quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Memórias 19

27-5-1964

Não se pode, que eu saiba, estabelecer justo paralelo, seja no que for, entre homem e mulher. Aquele é superior, na força e no equilíbrio; na própria justiça e na compreensão; nas suas convicções e na persistência; na honradez; no nesmo respeito ã palavra dada.
A mulher é encantadora, sublime e incomparável easté grandiosa, na qualidade de mãe Apesar de tudo, ainda neste campo. onde ela refulge, com brilho tão diáfano, vemos não raro adensarem-se manchas, filhas duma cegueira que a leva a desatinos.
O amor sem limites que vota à prole, instiga-a fortemente a ver com maus olhos, de longe ou de pertol ser obstáculo real à ventura dos filhos. Daqui, já se vê, palavras desabridas, apreciações, bastante menos justas, rancores mal contidos. vinganças e planos que desdizem altamente; sombrias maquinações, em que pode encontrar-se falta de caridade. Dizem por vezes, não ser a mulher assin tão sensual.

Eu diacordo plenamente! Bem ao contrário! Ultrapassa o homem!
A questão basilar é que goste de alguém! Este alguém visado será um fantoche, nas suas mãos. harto frementes, que só repousarão, depois de saciada.

Por isso , é bom que ela não exerça cargos derermynados, que requerem sensatez, presença de espírito e grandse equidade.
Excede ainda o homem: no sacrifício; na intuição; sensibilidade; luta pelo amor; na enfermagem a dedicação.

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28-5-1964 Alcoolismo
Um velho asilado opinava hoje, muito gravemente, ser preferível o cortejo solene do Gorpo de Feus, na parte da manhã, afim de se evitarem os graves problemas que faziam sentir~se, após o meio- dia. Entre eles todos, avultavam
os do vinho,.pois dizia ele que, a esse tempo, andava tudo bêbedo.
Se não fosse de cá o tal observador, nem eu acreditava
mas, como vive no meio, houve que dar crédito, embora lamentasse, bem profundamente, um estado de coisas que é de
alarmar!
Em boa verdade, é muito frequente deparaem-se figuras a fazer zigue.zagues, através das ruas que eles acham estreitas, seja qual for o espaço disponível!

É triste e lamentável que um lugar de privilégio, onde corre tanta água , de boa procedência, muita gente chafurde, por extensos lodaçais e altas montureiras, atolando-se em pleno, sem
o mínimo respeito, pela sua pessoa.

Que pode esperar-se das novas gerações?!
O mau exemplo dado e. ao mesmo tempo, a sobrecarga psíquica,
aliada à fisiológica, operarão, neste meio, a enorme devastação, que ninguém estranhará! Veremos então ( começamos a notá-lo já desde agora), jovens tarados, sem comando próprio, imbecis,
mentais:
insuficientes e diminuídos; raquíticos vários e muitos anémicos; mortos sem vida que jamais viveram; frutos serôdios sem maturidade; estrelas sem brilho; dias sem sol; olhos sem brilho!

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29-5-1964
Manteigas
Perfazem-se hoje 511 anos, que foi tomda pelas forças turcas a velha Bizâncio, nomeada Constantinopla, terminando assim o Império romano do Oriente.
A tãolonga distância, parece,bem entendido nãç fará muita mossa na sensibilidade, mas bem certo é que me faz arrepiar!

Na verdade,200.ooo homens, durante 5o dias, num cerco apertado e monstruoso, é de imaginar como seriam terríveis e assaz perigosos! Pobres citadinos que se veriam, prestes, alvo da voracidade e torpes sentimenros!

Horas do diabo, em que o crime e o furor campeiam, infrenes, através do mundo! Que horror indescritível, peramte cenas trágicas, em que o ódio transborda, a luxúria devora, a cobiça impele e o criminoso é ali senhor de corpos e almas!

Eu não sei bem, mas posso calcular: se há imagem do Inferno, bem posta ao vivo, aquela, então, há-de ser uma delas!
E lá ficou para sempre, em mãos de selvagens, vindos da Sibéria,
uma cidade risonha, cujo longo passado era tão gloriooso!
São estes os ventos e as viragens da História

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30-5-1964
Fui hoje almoçar com o senhor Pereira! É tão gentil, que me convida, não raro, a fazer-lhe companhia. Diz ele, sorrindo, que a minha presença altamente o distrai e lhe faz muito bem. Por minha parte, não sei bem como nem onde possua o tal condão!
A sua fidalguia e trato fino é que descobrem termos, para enaltecer a minha presença! No que me respeita, sou levado a afirmar, sem qualquer desmentido, que a sua amizade me penhora e confunde.
Aprecio muito, nele, a bondade e o carinho que são timbre nobre de seu bom coração! É um espírito dorido, alma franca e generosa. um carácter excelente de aquilatada valia!
Devo confessar: estou muito bem, na sua presença!
Mas esta fidalguia, recebendo alguém, não é exclusiva da sua pessoa.
Como era de supor, brota da cabeça e corre pelos membros.
Dona Maria é uma esposa digna, mãe extremosa, senhora inteligente e de gosto apurado. A Aninha e o mano, orgulho de seus pais, não desdizen também dos seus progenitores..

Toda a gente os acarinha e olha com estima, pois ambos reflectem, simpaticamente, o espírito gentil e a nobre fidalguia dos seus maiores,!
Deus abençoe esta nobre família que eu prezo altamente e
reconduza ao lar aquele que na Guiné está servindo a Pátria!

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31-5-1964
Visita Solene do Presidente.
Cortejo de homenagem à primeira figura, na vida nacional!
Engalanadas todas as ruas! Frontespícios adornados!Caminhos e
sendas com ar de festa! As pessoas, então, com a rica
indumentária que tinham guardada!Alegria esfuziante, no rosto
de todos; curiosidade em mutos outros; hipocrisia só em alguns;
fé viva e ardente; entusiasmo sem medida, na alma sincera do
povo humilde que se apinha, nas ruas.
Uma nota discorde - o tempo de hoje! E até parece que foi acinte! Na verdade, choveu apenas, até acabar a função programada, no Campo das Festas! Seguidamente, deixou de cair água e tudo virou: surgiu de novo o Sol risonho, de ar acolhedor!

Este mundo, afinal. é feito dde aparências! Todos amam figurar, criando admiração em quantos os cercam! E quantas vezes, no seio das almas há divisões que ameaçam ruína! Já não é mau, se parte do ser apresenta, de facto, algumas quadras firmes e bons alicerces!
De maneira geral, tenta cada um chamar a atenção, para que vejam todos o alinho impecável, a originalidade e o aprumo sem igual bem como o prestígio, exercido nos outros.

Prolongam sempre os seus cumprimentos; alteram-se as vozes; revestem-se para logo dum ar que não é próprio; empertiga-se o corpo; fazem também mudanças de cenário; não cabe dizer tudo o que a vaidade engendra. mas há o essencial que fica e se guarda.

Ninguém veio até nós, para nos dizer que não estamos de lado.
Foi por isso que todos a uníssono, clamámos: Presente!

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Celorico da Beira
5-8-1964
Quando aqui venho, rejubila a minha alma, pois
surgem logo cenws e factos. dos tempos da infância bem como da
adolescência. Mas, desta vez, houve causa especial: a presença
dum amigo, o Dr.Ferreira que, não sei porquê, não dava notícias
havia dois anos.
Unidos por amizade, jamais desmentida, não fazia sentido
ignorar-se,nutuamente a nossa existência. Afazeres. com certez, o
traziam absorvido, para não dar atenção a quem sofria bstante, ao pensar no caso.
Na verdade, são tantas as razões de apreço mútuo, desde os laços do sangue, comunhão de ideias e berço comum, aos planos do porvir, formados e nutridos, em sonhos de criança, nada se encontrava que não dissesse "presente!"

Mas, graças a Deus, que afinal o vi e logo abracei,! Disse-me palavras , amigas e sinceras como usam de ser as que ele profere.
Tanto se humilhou da sua atitude, que mais uma vez fiquei maravilhado, com a rara nobreza dos seus sentimentos!

Estou desforrado! Os longos momentos, em que eu cismava,
procurando uma causa, sem encontrá-la, tiveram seu fim. Já
posso descansar, que um fardo enorme saiu de meus ombros,
vacilantes e débeis,
Deus o ajude e a mim não falte, pois é um bom amigo que não quero perder!
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6-8-1964
Em Viagem. Alemanha em vista.

Partida, às 6,6,no combóio Iberia, com rumo a Hendaya, extremo limite da fronteira espanhola. Entro no vagão e deparam-se dois pretos,: eram, afnal, cabo-verdianos! O cabelo, abundante e preto de azeviche; a tez carregada e traços fisionómicos de branco europeu.
Um deles , embarcadiço, está em gozo de férias. Belo conparsa: bastante alegre, não sendo parvo, é também prestável, compreensivo e harto benévolo.

Do outro lado, vai agora dormindo,a todo o comprimento, um jovem americano, que eu tomei por soldado., mas que era estudante e universitário. De travesseiro fazia a tenda, bem enrolada; Junto dele, na rede, um saco de campanha, onde reunia os trastes necessários. Era, pois, americano, filho dum Oficial, oriundo da Alemanha
Viajava sem conforto, como se fora pobre e até desvalido As
calças de uso, já bastante coçadas e de cor duvidosa, acusavam privações e dormidas, no solo, à mercê de Deus.

Falou-se Inglès, através da Espanha, enquanto surgiam, como por encanto velhas cidades. Noto Salamanca, Medina del Campo, S, Sebastan e, por fim, Hendaya.

Gravou-se na retina a paisagem calcinada e quase interminável,
desde Valladolid. até chegar a Burgos.: plana, igual... imensa!
O combóio avança, mas ela, afinal, julgo troçar, fazendo-se por magia, cada vez maior!
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7-8-1964
Atravessada a fronteira, hispano-francesa, no dia de ontem, pelas 23 horas, cheguei hoje a Paris, pelas 9 e 3o.

