para valer aos animais , de modo especial, quando são infelizes.

A pobre Lili parecia desditosa: não erguia a cabeça!
Abandonada à sua triste sorte, resignou-se forçada,. lendo se nos olhos a desdita que a prostrava, Creio até , e não me engano,
haver-lhe enxergado vestígios de pranto.
Como são dedicados os pobres animais!
Apesar de tudo, a Lili teve sorte: foi seguidamente objecto desvelado, em carinhos frequentes e solicitude, o que a levou pronto a esquecer a infelicidade.
Hoje, de manhã, restituí-lhe a liberdade, o que ela aproveitou, para longa visita à casa abandonada.

*****
Chitembo
16-3-1975
Provas universais da existência de Deus.

Antes de mais, o consenso unânime de povos e nações,em
todos os tempos, lugares e circunstâncias, o que é garantido por
vários escritores , gregos e latinos, como por exemplo: Plutarco e
Cícero.
Bem claro se deixa ver! O que todos reconhecem unanimemente não pode ser errónio: faz parte das ânsias e fundas
palpitações do género humano, que deseja ser feliz, possuindo a
Verdade, o Bem Supremo e a Beleza sem igual.

Em seguida, para já, o argumento irrefutánel da causalidade:
todo efeito exige uma causa. Ora o mundo, o homem, animais e coisas são efeitos excelentes , logo exigem uma causa.

Até ao dia de hoje, ninguém apareceu a reivindicar a glória
incomparável de haver feito o mundo. Portamto, o seu autor não
foi o homem. Se este, afinal, nem sequer está a par do que nele se encontra!
Vai achando lentamente.frnómenos diversus e potencialidades que o deixam assombrado!

Em terceiro lugar, a origem da vida, Este argumento pode enquadrar.se no anterior. É um aspecto singular! Houve já insanos que tentaram explicá-la por geração espontânea ou por lenta evolução da matéria inerte.
A primeira hipótese foi destruida pelo sábio Pasteur, que provou à saciedade que todo ser vivo provém de outro ser igualmente vivo
A Academia de Ciências Humanas de Paris ratificou as suas provas, com estas palavras: Postulado incontrastável de futuro.
A evolução da matéria é de todo inaceitável, porque nunca o menos deu origem ao mais.
Em quarto lugar, o argumento da ordem.
Disse Voltaire: No Universo há ordem. Esta supõe, necessariamente, algum artista.

*****
Chitembo
17-3-1975 (cont.)
O arumento da ordem é esmagador e bastante acessivel a
qualquer inteligência, mediana que seja.

Basta, na verdade, olhat para o mundo ou para unm ser qualquer,
individualmente. Exíguo, talvez. não deixa jamais de erguer bem alto as maravilhas celestes que nele se revelam.

Assim, por exemplo: a sucessão dos dias e das noites: as estações do ano civil, O giro matemático dos corpos celestes, que
seguem a rigor, o rumo traçado pelo grande Arquitecto; etc.

Detenhamo-nos um pouco no corpo humano Pondo de parte
a união substancial entre alma e corpo que é facto surpreendente e não pode explicar-se, vejamos somente o lugar dos órgãos.

Estudando, a rigor, o aparelho digestivo, para não falar de outro qualquer, notamos desde logo que todas as partes se ordenam de tal modo que possamos realizar a função digestiva.
boca, faringe,esófago, intestinos e, por fim, o ânus.

.Por que motivo não estão deslocados os órgãos constituintes do aparelho em causa? É porque alguém, autor do corpo humano, lhe fez o traçado, executando-o logo em seguida.
As diversas glândulas, que o vão acompanhando, segregam
produtos, cuja acção é tendente a obter o mesmo fim.

Por que é que os nossos dentes se encontam na boca?
Por que é que os nossos olhos estão postos a rigor na parte
frontal da cabeça humana? Por que é que as nossas mãos não se encontram jamais no lugar das pernas?
É, pois, mais que certo haver um Grande Arquitecto que tudo fez e o colocou no preciso lugar.

*****
Chitembo
20-3-1975
Se meu pai vivesse ainda, fazia hoje 89 anos. Era bom
rol, não haja dúvida! Apesar de tudo, já encontrei pessoas diversas,com cifra igual, achando-se lúcidas e bastante válidas.

Quem dera,Senhor vivesse ainda, para eu dizer, com inteira
verdade: como é bom ter pai!
A vida, porém. não é jamais o que desejamos e, tantas vezes, segue ela ao contrário!
Como seria agradável encher de carinhos o autor de meus dias!

