Lx. Belém
1984-01--o1
Balanço
Ao fim do ano, apuram-se as contas, para descobrir onde houve falhas e, caso se encontrem, procurar repará-las.
Com esse objectivo, se recorre, geralmente, ao chamado balanço.
Não o fazendo. agimos às cegas. Como seres racionais, espera-se, realmente, boa direcção, para tudo correr bem.
Tem isto aplicação, no campo material e, de igual modo,
na esfera espiritual. A propósito: devemos utilizar a mesma seriedade, não sendo capazes de a tornar maior. .É que , na
verdade, o espírito humano e quanto lhe toca excede em muito a
esfera material.
A vida presente é harto insegura, curta, incerta Não existe em nós a razão de ser. Por esta razão, se emprega a frase " se Deus quiser!" É vontade soberana e tudo lhe pertence. Não é Ele o autor de quanto existe?!
Ora, descendo à prática, é mister, desde já, aplicar a teoria
à vida terrestre.Com esta finalidade, pergunto a mim próprio, neste dia primeiro de 1984: que vou eu fazer, para alcançar a paz e assim melhorar o meu próprio viver, bem como o do país e do
mundo, em que vivo?!
Tive saldo positivo, no meu interior?! Com a graça do Deus,
parece que sim! Atenuei bastante o defeito maior, o que leva, nesta hora, a mostrar-me grato ao Senhor meu Deus!. Se não fosse Ele, nada conseguia! Por isso, não tenho palavras para O louvar, condignamente e render-lhe a homenagem a que tem direito. como Senhor de tudo. A sua bondade não tem limites!
Continuarei, pois, insistindo na luta, que travei, durante o ano, exercendo, para tanto, acção eficiente, em outros sentidos. Refiro-me a caridade e, juntamente, à humildade.
Se Deus me conserva, é exactamente, para dar-lhe glória, bem O servir e amá-lO, com alma! Isto, é claro. implica sacrifício, benignidade e muita paciência.
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Lx. Belém
1984-01-02 " É o que faz ser pequena!"
Pegara !no esqueiro, afim de ajudar, num serviço religioso!
Era nos Jerónimos. Muita gente aglomerada, em volta dum cadáver, rezando piedosamente pela alma do finado, que jazia na urna, aguardando orações.
O celebrante chegara. Após abrir os livros e assegurar-se do nome, concentra-se uns momentos, afim de iniciar a Eucaristia.
Faltava apenas acender as velas.
Por via de regra, há sempre alguém que avance decidido, mostrando-se prestável. Desta vez, foi uma donzela, de
pequena estatura, que levou a palma a todos os circunstantes.
O seu entusiasmo depressa murchou, ao notar desapontada
as dificuldades que logo surgiram! Encontrando-se as velas a nível superior, recorreu, claro está, aos bicos dos pés. Entretanto, nem isso lhe valeu! Por mais que tentasse, não havia maneira!
Atrapalhada já e deveras confundida, perante a assistência que a não desfitava, irrompe então nas palavrs citadas:" É o que faz ser pequena!"
Alguns apiedaram-se, ao passo que outros sorriram velhacamente. O caso em si não era para tanto. Achava mais sensato que alguém, dentre os outros prestasse ali ajuda!. Bastava, na verdade ser algo mais alto ( cinco ou 1o centimetros), para o caso se arrumar!
Apesar de tudo, nnguém houve ali que então o fizesse!
Não é lastimosa esta falta de senso que atende meramonte ao caso pessoal?!.Manifesto egoísmo, gera a morte nas almas, entorpecendo os mesmos corações!
Como vai a sociedade! Para onde foi a delicadeza e a formosa caridade?!
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Lx.Belém
1984-01-03 A cadeira do Cemitério
Fazia-me impressão o facto observado. Uma vez e outra, sempre
aquele objecto, no mesmo local! É bastante perto duma campa alindada,com gosto invulgar! Trata-se, claro está , de tumba perpétua. Nem é jazigo nem gavetão! Fica no solo, junto dos gavetões
O taburno marmóreo ostenta, por norma, viçosas flores, colocadas em jarros, avistando-se no topo uma bela estátua - um
Anjo com asas.
Tudo, no local, é objecto de carinho, gosto requentado e arte
consumada!
Bacorejava-me, pois, que houvesse ali coisa! Além da cadeira, tudo me falava de presenças vivas, muito carinho, amor acendrado, grande imolação!
Mas a cadeira? Afinal de contas, revela este objecto um facto singular.
No ano transacto, ocorrera uma tragédia, bem digna de lástima! A filha única dum casal estremoso, ao dar à luz o seu primeiro filho, entregou a alma ao Deus Criador! Foi mãe, na verdade, pela primeira e última vez! Faleceu, pois!.
Curioso, no entanto, é o facto seguinte: o bebé não morreu e
vai-se criando.
Segundo infrmaram, foi bronco-pneumonia. Lá foi, pois, a mãezinha a caminho do Céu! A criança aguentou-se! Ainda bem! Sempre é uma presença a lembrar aos avós a filha dilecta!
Ora bom! É à volta disto que os factos ocorrem..
Serve a cadeira para os pais descansar,,urante o dia: cada um, por sua vez, ali passa, de facto. horas esquecidas.
Este caso, para mim?! Deixei-me abalar até às profundezas. da alma rendida!
Um dos pais está de vela; depois, vai o outro continuar a tarefa. Grande e excelente é o amor dos pais! Tendo só aquela filha, nela concentravam todo o seu afecto.
Daqui se infere, pois, que não parece bem ter apenas um flho! Às duas por três, ficam os pais sem coisa nenhuma!
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Lx. Belém
1984-01-04 Pescoços e Asas ( de peru)
Duas cenas curiosas, ocorridas em Lisboa, num Super- Mercado!
Na primeira dentre elas, é protagonista a esposa dum Oficial; na outra restante, uma preta anafada.
Acerquemo-nos, pois, escutando o que dizem, a propósito de compras.Palavras e atitudes vão indicar aspectos melindrosos que os tempos criaram..
A primera senhora procura, realmente, pescoços e asas e fá-lo sem vergonha. O nível de vida encontra-se elevado, pelo que o dinheiro não chega, tristemente, para comer, em parte dos casos.
Por esta razão, há comedimento, redução de gastos e alta poupança.
Quando é que se viu limitação desta ordem?! já fiz 65. Apesar de tudo, não me lembro,,realmente, de que haja sucedido, ao longo da vida.
Oficial do Exército, alimentado com asas e pescoços!
Em contrapartida, a segunda senhora, mulher de cor, portanto estranha, ao serviço de alguem, logo que avista, no seu cabaz pescoços e asas, atira-os ao chão, dizendo ostensivamente: " Eu comer isto?! Era o que faltava!"