Linda, vasta, inolvidavel, esta grande cidade! Por lá ficaram meus olhos, na silhueta elegante da Torre Eifel; nas agulhetas, vaporosas e belas da linda Cateral de Notre Dame; nas pontes- brinquedo, sobre o rio famoso, que namora a cidade.

A nossa partida é, exactamente, às 13 e 24, mas estou esgotado. Por esta razão, não consigo passear, revivendo o passado.
- 4 anos atrás! Sento-me e penso, durmo e sonho!

Tenho de separar-me do parceiro de viagem: um bom americano, arquitecto e sonhador, que estuda na Alemanha, donde
o pai é natural. O que a guerra faz! A vida, em França, é "brasa viva" Sande e limonada , 2,60 francos! Ora com o franco a mais
de 6$00!...Quase lamentei os meus 16$00! Isto é que é viver!

Deixo agora o Sena e atravesso prestes a região do Marne, de
lembranças tristes, para o meu coração! Haja vista, embora breve,
a Guerra de 14! Já estou na fronteira franco-alemã! Encontro-me agora no seio dum povo que trabalha duro e vive na abundância: a
terra da técnica; o povo da máquina que a mente engendrara e pusera a funcionar!

Não tenho marcos e chego à estação. Ninguém me espera, que sou um nada, em sociedade, mas há gente de bem. Uma senhora alemã escreve dois números: 21 e 22. Passado algum tempo, dá-me ainda 1 marco.
Estava garantido, pois só gastaria 40 pfenig , quer isto dizer: menos de metade! O número, porém, estava errado. Mandaram-me sair e, enquanto procuro, fico desorientado. De novo me ajudam, entrando, a seguir, no 23.
Ao sinal dum braço, apeio-me logo e caminho então não sei para onde.
Número 33 dum prédio baixo. Toco! Nada! Chove a bom chover e são agoa 22 horar Ninguém na rua!

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8-8-1964
Mainz... é onde me encontro! Estou, pois, na Alemanha, pela primeira vez!
Logo extenso diálogo com certo espanhol, que é universitário, na velha Salamanca! Os seus projectos, iguais aos meus e a enorme alegria por esta razão é realmente coisa de pasmar!
Uma boa companhia, quando fora da pátria, vira logo em apoio e estabilidade.
Antes, porém, havia dialogado com duas Irmãs - Inácia e Lúcia - que são portuguesas e me falaram com ênfase de quanto progrediram.e já se reformaram, na mentalidade.

São jovens ainda e cheias de bom humor, desbordantes de alegria, servindo o ideal, com grande paixão.
Uma delas assiste ao refeitório; a outra , à Capela.

Em pouco tempo, ficaram aptas a falar a Língua! Segundo elas dizem, tudo é melhor do que em Portugal.Vive-se aqui, sem dificuldades. Uma simples criada ganha facilmente 1500$00.Isto por dia!Depois, tem cama, enfermeira e mesa, remédios e Médico
e tudo o mais!
A receita do clero não é problema! O Estado alemão obriga os
cidadãos a pagar lo%, para todos os cultos.

O próprio agricultor goza dum mínimo que é assombroso. Por
um só dia, 150$00, como recompensa do seu trabalho.
As relações habituais, entre católicos e protestantes são amistosas. Ordemam-se aqui padres protestantes, casados em bora, e ninguém estranha!

Há dias, um filhito, de 5 meses apenas., disse em voz alta, durante a ordenação do seu progenitor: " Papá!"
Não é isto novidade?! Onde aquela pequice e modos compostos, que tantas vezes noto, além Pirenéus?!

Hoje, visitei de graça, Plantações e Estufas, no Rosen Garten,
grande Parque de Mainz, antiga Mogúncia.

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Mainz - Alemanha
9-8-1964
Visita a dois Museus: Romano-Germânico e Gutenberg. Esta foi gratuita. Se tudo pagamos, a vida complica-se.
No primeiro deles, acham-se expostas coisas extravagantes.
desde os tempos de Creta ( 1300 anos antes de Jesus Cristo), até aos nossos dias: medalhas e armas: instrumentos de trabalho; baixos-relevos; curiosas estatuetas; obectos de adorno; túmulos vários e outras coisas mais.

No segundo, porém. vê-se em concreto a história da Imprensa,
desde Gutenberg, até aos nossos dias. É de notar a Bíblia Sagrada,
impressa ali, pela primeira xez. Está guardada, num cofre-forte e vale a grande soma de 7500 contos !

No Escurial, há um volume da Bíblia, com letras de ouro que pesa 5 quilos!!.Veio-me então à memória a opulenta Custódia , guardada em Toledo, associando ali. no meu pensamento, os suores
derramados pelos povos gentios, para o adquirirem!
Seria havido licitamente?!

Fui hoje fotografado e, pela primeira vez, em toda a minha vida, fotografei um colega, que estuda em Salamanca.
Vai sair, com certeza, obra perfeita! Calculo!

Longe da Pátria, como agora estamos, a língua de nossa mãe figura, decerto. música suave que baixa do Céu. Encerra um mistério que não posso descobrir, em terra portuguesa!
Agora, sem empate, vamos ao Alemão, a ver no que isto dá.

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10-8-1964
Visitei hoje a Universidade, para colher informes, em Cursos de Férias, Tinha eu em vista a língua alemã. Quem nos atendeu não passa de vilão! Esta gente, por não precisar, fala com rompante!

A abundância dá isto: gera para logo o desprezo do próximo!
Só Deus, afinal, é amigo dos pobres e infelizes, a quem dá carinhoso sua mão protectora! Os homens são falsos: fingem-se amigos, para que os sirvam e nada mais!

Observada sem prazer a paisagem humana, alonguei o olhar, pelos vastos subúrbios, detendo-me um pouco, no aspecto geográfico. Foi baldadamente que procurei o Sol e a beleza sem par do céu português! Horizontes curtos, barrados em breve por um céu de
chumbo, que se adensa mais e mais, cobrindo a Terra!

Quando fixarei, no céu de Portugal, meus olhos aguados, embebendo-me todo, na sua radiação?! Quão diferentes aqui são as coisas e quantas saudades eu tenho já do berço natal!
Também me lembrarão? Alguém, por certo! Outros... não sei!

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11-8-1964
Hoje, aventurei-me a sair sozinho, pelos arredores. De mapa na mão, não há problemas! É preciso e útil fazer-me ao largo! À mínima dúvida, abre-se o dito, e o caso nebuloso fica iluminado. O pior não é isso! Pode a gente abelhuda obter a solução de vários problemas e surgir pela frente uma mulher-torpedo, ocupando o seu lugar e também o dos outros!

Como vai arranjar-se?! Não minto, não, dizendo, a propósito, haver-me já faltado a respiração: deixei de ver o mundo e, por um triz, é que não desmaiei!
Aparece aí cada tubarão! Mas, ainda assim, Deus lhes conserve as banhas alentadas e as livre de caírem nas mãos dos cafres, que pronto as meteriam em ampla salgadeira!
Virando a página: disseram-me há pouco, haver no mundo um milhãode Religosos, 200.000 dos quais são de origem espanhola.

Quebrado o parêntese, cabe-me dizer que percorri, a pé, a
Schillerstrasse, a Keiserstrasse e outras ruas mais, atravessando o Main, por uma de suas pontes.

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12-8-1964
Fixei longamente uma pasta jeitosa, que ostentava de custo 99 marcos. Se tenho em mente que o valor do marco é de
7$5o! Passemos adiante, que será melhor.
Se nascesse rico, não estava boquiaberto, perante o cabedal!
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No percurso efectuado - Munsterplatz-- Krankenhaus - um jovem alemão, se a vista não falhou, impediu certamente que uma jovem chinesa caísse ao chão, dentro do Omnibus.
Alguém observou que não valia a pena, sendo como era forte
apagador de concupiscência.

Era feia, na verdade, e pequena em extremo, a moça amarela,
mas em mim caiu bem aquela atitude, no jovem referido.
Não é, decerto, o corpo que nos dignifica: o espírito, sim, e as
nossas acções! Prestabilidade e gentileza, piedade sincera e amor ao próximo nunca desdizem!

Às 19 e 30, incorporei-me, gostoso, na procissão das velas; rezei o meu terço e ouvi também uma pregação, para honrar aqui a Senhora de Fátima!
Momentos de alegria, revivendo o passado e tornando o
presente bem mais tolerável!

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Mainz
13-8-1964
Ao chegar hoje, à paragem do Bus, fiquei surpreendido, pois à hora exacta, sem nada faltar nem exceder, o meio de transporte surge num ai, para logo em seguida, retomar a marcha.

Este grande povo, trabalhador e incansável não perde um minuto nem o deixa perder, seja a quem for. Ao mesmo tempo, estes alemães são descomunais em sua estrutura!

Pois que direi da mulher germânica, passante dos 40, que não sofra ainda do digestivo?! Um monumento, em volume físico!
Quase por toda a parte vejo a expressão: nicht rauchen! ( Proibido fumar!)
Lisonjeia-me, de facto, esta ordem expressa!
Se no meu país houvesse coisa igual, escassearia logo a má disposição e certos engulhos de vária natureza!

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Mainz
14-8-1964
Visitei o Kauphof, junto à Catedral: tem 4 andares e
rés-do- chão. Conhecia já outro, na Schusterstrasse, de tamanho igual. Naquele, porém, notei algo mais: preocupação em pôr aos balcões meninas elegantes.

A distinção feminina que se nota em Portugal,, Espanha e França, aqui não existe! A mulher alemã é, por natureza, deselegante e algo canhestra! Não se encontra nela o sorriso amoroso, o andar levitante, o falar mavioso! Toda ela é prosaica, vulgar e corrente.
No entanto, há excepções!.
Não lhe conheço os dotes morais. É muito possível que os tenha, de facto mas, pelo à-vontade, que ostenta na rua, fico a pensar!
Voltando uma vez mais ao ponto de partida, cabe pois afirmar que a ganância do lucro recorre a expedientes, para locupletar-se.
Política e negócio têm um código - o caminho do triunfo!

