1985-08-14
Na parte final de Memórias 22, começava-se a falar, sobre o peneiramento e uiniformizaçao dos vários dialectos e codialectos que deram origem, por modo geral, aos diversos idiomas que as nações utilizam
A este propósito, lembrou-me a censura de Menendez Pidal,
aludindo ao seu idioma, com dizeres e expressões que não cito à letra; "Há, sim, dialectos e codialectos que foram peneirados e sempre sujeitos à lima do tempo. afim de se obter um todo único~
de todos conhecido",
"O mesmo se passou com os falares das várrias nações, se não excluirmos a língua francesa bem como a italiana, pois logo escolheram um só dialecto, entre os muitos que havia.
Chegados aqui, vamos prosseguir, durante algum tempo, sob a orientação e critério seguro do filólogo brasileiro que muito aprecio e já citei.
Assim, ergue-se ante nós o paradoxo linguístico de que a que a língua comum da famosa Atenas não era o Ático puro e que a língua corrente, em Copenhague, não é, de facto o Copenhaguês puro e que, em Paris, o Francês de Paris não é o Parisiense, no sentido estrito.
As línguas comuns e nacionais desenvolvem-se, principalmente. em Atenas e Paris bem como em Londres, mas não por Atenienses, Parisienses e Londrinos natos."
Em tal sentido,é indubitável que as línguas comuns apresentam, pois, uma característica de tipo geral, de extrema importância. a de serem mais ou menos idiomas e línguas mistas, não só pelo processo da formação em si, mas também pela variedade dos elementos que delas participam
É o que mostra Millet, expondo o caso grego:"Attique a fourni le premier modèle, mais ce modèle n'a eté produit qu' en
partie; et quand les centres de civiliation se sont déplacés, on a cessé de regarder vers thèmes, pour y chercher le type normal du
bon parler.
A formação da língua comum russa decorre naturalmente da unificação, feita em Moscovo, das tendêncas dos dialectos, falados a Sul,com as dos dialectos setentrionais.
A capital russa assume função unificadora e directora que no século XVIII, foi consagrada como língua escrita e literária,por
obra e graça de Lomonosov.
A formação do Inglês é igualmente instrutiva..A língua comum constitui-se em Londres , elaborada não só com a base de apoio no dialecto londrino, mas principalmente pelos emigrantes que de todas as partes aí afluiam em grandes massas..
O caso de Londres é semelhante ao de Lisboa. Em ambos os casos, vemos uma capital, ponto de união, entre o Norte e o Sul; vemos um empório comercial, banhado por por um grande rio (Tamisa e Tejo).; um centro importante de cultura Universitária e,
finalmente, um grande centro de influêmcia política.
Em suma, trata-se, a rigor, de uma forte coincidêna, de tipo linguistico e colectivo que proporciona o equilíbrio.
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Lx. belém Cont.
1985-o8-1
Uma vez constituída a lígua comum, num período variável que pode corresponder a três gerações (cem anos) ela difunde-se e trradia, por todo o território que forma a nação, mercê do poderoso e eficaz ensino que a Escola ministra; da acção dos jornais e agora dos locutores, tanto da radio como da televisão.
Continua destarte, por meio do contacto, repetido e infifnito,
com as diversas pe ssoas de todas as partes do mesmo país todo, a sofrer a influência, às vezes diria, quase imperceptível dos falares regionais.
Importa agora esboçar a razão da língua comum e explicar por que motivos se tornou Lisboa centro director e difusor do Portuguès-padrão.
A formosa cidade, que se ergue altiva, nas margens do Tejo,
voltou para nós, em ll47 e, à reconquista, seguiu-se a expulsão em massa dos seus habitantes. bem como ainda o pujante renascer duma cidade morta,para onde convergia uma grande multidão: gentes do Norte e de estranhas terras, Institutos Monásticos, Ordens Militares, uma massa heterogénia, de que a fé cristã foi, de começo, "elo básico social." Rui de Azevedo.
Facilitado o caso pela situação geográfica , foi ali tão grande o desenvolvimento, que ela passou a ser, nos gloriosos tempos de D,Afondo III ( 1250) a capital do Reino
Já nessa época,, segundo nos diz o citado histriador, havia na cidade 25 igrejas, correspondentes a tantas paróquias, sendo 8
intra muros,e as restantes, fora da cerca moura. Isto, em 1259.
Em 1290, quando se funda a Universidade, é em Lisboa que a fixam, de início. e, se é verdade que, em 1308, por motivos ponderosos, ainda não bem sabidos, a reaansferem para Coimbra,
logo em 1338 volta para a capita.A partir de agora, aqui permanece, durante 15o anos, após os quais, volta para Coimbra definitivamente.
A bela cidade ganha nobreza, carácter e dignidade.
Observação
Qual foi, em Portugal, o centro director e difusor do padrão liknguístico?