Ouvi narrar os factos a pessoa credível e declaro, sem ambages, que fiquei espantado! Perante as duas cenas que mostram, desde logo funda oposição, ocorre perguntar: que é que está mal?! Aguma coisa está!
Um Oficial português não ganha para comer, à sua vontade, e uma preta , estrajeira, ao serviço de outrem, faz demonstrações que produzem escândalo?! Por que não travar este desequilíbrio,entre os naturais e os que vêm de fora? Convenho, realmente em que todo o trabalho merece recompensa, distribuída por igual
Não havendo justiça, lavra a discórdia e morre o interesse.
Quantos aí não há, tirando o lugar aos que são naturais?!
Os mal comportados não têm direito a regalias do género: deviam ser reenviados à pátria de origem. Conservar apenas os
que são ordeiros e trabalhadores!
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1984-01-05
Lx. Belém Santo António,a Belém
Mais um andar que se encontra à venda! Há tantos deles, em iguais circunstâncias! Milhares e milhares! Ainda agora, há pouco, isso mesmo foi dito pelos industriais, reunidos, a propósito! As firmas construtoras não acham compradores, encontrando-se, pois, à beira da falência
Decidem até desfazer-se dos prédios, imitando assim as Instituiçóes de Crédito.. Isto favorece-me, em grande parte. Entretanto, os preços não ajudam, por ser altíssimos!
É verdade, sim, que foi aberto o Crédito! Ainda assim, quem vai comportar elevados encargos, se o dinheiro mal chega, para compra de alinento?! É este o problema!
Por outro lado, as Firmas Construtoras, oneradas já com encargos enormes, quer de materiaus, quer de connstrução, não podem, realmente, baixar os custos! Um beco sem saída!
Pois o tal andar, a que acima aludi, está bem situado, pois que fica em Lisboa e parece, na verdade,estar ben construído! O lugar é sossegado, por ficar nas traseiras da Calçada do Galvão.
Por esta via, circulam dois Carros (27 e 29). Pertencem eles aos chamados 'Laranjas'. Logo junto, avista-se igualmente a igreja da Memória que o Marquês de Pombal mandou construir, em acção de graças pelo mau resultado no grande empenho em assassinar o Rei português..
Logo atrás do templo, há uma Praça razoável. que abastece os moradores.
Dispõe a casa de 4 assoalhadas, tendo livres duas frentes: nascente e sul. Nestas duas, ostenta janelas que chegam ao soalho:
são portas-janelas, cuja luz diamantina é vedada, no exterior, por
estores plásticos. Do lado poente, uma varanda fechada; no interior, dois quartos de banho, ambos com banheira.
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Lx. Belém
1984-o1-o6 Vantagens e desvantagens
Começando por estas, devo frisar o que vem seguidamente.
1. A cozinha.Virada a Norte, é fria, de Inverno, o que sabe mal, pois se trata dum lugar que importa ser bom. Não se passa ali grande parte do tempo?! Além disso, também não é franca. Bastante pequena, se tomo em conta o alvo a que miro!
De facto, havia de ser tal, que deixasse acomodar, bem à-vontade, uma mesa regular e cadeiras respectivas,ou mesmo bancos, para ali se comer. É isto vantajoso: não se mancha, depois, a sala de jantar e, não a tendo, pode substituí-la, ao menos em parte.
Ora, sendo exígua, não serve já para este fim.
2, Outro grande contra é, naturalmente, a carència lamentável de arrecadação Quanto isto representa, numa casa habitada, não cabe em palavras! Onde se arrumam arcas e malas?! Onde colocar cestos e vassouras, vasilhas grandes e outros objectos, necessários numa casa?! Ferramentas, por exemplo?!
A falta dela ascende a um montante de 3oo contos.
3. Vem agora ainda terceiro contra: a deformidade, assaz notória duma assoalhada. A panhando a esqina, de forma arredondada ficou diminuída e bastante rregular. Desfeia um tanto, não haja dúvida!
São estes os maiores defeitos que ouso apontr-lhe. Ainda faltam as varandas, para sul e nascente. Creio ter 5, mas praticamente são inexistentes. Terão apenas um metro de largura.-
Para evitar perigos, há gradeamentos, até meio metro.
Não me agradam nada tais dispositivos, embora a luz e o calor não faltem lá dentro.
Quanto a vantagens, não escondo, realmente, que tenha muitas. Este assunto ficará, provavelmente, para outro Diário
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!984-01-o7
Lx. Belém Aos 18 Anos.
Viera de Cabo Verde, em busca de emprego, sonhando, noite e dia, com a ventura, nestas bela cidade. Trabalhando com afinco, amealhava os sobejos, pensando nos filhos que já tinha a seu cargo: um para nascer, e outro com dois anos.
Era estimado por todos os patrícios, o mesm sucedendo, em ordem aos brancos. A sua bondade, espírito ordeiro e amor ao trabalho assim como o respeito que denotava no trato granjearam-lhe estima. apreço e afecto. Isto se notou, durante o funeral. Havia muita gente, não só de Cabo Verde, senão também de Lisboa.
Chorado e lastimado, lá ficou no sepulcro, à espera do juízo, no dia de contas. Este o facto.
Por ser ainda jovem e bastante querido, provocou imensa dor e deu aso a comentários. Mas a vida continua, ainda sem ele.
Passados breves dias , ninguém mais o lembrará. A própria viúva o há-de esquecer, ligando o seu destino a outro rapaz. É assim a vida!. O mundo que habitamos continua a girar e os nossos mortos dão o seu lugar a outros viventes.
Debruçando-me agora,sobre o facto em causa, apraz-me tecer alguns considerandos. Aquele jovem andava satisfeito: ganhava
bastante bem e nutria sem carências aqueles que amava, pensando
talvez em regrssar ao país, já com bons meios, para viver sem canseiras.
Viera, pois, em busca da vida. largando as Ilhas e fazeno-se ao Mar. A vida, no entanto, é feita de armadilhas que geram ilusões. Se tivesse ficado no berço natal, ficava mais pobre, (admito que sim), mas tinha ainda sua grande riqueza . a vida terrena.
Esmagado que foi por enorme camião, ficou para sempre ( cá neste mundo) na lista dos mortos! Exactamente o que era seu orgulho e ganha-pão é que foi a origem da sua desgraça!.
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Lx. Belém
1984-o1-08 Cont. de 6-1-- Vantagens
Voltando agora à casa de Belém, apraz-me ainda repensar as vantagens e, ao mesmo tempo, juntar algumas a que não fiz referência!. Antes de mais, a situação. "Diz-me o que tens e onde!!