Ideias altas, sobrenaturais, algo de belo que ultrapasse a matéria não deve procurar-se, em tal ambiente. Seria perder tempo! A moral prevalecente, em que sempre baseiam as actividades é
subjectiva e assenta no princípio: o que leva a um fim é bom e
defensáve. Deus - a matéria; caminho - o prazer

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Mainz
15-8-1964
Em minhas digressões , matinais e vespertinas, deparam-se quadros que chamam a atenção, prendem e cativam..Assim, um de tantos: papás amorosos, que empurram solícitos, com desvelo maternal, carrinhos graciosos, onde se
recosta, sorrindo para os Anjos, o fruto belo do seu amor!

Em Portugal, só por excepção, pois habitualmente é a mãe que
desempenha a dita função. Poder-se-á deduzir que o povo alemão
seja mais carinhoso, menineiro e afável? Não admito, para já. essa conclusão! A verdade aceitável é que o invés me parece exacto.

Efectivamente, a realidade alemã, segundo julgo, é filha natural do espírito prático dos povos grmânicos. O marido ajuda a
esposa, não tendo rebuço de lavar a louça onde comeu.

Em terra portuguesa, não há tal costume. Devia, no entanto, ser introduzido, pois vamos caminhando para novos tempos: cada um bastar-se-á, ficando servente da sua pessoa.

O povo germânico dá, pois, uma lição de senso prático e de
ante-visão, em problemas diversos que reputo sérios..

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16-8-1964
Mainz O Taunus 17 M - Super
Custa pouco mais de 60.ooo marcos, nesta cidade. Só tem duas portas, isso é verdade, mas que bela pechincha,
quando me lembro de que em Portugal, tendo 4 portas, encosta a
100 contos! Algumas vezes, dá vontade imensa de ser alemão!

Isto, porém, com restrições e antes de pensar, porque, de outro jeito, dando a escolher, não troco a minha Pátria por nenhuma outra!

Portugal sou eu mesmo, em corpo e alma, com os meus defeitos e boas qualidades. Poderia odiar-me?!
Portugal, a rigor, é meu pai e minha mãe; irmão e irmã; tios e tias; sobrinhos e amigos; a casa, onde nasci; a horta, em que pulei;
o caminho pedregoso que trilhei descalço; a igreja, o cemitério; o forno da aldeia; enfim, tudo aquilo que ainda agora faz alvoroçar o meu coração!

Isto, realmente, não posso encontrá-lo, em parte alguma que não seja a mnha terra! Pobrezinha embora; atrasada e rude; preguiçosa em regra; hostil, por vezes e intriguista; harto miudinha e indiscreta, é, apesar de tudo, a terra bendita de Santa Maria e do Santíssimo, com passado glorioso, como bem poucos se orgulham de ter.
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Mainz
17-8-1964
Seiscentos e noventa é o número de Marcos. Muito dinheiro? Nem por isso! No entanto, é já quantia que não vai arriscar-se, de animo leve! São 5 contos,,175, Está em causa o preço exacto dum belo acordeão, com 90 baixos e 3 escalas!

Não era nada mau!. Fcaram-me os olhos cravados nele, junto da Catedral, no sítio preciso -- Augustinus Strasse.

Bem pouco, às vezes, traz a felicidade, mas, infelizmente, nem esse pouco anda a gosto próprio! E as Alfândegas?! Porão elas, de facto, o conhecido obstáculo?! Conjecturas diversas; dificuldades; estorvos enormes... termina-se em geral, por encolher os ombros, não bebendo água,ficando junto à fonte.! Haverá por aí mais triste condição?!
E lá ficou ele, insensível e ufano, em montra luxuosa, fazendo negaças ao triste peão e desprezando, afinal. aqueles que o adoram!
Também os objectos mofarão de nós?!

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Mainz
18-8-1964
Já, por várias vezes, surpreendi, maravilhado, o espírito prático do povo alemão. Aos demais casos, algures referidos, cabe ainda juntar bancos e assentos, por toda a parte:
nos jardins sombreados; ao longo dos caminhos; nas paragens do Òmnibus e assim por diante.

Realmente, é deveras agradável encontrar-se um banquinho, para descansar, após longa caminhada, desfrutando, por momentos, o aspecto da rua, no seu interminável e constante vai-vem.

Devo acrescentar um pormenor curioso: em todas as paragens, ao longo das ruas, há bancos abrigados, com jornais para ler.
Nos próprios Omnibus, tudo se aproveita, rigorosamente. Até sobre as rodas que penetram fundo! Em cima delas, ajeitam cadeirinhas, para os transeuntes!

Por toda a parte, se vêem cestinhos, onde os passageiros depositam papéis e objectos inúteis. Outra coisa ainda, filha também da sua iniciativa, espírito prático e ordenador: sujeição aos chefes, sejam embora os súbditos mais competentes e sabedores!
Não encarnam eles o ideal a atingir, por parte de todos?!

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Mainz
19-8-1964
Neste país, ganha-se bastante. Um patrício meu, que tem somente a 4ª Classe, ganha por mês a quantia de 1ooo Marcos. O seu trabalho decorre nos Correios. Dura apenas 8 horas e movimenta pequenos fardos.

O agricultor, o construtor civil e outros quejandos, obtêm facilmente 5 Marcos, à hora ou seja, afinal, um ordenado maior que o de professor, num Liceu português! Vive-se melhor que na própria França! Só na Suíça, talvez, haja mais lucro! Digo talvez, porque o nível de vida é aqui mais alto.

Um trabalhador ganha 250$00, diariamente. Só espanhóis residem aqui 200,000! O mais curioso é que eles não ficam! Ao fim de poucos anos, regressam à pátria.
Este povo notável é orgulhoso e tem os outros como subalternos.
Um jovem espanhol, por haver passeado com certa jovem, de origem alemã, que não prejudicou, sofreu maus tratos, de que veio a cegar! A um marroquino que sovara um alemão, deram-lhe tantas, que o deixaram meio morto! Para isto, concorreram 6!

Com as outras gentes são rudes e grosseiros, muito desdenhosos e insuportáveis.
Vemos cá portugueses, espnhóis e gregos, italianos e até polacos.
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Mainz
20-8-1964 Cont.
É de louvar a constância bem como o espírito que sempre anima estes povos germânicos. Entretanto, não é apenas isto que faz da Alemanha uma grande nação. Ajudam, na verdade,
os instrumentos de labor, as belas máquinas, excelentes motores e ricos laboratórios.Dão grande incremento às Físico-Químicas e bemassim às Matemáticas.

Na última Guerra, bombardearam Londres, com temíveis foguetões, actuando daqui. Os russos, afinal, que pouco se distinguiram, no campo científico, estão agora a brilhar, devido aos estudos, feitos por Alemães.

Descobrindo algures um grande subterrâneo, desmontaram os engenhos, peça por peça, levando-os para a Rússia, juntamente com os técnicos. E não eram tão poucos! Ascendiam a 10.000!

É assim que se brilha!
O mesmo acontece, nos Estados Unidos que vão comprando patentes de invenção a cientistas de fora! Por exemplo: foi um espanhol que inventou o submarino, mas não dispondo o Governo
dos capitais necessários, vendeu-se a patente aos Americanos.

Pergal, espanhol também, inventou ainda o comboio mais veloz mas a patente, pela mesma razão, foi nendida por igual aos Estados Unidos

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Mainz
21.8-1964
O Ensino, na Alemanha; Castigos físicos. Inteiramente banidos! É tamanho o rigor, que vários professores foran exonerados, por não terem cumprido o que a lei determinava.
CORPO DOCENTE
So pode ensinar quem tenha frequentado uma Universidade.
Também não importa que haja outros Cursos. Aquilo que interessa é, de facto o "canudo"!
DURAÇÃO
São 4 anos de Escola Primária e 9 de Liceu, perfazendo 13 anos pré- universitários.Aqueles que não seguem têm 8 anos de Escola Primária.Os últimos 4 não sáo equivalentes aos primeiros 4, em regime liceal, pois têm, como é óbvio, outra finalidade.

Também não há diferença nos pré-universitários, como em Portugal, pois entre nós só no 3º Ciclo se escolhe o ramo: Letras ou Ciências.
ESTUDO
Nesta Escola de Mainz, há duas horas e meia de estudo obrigatório e cerca de duas para estudo livre., que pode ser dedicado a trabalhos de eleição: Pintura ou Música; leitura e mais.

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Mainz
22-8-1964. Cont. - Pedagogo
Um pedagogo presta, diariamente, assistência rigorosa ao estudo dos alunos, para torná-lo prático e, além disso, obrigar os alunos a boa apresentação nos trabalhos de casa. Devem fazer tudo, servindo-se, é claro, dos próprios recursos. O pedagogo apenas orienta, sugere, insinua.

No estudo obrigatório, é proibido, com todo o rigor, levemtar-se do lugar ou levar dano, de qualquer modo, ao trabalho em curso.

Não podem consagrar-se a estudos estranhos, dissociados do assunto que têm de preparar para o dia seguinte.
O plano das matérias que fazem parte da aula, é sempre enviado pelo Ministério, não podendo alterar~se-

O professor não pode ir além do que está marcado.
Durante as aukas, não se repetem as matérias dadas, O critério seguido é ir devagar, tentando criar calo e assegurar-se bem de que
houve assimilação. Ninguém pode alegar ignorância do plano, porque um dos alunos toma nota, por escrito, sendo aposta, em seguida, a rubrica do Mestre.

QUANTO ÀS LÍNGUAS
Não tiram significados, porquanto isso é aqui reputado como coisa inútil
Há hoje cadernos que os trazem impressos, achando-se dispostos em duas colunas; em uma delas, significado do texto;
na outra coluna, significado geral.