Siva Neto opta por Lisboa; Leite de Vasconcelos hesitou e cismou; eu, que sou um nada em comparaçao, também emito opinião:
sou fascinado pelo fado de Coimbra; pela pronúncia,
harmoniosa e suave dos seus habitantes; pela Universidade e o
Mosteiro de Santa Cruz, focos de luz, ciència e beleza, através dos séculos; pelos cantores, poetas e prosadores;
pelos engenheiros,cientistas e matemáticos, pelos economistas, galenos
e fadistas; pelas paixões que o Amor ali gerou; pela expressão
lídima e sentimental da alma portuguesa; pelas dúvidas sérias de Leite de Vasconcelos
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Lx. Belém
1985-08-16 Cont,
É, contudo, pouco depois, nos tempos gloriosos do Mestre de Aviz, que Lisboa se agiganta. Nessa grave conjuntura, quando se julgava tudo perdido, quando a todos parrecia que o nosso Portugal se deixaria absorver pela arrogante Castela, desempenha Lisboa o seu grande papel de genuína intérorete do sentir nacional., da alma colectiva do nosso país.
E ela, desde logo o centro de repulsa ao invasor cobiçoso, ao grande inimigo, já tradicional.
Na palavra justa e deveras compreensiva de Fernão Lopes, " foi madre e criador destes feitos". E já então todos reconheciam que,
"perdida Lisboa, perdido era todo o reino" ( Crónica de D,João, 2ª Parte, 9 a 81).
A nobre cidade foi inexcedível ma luta porfiosa pela independência. Nâo houve sacrifício qu ela não fizesse! Do ânimo das gentes nada me parece tão expressivo quanto este facto, narrado pelo Cronista:"Durante o cerco, em meio dos horrores da.fome, na mãis negra das situações, as moças, sem nenhum medo, apanhando pedra pelas herdades,, cantavam altas vozes, dizendo:"E esta é Lisboa prezada, mirá-la e leixá-la!"/ob. cit. 1ª pag. 198)
Ninguém jamais, ante os factos históricos, pode negar razão
a este vibrante e formoso julgamento de Fernão Lopes:" Oo, cidade de Lisboa, famosa entre as cidades, foste esteio e alm que
sustém Portugal! Oo, mui nobre cidade de Lisboa, vida e coraçon
deste reino, purgada de todas fezes, no fogo da leadade!" (ob. cit. 1º Parte, pag. 3o6)
E, de facto, até boa parte do século XII, e à reconquista da nossa Lisboa, o nosso país era um aglomerado de vãrias povoações, caracterizadas por suas culturas, já tradicionais.
Dá-se tal nome às diferentes culturas que dependem no todo ou na menor parte, da transmissão oral de ideias-mestras e normas de agir e proceder, entre os antepassados.
Trata-se dos usos e velhos cortumes de povoaçõoes, com número reduzido, confinadas, em regra, ao ambiente rural.
O progreso de Lisboa é que faculta decerto a pronta criação
duma cultura de tipo nacional, isto é, resultante da fusão, selecção e absorção das culturas tradicionais.
Assim, a capital começa, desde logo a sintetizar uma pluralidade de várias culturas que se fundem numa única: de todos os lados recolhe inspiração e matéria prima, para melhor modelo.
Convergiam para aqui os núclios mais pujantes; assim como elementos demo gráficos mais expressivos; assim também elementos diversos de várias proveniências que estabeleceram vínculos de solidariedade, a nível social, entre os grupos locais e regionais, até então, mais ou menos isolados
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Lx. Belém
1985-08-17 Cont.
Vêm para Lisboa : 1º homens de Letras que põem por escrito a nossa poesia, já tradicional, mitos e lendas; as histórias populares que traduzem do Latim, do mesmo Francês e do Italiano e, o que é mais importante, elaboram também obras originais.
2 .Artistas. Escultores e Arquitectos, Músicos e Pintores que, baseando-se aqui na arte tradicional, na tradição artística de culturas anteriores ou de outras terras, criam de facto uma arte nacional que logo se difunde, com o prestígio da nova Lisboa., pelas culturas locais e regionais
3 . Argutos filósofos que criam ideais dum futuro comum para esses povos. 4 .Historiadores que logo constroem ou reconstrem o passado comum dos aglomerados que então compõem a cultura nacional.
5 , Juristas e Moralistas que estabelecem normas para a vida em comum.
6 . Educadores e bons Pedagogos que pronto iniciam, planejam e difundem a educação literária de tipo nacional..
7 .Líderes políticos que organizam facções e Partidos vários, para exercer pressão sobre o governo e assim fomentarem as tendências colectivas, nesta sociedade de cultura nacional.
8 . Organizadores e hábeis líderes de rebeliões , assaz violentas, contra os governos, que às vezes, se opõesm às vincadas tendências de unificação.
Com Lisboa é que Portugal toma de facto consciêncis de si mesmo. Esta cidade é, de facto, o traço de união, entre o Norte e o Sul, e também entre os Portugueses.É o grande centro que, ouvindo as vozes de todos os cantos, as transforma depois numa só grande voz, a nível nacional.
É muito natural que aqui, em Lisboa, se amalgamassem e depois se desenvolvessem todos os elementos das velhas culturas do nosso
Como se vê, elas funcionam, realmente como o coração: têm
movimentos de sístole sem faltarem os de diástole..