Duz assim um rifão, já muito conhecido que, vindo a propósito, aí fica também.
No tocante ao assunto, nada a objectar, pois se trata de Lisboa, Além do mais, está perto dos Jerónimos. Provavelmente, a 5 minutos, deslocando-me a pé. Pouco mais de uma paragem, num dos auto-carros, a serviço da cidade. É de notar ainda que a
dita rua, onde fica o andar, não tem ruídos, pois fica paralela à Calçada do Galvão. Área sossegada será, pois, ideal.
O carro 27 bem como o 29 distam apenas 150 a 200 metros. O primeiro deles passa em Alcântara, o que daria bom jeito.
Quanto a exposição, oriemtam-se as quadras, a sul e nascente, o que é muito bom..Sendo apenas 1º e 2º, não tem elevador, o que é vantajoso, pois assim nãoe xige verba para a modalidade.
O mesmo exactamente, no caso da porteira. Diria coisa igual, em questão do telefone mas, no meu caso, preteria que o tivesse.
Na verdade, por causa dos funerais e das leccionações, dava muito jeito dispor desse meio.
Nas desvantagens, mencionei, ao que julgo, a falta grave de
arrecadação. Segundo informaram, há una porta disfarçada que leva ao sótão, pela banda de fora.. Em tal caso, mandava-se abrir ou fazia-se por dentro. Isto, no entanto, já implica despesas.
No que toca a passes, é bastante o de Lisboa, que, à data presente, se eleva apenas a 1100$00, por cada mês. Para ir aos Jerónimos,(é o caso de meu cunhado e de minha irmã) não é necessário.
A questão da escada não exige demais, pois se trata apenas dum 2º andar. O caso do sótão está para ver. Haverá, de facto, altura suficiente?
O alicerce apoia-se na rocha,segundo informaram.
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Lx, Belém
1984-01-09 O caso do Inácio
Já falei dele, em outros Diários, pelo que me dispenso de o fazer agora. É um caboverdiano, que presta serviços, na igreja de Alcântara. Tem como esposa a jovem Fátima, natural do Fundão
Do seu matrimónio já vieram très filhos, sendo a mais velha a Ana Maria., que vai nos 5 anos.
Feita, ao de leve, esta breve referência, entro no assunto, que agora me prende. O jovem rapaz, que tem a simpatia de quantos o conhecem, está de cama, há já 4 dias.
Uma gripe manhosa, persistente e ferranha o mantém no leito.
Bom. Em tempo de Inverno, com amplitudes térmicas, bastante irregulares, muita gente adoece, acontecendo-lhe o mesmo. Até aqui, nada especial!
Sucede, porém, que a esposa está doente, há meses seguidos.Três filhos que houve... três cesarianas! Por outro lado, como é deficiente, de uma das pernas, que se parte, geralmente, no tempo da gravidez, fica imobillizada, por meses contínuos, sem poder trabalhar. Nesta situação é que agora se encontra.
Resultado? Pode imaginar-se! Longe das famílias (em Cabo Verde e no Fundão), com três criancinhas!... Quem vai às compras? Quem lava e cozinha, e atura os meúdos?
Tenho muita pena do pobre Inácio, que é obsequioso. amigo e prestável. Gostaria imenso de poder ajudá-lo, mas infelizmente não está na minha esfera!Entretanto, preocupa-me o caso. Ele é de facto a mola real do grupo familiar! Uma vez caído ou inutilizado. quem há-de valer-lhes?! E logo na cidade!
Seria mais fácil, em aldeia de provincia. Aqui, ninguém se
encontra que esteja disponívalAnda tudo a correr e nem se conhecem.
As crianças precisam de brincar e fazem traquinices!
Como pode ser, estando os pais doentes?!
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Lx. Belém
1984-01-10 Um Desgosto que agora me afecta.
Não se trata, é claro, de assunto moral, pois se refere à nossa prosódia.. Muitos anos decorreram, sem que eu me apercebesse, tentando conservar a pronúncia usada, na minha aldeia. Nem sequer admitia que pudesse alterá-la! Caprichava até no 's' beirão.
Por outro lado, não beliscava a sensibiiddade, passando na vida, sem esforçar-me noutro sentido!
O tempo rodou e fui comparando a nossa pronúncia com a de outros idiomas.
Já antes disso a prosódia coimbrã me chamava a atenção, pela doçura e suavidadw que sempre denotava.
A grande reacção veio-me realmente, da língua italiana que não usa o 's' na formação do plural. Em seguida, o caso ihteressante da língua francesa, em que ele é mudo, no fim de palavra, no termo de frase ou ainda de oração.
Finalmente, a Língua alemã.
Fora do país, há sempre desamor ao nsso idioma, devido aos emigrantes, cuja pronúncia, algo desadorada, se torna molesta, por caua do 's'..Sucede, bem entendido, que formamos o plural por meio dele.
.É de notar ainda que, sendo inicial, intervocálico ou ligado a consoantes, mantém, por via de regra, o som sibilante.Ora, o que fere o ouvido e o faz desamar a pronúncia beiroa e a transmontana
é éxactamente a repetição amiúde.
Actualmente, aflige-me um tanto o sibilar do 's'. Bem me esforço eu, mas o efeito é quase nulo. Nos finais de palavra, é nulo e tempo perdido.
O que vale é que o padrão nacional é o de Coimbra e não outro diferente!
Entretanto, o caso mói-me a paciência. porque arranha o meu ouvido! A pronúncia dos emigrantes não é a nacional, Digamos isso aos estrangeiros.
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Lx. Bel+em
1984-01-11 Amanhã há greve ( Carris)
Soube disto há pouco. Fiquei desorientado! As circunstâncias do nosso Paía aconselham tais meios?! Em época de aperto e de grandes sacrifícios. em que todos somos poucos, para levar a cabo o ressurgir de Portugal, é que se recorre, sem prudência nem tino, a medidas revoltantes e impopulares?!
Importa,sim, que dêmos as mãos, apontando logo ao mesmo alvo,
sem divergências nem hesitação, durante a grande crise. Só por este meio acertaremos o passo, com bom resultado!
Querem eles aumento de ordensdo! Tambéu, por igual, queria muitas coisas, mas o certo é, realmente não poder obtê-las!
Por isso, eu nem tento! Para quê?! Devo, afinal, ser compreensivo! O tormento é para todos.Esperamos, depois, que cheguem melhores dias.
O que fica dito é meramente um aspecto da questão. Outro há, porém, que eu desejo focar e me toca ainda, com maior intensidade!
A dita greve dá-me prejuízo, pois, na verdade, é feita à minha custa. Comprei o meu "passe" havendo entregado, sem nenhum desconto,1460$00. O bilhete é extensivo a 31 dias..