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Mainz
23-8-1964.
União dos PP de S.João.

Esta Fundação teve seu início, em 1928.O seu fundador veio a falecer 20 anos mais tarde. Mercê da Guerra ioi danificada, pois lhe roubaram instrumentos de trabalho.Assim, por exemplo: muita maquinaria de que estava senhora. Entretanto, procra, a valer, retomar o seu ritmo, lutando embora com muitas dificuldades..

Não tem, de momento, elementos bastantes, qie levem a cabo o plsno social, que intenta realizar..
Nesta Escola de Mainz, estudam agora 150 alunos, que se destinam ao sacerdócio. Formam dois grupos: internos e externos
De maneira geral, é preferida, por elementos diversos que seguem outras vias, integrando-se pois nos alunos externos..

Podem cursar nela todas as cadeiras do ensino liceal.
Anexas à Obra há também casas, para receber vadios e borrachos, acção prstimosa que o Governo subsidia.

Reside aqui o "Estudante eterno", que é subsidiado pelo Governo Alemão. com 1ooo Marcos, por mês.
Fre quenta há muito, a Universidade e anda sempre assaz atarefado
É bastante culto e veste à padre A mania dele é a Filosofia. Vai sempre bifurcado na sua bicicleta e ocupa, a rigor, o centro da estrada.
A Polícia nada faz, sendo impotente, perante o facto.

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Mainz
24-8-1964
Em Braumsart, havia uma possessa, a quem os exorcismos nada faziam.Vários sacerdotes a exorcizaram, mas o
Demónio declarou uma vez que cederia apenas àquele cuja consciência fosse tão limpa, que nada tivesse que pudessem . apontar-lhe.
Foi então que o Fundador expulsou para sempre o Demónio maligno, daquela mulher. Em memória do facto, foi ali esculpido o
Arcanjo S.Miguel, que se vê bem claro, nos muros dos edifícios, pertencentes à União.

Em Roma, tem ela Casa, para alunos estrangeiros, Surgem vários problemas, pois muitas vezes, são filhos ilegítimos ; estudantes levianos que fogem ao dever; raparigas frustradas que, em breve, se matam ou, noutra opção, ficam desamparadas.

Isto o corree, às vezes, já no fim do Curso, que seria interrompido, não havendo ninguém, que ajudasse, no momemnto. a resolver a grave situação. Por estas razões, que são ponderosas, conquista simpatia, no mundo inteiro. Aqui em Mainz, todo o terreno, pertencente à União, se destinava a casernas, ao tempo da guerra (II
mundial).
Aqui, em Braumsart, era, em tempos idos, o palácio do Rei.
Tem vasta cerca onde vegetam mimosas flores e se cria tudo, em larga escala. Serve, nesta data, como Asilo de velhos, que é subsidiado pelo Governo.

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Mainz
25-8-1964 Cont, Ainda em Braumsart.
Tive a impressão de que o tal Asilo é mais um prémio para quem trabalhou, durante a vida, que um triste Albergue, onde passa em tédio os últimos anos da vida terrena.

A única igreja, nesta localidade, pertence à União. Sendo o povo de outro culto, os bons católicos emprestam o templo, para os
actos religiosos. Atitude semelhante pode observar-se, em outros lugares,onde os Protestantes cedem o templo ao povo católico.

Nota-se, pois, uma grande corrente de aproximação.
Na Alemanha de hoje, a percentagem católica excede um pouco a dos Protestantes. Ascende, na verdade, a 43%..

Para bom entendimento, efectuam-se amiúde, reuniõea e encontros de carácter doutrinal, os quais se processam, num rico ambiente de camaradagem
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Mainz
28-8-1964
Nas Casas da União, pagam às serventes 15o Marcos, ao fim de cada mês., fazendo as despesas, relativas a viagens,, documentação e ao mais que falte. Dão-lhe muita roupa. Este dinheiro quase fica livre, pois o alojamento é à conta da Obra.

Ora, portano, sabendo que o Marco vale 7$5o centvos, dá como resultado, ao fim de 12 meses, uma bela importância.: 18oo Marcos, equivalentes, em moea portuguea, a 13 contos e meio!

Este é o nontante que uma simples servente consegue apurar, ao fim do ano, caso seja poupada!

O pai do meu colega, Padre José Maria, recebe 1000 Marcos, ao fim de ada mês, A mãe dele, sem dar um passo, já que vive em Portugal, onde recebe os milhares que vão daqui, tem direito, como esposa, a 25o Marcos, de mês a mês. Só este dinheiro, que vai daqui é suficiente, como fui elucidado, para os filhos estudarem, ficando assim livre o que o pai anvia.

Os trabalhos humildes também são bem pagos!.

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Mainz
29-8-1964
Às 8 e 45, assisti, com agrado, a uma aula de Francês, ministrada, já se vê, segundo a Pedagogia. utilizada aqui na Alemanha. Fiquei maravilhado, com a psicologia que a tudo preside. Muito houve de aprender, com vista às minhas aulas, que vão recomeçar, em Outubro próximo.

Tudo aqui é prático e interessante.
Exemplificando: os estudantes entram,naturalmente, sem formalismos, rezam breve oração, apenas ao princípio e depois, sentam-se..
Logo em seguida, cada um deles puxa do seu jornal, impresso na Alemanha, aguardando em silêncio, a fala do professor.- uma Religiosa que é poliglota e nasceu na Holanda.

O referido jornal tem várias notas, harto elucidativas, em língua alemã, resolvendo em coluna, postos lado a lado, os passos mais difíceis do texto a preparar. Apresenta vários temas, podendo os alunos escolher à-vontade.

Vê-se, desde já , que o aprendiz alemão não precisa, realmente, de estar muitas horas, à procura indigesta do que não encontrará!
" Quem é que tratou o assuntto tal? - pergunta o professor.

Vários dedos se levantam. O designado vai junto do quadro,
levando o caderno, onde fez o resumo ecomeça a expor, sem grande intenção de ali reproduzir o que tinha escrito, utilizando o mesmo vocabulário.
Quando precisa, abre o caderno, à sua vontade.

Outros ainda são chamados também. Cada um deles atende cuidadoso à observação que lhe é feita, a propósito.
O gravador faz ouvir o texto, para todos compararem as duas pronúncias. Depois, mais algumas perguntas, para eles explicarem em língua francesa.
Incidem estas, por via dde regra, sobre os passos mais difíceis
devendo os alunos exprimir-se em Francès

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Nainz
30-8-1964 Factos e Notas
O Estado Alemão obriga os cidadãos a pagar à igreja a décima exacta do seu rendimento.
Em Espanha, paga a cada Padre como sempre faz a um Professor primário. Tratando-se de Bispos, são logo equiparados a Ministros de Estado: carro e combustível; palacete e serventes; e o mais que falta.
Há, na Alemanha , quem pague em Marcos, logo de uma vez,
a magnifica soma de 2800! O dinheiro do culto é entregue ao Estado que, por sua vez. o encaminha, em seguida, para a Cúria
Diocesana. Esta distrubui-o por todo o clero e Obras Sociais.

Os que dizem ser ateus pagam de igual modo.
É uso frequente darem os Prorestantes somas avultada para Obras católicas e entregarem oa filhos a Colégios dos mesmos. Aqui há um aluno que não está baptizado. Os filhos, geralmente, têm plena liberdade , podendo fazer o que eles entenderem.
Os Protertantes, em regra, são algo mais ricos e têm menos filhos.
O Bispo auxiliar da cidade onde vivo é dos mais famosos e tem dado que falar, durante o Concílio, Ele é que trata os casos de pastores protestantes que se vão convertendo ao catolicismo. Só agora ,em Mainz, já correram 7 casos. Um dentre eles, ordenou-se há pouco e já tinha 5 filhos, o ,ai novo dos quais anda somente pelos 5 meses.

O pai do petiz cavalga os 39.
Toda a família assistiu devotamenta à ordenação. Rezando~se a ladainha de todos os Santos, o pecorrucho ia dizendo: papá... papá... Isto ocorreu, por não ver o pai que estava prostrado!
Foi Pio XII que abriu o caminho, sendo alargado por Paulo VI.

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Mainz
31-8-1964 I
Acabo de assistir a uma aula de Inglês. Foi interessamte e muito proveitosa. Decorreu assim: emenda completa do trabalho d e casa, feita no quadro; chamada de alunos, para o mesmo efeito, escrevendo uma frase ou apenas meia; aqueles que sabem corrigem do lugar, ao sinal do professor.

Só falam Inglês, durante a função; a língua alemã vem só esclarecer ou fazer adivinhar. Acabada a parte escrita, que foi corrigida e também verificada pelo professor,podendo os alunos expor suas dúvidas, o Mestre lê o texto que está relacionado com o exercício.. Em seguida, chama m aluno, para reproduzi-lo

Ainda antes, o dito professor fizera perguntas, acerca do assunto que estava escrito, no quadro preto.
Conversação ideal: animada, interessante; assaz minuciosa e
muito cuidada. Todos os alunos tomam parte nela; cada um deles é chamado a responder, sentado no seu lugar

Por fim, apresenta o professor o trabalho de casa: 9 palavras
Servindo-se delas, farão 9 frases.
Esqueceu-me referir que a primeira coisa a fazer, na aula é
benzer e cantar. Logo em seguida, abrem os alunos o trabalho de casa, voltando o caderno para o professor. a fim de rubricar, junto da carteira.
O trabalho de casa é sempre um exercício bem relacionado com o próprio texto. Não há livro único. É um deles, entre os aprovados.
A aula corrente é activa ao máximo! Os verbos a aplicar nunca são dados no infifnitivo
Factos e Notas

Aqui não se estranha, vendo um sacerdote passar acompanhado por uma mulher, Os padres casados , por via de regra, não têm paróquias. Uns são professores; outros capelães. Por exemplo: o jovem capelão, que tem a seu cargo o Hospital de S, Vicente, perto da União, é já idoso e tem dois filhos, nos Estados Unidos, os quais, por sua vez, já estáo casados.