Nos centros demográficos de grande envergadura, rompe-se breve a força da tradião, e os contactos numerosos provocam inovações e mudanças várias na herança cultural, recebida antes, dos antepassados.
É que as cidades têm população da mais variada e rica procedência. dos mais diferentes usos e costumes que, sem cessar, vão sendo adaptdos ao mesmo cosmopolitismo, nelas reinante.
Observação .
´ A opção de Silva Neto vai forçosamente para este centro populacional. Tem as sua s razões, mas apresenta-as de tal maneira, que nos fica a impressão de que nada mais influenciou a nossa querida Língua. Todo o arranjo aqui se processou, difundindo-se depois, pelo nosso território.
Sem negar frontalmente as suas razões, não quero esquecer, de modo nenhum,, o centro director e difusor de Coimbra, cuja acção não pode negar-se, pura e simplesmente, Julgo-a coexistenre, em
ordem a Lisboa.
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Lx. Belém
1985-08-18 Cont.
Sem trazermos à baila os tempos remotos de D, Afnso Henriques e a cooperação que lhe foi dada pelos famosos Cruzados, já Fernão lopes caracterizava as gentes de Lisboa cono "gentes de muitas mesturas que levantaram entre si desvairadas opiniões e alvoroços" e enfim grande cidade de muitas e desvairadas gentes". ( Cr+onica de D. João, Parte 1ª, pág. 53)
Dos tempos de D, Fernando informa o Cronista:" Havia outrossi mais em Lisboa estantes de muitas terras, nom em uma só casa mas muitas casas duma nação assi como Genoeses e Prazentins e
Lombardos e Catelões d\Aragão e Maiorga e Milão que chamavam Milaneses e Corsins e Biscainhos e assi d\outras nações...e estes faziam vir e enviavam do reino grandes e grossas mercadorias.
E portanto vinham de desvairadas partes, muitas vezes ante a cidade, quatrocentos e quinhentos navios de carregação!
Esta cidade, como se vê , é o ambiente propício à gente moça e empreendedora, sequiosa e famintta de novos conhecimentos, novas formas de vida.
Não é. pois, o lugar favorável à velha rotina dos antepassados, à obediência cega da tradição. É terra nova de preponderância de gente moça e os idosos únicos intérmediários entre o presente e o passado é que representam o sério obstáculo
às inovações
É muito expressivo este passo de Duikheim: "Ainsi, c'est dans les grandes villes que l'influence modératrice de l'âge est à
son minimum; on constata em mêma temps que nulle part les traditios ont moins d'empire, sur les esprits.
En effet , les grandes villes sont les foyers, incontestés du progrès."
Belém
1985-08-19 Cont,
A profusão dos contactos e a adopção de novos usos acarrecta, desde logo, a frmação de novas palavras. e o advento de empréstimos.
Conta Fernão Lopes que chegaram barcas," nas quais vinham bons cavaleiros e escudeiros e homens d\ armas e muita gente de pé, a que chamavam alacaios e chamavam-lhe assi , porque eram das montanhas de Biscaia e vinham todos descalços e mal corrigidos."
Fernão de Oliveira, por sua vez, oferece igualmente boas informações" O costume novo traz à terra vocábulos novos.Como agora pouco há, trouxe este nome - preste; juntou ainda 'arcabuz'.
Há sete ou oito anos, desde que veio ter a esta terra., com seu nome nunca dantes conhecido nela".
O fermento novo de actividade humana, comparado à pacatez da vida rural distancia citadinos e velhos camponeses. em todas as esferas da vida human, usos e costumes, linguagem, etc.
Em todos os tempos, o humilde campónio parece antiquado e, por isso, ridículo. Os citadinos não lhe poupam remoques e zombarias!.
Assim, em todas as partes, se encontra oposição,.entre a polidez, vigente na cidade, e o rusticismo do campo.
Por seus caminhos difíceis e situação montanhosa, durante os fins do século XV e o século seguinte, foi a nossa Beira harto martirizada: " Saberês que sam tornado\Des que vivo nesta Beira\ Hétego, magro coitado\\ E rebusto em grã maneira!" ( Canc, Geral) ; "Vá morrer,pois me matava, antre soutos,, lá na Beira.
Canc. Geral)
A evolução da Língua faz-se no sentido da desgalegação, aqui entendida a Galiza, no sentido romano, quando abrangia
Entre Douro e Minho e Trás-os- Montes.