Era pai modelar, incomparável e simples. Amigo da esposa, mãe de seus filhos a quem amava e queria acendradamente, recebeu de todos nós dedicação e amor. Ir para o lar o mesmo era, certamente, que abandonar o deserto e repousar tranquílo, em bela estância.

Reinava ali a paz, o bem-estar e a doce harmonia.
Quando ausente, porque as lidas do campo o retinham, por mais tempo, ansiávamos todos pela sua vinda ,achando-nos alerta ,para
dar conta do próximo regresso
Uma vez presente, era o mundo todo, à volta dele, enquanto
repartia seus doces carinhos por todos nós.
Que lar ditoso!
Nunca ali soou uma palavra mais alta!Jamais presenciei qualquer
dissenção ou simples amuo..
Sendo eu o mais velho de todos os filhos, melhor pude observar quanto amor e ventura o doce tecto abrigava,
Se algum descaía, tinha logo processo de pô-lo a rir, num abrir e
fechar de olhos.
Crente e piedoso ( rezava o terço à Virgem diariamente) foi logo premiado: deu-lhe Deus morte santa, como só a justos o Céu dispensa
*****
Chitembo
22-3-1975
São 1o horas da manhã e deleito-me, a capricho, sob o
grande pinheiro que se ergue no quintal. Com os seus 20 metros e copa dilatada, oferce a todos, pela canícula, sombra deliciosa que aproveito gostoso.

Em cadeira desmontável, quando não apoiado sobre as
grandes raízes, vou lendo mansamente ou escrevo estas notas para não esquecer a Língua Portuguesa.

Acabei de reler 30 páginas magistrais da Sintaxe Histórica,o
que é para mim deleite sem par.

Há 3 livros preciosos que sempre me acompanham, em tempo de férias: o já citado; Estilística da Língua (Rodrigues Lapa) e Gramática Histórica (José Joaquim Nunes)

Aspiraçóes a gramático? Essa ideia, realmente, anda sempre comigo,mas duvido, a valer, se poderei realizá-la.
É tarefa árdua que demanda, para logo, vasta cultura, embora me deleitem assuntos do género.
Verei,no porvir, o que Deus permitirá.Da minha parte, continuarei forcejando, no mesmo sentido
Entendo, em meu juízo, que devia simplificar-se a parte sintáctica, livrando-a dos caprichos a que anda sujeita.
As Gramáticas nórdicas são bastante mais simples,
acessíveis e práticas
*****
Chitembo
28-3-1975
Neste dia venerando o coração enternece-se e o peito
acorda, para meditação.. Não sei nem figuro como hei-de ser
grato a Nosso Senhor, por tantos benefícios, o maior dos quais se comemora hoje.
Sexta-feira da Paixão, mistério profundo, inefável e sagrado
que reparou cabalmente os danos da minha alma, conquistando para todos um lugar no Paraíso!
Paixão e Morte do Senhor meu Deus, que se imolou por mim, na árvore da cruz!

Que direito me assistia, ó meu bom Jesus, para que désseis por mim vossa vida preciosa?!
Que tenho eu feito, ao longo da vida, que mostre dedicação, amor sincero e reconhecimento?!
Às vezes, esqueço-me, imperdoavelmente, de tanta solicitude! Mas, Senhor, não é por mal! São as fraquezas que não logrei rebater,como Vós mereceis e eu devo à minha alma

Entretanto, declaro que sou ingrato e bem pecador, motivo pelo qual Vos peço perdão, sinceramente, com propósito firme
de ser mais cuidadoso, nos dias que seguem.

!Cono o bom ladrão, solicito ardentemente que Vos lembreis de mim, na Pátria ditosa. Também nesta vida fui realmente ladrão da voss glória, que eu retirei, indevidamente, doações e sacrifício, por meio dos quais devia honrar-Vos.


Olvidai, pois, ó Senhor, meus pecados e fraquezas
ajudando-me a cumprir a Vossa vontade.
Que posso eu ,Senhor, não contando convosco?!
Espero, pois, ó meu Deus, que ollvideis o meu passado, e eu
confiante no Vosso amor, acorde para a vida que me torna, desde logo herdeiro do Céu
*****
Silva Porto
17-4-1975
Dera já uma aula, apressando-me um pouco, rumo directo à sala comum.
Eis senão quando fere o meu ouvido esta frase inconsciente, brutal e parva que certa gaiata, de cabeça leve, ousa pronunciar: -
Eu não acredito em Deus, porque nunca O vi!
Argumento de arromba, nao há dúvida nenhuma! Acreditar somente naquilo que vemos! Boa teoria! Aplicada a rigor, jamais
acreditaríamos em nossos pais!
Pois se não vimos!
Devia ser notável a Ciência humana , aplicando tal princípio!