A sua prole é muito numerosa e já visitou o Sumo Pontífice com sua mulher, filhos e netos, que qpresentou ao Chefe da Igreja. Este riu e deu-lhe uma palmada, ao meio das costas!

O que se ordenou, há pouco tempo já tem mais um filho, que recebeu muitas prendas dos estudantes católicos, no Curso Teológico
É assaz frequente, na Universidade, haver discussões, renhidas e prolongadas, entre os estudantes de Confissões diferentes.( protestantes e católicos)

Estão sendo apreciadas e dão bons resultados, quando os Catedráticos se envolvem nas polémicas, em que os Católicos se
aguentam a primor!

Entre os protestantes, as diligências anti-conceptivas são toleradas e até defendidas.
Fui também informado sobre o seguinte: aqui na Alemanha, ninguém liga ao facto de a jovem rapariga estar já violada, sendo apenas de estranhar, em Portugal e Espanha.

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Mainz
31 -8-1964 II.
Factos e Notas

Duram as aulas três quartos de hora,havendo entre elas um pequeno intervalo de 5 minutos. Só às 1o e 25 o espaço é maior.
atingindo, em regra, 20 minutos que os alunos aproveitam, afim de comer.
Aqui,afinal. troçam dsa aulas,. com 55 ou 6o minutos. como em Portugal, afirmando, peremptórios, que não se obtém resultado
tal duração, por não ser possível captar a atençao de taodos os discentes. Esboça-se já uma forte corrente, que degende a aula com
menor duração, propondo 30 a 35 miminutos, como sucede, na África do Sul.
Preferem mais tempos, com menor duração, em cada um deles.
Durante as aulas, os alunos em globo não ceaem ao abuso nem se disraiem.
Bem pouco ligam à tradução, insistindo no diálogo, em que aplicam. a rigor, o vocabulário do texto em curso. A disciplina, ao longo das aulas, não é severa e jamais se vê alguem consultar o relógio.
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A Congregação que mais membros reúne, aqui na Alemanha. é o Verbo Divino. Só no Concílio apresento ela 70 Bispos e até um Cardeal!
Sobre o Concílio, uma coisa surpreendente: pensava-se, de início, que os Estados Unidos, pela voz de eus Bispos, iriam tomar a primazia, fazendo sugestóes ou inovando. O certo, porém, é que vai de outro modo. É A Alemanha que leva a dianteira!

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Se bem comparamos Alemães e Ingleses, fica a impreaaão de que estes são gentis, e aqueles grosseiros. em suas tatitudes, de modo especial, quando tratam com alguém que não é da sua raça.
UNIVERSIDADE
Contava, há 6 anos 4ooo alunos. À data presente, já tem 14ooo.Julga-se até que, dentro em breve, atigirá os 20000.
Na Fabrica Opel, que se avista daqui, trabalha ao todo 60000 pessoas!
Autêntico mundo!
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Mainz - Alemanha
1-9- 1964 I
Hoje, foi em pleno: tomei parte em 4 aulas: três de Francês e uma de Inglês. Exponhoi, desde já, como foi a derradeira.
Pai nosso , rezado e sinal da Cruz, em lìngua inglesa.
Todos se exprimem com muita linha e grande nitidez.

Mostram, em seguida, os trabalhos de casa, que abrem. sobre a mesa, pondo os cadernos a jeito do professor, Traça este um V, a tinta vermelha e segue o destino. Depois, manda ler, do próprio lugar, uma frase a cada um. Os passos mais difíceis corrige-os ele,
escrevendo no quadro uma palavra ou outra.

Tradução não há! Passa. agora, aos exercícios que estão relacionados com o próprio texto e faz ele ainda exercícios práticos segundo o que segue: havendo fornecido uma forma verbal, por exemplo "rose", construir ima frase; pôr a mesma forma no futuro 1 e 2 e no perfeito composto.

É de ter em conta que não lhe interessam todas as pessoas dum tempo dado. Geralmente, uma só! Bate a Gramáica, dando-lhe sempre um carácter activo, interessante e vivo, de modo tal, que não há distracções. Saiteia as perguntas, obrigando toda a classe a estar com atenção.

Não há, que eu visse, carteira individual, como entre nós. Há, sim, mesas compridas e cadeiras à volta.
No Francês, houve um ditado, em relação com o texto.
N B
Lê primeiro a frase toda; logo em seguida., fá-lo pouco a pouco! No fim, lê o texto,, de lés a lés.

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Mainz
1-9-1964 II
Nas aulas de Letras, não mandam traduzir. Mostrou-me o professor um livro de pedagogia ( a última palavra), onde se diz, expressamente, ser contra-indicado o sistema em uso, por ser infrutífero, indigesto e pesado.Apenas o admite como via de controlo e em pequenas doses.

Neste caso, há o seguinte: nunca frases dispersas, isoladas do texto, mas antes um passo de frases seguidas; não exigir, por via de regra, tradução literal; tratar-se ainda de matéria já dada e, portanto, conhecida; haver o professor preparado o texto, junto com os alunos, por meio de anotações e acurada explicação dos passos difíceis.
Em Porugal, há serios problemas: não ter livro apropriado nem materiais acomodados a ele. O lkivro único mata a iniciativa.Por demais sabemos nós quanto vale a concorrência, em assuntos deste género!
Não há muito ainda, só Portugal e o Egipto é que tinham livro único! Os textos de línguas apresentam-se áridos e são detestáveis!
Sem notas e ditados; sem exercícios, para aplicação!

Exceptuando o Francês do 1º Ciclo, não incitam jamais a um trabalho eficiente e convidativo!
Quando imitaremos os que fazem melhor?!

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Mainz
2-9-1964 I
Aqiu, na Alemanha, os alunos atentos, levam poucas horas, na preparação das lições diárias: o maior trabalho é feito na aula pelo profesor. Praticamente: abre-se livro, no texto em causa. O Mestre, que é diplomado nessa Cadeira, vai perguntando, após a
preparação, palavras e expressões que sejam mais difíceis.

Se os alunos sabem, caso arrumado! Se não, é ele que responde, e os alunos tomam notas. As explicações são sempre dadas na língua que se estuda e nada em Alemão. Acho maravilhoso este belo processo, uma vez que, assim, ninguém perde tenpo.a adivinhar o sentido exacto.
Não se faz reparo em que haja significados ou ainda traduções.
Além disto, o professor esmerado, tem sempre em vista fazer a aula activa, interessante e viva.Com este fim, junta ao livro de textos , histórias e críticas. São lidas ou contadas.Geralmente, lidas. Os alunos tomam nota das palavras novas, e perguntam no fim.

Se não perceberam, o professor então faz sem demora o esquema das ideias, no quadro grande e pergunta, em seguida,
aproveitando tudo o que os alunos sugerem, no caso de estar bem.

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Mainz
3-9-1964
Factos e Notas.

Vão passando as crianças, em grande correria! Falam e saltam, em amplos zigue-zagues. Sua voz é vibrante e no rosto animado, em que brilham dois olhos,cintilantes e vivos, transparece a ventura que a todas inunda..Após a escola, seguem à mistura, sem ordem nem freio ou então bifurcadas em pequenas bicicletas.

Segui-a s com osolhos, durante longo tempo, largando-as apenas, quando os edifícios vieram ocultar-mas. Ainda então, prossegui deleitado, porque ouvia, sem dúvida,, embora amortecido, o eco
persistente de suas vozes de suas vozes metálicas.

É de notar que, só de raro em raro, levam as coisas pendentes da mão, o que é penoso e harto incómodo, pois tói-lhe os movimentos e fatiga os músculos, não falando, já se vê, em grave distorção e
desequilíbrio do do próprio tronco.

Vemos, em geral, pendente das costas, a pasta habitual, recheada sempre, com materiais de uso escolar.

Caminham direitas, de cabeça erguida, como se o futuro as não amedrontasse. Bem ao contrário, prometessw alguma coisa de muito fagueiro e sedutor! Quase invejei tamanha alegria e. remontando ao passado, em que fui tão feliz, surgiu desde logo uma ponta de ciúme, por vê-las gozar o que eu perdi para sempre!

Aih! Passado amoroso da infância distante, em que a minha vida era feita de sonho! Como fugiste, assim tão veloz, deixando-me agora, no prosaico viver que, triste e desolado, vou ainda arrastando
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3Mainz
4-9-1964
Acabei de ler hoje um livro famoso, escrito por Camus.: L\Étranger, Este insigne autor faleceu hà 4 anos, em desastre de aautomóvel, ao longo duma estrada.

Ouvira falar, muitíssimas vezes, de Existencialismo, sem fazer
ideia, imperfeita que fosse, do seu conteúdo. Pensava eu se tratasse, afinal, de mais um disparate, razão pela qual nunca me interessara ler alguma coisa, sobre tal assunto.

Que me importava a mim de excentrcidades?! Em que podia servir-me um sistema filosófico, s e eu, na posse da verdade, estava seguro, não tendo hesitações'?!

Entretanto, um professor de Liceu, mostrado orgulhoso elementos escolares, concernentes a matérias de Inglês e Francês,
perguntava interessado se eu conhecia o dito livro, pois era interessante.
Meti ombros à obra e,...oh maravilha! Foi de uma assentada! Não houve interrupções, durante a leitura! Pregado a ela, fiquei electrizado, por tal maneira, que tudo aquilo se afigurou sortlégio.

Que força estranha logo me empolgou, para dominar-me, ao
contacto de palavras, que parecem monótonas?! O certo é que ele todo me absorveu, em corpo e alma, avivando realidades, a que eu não dava nome e vivia, na prática!

Em resumo: fiquei então sabendo que todos os meus escritos são existencialistas, assim como também a maneira de pensar e de
sentir!
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Mainz
5-9-1964
Existencialismo é, afinal, a própria verdade, o que se pensa e sente: talqualmente se sente e pensa! Consiste, a rigor, em não mentir, ao falar ou escrever, expressando fielmente o que vai dentro de nós, quer seja alegre quer não; agradável até ou desagradável.