Aos poucos, vai-se perdendo o primitivo carácter galego-português
Curioso se torna o facto seguinte: enquanto nós procuramos afastar-nos, encaminhando o idioma português no sentido romano,( queda persistente das consoantes sonoras e recurso obrigatório à metafonia, sempre que a palavra tem 'o' ou 'e' tónicos e termina em 'u')os povos da Galiza tentam aproximar-
-se, apagando os traços que lembrem o Castelhano e seguido as pisadas da nossa fonética
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Lx-Belém
1985-08-20 Cont,
Enquanto, na Galiza, ' persona' dá pessoa; 'hortu faz 'horto (ô); metu dá medo (ê), o Galego prossegue, sendo o meio de expressão de uma velha cultura, dado que a vida continua lá, de tipo rural. sem aquele intenso e vivo progresso de tipo urbano, que provoca sempre instabilidade, no meio social, característico da própria evolução,
A falta de personalidade, na área política, acarretou, por força, a estagnação do Galego: não esqueçamos que as cidades grandes e as capitais, quais centros cultos e requintados, que são como encruzilhadas do mundo habitado, constituem a forja das
novas criações, dos latinismos de toda a sorte e dos vários impérios.
No grupo destes últimos, devemos incluir a pronta aceitação de muitos regionalismos, os quais em geral, como observam Meringer e Meillet, passando alguma vez dum círculo
estreito para uma área muito mais vasta, tentam ampliar a significação de carácter linguístico, na velha Europa, comparando-a assim com a situação, vigente em Portugal.
A Alemanha divide-se claramente em duas partes: a do Norte e a do Sul, que apresenta, de facto, enorme variedade de tipo dialectal, explicãvel na zona pelo particularismo que nela impera,
mais ou menos desde o ano mil. A estas duas juntemos a do Este, que é uma zona de colonização, caracterizada pela uniformidade, procedente da mistura de vários falares dos emigrantes.
A capital, Berlim, não pode exercer a mesma acção centralizante de outras capitais, pois está situada, precisamente, num território colonizado: falta-lhe logo prestígio linguístico.
É também, em parte, o caso de Lisboa. que, segundo Boléu, tem certo poder de irradiação, na zona circunvizinha,
mas está bem longe de vir a exerce grande influência na linguagem do resto do país, especialmente no centro e Norte
Já na França passam-se os factos de outra maneira..
Aí, não há regiões de colonização, pois a Gália romana , densamente povoada, foi~se mantendo, até os nossos dias.
Também foi grande, por causa do Feudalismo da Idade- Média.A divisão foi de tipo dialectal, mas ao contrário do que sucedeu na Alemanha, desde cedo Paris se impôs como centro irradiador e difusor, embora o fizesse pouco a pouco.
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Lx.Belém
1985-o8-21 Cont.
Em outro país - a Itália - cá na Europa, diversamente
se processou a colaboração da estrutura linguística. Como só tardiamente se levou a cabo a unificação, muito mais nitidamente
se apresentam as fronteiras de tipo dialectal.
A longa segregação politico-social dos vários núcleos que vieram, depois mais tarde, formar o tecido único da Itália moderna, proporcionou, desde logo, a formaçõ de vários centros de irradiação: Florença e Milão, Veneza e Ferrara, Bolonha e Nápoles e assim Palermo, sem contar outros, menos importantes, mas igualmente activos.
Decerto, a Toscana é a fonte exuberante, onde a língua escrita .
ricamente se dotou, mas as recentes pesquisas , dialectológicas,
põem de manifesto como foi verdadeira a intuição de Dante, quando escreveu que o "volgare illustre! representa decerto o trabalho conjunto de todos os homens que formam a Itália.
A consequência desse facto notável é a complexidade do
extenso panorama, tipo dialectal, vigente na Itália, cujas raízes
mergulham, aliás, no passado latino, pois os substractos de origem não são estranhos à diferenciação dos nossos dias.
Logo à primeira vista se torna evidente que a massa linguística, aqui entre nós é muito mais uniforme que a da França ou da Itália. Um habitante do Norte entende um do Sul ou mesmo um um ilhéu, natural da Madeira ou dos Açores.
Como se há-de explicar essa maior unidade? Compreende-se bem que factos desta ordem não têm só uma causa, mas variadas raízes ou sejam causas diversas que se entrecruzam e completam mutuamente. Vamos expô-las, 1 . Ausência clara de células segregadas, como compartimentos, isolados uns dos outros, pois a Reconquista punha logo em contacto gente diversa, de todas as
partes e, consequentemente, conferia também grande mobilidade
â população.
O próprio tipo de povoamento, com latifúndios, entrecortados com grandes terras contínuas, mas enxadrezadas, proporcionava a vitória do intercâmbio sobre o particularismo-
2 . A evolução que se faz mais e mais, no sentido útlil da harmonização e unificação de todas as classes..
Desde o século XIII, começou a surgir a classe média que foi ganhando corpo e importância na sociedade.
Nos dois séculos, XIII e XIV, não eram decerto, agrupamentos fechados e impermeáveis, mas ao contrário interpenetravam-se e era sempre possível a ascensão social.
Conforme oportunamente observou Rodrigues Lapa os
Nobiliários trazem farta informação, acerca de alianças de tipo conjugal, entre nobres e vilãos.
O prestigioso Mestre já salientara que um dos grandes rresultados, da civilização trovadoresca, está precisamente na colaboração entre nobres e e plebeus. O povo, acentua ele, através dos jograis, subia às regiões da alta cultura e o cidadão nobre,criado emtre vilões, colhia no povo os temas da poesia.