O último astro do Sistema Planetário foi admitido, antes de
avistado!É verdade! Neste momento, foco Plutão.
Se o tal argumento fosse irrespondível, o famoso cientista não devia acreditar nem o mundo ouvi-lo!

O certo, porém é que, aplicadas as leis, deduziu as conclusões, sem hesitação!
O que lemos na História não o vimos, certamente, e acreditamos.
O que se aprende em Geografia, acredita-se igualmente, não o
tendo visto
Que dizer do átomo? Igualmente da cèlula? Dos protões e elctrões? Dos neutrões e do ar?
Platão e Cícero eram pagãos e demonstraram. a existência de Deus
O livro mais famoso que se escreveu, na Terra, fala abundante, acerca de Deus
*****
Silva Porto
21-4-1975
Foi ante-ontem já, na Sé Catedral: âs 17 horas, concelebração, para homenagear o Padre Sá, responsável religoso
nesta cidade. Como desejava, tomei parte na função.
Razões para tanto?
Prestigiar o cargo por ele exercido

Por esta razão e outras mais, impõe-se, na verdade, que honremos o Pároco, pela nossa presença e digamos ao mundo que o seu alto
múnus é de facto, informar, dirigir o rebanho e alimentá-lo, com
a luz da palavra e o Pão do Céu
Este apoio visível,como prova de estima e gratidão, pelos serviços prestados, vai dar-lhe incentivo e dinamismo, para
trabalhar, na vinha do Senhor.
Já o mesmo não sucede, vendo-se isolado, incompreendido e desestimado. Deus do Céu é a grande recompensa,mas o calor
humano é imprescindível, em nosso lidar

*****
Silva Porto
6-5-1975
Como se o cortejo fora diminuto, começou ontem nova
doença, que produz mal-estar. De facto. é caso para isso, pois o órgãoda vida tem papel inportante, na existência humana.

Após o exposto, sabendo nós há muito a influência do físico sobre o moral, e vice-versa ambém, já posso idealizar quanto a vida me reserva, para sofrer, no futuro.
O coração!...
Havia dois dias que me sentia cansado, mas de modo esquisito: era uma ânsia!... Coisa bem estranha que obrigava a encostar-me,
não sabendo até como defini-la.

Ao cair da tarde,para identificar, doeu-me bastante,, como a
dizer: Sou eu! Não sabes onde moro?! Estou aqui, ao lado esquerdo, no meio dos pulmões!
Confesso, desde já, que tais vozes me assustaram de maneira brutal! Que poderei fazer com tal órgão a queixar-se?! Talvez em
quebra total?!
Muito aguentou, em 57 anos, com génio excitável, igual ao meu!
Tantas desilusões! Desencantos da vida! Promessas que falharam! Desaires mortíferos!Sei eu lá bem o que foi a minha vida! Sempre solitário, inconformado!
Ninguém se aproximou, dizendo, pesaroso: Desculpa! Fui
a causa da tua aflição!
E, no entanto, alguém existiu que foi culpado
Sendo eu, de facto, não podia queixar-me!

Silva Porto
6-6-1975
*****
A cidade inteira viveu a Tragédia
Nota: Margarida foi assassinada,em 8 -5-1975 (ver livro " A Segunda Noite!"
A partir da negra hora, em que o tiro soou, onda incomensurável de pavor e espanto dominou a cidade. Calma e bem-estar haviam desertado. Alarmadas as gentes e muito receosas, corriam breve a todas as partes, levando no olhar o sinal da repulsa.
Mães e pais angustiados, irmãs e noivos em crise, todos a um tempo se põem ao rubro.