É a própria ezistência, desencapotada, já sem verniz, sem preconceitos, nem costumes cediços! Vou agora relatar um facto
curioso da minha vida, que expressa, a rigor, "existencialismo".

Quando estava em Pinhel, certa dama presumida, com ares de importâmcia, baseada em pergaminhos e no sangue azul, foi procurar-me , a horas impróprias, para ir com ela a certo lugar.
Eu não tinha obrigação: regressara de lá e nada havia a cumprir ali.
-- O senhor X não se importava de..., se não lhe custasse muitto?!
-- Custar, sim, custa bastante, mas no entanto, vou lá! Por favor, aguarde um pouco.
Ficou espantada e fora de si, por nunca ouvir tal! Não estava preparada para a minha resposta, mas se era verdade, por que havia de eu mentir?! Fariam outros o contrário de mim?

Que me importa que mintam?! Não me cabe nisso responsabilidade nem sou obrigado a imitar os outros! Eu é que o não faço, porque me repugna! Mentir, a rigor, não é só dizer aquilo que não é! Dizer mais do que é também é mentir!

Se eu ando triste, porquê fingir, quando em sociedade?! Os outros aborrecem-se? Não têm culpa? Que me importa a mim?! Sou como sou!
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Main
6-9-1954 I
L\Étranger!

Trata-se dum Francês que nasceu na Argélia. quando esta província era ainda francesa. Desconcerta, pois, que o autor citado lhe chame " Estrangeiro", já que tal palavra expressa, a rigor, ausência da pátria, exílio de alguém ou coisa no gánero.

Mas este livro admirável, publicado aos 30 anos, conseguiu, em pouco tempo, arrastar as multidões, e criar ao escritor um nome imperecível. Isto a rigor, foi devido ao facto de haver expressado, por forma original, a sensibilidade, vigente, em nosso tempo.
A juventude moderna, à margem de Deus, sente asco da vida. Por esta razão é que a não ama, desfazendo-se dela . O Estrangeiro, mostrsndo-se qual é, sem nenhum disfarce nem sequer doblez, abre já o caminho à sua condenação.

Enjoado da vida, não encontra à sua volta apoio nenhum. Bem ao contrário, todos vêem nele um ser perigoso, porque não faz nem diz também como como os seus contemporâneos. Sendo isto assim, logo a sociedade vê nele uma ameaça.

É estrageiro, porque vive em tudo como sente e pensa! Não usa disfarce nem faz ampliações. Então os outros não o compreendem
endo sempre nele um perigo iminente! " Deve ser afastado, porque é um momnstro!#

Isto, afinal, porquenão mente, como os outros fazem.
Numa palavra, a juventude de hoje , enfartada de prazeres, sem A sociedade é injusta e obriga a mentir. Aquele que reage, poderá ser vítima de seus próprios actos.

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Mainz
6-9-1964 Cont.II

Este homem faz-me dó, porque sou eu mesmo! Que tem a sociedade com as minhas acções, quando eu tento defender inalienáveis direitos?! Julga-se ameaçada, por eu não mentir'! Julga correr perigo, se eu não agir como os outros fazem?!
Não posso orientar-me como penso e quero e agir como sinto?! Onde está, nesse caso, a minha liberdade, se ela me impõe,
sob pena de morte, que eu faça desta ou daquela maneira?!

Porque ele ( o estrangeiro) não lacrinejou, no funeral da mãe,
Já é condenado pelo tribunal?!Cada um é como é! Só Deus tem direito a exigir outra coisa. Os homens são iguais; vis e ridículos,
hábeis traficantes, consumados patifes e comediantes!

Também me julgo estrangeiro, nesta sociedade, em que vivo e actuo. É que eu, embora tente, não compreendo os outros!
Por esta razão, também eles , por sua vez, me não compreendem

Escrevi, sem dúvida, milhares de páginas que não viram ainda a luz do dia. Nelas, precisamente, lavrei o meu protesto que outros não aprovam, porque mentem sempre.Eu, porém, não quero. mentir!
Se não posso fazer quanto me foi imposto, para quê dizer "sim"?! Que o faço e aprovo?! Os outros, à volta, não dizem como eu?! Resignam-se talvez e fazem padrão de sua própria vida? Que me importa a mim ?!

Serei condenado, como o estrangeiro?! Pouco me importa, uma vez que os homens já deram para mim o que tinham de si! Foi chão que deu uvas!! Hoje, para remate, condeno e verbero as suas acções e sinto náusea, quando penso nelas.
Creio em Deus. Nisto, porém, não sou, de facto, existencialista.

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Mainz - Alemanha
6-9-1964 III NOTAS
O alemão Rahner é, nesta data, Mestre de Teologia,, na Universidade, sita em Insbruco.Trata-se, afinal, dum notável Jesuíta, que, por sua vez, tem um irmão, também jesuíta.

Citei aquele nome, por ser considerado o maior Teólogo do mundo cristão. Pena é que, sendo, se torne, por vezes, um tanto obscuro, por causa do idioma! Isto não se dá,com autores franceses.
Em suas tiradas é, às vezes, tão audaz, que, a Santa Sé já lhe proibiu a regência da Cadeira.
Os bispos, no entanto, para o compensarem, nomearam-no já seu próprio Consultor
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UNIVERSIDADE - Mainz
Nota-se a presença de muitos Maumetanos, originários da Índia, como da Malásia. São muito simpáticos para os portugueses, dos quais se abeiram, por motivos religiosos. e mercê de resquícios que ve, do passado. Não raro sabem eles a Avé Maria em língua portuguesa

Emcontacto directo com os europeus, entram a duvidar da sua Religião. Alegam, sinceramentte, que não têm paz e precisam de alterar seu credo e hábitos. Só de uma vez, converteram-se 9, de
ambos os sexos.
São muito impressionantes, em suas atitudes, emergindo, para logo, a fidelidade ao livro sagrado - o Corão - e o profundo respeito ao profeta Maomé, fundador do Islamismo..

Santa Filomena

Deu muito nas vistas o caso famoso de Santa Filomena que veio a provar-se não ter existido. Entretanto, há casos mais recentes, como por exemplo, o de Felix de Vallois.

A BAC espanhola ( biblioteca de autores cristãos,) ocupou-se dos Santos, em 4 volumes. Assim que chegou ao dito Santo eliminou-o de vez, provando claramente não haver existido.

Os Trinitários ergueram protesto, bem entendido! A Santa Igreja não canoniza nem define existências. Eles, portanto, nada lucraram,pois viram o seu "santo" fora do calendário. O que a Igreja faz é canonizar e definir modos de viver em satidade.

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Lugar Actual
do Senhor Eucarístico. Passou a colocar-se num altar lateral, reservando o maior para a Sagrada Escritura. Há uma grande corrente a opor-se ao facto. e, com muita razão. O Chefe da Casa deve ocupar o lugar principal.
Bíblia Comentada.
Está muito em voga e tem grande apoio Que não leve o caso à supressão do Terço a Nossa Senhora!
A questão das imagens como a da Bíblia agrada imenso aos protestantes, pois eles assim fizeram, ao longo do tempo.

Ao próprio Crucifixo é eliminado o corpo do Senhor: fica somente a Cruz de 4 braaços, inteiramente nua.

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Em Madrid, há um Cura de Almas. que estudou em Salamanca.
havendo introduzido, no lidar pastoral, métodos novos, um tanto suspeitos. Firmado no apoio, outorgado pelo Bispo, no seu campo de acçaõ, fazia o seguinte: só admitia na sua igreja, dererminada assembleia, constituída por monjas e outras pessoas, sem autorização, para mais ninguém! As ortas do templo eram ancerradas
Veio a saber-se que chamava os fiéis à sacristia, para cada um dali uma hóstia. Chegado o momento próprio, ofereciam antão com o celebrante, conservando todos a partícula na mão, até comungarem..
O caso foi censurado e muito discutido, sendo encarado com muitas reservas-
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Aqui, na Alemanha, há muitos encontros e entrevstas, em que lidam juntamente protestantes e católicos, Tem a sua explicação, pois se trata dum povo, em que o número de uns é iguaal ao dos outros.
Nesta data, o dos católicos sobe a 43%.
Por outro lado,os protestantes são por via de regra, senhores e detentores de grandes empresas e fonttes de receita.. Mas nota-se claro uma atitude franca de entendimento e cordialidade, bastante pronunciados.
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Mainz--Ceibato
6-9-1964 IV
Fui posto ao corrente de qie o professor de Direito Canónico, a exercer a profissão, na velha Universidade, salamantina e pontifícia, é também formado em Direito Civil e defende, ante os alunos que é uma necessidade abolir o celibato como obrigatório.

Chama-se Roque e tornou-se famoso, pelas suas ideias, tanto mais que a Espanha esteve aempre ligada a tradições cediças .

Em nossos dias, já sabe toda a gente que ele vai casar, dentro em pouco tempo. Anda pelos 4o e obteve dispensa da Santa Sé. Cai muito bem o proceder de Roma, porquanto é humano e nuito de louvar.
Deve atender-se aos casos pessoais e não a teorias, velhas e loucas, desligadas da pessoa e dos tempos correntes.

Ignora-se a causa, alegada para Roma, mas a prioi, por nula ordenação, não devia ser, devido às circunstâncias, em que o facto ocorreu.. Se fosse ainda jovem, seria de crer, mas assim..

O caso em foco dará lugar a muitos, na Cristandade. Também vou pedir a Roma igual dispensa Não me quadra a vida como ela se apresenta!: é um beco sem saída; uma viela em trevas, onde os passos que dou me fazem tropeçar!