A ascensão social da burguesia e do povo, que é já bem visível,nos tempos gloriosos do noso Rei, D, João I,contribuiu eficazmente para a unificação da Língua Portuguesa, no plano
regional como no social
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Lx. Belém
1985-'08-22 Cont.
3. O notável progresso da cultura geral que levava ao surgimento de várias minorias tão instruídas quanto na época era
possível bem como o facto de algumas porções do nosso território
haverem sido povoadas pelas Ordens Religiosas, uma vez que o Clero foi, na verdade, o nervo condutor da sociedade lusa.
4, Vários factores que proporcionaram contactos intensos e interacção, harto frequente tais como as feiras,cuja realização se activa bastante, durante o reinado de D.Dinis
O Entre Douro e Minho, Beira e Alentejo cobrem-de feiras que distam entre si apenas 4 ou 5 léguas.
Sabendo nós que as feiras se prolongavam por vários dias e
até semanas,, compreende-se bem que todos os lugares a elas destinados se tornassem depois activos centros de irradiação linguística,
A parte Sul, do Mondego para baixo, caracteriza-se então por grande unidade, típica das áreas de colonização. É que esta porção do nosso território, dominada que foi, durante séciulos pelos Sarracenos, foi colonizada pelos cristãos do Norte, em consequência da Reconquista.
A estas razões históricas juntam-se ainda as condiçoes geográficas que proporcionavam contactos frequentes e, portanto, maior unidade, no campo linguístico.
Assim, os falares, vimdos do Norte melhor se infiltraram e pronto fundiram nos diversos falares que haviam surgido, antes e durante o domínio dos Árabes..
Na zona Sul, houve portanto quase estagnação da língua vigente.Criou-se então como efeito directo da colonização, um novo falar, mais ou menos uniforme, que eu chamaria denominador comum.
Assim, pois, os novos falares meridionais, à míngua de tradições
mais fundas e tenazes, tomaram desde logo um aspecto neológico, devido sem dúvida, à tendência arabizante do seu vocabulário.
De facto, a criação vocabular, na zona Sul, é mais copiosa do que
no Norte, onde os falares mergulharam em raízes de 2000 anos
Como se vê, as vicissitudes da Hirtória de Portugal que levaram à Reconquista , feita palmo a palmo, fizeram que houvesse uma progressiva e forte nivelação da língua portuguesa.
Primeiro, ao redor de Coimbra e depois, à volta de Lisboa.
O correr dos séculos e as interpenetrações, que foram sucessivas,
mais e mais acentuaram esse carácter.
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Lx. Belém
1986-02-23 Isolamento
Uma vez no interior do grande casarão, fábrica antiga, fechava-se a porta, que dava para fora. Com vida à parte, esquecia tudo o que vivia o mundo. Só livros de estudo, e m coisas taxativas e de escolha estranha! ó exercícios, já de piedade, já escolares!.
Não é condená-los o que eu intento. Foco apenas o importunismo bem como o exagero, que tantas vezes ali se notava. e, al«em disso, a repulsa constante, pelo que era exterior
Parecia un Convento!. Tudo se cozinhava, dentro de portas! Por esta razão, não havendo convívio nem transmissão de qualquer natureza, ficámos à margem de quanto ocorria,, fora do recinto
Lembra-me, a propósito o grito latino: Vae solis! Ai! dos que estão sós!
Estaríamos sós, com tantos rapazes, em volta de nós?! Com
vários Superiores. a quem víamos, nas aulas?! Com recreios e Capela, sempre em afluência?!
Sós e muito sós! Que amargura de alma, em tal situação!
Os nossos problemas de ordem familiar alguma vez criaram interesse, para ser tratados?! Os casos íntimos de ordem psicológica, sentimental ou ainda amorosa, a quem interessaram?!
A densa amargura, gerada ali pela; separação; o aconchego do lar, já tão distante; amizades infantis desse mundo belo adorado, inolvidável! Quem vive u isso tudo, sem luz nem conforto?!
Quem teve uma palavra que servisse de arrimo ou lampejo minúsculo. atirado sobre a treva?!
Nesta fase da vida , tenho pena dessas penas e de outras tantas alheias, que ás minhas se juntaram! Era isto viver?!
Ali emparedados, com olhos vigilantes, sobre os nossos movimentos, só contavam as maneiras, os passos dados, o alimento consumido, o dinheiro empregado! Apenas a matéria, punição e castigo!
As consequências do factió vinham logo em seguida!
Uma vez no exterior, ou fosse ida para férias ou largada final,
caía o olvido, sobre esse passado. que era sombra na existência.
Nem tudo era mau, sei isso muito bem. No entanto, o que agora me ocupa é a outra faceta. que tanto me feriu e inferiorizou!
Outros efeitos? Diversíssimos eram! O rapazinho saía dali e
fazia uma cruz, se não uma figa a tais lugares! Nunca mais voltava Devia ser ao contrário! Mas isso porquê, havendo no peito friea e gelo?! Ao largar de férias, para novo regresso, quanta dificuldade, ao dar as costas à pobre aldeia, que nos vira nascer e onde havia passado momentos tão belos!