Dos vários sectores, foi o meio estudantil que mais vibrou e sofreu! Protestos de vária ordem, ameaças de punição, lamentos fortes e ais sentidos formavam ali um rosário bem longo, difícil de passar!
O luto amargo invadiu-nos a alma, para abranger, em seguida, a população inteira
Viam-se lágrimas, nas faces ao rubro e vivo fogo no olhar de todos.
Queriam ver a inditosa e perguntar minúcias da triste ocorrência. E vinham ais abafados, quando não até soluços veementes.
Houve quem temesse o resultado funesto dum povo em agonia.
misturada com ira!
Durante as noites que foram duas, houve sempre alguém, de vela à menina , não falando na UNITA que lhe fez guarda de honra.
Merece também especial menção a tropa garbosa da FNLA,
que lhe prestou homenagem, durante o funeral.
Deslumbrante cortejo! Um mar de gente e de flores!
Mil carros e bandeiras, orações fervorosas... lágrimas escaldantes... eis o leve esboço do que foi o funeral, efectuado somente em 10 de Maio.
*****
Silva Porto
9-7-1975
Estou delineando a capa dum livro que trago na mente publicar em Angola,ao tempo da independência, caso seja possível. É trabalho gostoso em que ponho a alma e deixo em parte o meu coração.
Fosse eu pintor, esboçava um desenho que me arrebatasse.
Mas que duro combate vou agora travar, entre mim e eu próprio, ao notar dsalentado que o engenho me escasseia, para ilustrar a capa referida!
Porfiarei, no entanto,, explorando os meus recursos , afim de estilizar, nesta obra modesta, o preito fervente à saudosa extinta.
Servirá de marco, a recordar aos vindouros que uma pátria nasceu, para não se ofuscar.
Honrar, sim, a menina que amou a sua terra e gritar ao mundo inteiro que Angola seja senhora, tal é o meu intento.
A jovem angolana, imitando esta mártir, dará brilho à nação e orgulho aos vindouros.
Eis, pois, o que pensei, meditando na capa dum livro
possível: sobre o mapa de Angola poderão ver-se,nos cantos, motivos diversos.
Essas alusões estão relacionadas com os três Movimentos de Libertação: " A vitória é certa; unidos venceremos;liberdade e terra; o galo preto, no canto inferior, ao lado esquerdo; o Sol a romper, nasaliência da Zâmbia; ao centro da folha ima foto da menina que uma bala prostrou, em 8 de Maio de 1975.
Por baixo de tudo, a quadra seguinte:
Que o meu sangue, ó Pátria amada.
Angola doce,imortal,
Seja anúncio de alvorada,
Sem tardinha nem rival

*****
Chitambo
19-7-1975
Idi Amin chama as atemções como usa de fazer, mas nesta data, por modo especial: aparece em cadeira, a ombros de Britânicos; propõe com firmeza a expuisão de Israel e da África do Sul, das Nações Unidas; sugere desde já uma força africana, com vista à paz, emterras de Angola, até que os Movimentos consigam emtender-se.; o Continente Negro deve fazer a guerra total, para conseguir a independência na esfera económica

A intervenção de uma força armada, com origem africana parece, realmente um bom achado, caso esteja a ponto de cumprir a missão.
Conheço Idi amin. por via da Imprensa, coisa que não basta
para eu, seguramente, fazer um juízo,recto e íntegro
Entretanto, assiste-me a fé de que tem iniciativa, embora se apresente, algumas vezes, com sinais evidentes de grande imprudência e bastante exagero.

Tenho a impressão de que devia assisti-lol um Conselho de Estado, com fim moderador e, por outro lado, suavizar um pouco as suas relações com outras potências, A precipitação, a vingança e o despeito devem ser banidos do seu campo de acção, para que, na verdade, ele possa deixar uma obra valiosa.

*****
Chitembo
21 -7-1975
Ontem. pelas 15, visitámos o Susse. É este, de facto, o nome popular por que é conhecido o velho Barros e se vê na fachada. Pois o amigo Susse, casado há muito com dama alemã, natural que é do Sudoeste Africano, foi operado há pouco tempo.