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Mainz
6-9-1964-- V -- Nova Pastoral
Factos e Notas
Um Lente, em Salananca. tem por vencimento !oo Pesetas, à hora. É muito pouco, dado que o montante e quivale apenas a 5o$00., de maneira escassa. A isto
acesce ainda : ter poucas aulas e não poder leccionar, fora do seu meio.
Os docentes jovens são tirados às Ordens e Congregações e bem assiim ao clero secular. Isto, afinal, dá grandes vantagens , pois é fácil de arranjar um corpo selecccionado, em ordem ao Ensino. O mesmo nao sucede na Gregoriana, onde pontificam s+o os Jesuítas.
Em Salamanca, há certos grupos que estão na vanguarda, em questão de ideias novas. Este avanço curioso faz já sentir-se, de modo especial, em Sagrada Escritura e Pastoral.

É de notar que se está orientando a Liturgia de hoje, num sentido mais livre e quase a capricho! Basta referir o caso das imagens, o lugar do sacrário, a substituiç
ao do Terço rezado pela Sagrasa Escritura., lida e comentada, intervalando os canticos..

Quanto às imagens,, não se trata, claro está, de negar o seu valor. Assim: que faz uma imagem a que não há devoção ou apenas interessa a dada família ou, o que é pior, a uma só pessoa?!

Na minha aldeia est
ao quase todas nestas circunstâncias: o receável Santo Amaro e santa Filomena; Nuno Álvares Pereira; nossa Senhora de Lurdes e outras mais.
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Mainz
6-9-1964 VI .
Factos e Notas

Acabei de ler o conhecido livro: Le voygeur sans Bagage.
O sentido geral da citada obra pode inferir-se das seguintes palavras, empregadas pelo autor: "Eu sou um homem e posso
tornar-me, se eu quiser, tão novo como uma criança.

Para ser criança, nada mais é preciso que matar o passado. Renunciar a ele de tal maneira, que figure ser estranho, o que leva todos nós a desinteressar-nos. Isto, na verdade, ainda que se tratw dos laços mais ternos., como por exemplo o amor de nossos pais ou
inclusivamente, os primeiros amores.

Ser criança ainda é ser feliz. Onde os cuidados, a preocupação, os temíveis dissabores, e dedesilusões, as negras traições e a cruel decepção?! Onde a infidelidade?!

Mas se eu conservo a memória de todas estas coisas, necessariamente hei-de viver tris; muito aborrecido;... minado de
remorsos. Faço-me velho... fico velho, realmente, A vida abrevia-se e corre mais depressa para o seu fim.!

Que importava ao voygeur, vítima de amnésia, durante a guerra, reencontrar o passado e, desta maneira, ser reintegrado no seio da família?! Isso, afinal, torná-lo-ia velho, pela recordação de coisas bem tristes!
Prefere então renunciar à família, ao primeiro amor que lhe dorri de novo, a todo o seu passado, vivendo com alguém que nada lhe pertença - um falso tio, mais novo do que ele. Esse tio, como era ainda jovem, não tinha passado.
Junto dele, estava decerto, a felicidade.

Para ser criança, não é precisi eliminar o passado, seia ele embora de que natureza for. Matando-o, lpois, começo a viver e tal começo é, sem dúvida a felicidade!
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Mainz
7-9-1964
Visitei hoje um belo Santuário, muito popular e assaz venerado, em toda a Alemanha: Mariabuch. É este um lugar, deveras aprazível, encastoado em virente paisagem. Anicha-se ele quase num fundão, como tendo em vista ocultar-se de nós ou tornar o seu encanto ainda mais fascinante,

Tudo quanto na vida aparenta fugir-nos se torna mais árduo, para alcançar e excita em breve a curiosidade, fazendo-se amável e desejado. A extensa mata serve de moldura, sendo guardiães do velho Santuário 4 Capuchinhos, sacerdotes católicos, ajudados ali
por 4 Irmãos.
O mais velho daqueles tem 85 anos e, nas suas barbas, já brancas, brancas, em que li bem nítido a futilidade das coisas humanas, pressenti igualmente o mistério da vida, relacionado este com o da morte.
Muita gente ali vai, por mero desporto, sendo certo igualmente que muitos outros são levados ali,por espírito cristão,

Logo em redor, há várias tendas, onde são vendidos artigos religiosos e memórias diversas, alusivas ao milagre que lá se operou, há nada menos que 6oo anos: depara-se uma planta, esguichando sangue, após a navalhada que um judeu arriscou, no tronco da mesma!
Aparece, na árvore a imagem da Virgem, com o Filho morto,
depositado nos braços. Desde então, ficou o lugar envolvido em mistério e grata lembrança
Hoje, vê-se, logo perto, um belo Restaurante, havendo ao lado
opulento Café
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Mainz
8-9-1964 Cont,
Neste lugar, deveras remançoso, tiveram seu encontro,
anual e amigo, os padres católicos, ordenados já, em 1937.emWurtemburgo, sua diocese. Já lá vão, pois, uns 27 anos!

Como é de calcular, tèm já o meio século, havendo alguns que são mais velhos. Ninguém ali falta! Apenas 3 é que não comparecem: 2, que a morte levou; um, que apostatou! Sao, pois 24, incluindo em tal número o Bispo auxiliar.

Assumem ares de amigos e belas atitudes, harto afectuosas. A todos une, intimamente, uma sincera e nunca desmentida amizade pessoal. O bispo referido é para eles um centro de atracção! Todos lhe querem! Ele, por sua vez, é camarada! Não tem excelência, veste como os outros, para deste modo ser menos desigual e lida
habitualmente, como se, naverdade fora um de tantos!

Apesar de tudo, vê-se nos ademanes que é uma pessoa talhada para chefe. Não está, de princípio: tem de preparar a viagem a Roma, onde assiste ao Concílio.. Prometera não faltar e cumpre a palavra.

Todos o esperam, na certeza absoluta de vir ter com eles! E vem, realmente! Conduz ele prõprio o seu automóvel e não tem servente!O seu espírito prático aponta-o de facto como puro alemão.
Falei com ele, Inspirou-me simpatia.
Os padres alemães revelam carácter e ideias assentes, como faria alguém que sabe o que quer e para onde vai.
Trajam como entendem e fogem de velharias que para nada já sarvem!
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Mainz Cont.
8-9-1964 II
Encontro - Mariabuch

Dialoguei, nesta data, com vârios colegas, utilizando a língua inglesa e, por vezes, a francesa.Um dentre eles conhece muito bem o idioma francês que utilizou, de modo especial, nas suas viagens à Itália, bem como a Portugal..

No tocante â França, tinha mais que dizer, pois ficara ali detido, como prisioneiro, ao longo de 3 anos.
Chamou peste a Hitler e bem assim ao Nacional Socialismo,
que arrastou um grande povo para a desgraça e para a desonra.

Censurou com aspereza os Bispos espanhóis, por estarem presos a certas ninharias que já não se justificam e é preciso banir, pois são ridículas.
Apontou como caus pertencerem, no geral, a famílias nobres, Referiu-se ainda ao uso do Latim e do casaco curto e de outras coisas mais que mereceram reparos.e causaram dissabores, na Pátria lusa.

É agora professor, em Religião e Latimi, a admissão imediata à Universidade. Vem a ser, afinal, a revisão completa de todo o Liceu. ( 9 anos).
Aprecia muito certos monumentos, vistos em Portugal, lembrando, a propósito, Alcobaça e Batalha; os ricos Jerónimos e o Convento de Cristo, sito em Tomar.
Não esqueceu a Coimbra do Mondego, de velhas tradições.
Informaram-me, depois que este sacerdote é muito arguto, sendo cursado em duas Faculdades..
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Mainz.( cont,)
8-9-1964 III
Trajar do Clero

Nenhum dos sacerdotes se apresenta de batina: casaco curto,
em geral, preto. Uma parte deles usa cabeção. (pouco saliente);
outra, ja não.Os derradeiros envergam ali camisa branca, de colarinho erguido ou ainda solto, sobrepondo-se os bicos em camisola gersey, muito subida e preta na cor.

Um dentre eles, traz gravata preta; três do grupo vestem fatos cinzentos, havendo um que usa sandálias. Sobvre a cabeça. ou nada a cobrir ou a boina espanhola que eu já usava.
Há outra modalidade: colete subido, em volta do pescoço.
Nestes, não se via a camisa ou tornava-se, na verdade, quase imperceptivel.
Entre o conjunto, há um colega que traja melhor e mais a rigor. que o Bispo de Wurtemburgo. Talvez haja mais dois que levam vantagem ao dito prelado.

São admiráveis estes alemães! Em todas as coisas nos levam dianteira: só o nosso orgulho que, ainda assin, é menor que o deles, pode cegar-nos, de tal maneira, que não vejamos qualquer superioridade!
" Vede los Alemães soberbo gado", assin disse já o vate lusitano
Soberbos, sim, mas admiráveis!

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Mainz
8-9-1964 IV
A lição de Francês, no 6º an,o teve por objecto o
escritor francês, Saint Éxupéry. Em primeiro lugar, falou-se um pouco, sobre o seu primeiro livro: Courrier du Sud. O seu autor, na pessoa de Bernis, revela-nos, com brilho, uma decepcionante e amarga experiência, que o levou a procurar em rumo diferente, a ventura sonhada, que não no amor.

Vendo-se atraiçoado, cheio de amargura e humilhado pela esposa, de quem não erperava semelhante proceder, afasta-se dela, acolhendo-se prestes na Religião, que julga remediar or males da vida e, de certa maneira, será um desforço, olvidando para sempre quem o erquecera.

Nota. porém, que assim não acontece, pois que, não sendo absorvido pela actividade, o passado ressurge, tornando-lhe o viver mais amargurante e desesperador,

Então, resolve outra coisa: procura, desde logo, uma actividade mais absorvente, a que se entrega, de alma e coração. Ali. encontra ele a paz de espírito e o repouso do seu coração.
Tese: Todo homem, neste mundo, consegue a felicidade, cumprindo integralmente, o seu dever paculiar e entregando~se a ele,com todas as forças.