Mercê deste caso, o transporte de amanhã já ficou pago, com antecedência.. Ora eu tenho que deslocar-me daqui até
Alcântara. Quem me paga o táxi? Eu não sou, que já paguei! Entrar em despesa, por duas vezes?!
Outro aspecto ainda: aumentando os ordenados, sobem os 'passes', dificultando a vida ao grande público. Quero dizer: a melhoria de uns poucos vai fazer-se afinal, à expensas, mal aceitas do povo português. que por tal meio, vê hoje piorar as condiçoes de vida!
Estará certo ou antes errado?!
Quanto a mim, recebo a mesma coisa, há já 4 semanas! Nem sequer penso em qualquer aument! Limito as despesas!
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Lx. Belém
1984-o1-12 Que terei realizado, ao chegar, em breve, Fevereiro - 19? Nessa data precisa, completam-se já os meus 66! É obra! Não me jjulgo velho, porque tenho aspirações e muita coisa a realizar ainda! Entretanto, já pesam bastante!
Quantos mais novos partiram desta vida, para a eternidade!
Bem. O nosso bom Deus conserva-me a existência, para eu aproveitar, na esfera espiritual.. Entretanto, não é este aspecto que me proponho tratar, seja ele embora muito mais importante.
Pois bom! Gostaria imenso de já ter casa própria, fosse ela comprada,recorrendo a hipoteca ou ainda ao aluguer! Seria gostoso haver finalizado a revisão geral dos meus Diários,já
dactilografados, no montante de 6 anos!
A propósito: havendo começado a 25-12-1982, levei a cabo 5 anos seguidos. Acabei hoje mesmo os de 1969..Anteriormente, havia acabado o ano 7o e 1971. Nesta marcha imparável, talvez o conseguisse!
Será trabalhar, de maneira esfalfante, o que sempre tenho feito,ao longo da vida!
Estes dois objectivos são, na verdade, os mais imperiosos
e assaz desejáveis.Por eles me baterei, com toda a minhs alma.
Quaisquer horas disponíveis eu aproveitarei, de intento preso no mesmo alvo. Se Deus me ajudar, levarei a bom fim o que tenho projectado!.
Outras coisas mais eu trago na ideia. as quais, na verdade bastante preocupam. Uma delas é a reforma. A questão da casa não foi arrumada, por causa daquela. Sem saber, ao certo, o que vem a caber-me, não posso resolver! Contrair empréstimos... assumir compromissos, não sabendo claramente se poderei cumpri-los.. se tenho receita, para os aguentar!
É basilar e confortável a solução imediata daquele problema!.
Em Julho próximo, já faz dois anos, que entreguei os documentos..É vergonhosa esta morosidade! Se nada mais tivesse, morria, de fome!
Eu que paguei sempre, de maneira honrada, ao longo de 20 anos!
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Lx. Belém
1984-01-13 Quando é que publico o meu primeiro livro?
Difícil resposta que não acho ainda! Seria meu desejo se tornasse realidade o facto em causa! No entanto, que barreiras enormes é preeciso transpor! Umas, internas, outras externas!
Já nem aludo aos gastos enormes da época actual! Se é tudo tão caro! Como não há-de ser a publicação dum livro?! E sefora só um!... Serão eles vinte, vinte e cinco... trinta? Mais ainda?
Haveria, de facto, alguma conveniência em cada volume se limitar a um ano, mas isso, com certea, eleva em muito os gastos inerentes! De tal modo serão, que os não aguentarei!
Ponhamos agora este aspecto de lado! Quero imaginar que ele não existe! Restam ainda os mais delicados, ao menos para mim! Vejamos, por meúdos!
A forma literária que nunca me satisfaz! Cem vezes leio, cem vezes corrijo! É um grave problema!Nunca dou por finda a tarefa em causa!
Passados à máquina, entro a emendar! Deste modo, jamais acabarei!Nunca me agrada o que dera por findo! Umas vezes, palavras a mais, quando não apenas uma única sílaba.. Tortura-me
a valer , a falta de ritmo e a própria cadência! Por este andar, nunca me decido!
Quantas revisões levo já feitas? Três... quatro?
A correcção da frase e o aspecto ideológico também me preocupam! Quantas horas debruçado, com os membros a doer e a
cabeça fatigada, para achar saída que amiúde vem tardia! Paciêmcia não me falta! Ao menos, valha isso!
Nova faceta que e também delicada: maneiras de ver que se afastam do comum, opondo-se até, pelo menos às vezes, à velha tradição! Seria duro, insuportávl até responder ante alguém, pelas minhas opiniões e maneiras de ver. Sou um homem livre, que Deus me criou assim e quero ser fiel à própria verdade, como a sinto em mim!
Contra o Evangelho nada objetrei, mas contra a sociedade, já eu barafusto, argumento e protesto. Falo decerto por muitas legiões! Apresento a verdade!
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Lx. Belém
1984-01-14.
Será neste mês que fica arrumado o assunto da Caixa?!
A minha pouca fé na Caixa de Previdência vai esmorecendo.
Efectivamente, passados 5 meses, já faz dois anos que entreguei os documentos, atinentes à reforma. Antecipei 7 aos meus 65,
Em Fevereiro próximo, caem 66 Ninguém mos tira! O plano era este.
pensão de invalidez para aqueles 7 meses e, em seguida, a pensão
de professor, enquadrado como estive, no Ensino secundário.
Paguei para a Caixa, desde 1 de Março de 1962. Nunca me recusei nem fui moroso. Confiava plenamente que, nos anos da velhice, teria uma pensão que desse para viver. Não era favor! Um direito estrito!
Por isso, me sinto revoltado e assaz indisposto... escandalizado!
Não há direito que se faça isto! Brada logo ao Céu! Onde encontrar a justiça social?! Já não há leis nem sequer consciência?! Quem pode viver, em tal sociedade?! Já são, realmente 19 meses, à espera do que é meu!
Tinha morrido à fome, se não tivesse mais nada!
Mesmo assim, obrigam-me a fazer o que a idade não permite, com dano evidente para a minha saúde, boa disposição e alegria
de viver. Que vai sair daqui?! Devo esperar mais?!
Já por três vezes, fiz saber do caso, na Caixa de Pensões,
alegando os meus direitos. Apesar de tudo, nada consegui!
Há coisa dum mês, talvez nem tanto, chegou comunicado, para ir
receber 5 contos e pico, que são atinentes a cada mês.
Mais indisposto fiquei então.
Se eles dão isto ( o subsídio de velhice) a qualquer desgraçado que não pagou para a Caixa nem prestou serviços, no campo da instrução!