Como tem amigos, invadem-lhe a casa, sobretudo ao Domingo. Ora, desta vez, havia, portanto, razões especiais, para ir saudá-lo, com mais alegria,deixara Windhoek, regressando ao lar e ao campo de trabalho.
Este o motivo da nossa visita.
Ao chegarmos lá, depararam-se logo muitos veículos, perto de casa, junto da estrada que leva a Serpa Pinto e depois ao Cuangar,já na fronteira com o Sudoeste.
Voltando ao maioral, anda ele agora pelos 77 e vem rejuvenescido, tecendo elogios à África do Sul e assim à clínica, ali executada.
O que ele não diz de enfermeiras e Médicos! Acicatou-me bastante, para deslocar-me a tal país e ver no lugar, com os meus olhos.
A grande barreira é o dinheiro angolano. Pelo fundo cambial, não vai a muito mais de 37. No Mercado Negro , só por 100$00 obtemos 1 rande.
Ora isto passa a mais!É o triplo! Só ganhando fortuna aqui por Angola! Vamos ver se mais tatde as coisas se modificam, devido à Política.
Na verdade, quem melhor que a República pode ter cobertura para os seus capitais?!
Com imensa riqueza, tudo lhe é possível, Assim outros povos o pudessem fazer!
Diamantes, ouro; café e madeiras; agricultura e pecuária,
etc,etc.
*****
Chitembo
30-7-1975
Aluguei outra casa mais dispendiosa. Apesar de tudo,
vale o excedente, pois que é melhor, dispõe de mobiliário e tem garagens. Pertence o domínio à família Garcia, que vai embarcar, nos próximos dias, para o nosso Portugal..Sairão daqui, a 3 de Agosto.
Voltando â residência, vem a ficar em 2ooo$00, como renda mensal, vencendo-se a primeira no próximo Setembro, o mês exacto em que vão iniciar-se as minhas novas tarefas.
Pela outra habitação, pagava somente 1500$00, mas era inferior.
Quanto a mobília, falta só o frigorífico, pois já foi vendido.
De salientar ainda: há coisas duplicadas.
Acontece, na verdade, em ordem às camas,sala de visitas e
sala de jantar

Do conjunto faz parte ainda uma pequena estante; dois dispositivos para estudo, no quarto; uma caixa postal (214); um
telefone (186); lugar fechado, no interior, para o automóvel; outro ainda, no exterior, também fechado por um portão.

Os móveis disponíveis são da melhor qualidade.
Há outro aspecto que muito me apraz: o bloco enorme apresenta-se ali qual fortaleza.
No rés -do- chão, há duas lojas de Comércio e um belo Café.
O muro dos anexos deve ter, ao que julgo, 4 metros de altura,
havendo no topo um resguardo ponteagudo, formado por vidros.

*****
Chitembo
3-8-1975
Era o ano do Senhor - 1943.. Decorreram, pois 32 anos! Como o tempo foge e quantas ilusões se vão com ele!
Em Vide-Entre-Vinhas, pequena aldeia, no Distrito da Guarda, mesmo juntinho a Celorico da Beira, ia grande azáfama,
pois era véspera de Missa nova.
Grande euforia em toda a família! Entusiasmo indescritível, no mesmo povoado!
Embora a longa distância, recordo hoje, nitidamente, o
alvoroço enorme, que reinava na aldeia
Os convidados, mendigos e curiosos eram a montões,nessa data festiva.
Saudades?
Apesar de tudo, ainda as sinto, pois viviam nessa altura, os meus grandes amigos. O facto, relevante para eles, foi sem dúvida a concretização dum sonho amado, que albergavam na alma, havia muito já!
Quanto a mim, as coisas, na verdade, são um pouco diferentes
Se me houvessem ministrado, como era dever, a noção positiva,
acerca da vida, com prós e contras, em franca exposição, não
ocultando as dificuldades e sérios problemas, teria pensado,mais
longamente, sobre tal assunto.

O sacerdócio é de facto belo, mas tem que ser vivido por quem o escolheu, de maneira livre, espontânea e grata, sem
peias nenhumas de carácter familiar; sem quaisquer estorvos de
aspecto social ou ainda económico; sem a tal educação que chamam agora unilateral, fechada, angelical.

O que não é fruto, deveras espontâneo da própria alma,
apresenta-se logo como alheia inposição, mais ou menos disfarçada e, por tal razão, não dá felicidade, trate-se embora
de belas Instituições.
No caso em foco, deve o homem ser chamado pelo pr´prio Deus, como foi Arão, sem aquele ónus que Jesus não impôs a
seus mesmos Apóstolos.
*****
Chitembo
13-8.1975
Combate nas trevas, Havia 3 noites que eu dormia pouco. O mais leve ruído figurava logo uma coisa má. É, de facto assim, quando falta a paz. Imagina-se o pior, originando então
pequenas coisas graves resultados.

De noite, agrava-se o caso
Afinal de contas, que havia de ser? As cadelitas! Ou por verem a
mãe, ao entrar na varanda ou por terem medo ou talvez frio,
avançam para a testada, pela banda poente, deixando ali esterco e bastante humidade,
Começámos logo a impedir a entrada, pondo caixotes e caixas de papelão e, ultimamente, uma chapa de zinco.