Por este "dever" entende-se um trabalho, harto deleitoso, que esteja de harmonia com as suas preferências.

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Mainz
9-9-1964
Factos e Notas
O suspirado comboio que rumava a Barcelona, está prestes a chegar. Vem da Dinamarca e, aqui em
Mainz, Alemanha do Sul, alguém, ansioso, aguarda a chegada. É o meu amigo, padre Javier, companheiro de férias, a quem as saudades da pátria distante e as gratas lembranças da sua família fazem agora dar voltas ao miolo..

No seu entusiasmo de jovem ardente, exclama esfuziante;"Que emocion! Isto as indascriptible!"
A estas palavras, acordou no meu peito, a voz do passado, qamdo tinha um lar, com pais e irmãos.Loucura tão grande, por vezes me tomava, que vários castigos isso ocasionou. Mas quem há no mundo que possa deter esta esfuziante... perturbadora alegria?!

Hoje, porém, sem família nem lar, regosíjo-me ainda de voltar a Portugal, mas sem entusiasmo... sem grande alvoroço!
A querida mãe, já velhinha e doente, pode estar na outra vida,
Sendo isto assim, tirada que seja a grande amarra, que me prende à vida?! Resta ainda alguma coisa que me que me obrigue a sorrir?! Que de longe, ao manos, faça negaças a meus olhos inquie tos?! Que enlouqueça de entisiasmo um coração generoso?!
A resposta a dar é voz de sepulcro: silêncio... amargura!

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Mainz
10-9-1964
Hoje, pela manhã, dei um passeio muito agradável, tendo +or companheiro o padre Jodé Maria, amigo
prestável e muito gentil. Fomos a Weissenau, aonde ele ia celebrar a Missa da Festa.

Âs 9e 30, entrámos no Omnib.us e, dentro em pouco, estávamos lá. Maravilhosa paisagem, deslumbrando os meus olhos! O Main, de águas mansas, harto paciente e assim acolhedor, deixava passar, a toda a hora e momento, barcos sem conto, procedentes de Hamburgo, Suíça e ouras partes.

Logo ao lado, um caminho solitário, melhor diria, exclusivo de peões, rodeado de flores, pois este povo aprecia, em extremo, os encantos e o fascínio da Mãe-Natureza.

Paredes meias, de um e outrp lado, o camimho de ferro,
ali matraqueado, a cada instante, pelo vai-vem de inúmeros comboios. Surgem de toda a parte, risonhos, pontuais,, numa ânsia infinda de melhorar sempre a vida do homem
~
Paralelamente, com igual disposição e perfeita simetria, amplas estradas , namoram em delícia o rico afluente do rio mais benéfico da nossa Europa.-

Com todos estes meios de comunicação, a grande Alemanha tem forçosamente de progredir, florescer e prosperar!.
Nas estações, ninguém atravessa o caminho de ferro. Há passagens subterrâneas, em todos os sentidos. Este povo é prático em tudo o que faz!
Os bilhetes de comboio são automáticos, podendp cada um entregar a importância e, depois, receber aquilo que deseja.
As bancadas da igreja têm suportes, destinados a livros, e todos os capelães ficam 9 anos ao serviço dos párocos.

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Mainz
11-9-1964
Aula de Francès
O trecho a dar, fora preparado, ainda na véspera, pelo professor, colaborando no cao todos os alunos: significados, expressões mais difíceis, formação de palavras, etc, etc.

Se o texto é do livro, aqueles, então, vêm nele impressos; caso contrário, fornece-os o Mestre. que, frequentemente, dá textos estranhos, relacionados também com o do livro, já bem conhecido. neste caso, as folhas são impressas no copiador.
Hoje..
Leitura particular, só com os olhos.. Fechar depois os os livros e assim os cadernos. Olhar em seguida, para o quadro preto que o professor acaba de abrir, pois tem dispositivo, para o fechar com chave.

Encontra-se ali o esquema da lição, em breve questionário. que o Mestre copiara, sem presença de alunos..
Interrogatório agora rotativo, no lugar de cada um..
Finalizada que seja esta acção, todos os alunos copiam o questionário, para fazer em casa, de trabalho escrito, libertando-se do livro, que seguem, no entanto..

Lê depois uma anedota ou pequena história, que pode ter relação com o tema em causa.. Os alunos toam nota ou prtgumtam,se precisam, o que não entendem, pois têm de fazer, em sua própria casa um trabalho esdrito.
Trata-se já do 6º ano, que o 5º em Portugal, poderia imitar-
Finalmemte: verificação de trabalhos feitos, e de aplicação;; pequenas listas, distribuídas no lugar; interrogatório, para responder, na língua a estudar.

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Amadora
2004-o5-07
Bom Entendimento e Compreensão.

Em Sacavém, há um caso inédito, que depõe altamente a favor
dos Brancos, para não dizer também a favor dos Pretos.

Foi uma surpresa, assaz agradável o que eu, em pessoa, notei com pasmo e admiração. Posso dizer que a cena me encantou,
aprovando as atitudes, ali verificadas. Para mais, eram actos sinceros, que brotavam da alma, qual água cristalina, pura e corrente, a emanar da rocha.

Proceder comovente, banhado em ternura e regado com lágrimas! .
Para grata informação, forneço desde já alguns pormenores que vão ajudar os caros leitores e amáveis leitoras.

Realizava-se com fé e grande afluência de gente diversa, em
costumes e cor, uma cerimónia de tipo fúnebre.Eram muitos so Pretos e os brancos também, o que logo me intrigou, por não saber exactamente a cor do defunto. Tenho presenciado, em muitos funerais, enormes aglomerados, sabendo~se logo se é branco ou preto o defunto em causa.

Geralmente, só povo de uma cor! Uma vez ou outra, mistura exígua da outra cor! Apenas Sacavém constituiu excepção
Que bom seria se, em todos os lugares do nosso Portugal ocorresse a mesma coisa!

Acaso os chorosos e emocionados eram só Pretos?! Muito longe disso!Não havia distinção! Ficou-me a impressão de serem todos Pretos ou todos Brancos! Confesso e admiro, com alma e clareza: nunca vi tal coisa, na minha vida! Por isso, exactamente, foi incalculável a minha surpresa!

Quantos beijos e abraços! Quantas lágrimas sinceras, pela defunta negra que tinha alma branca! Eu próprio vi, bem junto a mim: uma
jovem negra, dos seus 17 ou 18 anos, estava chorando, amargurada e triste! Vem logo uma branca, levanta-a com jeitinho, acaricia a lacrimosa e beija-a na face, como sendo família e sua amiga íntima.

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Amadora
2004-05-08
Como seria o mundo, se todos os povos fizessem o nesmo! Seria tão bom viver irmãmente, estimandose as pessoas e
comungando as gentes, tano na dor como na alegria! Não havia guerras nem ódios nem rancores. Era já este mundo um vislumbre do Céu!
Que este exemplo frutifique e prestes se difunda por todo o país! É lição frutuosa,comovente mágica. Nada ali há que seja reprovável, asqueroso r dr censura!
Que bom viver assim, entre gente que se ama, estima e entreajuda! Que deseja só bem e se procura, tanto na festa como no funeral.
Infelizmente, em outros lugares, não correm os factos, e modo igual! Maléficas vontades, olhar revirado. jeito bem avesso à camaradagem! Furor e raiva, incompreensão, afastamento e mordacidade!
Alguém é culpado, naturalmente!,Nada existe aí, que não tenha uma causa! Ambas as partes? Só uma delas? Qual será, então?!

Faço votos sinceros pela boa harmonia e rogo ao Senhor que embrandeça os corações, de um lado e outro, para que o nosso convívio seja modelar e nos traga a paz., a verdadeira alegria,,o
convívio desejado, a camaradagem que Deus aprecia e recompensa com larga mão! Bastaria, para tanto que todos quiséssemos!

. Valia bem a pena! Os frutos alcançados encheriam de gozo o peito das gentes, não importando a cor nem o interesse nem o egoísmo.é
Dêmos, pois as mãos, que Deus é Pai de tosos.


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Amadora
2004-o5-09
Floreados Literários

Não se julgue, talvez, que vou tratar da Arte Literária. ou de
ornatos estilísticos, de que temos exemplo, em grandes Mestres.
Que dizer de Garrete, Frei Luís de Sousa, Eça e Torga, Latino e
Castilho?!
Estes somente, para não abranger o rol volumoso de
tantos outros, em que brilha também o país irmão!
Os poetas contam igualmente, com bons elementos.
Empreguei, de facto, a palavra "floreado". que pode ilidir gente assaz crédula. "Nem tudo o que luz é ouro!"
Tenho agora em mente os chanmados "solecismos" e bem
assim os hibridismos. Antes, porém, de focar o assunto, apraz-me
aclarar o sentido que encerram duas palavras: hibridismo e solecismo.
Dizemos, em regra, que um termo é híbrido, quando formado por dois radicais de Línguas diferentes. Sejam exemplos: bígamo e monóculo: bi(s) - Latim ,(duas vezez):
gamo . Grego. ( casamento ). mono - Grego - um só; óculo -
Latim - oculum. (olho).

Solecismo: erro de Gramática ou de Sintaxe:recebi uma enomenda,contendo um belo relógio.
Para eliminarmos o solecismo, basta fazer como segue já: recebi una encomenda, com um belo relógio.

A que propósito vem este novo Diário? Edclareço breve, Não há muito ainda,, passei por Sacavém e, olhando para a fachada de muitos edifícios, notei presesmente grande número de "ornatos".
a cores diferentes.Neste género, foi o mais enriquecido, variado e artístico da nossa capital e seus arredores. abundância, variedade e
gosto para o torto! Pena é, realmente, que tal coisa se faça!
Que desamor a uma Língua tão bela, rica e sonora!
Fazer caldeirada tão enjoativa! Estando me Portugal, nao devemos fazer isso! É un ultrage... quase sacrilégio desferir assin golpes!.

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