Eu, afinal, exerci o magistério, de 1945, até 80!
É assim que premiam os serviços longos dum pobre docente, no
Ensino Secundário?!
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Lx. Belém
1984-01-15
Transtornos graves que me está causando o problema da Reforma..Aludi ao caso, embora por alto, no Diário anterior. Foquei, nomeadamente, o problema da saúde, que é dos mais graves. De facto´aos 66, (pouco falta já!) não deve levar-se um regime de vida, como eu , de facto, estou levando! É um trabalho à sobreposse!
Demais, advertiu sensatamente o Dr, Es teves, quando tive a pleurisia: " Lembre-se de que é um homen tocado!! Não abuse das forças! Pelo tempo frio, não saia de casa, senão pelas 1o horas, quando o Sol benéfico já tiver aquecido o ambiente em que vive!"
Estas palavras eram filhas da experiência e baseadas também nas circunstâncias graves, em que eu me encontrava. Foram 4 meses, penando em Hospital! Ia morrendo!
Pois bem. Que vai acontecer? Por me faltar aquilo que esperava, tenho de sair, à chuva e ao vento, logo bem cedo, após
as sete horas. Isto, no Inverno e em Manteigas!
Consequências? Estou para ver! Não podem ser boas!
Outro problema que também é grave e muito delicado prende-se
agora com a moradia, Como vou lançar-me, não sabendo o montante que pode caber-me?!
Perdi já três casas, duas das quais, em boas condições, pois
eram acessíveis. Assim, estou sem casa, vindo complicar-se os meus problemas! Bastavam, de facto, estes dois percalços, para não ter paz. Já nem me refiro à grande agitação, em que tenho vivido! Nervos e insónias, intervenções largas e desabafos! Não sei que mais ainda!
Assim vai isto, cá no País! É a minha Pátria que amo e respeito, mas não posso louvar o andamento das coisas!... E votei eu no governo actual!. Se não houver melhoria!...
Por tudo isto, mais desorientado e vazio de fé!
Será neste mês que tudo se resolve? Alimento a esperança, embora fraqueje!
Inconformado, não ouso descansar nem sentir-me feliz!
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Lx. Belém
1984-01-16 Assentos de macacos ( e agora de macacas)
Em Angola, como no Sudoeste, via-os amiúde. Curiosos como são, embora inconvenientes, grande número de vezes, chamam, desde logo,. a atenção das gentes.
Lembra-me agora um vivo macaquinho, existente na Base,
perto do Liceu.Pertencia o dito a um Oficial..que era ali professor.
Pois o curoso bicho afeiçoara-se tanto, que durante as aulas, passava todo o tempo, espreitando o dono. Subia para as árvores ou muros circundantes, esperando, sem desãnimo, que saíssem os
alunos, para avistar o dono e vir sempre com ele, rumo à vivenda.
Naquelas diligências o surpreendi eu. muitíssimas vezes.
Entretanto, fazia-me impressáo fixar-lhe os assentos. Pelados e vermelhos, davam mau aspecto. No que me respeita, chegava a ter nojo!Aquelas manchas, dum vermelho vivo, na sua pelagem, figuravam clareiras, onde era ingrato demorar os olhos..Causava repulsa!
Longe estava eu de encontrar no meu país, coisa semelhante, em gaiatos e mesmo gaiatas! Quadro asqueroso, de reles figura! As calças no local, gastas e poídas, sujas. enrugadas´
constituem uma amostra que revela incúria, alto desleixo e falta de elegância. Sentam-se na imundície, roçam-se e colam-se, levando consigo o lixo que apanham.Como é lamentável!
Imitação dos macacos, observados em África? Falta de aprumo, decência e compostura?
A surpresa aumentou, assim que vi surpresas em iguais figuras!
Que grande seca! Enorme decepção! As jovens donzelas que, ao longo do tempo, foram sempre modelares, primando na
elegância, delicadeza e aprumo, fazem agora como os trepadores,: exalam mau cheiro, dos assentos imundos que a todos
repugam!
A carapuça não é para todas!
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Lx. Belém
1984.01-17 O governo de Angola. Relações com Portugal.
Nunca foram cordiais nem mesmo regulares os contactos de Angola com Portugal! Isto, após 74! Nem admira! O contrário sim, causaria surpresa!
Como pode congraçar-se o ideal marxista com a ideia religiosa?! Não são contrários?! Se houvesse em Portugal um regime da cor, um governo comunista, poderiam os dois ficar de harmonia! Os povos é que não.
Portugal foi sempre cristão.Jamais pactuará com sistemas comunistas! O mesmo povo, que vive em Angola, é bom e cristão..Protestante ou católico não pode submeter-se a regimes do género!
Foram 500 anos de acção missionária! A força das consciências não se varre com armas, porque Deus e seus desígnios triunfam sempre!
Ora bem. O regime comunista foi derribado aqui, em Portugal.O nosso povo recusou-o sempre! Jamais o aceitará, por ser conra Deus! Postas assim as coisas, não se chega jamais a uma atitude que satisfaça.
Luanda! Por outro lado, esta capital não vê bem o assunto .É que, entre nós, vigora hoje a Democracia.
Mercê disso, cada Partido sente e pensa como lhe apraz. Nem o Governo Luso é capaz de ingerir-se nos sentinentos deles!
Caso contrário, não era Democracia!. Cada um age como entende!
Sendo isto assim, como é que pode um governo estrangeiro
implicar connosco?! Não é isso, afinal, intromissão abusiva e até
inaceitável?! Por que há-de isto influir nos contactos diplomáticos
prejudicando assim os povos em questão?! Por que não haver um bom intercâmbio. a todos os níveis?!
Certo é, na verdade, que algo está mal, no governo angolano.! Pelo simples facto de haver lá Partido únco, não pode obrigar-nos a fazer o mesmo! (chama-se Ditadura). Para onde iria o regime democrático?!
Temos, pois, de orientar-nos talqualmente nós somos: com defeitos, sim, e boas qualidades; com altos e baixos!
Acima de tudo, o bem geral dos povos, contra Partidos e maneiras de pensar de grupos e indivíduos.
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Lx. Belém
1984-01-18 PS e aborto
O que dizem os Jornais.
O P S respeita a liberdade aos seus Deputados, para eles votarem segundo lhes apraza. O PSD é contra o projecto que o
Partido Comunista vai apesentatar, na Assemblea da Repíblica. O
CDS também é contra..
Esta magna questão foi agora levantada pelo PC.
Todo o nosso País se encontra vibrando, pois se trata dum assunto que fere em cheio a consciência nacional.
De facto,um católico, de maneira nenhuma pode subscrever um projecto do género. Matar é proibido pelo 5º Mandamento.