Ontem, de noite, pelas 22 horas, passou-se também o que era habitual: choros frequentes, pequenos ladridos, tentativas porfiadas, de romper a barreira, pancadas secas e não sei que mais!
Já estava na cama, preparando-me então para dormir.
Identificado esse obstáculo, salto prestesmente, a janela de Oeste,
empunhando um chicote.
Lá estava a menor que não pôde furtar-se a uma boa chicotada. Depois, vendo ocaso mal parado, escapou-se logo por uma abertura
Bem eu julgava lhes servisse de lição.À uma da manhã,, repete-se o mesmo, com mais ruído ainda.
Mal desperto ainda, empunho a lanterna e o pequeno chicote. É como chuva!
Caem-lhe em cima, como bolotas verdes!
Queixumes, gritos e choro nada lhes vale! Só aparar e nada mais! Por fim, escapa-se a maior; a mais pequena vai pelos ares!
Estava enervado... Cheio de sono!
Hoje tenho pena destes bichimhos!
São tão engraçados! Vou acarinhá-los.

*****
Chitembo
15-8-1975
Faz hoje 10 anos. Na bela companhia de um aflhado, partira de Manteigas, rumo a Tourcoing, ao norte de
França.
Esta cidade, com Mouvau e Roubais ficam juntinho à fronteira belga, de tal maneira que, num simples giro, após a
refeição, chegamos ali, seja embora a pé.

A viagem para lá, fez-se em duas etapas, uma vez que pernoitámos em S, Sebastian,
Até aqui, nada ocorrera que fosse desairoso.
A travessia de Espanha processou-se ordenada, com média geral, aproximada a 80

Já no dia 15 pisámos a fronteira,encontrando-nos assim em terra francesa. Vem a praia de Biaritz e, logo após ela, o território de Dax.Foi neste lugar que o imprevisto surgiu.
À minha frente, seguia a 8o uma carrinha Peûgeot, que
levava um atrelado.
Fui longo tempo seguindo atrás, sem querer ultrapassá-la.
Sempre bem alerta,usando de cautela, fomos assim,durante o
percurso, naquela região.

Eis senão quando o veículo pára, sem aviso prévio.
Apercebendo-me disto, ponho travão a fundo, mas tenho a
impressão de não agir com proveito. Prosseguindo sem desvio.
disse eu então para os meus botões, vou contra a Peûgeot!

Resolvo ultrapassá-la, muito embora, nessa altura, circulasse
um veículo, em sentido contrário. Admiti a hipótese de o fazer a
tempo ou cabermos os três. O que eu não supunha era que o meu
Taunus ia guinar para a esquerda!
Bem lidava eu, para reconduzi-lo em sentido oposto! Tudo
foi inútil!
Em tais circunstâncias, a outra carrinha vem contra mim,
atingindo o Taunus sobre a porta da frente, à minha direita
Não houve mazelas! Apenas susto!

*****
Cuangar
20-10-1975
Mais outro jeep arribou à Missão, mas, desta vez, com gente grada.No interior vinham três pessoas, às quais se juntava o condutor do veículo.

Pois aquelas personagens eram nada menos que subidas Entidades,na Igreja Católica: o Delegado Apostólico;

D. Vitti, Bispo de Serpa Pinto ( o primeiro que que a cidade tem); Padre Queiroz, agora Provincial dos Redentoristas na
República de Angola, o qual reside no Cuche.

Detiveram-se algum tempo, só para cumprimentos
mudança de vestuário., rumando em seguida à Missão do
Tondoro, no Sudoeste Africano.

A esta Missão conduziu-os o Rev Padre Abílio, Reitor e Superior da Missão Portuguesa, no citado Cuangar.
Tratados ali os assuntos em vista, retornaranm eles, por volta do jantar.
Tomámos então os lugares à mesa, ficando os Mitrados ao alcance da vista.
O Bispo de Serpa Pinto é bastante jovem e, embora pretto,revela-se cordial e muito zeloso de assuntos religiosos.
Pareceu-me arguto, sabendo habilmente aproveitar o ensejo
psrs lograr os seus fins., A Padre Abílio fez perguntas como estas:
Sabe Cuangar? Quantas Escolas tem a Missão? Já
percorreu a área toda? Conhece rapazes de inteligência capaz, bom coração e assaz trabalhadores? Aponte-mos breve para o Seminário
O Delegado Apostólico é pessoa de aprumo, agradável presença, fino observador que ouve sempre muito e fala bem pouco.
Responde somente ao que lhe perguntam.
Sobre o momento político, extrema reserva -----23

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