Sem uma causa, diz a Filosofia, não surge efeito!
Qual seria o motivo?! Onde estava a culpa?! " Coração ferido, não louva amigo!"Se havia frieza, ressentimento e desejo de evasão, é
porque, realmente, nao estava ali o coração dos rapazes!
Não admirava! Os professores viviam à-parte! Comiam sepaados iguarias diferentes! Divertiam-se igualmente, mas ignoro onde! Eram vidas, sim, mas estranhas a nós! Asim distantes, falariam alto ao nosso coração? Que adianta, na vida, a existência dum estranho?!
Só havia, de facto, aproximação, com o fim de vigiar, punir
ou manter a forte disciplina. Dava isso beleza ao viver dum rapaz?! As suas mágoas íntimas, o viver desconsolado,os castigos injustos, maus tratos dos veteranos, a angústia de alma, por não haver defesa?!
Tudo isto engolido, sepultado no peito que já transvazava, com tanta abundância!
Em férias, porém, intentava-se a desforra, mas nem ali podíamos furtar-nos à dura vigilância, que era constante, rigorosa, cerrada! Os olhos de todos eram setas lançadas contra o nosso viver.
Rapazes embora, tínhamos de agir quais velhos sisudos!
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Lx. Belém
1986-02-24 Mundo Artificial
Entende-se por mundo tudo quanto nos rodeia, quer sejam pessoas, quer Instituiçõea, costumes ou sistemas e tradições, em que estamos enquadrados Agindo neste meio, é oreciso, bem se vê, que tenha havido séria preparação, com bastante rigor, adquirindo noçõea, acerca de tudo.
Não apenas as Ciências, as Letras e Artes, mas todo um complexo que habilite a pessoa a exercer as actividades, não só
com dexrreza, mas também efciência, aliada ao prazer,
Afim de conseguir este grande objectivo, utilizam-se livros, fazendo aprendisagem, durante vários anos, com muita persistência , zelo incansável e tenacidade .
Para que o trabalho dê bom efeito, intervêm professores, educadores e pedagogos e bem assim os chamados psicólogos, concorrendo todos, para o nesmo fim : dar ao ser humano garantias de êxito. Realizando-se a contento, exercem no porvir uma actividade que é útil a todos.
É, pois, no mundo que o rapaz de hoje irá trabalhar. num futuro próximo. Ficou ele em situação de haver-se com êxito?
Se teve bons Mesres, competentes e hábeis, íntegros e sãos, argutos e sensatos, vai com certeza fazer figura!
Caso contrário, será no futuro um vencido da vida, um peso dispensável, um fardo incómodo: nem bom para si nem para os outros! Mais um de tantos, a arrastar constrangido o fardo importuno que a vida apresenta!
Aplicando a matéria ao caso pessoal, o mundo complexo, em que tenho vivido, foi para mim e continua a ser um ponto enorme de interrogação.. É que eu não fui moldado, para nele viver!
Correndo os nos da minha formação sempre afastado e à margem dele? Impossível! Sem experiência, directa e pessoal, não valem razões nem chegam conceitos! Além disso, o que era ministrado não veio condizer com o mundo real!
O sistema angelical, uniforme e interno, é o que há de mais
cego, absurdo e tolo, para quem viva depois, no meio da sociedade. Sicedeu-me na vida o que menos esperava que viesse a encontrar! Até o princípio, ensinado na Moral me saiu errado!
Se não é ver: Nemo malus, nisi probetur
Diz-me a prática uma coisa bem diferente: Nemo bonus, nisi probetur. Este, sim, é que está certo.
Bom! É preciso traduzir. que o pobre Latim vai agonizando!
Diz a Moral: ninguém é mau, sem que se prove! O outro: Ninguém é bom, sem que se prove!
De acordo com a Moral, partimos do princípio que toda a gente é boa, só nos afastando, se houver, realmente, provas contrárias. Invertendo os adjectivos, como a prática manda, toda a gente é má, a não ser que haja provas a dizer o contrário.
Lembra-me, neste ponto, a frase de Jesus, Mestre dos Mestres: " Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos
filhos...!"
Pois era assim! O mundo ideal foi, na verdade, um caso à-.parte, que nada tinha a ver com o mundo real. Em tais circunstâncias, há forte decepção, quando postos em contacto com a pura realidade! Lá, um viver sadio, à base da concórdia, compreensão , indulgência e bondade ( eceptuados apenas os primeiros anos (dois)
Conforme nós éramos, assim julgávamos que todos se riam!
Sinceridade, espírito de serviço, lealdade e respeito, moderação
Cá, saiu-nos ao invés: vigarice a rodos, deslealdade, hupocrisia, sacanice e astúcia, mentira e corrupção!
Uma vez inteirados, acerca do novo estado, terrível decepção nos tomava a todos!
Fôramos preparados, para viver em clausura, até ao fim da vida, com gente do mesmo sexo e de igual mentalidade.