Não se trata, pois, de leis humanas, que podem alterar-se, a contento dos homens, em seu favor! É, sim, Lei Eterna, que o Céu decretou!
Como o seu Autor é ela imutável,santa, divina! Por isso. eterna! É de notar o seguinte: esta Lei não assune apenas carácter religioso, porquanto, é de direito natural!. Por esta razão, não só um católico, mas outro qualquer é obrigado, em sua comsciência, a revelar-se contra. Realmente, o homem não pode roubar o que não lhe pertence. e deve restituir.
A vida escapa-lhe: veio de Deus e para Ele reverte. A Cência, de facto, é impotente, diante da morte! Célula morta é célula perdida... irrecuperável! Não estando ao seu alcance, por que intenta destruí-la?! Donde é que vêm credenciais bastantes, para ser lícito matar alguém?! Quem é que se arroga tão grande poder?! A quem foi outorgado pelo Supremo Arquitecto e Legislador?!
À Sagrada Escritura podemos ir buscar a condenação do terrível aborto! Após a morte de Abel por seu irmão Caim, ouvimos logo as seguintes palavras:" O sangue de teu irmão clama da Terra por mim!"
Assim falou Deus para o fratricida!
É lícito, pois, inferir como digo:"O sangue do teu filho clama ,da Terra por mim!"
Deus será, pois, o eterno vingador dos pobres inocentes!
O embrião não faz parte da mãe! é um ser vivo, com potencialidades que se vão desenvolvendo, até chegar, finalmente,
ao homem completo, já por altura dos 22 anos ou então 25, conforme se trate de mulher ou de homem.
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Lx. Belém
1984-o1-19
Marxismo em voga, no mundo lusófono.
Todas as parcelas do mundo que foi nosso têm, nesta data, governos marxistas. Exceptua-se apenas o grande Brasil. Portanto, Angola e Moçambique, Guiné e Cabo Verde como também S.Tomé, estão abrangidas por aquela afirmação. Ora, considerando o facto, vêm ao de cima, largos comentários.
Portual foi sempre cristão, havendo contribuído, por modo singular, para tornar conhecida a Boa Nova Celeste.
Com tal finalidade, enviava missionários, para as terras de Al«em-Mar, tomando bem a peito a fé cristã. Durante os 500 anos
que o Império se manteve, ressoou por toda a parte, o pregão lusitano. É certo e sabido que não violentava.
Não é pela força que vinga a Religião; sim, por convicção, amor e entrega! O alto ideal, cristão e civilizador, que presidiu sempre às nossas conquistas, descobrimentos e viagens, ficou estilizado no verso camoniano:"Dilatando a fé e o Império".
A cruz e a espada andaram juntas. A derradeira, para defesa das gentes e manutenção da própria autoridade; a primeira, para mostrar ao mundo o caminho do Céu e lembrar aos povos o acto heróico deJesus Redentor.
Também os livros dos nssos Cronistas falam bem claro, a tal
respeito. O 25 de Abril, já desvirtuado, implantou ideologias, que
negam por inteiro, o ideal cristão. O Comunismo é ateu, de raiz e nega à pessoa os direitos bsilares, exarados no Evangelho.
Sendo isto assim, tem de haver um contra-choque de sérios efeitos. Poderá, realmente, haver entendimento, entre o bem e o mal?! Entre a luz e as trevas?! Entre a noite e o dia?! Entre o sim e o não?! Entre o amor e o ódio?! Entre a verdade e a própria mentira?!
O Comunismo é, a rigor, a negação completa do ideal formoso que presidiu sempre aos nossos Descobrimentos!
Mais ainda: é uma afronta geral à nossa História , ao passado glorioso, aos nossos heróis, gurreiros e Santos, a tudo aquilo que fez grande Portugal.
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Lx. Belém
1984-01-2o
O MPLA vai policiando as nossas atitudes. A não ingerência nos casos de outrem é princípio basilar que anda na berlinda, aplicando-se em tudo o que respeita à Política. Por tudo
e por nada, já se menciona, fazendo avolumar pormenores banais, sem tomar em conta os sistemas vigentes. num lado e no outro.
Focando agora o caso de Angola, vêm a propósito alguns considerandos. Antes de mais, convém referir-me à forma de govermo, em ambos os países. Aqui, em Portugal, é um regime democrático, sendo permitidas várias facções, com representação,
na Assembleia da República; em Angola, há um só Partido, quer
dizer: existe um governo que é formado apenas por vários elementos duma só facção -- o MPLA, sendo excluídos todos os demais.
Não foi assim que Portugal combinou! O poder político seria exercido pelos três Partidos: MPLA,UNITA e FNLA.
Mas bem! Deixemos isso para outra vez!
Do que fica exposto, infere-se pois, que o povo angolano tem a
governá-lo uma férrea Ditadura. Por esta razão, nenhum outro Partido se vê representado, tomando parte no governo angolano.
Existe a norma a todos os níveis. É ouvir e calar!
Este aspecto sanhudo quer Angola impò-lo ao nosso Portugal.
Está boa essa! Nâo é isso ingerência?! Que tem Angola ou outra nação que tal jornalista louve Savimbi ou tente exaltá-lo?!
Acaso o mundo fica mais pobre?!
Se tivéssemos, realmente, de obedecer à querida Angola,
estávamos agora sendo colonizados, o que não acontece!
Que tem o governo com certos factos, acções ou ditos?! Não é Portugal um País independente. livre e democrático?! Nesta base, a imprensa é livre!
Quanto à representação, por que não há-de tê-la qualquer dos Partidos! Que o MPLA vigie, se puder, lá por Angola, mas deixe em paz quem nada fez para ser molestado!
O nobre respeito da cara liberdade fica sempre bem.
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Lx. Belém
51984-01-21 "Quer sentar-se?"
Mera pergunta de três palavras: dois simples verbos e, finalmente, um pronome reflexo, que a Gramática designa, pelo modo seguinte: pessoal reflexo! Não cito a frase, por questão de análise, já morfológica, já também sintáctica..
Não é isso que interessa! Muito para além da análise fria,
está o conteúdo, bem como as circunstâncias, em que é proferida.
Debrucemo-nos um pouco, sobre estes aspectos. Trata-se de inquirir a intenção de alguém. Por sinal, dirigiu-se a mim aquela pergunta. Em razão disso, começo a matéria, como tudo, afinal, que rodeou o caso.
Eu ia de pé, o que não espantava, uma vez que miutos ou- tros faziam o mesmo. Pois que há-de ser, quando a gente se atrasa, encontrando-se os assentos ocupados por outrem?! Entretanto, é muito doloroso aguentar-se alguém, se os anos já pesam.!
Efectivamente, os balanços do carro, as travagens repepentinas e a própria velocidade, quando se trata de expresso, tudo isso então mete respeito e causa tormento! Assim me acontecia, na semana passada, Agarrado ali a um prumo da viatura, lá ia agentando, mas a grande custo.
As pernas refilavam, de modo especial a pernsssa direita. que, há
muito se queixa. Mas que fazer?!Queixar-me?! Lamentar a minha sorte ?! Não tenho coragem, para chegar a tanto! Aguentar, sim, e cara alegre!.Até a gente se envergonha de tal! Pedir por caridade me cedessem um lugar?! Não tenho coragem nem disposição!
Quem há no mundo que dê parte de fraco?! No entanto, eu ia perturbado e já combalido! Sustentar-me ali, até ao final?! Se eu.
na verdade, já estava a quebrar!,
A meu lado, agarrava-se também certa donzela , bastante jovem, que ali se encontrava já, quando eu cheguei. Nisto, levanta-se para largar, a senhora do lado. Pertencia o lugar à citada jovem, que estava de pé.
Apesar de tudo, ela recusa e oferece gentil o assento devoluto.
Foi muito gentil e muito bom! Nem ela adivinhou quanto eu apreciei tal maneira de agir! Foi muito bondosa, humana e compassiva!
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Lx. Belém
1984-01-22 A Casa da Amadra
Rua 27 de Junho, 6. 3ºEsq, Já lá fui várias vezes. Na verdade, gosto imenso dela! Se não me engano, visitei-a três vezes. É um terceiro andar, mas fica acessível.! Como arrecadação, apresenta o sótão. Dispõe o andar de 4 assoalhadas, duas casas de banho e uma bela varanda! Os acabamentos são primorosos!
Em caso de aperto, podemos servir-nos do próprio sótão, para efeito de camas. É o último andar dum prédio recente. O facto de ser terceiro já puxa um pouco, por gente idosa. Após os 50 e, mais ainda, volvidos os 60, já o caso é sério!
Quanto a preço, fazem a pronto 365o$00. Talvez não seja demais, olhando à casa, mas é bastante para quem o não tenha ou
haja só parte! Hipoteca? Juros bonificados? É caso a ver!
O que mais lhe cobiço refere-se, é claro, aos transportes públicos.. Em ambos os sentidos, não encontro melhor! A 15o
metros ou um pouco mais, encontramos viaturas para diversos lugares: a rodo-viária para Belém ( Lisboa); também para o Marquês, Benfica e Sete Rios, atingimos o Metro, que depois nos transporta, num abrir e fechar de olhos, ao Marquês de Pombal
Por Benfica, estabelece contacto com o carro 29, que passa em Belém, mesmo rentnho ao Museu dos Coches, donde segue para Algés, aproximando~se bastante do Mosteiro dos Jrónimos.
No rés-do-chão, há um Super-Mercado. Uma beleza!
Sendo fora de Lisboa, onde a gente se ocupa, tamém é um contra!
Para mais, o passe Social custa mais que em Lisboa.. Tenho para mim elevar-se a diferença a 360$00.. Isto, cada mês!
Sendo necessários três ou quatr passes, já entra nos bolsos
Bom! O pior de tudo é o preço da casa! Há já uma proposta de 3300$00, A dona, porem, agarrou-se firme aos 3700 contos e só
baixa 5o, a pronto pagamento.
Lá ficará! Encontra-se à venda, há mais dum ano!
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Lx. Belém
1984-01-23
Os meus 66, já em Fevereiro! Por vontade celerte, vai ser a 19! Se bem avalio, é bastante razoável o caminho percorrido! Fossem bem aproveitados esses anos transcorridos, seria manacial de gosso volume!. Entretanto, a vida humana, de altos e baixos, com luz e sombras, avanços e recuos, não consegue, por norma, cobrir o défice!
Se Deus não acode, passando uma esponja sobre o tal gráfico! O que muito vale é ser clemente, asaz bondoso e compreensivo!.
Na sua misericórdia tenho eu confiança: a minha existência veio provar-me, com toda a clareza, haver Ele decerto fechado os olhos a muitos desvios e ter-me dado a mão para não ir ao fundo! Por estas razões me sinto confundido e grato a valer!
Pois aquele número faz-me já pensar! Quantos da minha idade não foram ficando, ao longo do caminho! Refíro-me, neste passo, à terra natal, Vide-Entre-Vinhas! Lembro-me agora dos
seguintes nomes: António dos Prazeres e Manuei dos Prazeres;
António Ferreiro e José Maria; Celeste Portugal e Manuel Custódio;
José Saraiva; Hermínia Pires Ferreiro; Fernando Figueiredo; Francisco Clara; Manuel Figueiredo; José Figueiredo ; Mário Rainho; Manuel Rainho; Bernardino Martins e Albertina Martins e outros ainda.
Ora, se eles já cumpriram, e eu ainda não, motivos há-de haver, para justificar. Duas razões eu vejo agora, para tal facto: ajudar os outros a caminhar para Deus ou então reencontrar o meu próprio caminho, por jeito mais certo, preciso e claro.
Que Deus me ajude, afim de não perder a riqueza principal. Os meus paizinhos hão-de estar no Céu. Quando cerrar meus olhos pecadores, quero, desde logo, ir-lhes ao encontro, para agradecermos à Santíssima Trindade, tantas finezas, graças e dons que nos concederam.
Que tudo se faça como eu desejo. Em sua companhia, junto
aos que amei e por quem fui amado, seremos felizes, eternamente!
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Lx. Belém
1984-.01-24 Indecisão, quanto ao loca.l.
"Diz-me o que tens e onde"
Não fora resultado que a larga experiência deixou para nós! O que
agora me interessa, de modo especial, é de facto o lugar. A este propósito, considera-se a distância, a implantação e o que anda atinente à vida quotidiana.. Encaremos a distância.
Ficando longe, causa transtornos que logo afectam o viver do homem.. Não é apenas o caso do tempo que já de si tem grande importância.."Time is money!" Acresce ainda o maior dispêndio, em questão de numerário. Quanto mais longe, maior a despesa!.
Aplicando a matéria ao caso pessol, fora de Lisboa, aumenta o passe que pode atingir os 2000$00 Tal é o caso de Oeiras, Talaíde e Amora, Massamá e Cacém e outros mais.
Não sendo nos extremos, há também passes de 1460$00 e 1770. Daqui se nfere que pesa muito esse aspecto!
No tocante à implantação, há diversos quesitos a que deve atender-se: lugar húmido ou seco; areento ou rochoso; alto ou baixo; exposto a Norte ou Sul, Poente ou Nascente.