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Lx. Belém
1986-02-25 O Mundo Exterior
Quando estava em Pinhel, fazia-me companhia um velho canário, que nunca foi alegre. Pasava as horas, hrto ensimesnado e algo taciturno, o que fundo pungia, fazendo-me cismar! Da minha parte, a nada me poupava,para , afin de aliviar-lhe os dias da vida.
Alimento e bebida tinha com abundancia, não lhe faltando os raio do Sol, para aqurcê-lo!
Mudava-o amiúde, para limpar a gaiola, obrigando-o até a
pequenos giros, para descontracção. Que mais podia fazer-lhe?
De min tinha tudo o que eu, realmente, julgava necssário, e lhe daria algum prazer! le, porém, era como pedra, em fundo de poço!Mudo e pesado, nao tinha um assomo que trouxesse alegria!
Queria vê-lo ditoso, saltando a piar,
Gostaria imenso de ouvi-lo chilrear ou ainda expressar-se o modo insunuante que usam os canários. Desejos vãos! Aquilo entristecia-me, dando azo, por vezes, a funda meditação!
Mas porquê?! A resposta era feita, ali, de meras conjecturas. Não podia ser outra!. A tudo me sujeitava, para vê-lo feliz!
Canseiras inúteis! O mundo dele era bem diferente! Ali, estava coagido! Nascera ele para outra vida! Viver acasalado!
Gerar filhos e filhas! Cantatar, ao ar livre! Viver desafrontado!
Nada ali lhe faltava, dizia para mim Entretanto, se ben aprofundava, ele era escravo, sujeito a vontades que o nºao entendiam... Como é que, então, podia ser feliz?1 Se o belo destino lhe fora cortado! Só em tristeza passava os dias.
Pobre canário! Bem tentava alertá-lo, puxando-o para a luz e para o ar da Natureza! Apesar de tudo, a nada reagia! Mostrava-se indiferente, macambúzio, apático! Era um morto-vivo!
A provas de carinho, sinais de alegria,, mostras de estima,
respondia sempre, com enorme indiferença! Que fazer ali?! Nada,
com certeza! Nao era o seu mundo! Nascera, de facto, para uma vida livre, bem diferente da que vivia!
Fora eu o culpado, embora, na verdade, o não fizesse or mal!
E mtretanto, o seu mal-estar, que era já notório e consternador, não chegara ainda ao ponto culminante! Omo se a existência o não tinesse vexado suficientemente,veio-lhe pela porta o maior dos males: morrer, de inanição! Já não foi em meu poder, bem
entendido!
Asenhora Lúcia a quem o oferecera, deixou-o acabar, em feia situaçao! Triste destino!. Julgando ela que tinha alpista, ia
protelando, até que o matou. O que faz, por vezes, a inexperiência! É precisi soprar, dentro do cestinho! Às vezes, apenas há cascas! Foi este o erro!
Por várias vezes, tentei adaptá-lo ao voo livre, fora da gaiola, Nada consegui! Ficava ofegante, às primeiras diligências!
A arca do peito fazia distensões e logo contrcções, mostrando a agitação que lhe inundava o ser!
O coração latejava a fundo, vencido já pelo cansaço
Que dó me fazia o pobre canário!
Vendo-o assim, lembrava-me também que fadário igual me coubera a mim! O meu mundo era outro: não certamente aquele em que vivia! Se não fora preparado, convenientemente, para nele
agir! Que podia esperar.se?!
Lembra-me bem a profuna decepção, que logo senti, ao deixar a "gaiola", ficando em liberdae! Era o canário, vencido à partida, sem nada haver feito!
Vendo-me ali assim, mal adaptado, mergulhei pronto em fundo cismar! Fiz perguntas a mim próprio, mas as respostas eram tão duras, que faziam sucumbir-me!
De quem era a culpa?!Minha é que não!
É preciso, de facto, escolher livremente e, durante os estudos, não lidar sempre com homens apenas, sejam eles embora harto experientes, sensatos e humanos r crentes a valer!
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passado, que era sombra na existência.
Nem tudo era mau, sei isso muito bem. No entanto, o que agora me ocupa é a outra faceta. que tanto me feriu e inferiorizou!
Outros efeitos? Diversíssimos eram! O rapazinho saía dali e
fazia uma cruz, se não uma figa a tais lugares! Nunca mais voltava Devia ser ao contrário! Mas isso porquê, havendo no peito friea e gelo?! Ao largar de férias, para novo regresso, quanta dificuldade, ao dar as costas à pobre aldeia, que nos vira nascer e onde havia passado momentos tão belos!
Sem uma causa, diz a Filosofia, não surge efeito!
Qual seria o motivo?! Onde estava a culpa?! " Coração ferido, não louva amigo!"Se havia frieza, ressentimento e desejo de evasão, é
porque, realmente, nao estava ali o coração dos rapazes!
Não admirava! Os professores viviam à-parte! Comiam sepaados iguarias diferentes! Divertiam-se igualmente, mas ignoro onde! Eram vidas, sim, mas estranhas a nós! Asim distantes, falariam alto ao nosso coração? Que adianta, na vida, a existência dum estranho?!
Só havia, de facto, aproximação, com o fim de vigiar, punir
ou manter a forte disciplina. Dava isso beleza ao viver dum rapaz?! As suas mágoas íntimas, o viver desconsolado,os castigos injustos, maus tratos dos veteranos, a angústia de alma, por não haver defesa?!
Tudo isto engolido, sepultado no peito que já transvazava, com tanta abundância!
Em férias, porém, intentava-se a desforra, mas nem ali podíamos furtar-nos à dura vigilância, que era constante, rigorosa, cerrada! Os olhos de todos eram setas lançadas contra o nosso viver.
Rapazes embora, tínhamos de agir quais velhos sisudos!
Lx- Belém
1986-02-26 Carnaval e Retiro
Entre nós, o Carnaval,segundo velhos padrões, é tempo de folgança, que as pessoas utilizam, para dar livre curso a belos anseios,
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Lx. Belém
1986-08-23 O Verão
Era habitual designar esta quadra por "tempo do calor."
Realmente, frio não há, pois, às 7.40, estou no meu quarto, em
mangas de camisa, havendo escancarado portas e janelas.
Entretanto, embora em Agosto, considerando-o, já desde o
início, apetece um casaquinho, por cima da camisa.
Isto, precisamente, já eu tenho feito, por mais de uma vez.
Não raro sucede que tenha a impressão de estarmos em Novembro.
Pelo menos, em fins de Outubro. Em vista disso, pergunto a mim próprio: onde está, pois, o Verão de outrora?!
Aquela temporada que trazia as malhas, para as eiras e espaços. à volta dos quais, se aprumavam caprichosas, medas altas de centeio?! Fazia-se tudo ainda a mangual, nesse tempo recuado.
Ora bem. Para o grão se extrair, à custa de manguladas, era
bem preciso um calor de rachar! Fora hoje assim, já não era possível obter a mesma coisa! Metade do grão ficaria retido, não havendo maneira de fazê-lo sair
Bom. O progresso trouxe até nós excelente máquina, que faz a debulha. Perdeu-se, realmente, a graça e o fascínio como toda a poesia das malhas tradicionais, durante o mês de Agosto. mas também se obviou a notáveis imprevistos, um dos quais foi este: a debulha do centeio. por tempo menos quente.
Apesar de tudo, faz imensa pena e deixa saudades o tempo escaldante, em que era delicioso meterem-se as gentes em água fria. Agora, não obstante ser Verão, causa arrepios a imersão do corpo.
Ao ver esta gente demandar com ânsia as praias de Lisboa e
seus arredores, fixo as pessoas, em ar de compaixão, pois logo de manhã se fazem acompanhar de casacos leves ou camisolas.
De facto, manhãs e tardinhas obrigam a cuidados que não eram usuais. aqui em Lisboa. Estes são os factos. A causa disso não fica ao meu alcance.
Expeincias atómicas? Degradação notável da energia solar?
Alteração de factores naturais ? Poluição do ar? Incêndios nas matas e abate de plantas?.
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Lx. Belém
1986-08-24 Ecos do Passado
A velha frase " recordar é viver" tem hoje aplicação
Sempre que volta o dia 24, lembro com saudade o S, Bartolomeu, quero dizer, a feira anual, realizada, em Trancoso, a qual se prolongava, durante 8 dias.
No meu tempo de criança, fazia-se o percurso, com grande sacrifício, visto ser a pé todo esse caminho. Os 15 quilómetros, segundo a estimativa dos velhos aldeões, equivalem talvez a bastante mais, atirando para os 2o, aproximadamente..
Este facto obrigava os feirantes das várias aldeias a deixar o povoado, logo na véspera. Assim fazia meu pai.
No dia 23, com o Sol ainda alto, partia solícito, de Vide-Entre-Vinhas, entestando para a vila de Celorico da Beira..
Daqui, fazia logo caras à Estação Ferroviária, para seguir, depois, aestrada de Freches.
Muito antes de alcançar a dita povoação, ultrapassadas já as Termas de Santo António, cortava à esquerda, subindo a ladeira.
obliquamente , direito a Fiães. Aqui, pernoitava.
Numa palheira, sem roupa nem cama, aí passava a noite, em cima da palha, dormindo como justo..
Antes, porém, dirigia-se à taberna, (outra coisa não havia!),
para comer uma 'bucha' e beber um copo!
Um naco de pão e uma dose de chouriço ou então de queijo que levara de casa, era suficiente como jantar!
Na manhã seguinte, logo de madrugada, punha-se a pino, galgando numa hora , o que faltava somente, para chegar à vila de Transoso.
Uma vez, fui também com ele, seguindo exactamente a via indicada. A parte mais dura para a criança que eu era, ficava precisamente, na aldeia de Fiães.
Fatigado e sonolento, fazia sacrifício, esperando na taberna.
Que me interessavam as conversas dos homenes, sobre assuntos estranhos ao mundo que adorava?! Animava-me contudo a lembrança da feira, no dia seguinte!
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