Escusado é dizer que, sendo a Norte, há-de ser fria e má para saúde. Quanto a mim. preferia a Nascente.
Há-de reparar-se nos ventos dominantes e segura protecção,
contra esses elementos. Ainda na mesma linha, encontramos o seguinte: situação da igreja, praça e transportes. São três alíneas que não devem ignorar-se! Todas necessárias e imprescindíveis!
Ficando perto, facilita-se a vida. A que tem mais preferência visa os transportes. De facto, para quem trabalha é primacial!.
Quem pode viver aqui em Lisboa, sem trabalhar?! Mercê do facto, é preciso diariamente recorrer a eles. Ter carro não compensa!
Passando às viaturas longe de casa, é outro problema.Se ficam as paragens logo pertinho, é então excelente.
No tocante à praça, bem como ao mercado, lojas de comércio farmácia e Banco e super-mercado, o mesmo se aplica!
Daqui se conclui ser coisa momentosa a compra duma casa.
Leva a pensar e exige realmente um fino espírito de observação,
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Lx. Belém
1984-01-25 Abriu o Crédito para Habitação
Esperava-se, há muito, Entretanto, como nada se via ou melhor, talvez, piorando as coisas, de maneira assustadora, perdera-se a fé, reconhecendo embora que era necessário mudar a situação.
Os preços dos andares, com três assoalhadas ou então 4, ascendem facilmente à classe dos milhares, três ou quatro mil, respectivamente.
Casas para venda abundam por aí. Entretanto, como falta o melhor, ficam devolutas, aguardando sempre dias favoráveis que, afinal de contas, se tornam piores. Falam, desde já, em 40000 casas, destinadas à venda!
Por outro lado, há muitíssimas famílias que anseiam por comprar. Apesar de tudo, aonde ir buscar os montões de notas?!
Encolher os ombros e ficar parado! "Não abre o crédito!"
Ouvia-se a frase quase por toda a parte!
Bom! O crédito abriu! Obtêm-se montantes a 19,5 por cada centena!
É de notar que o Banco de Fomento e a Caixa Geral de Depósitos facilitam o dinheiro a 30%. A redução atinge, pois, 10,5, É bastante, afinal! O certo, porém, é que, mesmo assim, as coisas não andam! Não se vê entusiasmo nem diligências tendentes à compra, apesar de o crédito ser já facultado!
Qual a razão de todas estas coisas?! Ninguém ignora o motivo real. Escasseia o dinheiro -- a mola real.de tudo o que existe, no campo da matéria. Sem ele, afinal, que pode fazer-se?!
Faculta-se, é verdade, o acesso às casas, mas como agir, em face dos encargos?! Demais, ao fim de 5 anos, aumentam os juros!.
Ainda no princípio, há grandes problemas que não é fácil resolver de pronto! Se não, vejamos: não é apenas a questão dos juros! Outra dificulade é o próprio capital, o que vai aumentar a carga económica.
Concretizando um pouco melhor: figuremos uma casa de três mil e tal contos. Os juros dela vão desde logo a 6oo contos ou seja ainda, a 5o por mês. Aonde ir granjear o elevado montante?! Nem metade!
Há outras despesas a que, bem certo, não pode fugir-se!
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Lx. Belém
1984-01-26 O Cão
Há d ias seguidos, que o avisto, ao passar, no Largo do Calvário.. É preto retinto, de rabo comprido, orelhas grandes, atitudes compostas. Não ladra a ninguém nem incute receio.
Se lhe fazem carícias, fica logo contente, d eixando ver isso. no brilho dos olhos!. De movimentos ágeis, desloca-se amiúde, com bastante presteza, se vê passar um táxi.Os outros veículos não lhe despertam qualquer interesse!. Foi isto, na verdade, que me chamou a atenção.
Sentindo cansaço, deita-se um bocado, até que, já refeito, se põe novamente a circular.vai a Santo Amaro. Ainda assim, apenas uma vez ali o encontrei!
Não creio ser este um caso esporádico! Quantos e quantos, por essa Lisboa, seguem vadiando, com o bucho vazio! Porquê? Não sei! É natural que alguns se percam; outros sejam largados;
uma terceira classe goze, afinal, de tanta liberdade, que não tenha limites!
Por mim, falo eu. Sinto grande pena,causando apreensão, que tais factos se dêem. Em todos os casos se torna lamentável que tal suceda!
Quem possui animais é obrigado, certamente, a velar por eles, não só alimentando-os mas também evitando que eles andem a monte! Pois que vai acontecer, não havendo reacção?!
Cães atropelados ou cheios de fome; animais vadios, sem alma generosa que olhe por eles; ruas e praças bem como avenidas, muito conspurcadas; jardins lastimosos e até monumentos!
Se fosse apenas isto! Ao longo dos passeios, o que vemos é trampa!
Dará isto prazer seja a quem for?! Ver dejectos e urinas, ao mínimo reparo! Suportar resignado tantos cheiros maléficos! Quem deve limpar é o próprio dono!
Para tanto, ande munido, quando na rua, de pá e vassoura, como fazem algures, fora do País!
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Lx. Belém
1984-01-27 Encontro ( 17-01-1984)
Havia muito já, que lhe andava no encalço. Não recordo, afinal, quem falara dele, a primeira vez. A Teresinha Rabaça? É muito
provável que tenha sido ela! Não são eles primos?! Se não foi ela, seria talvez o Fernando Fraga, finalista já, em Medicina.
De facto, avistei-me com ele, nos Olivais, em Dezembro-83.. Durante a conversa, vieram a pêlo diversas matérias, em que entraria o mano Doutor
Pois bem. O tempo foi rodando. Entretanto, preparava eu uma bela surpresa ao caro Zeferino, que há muito não via.
Decorreram, talvez, os seus 20 anos!... Por outro lado, exercendo ele, na área de Alcântara,, não fazia sentido andarmos ignorados!
Na verdade, o Hospital da zona, que dá pelo nome de Egas Moniz,(antigo Hospital do Ultramar) fica bem perto de todos os lugares que eu próprio visito.
Empenho daqui, empenho dalém, perguntas e informes, sobre dias e horários,fazia tentativas que saíam goradas!
Devido a tais factos, um belo dia, tiro-me de cuidados, e vou
pessoalmente ao dito Hospital. Inquirindo ali, do empregado, fico logo sabendo que o Dr. Zeferino atende no 8º.
Introduzo-me breve no elevador e toca para lá. Espero resignado, pois me dizem a li que não chegara ainda e que estaria no 4º. Que aguardasse, pois!
Entretanto, são horas de almoço e nada consigo!
Aborrecido e um pouco triste, venho-me embora, assentando comigo que voltaria. Assim fiz, na verdade!
Volvidos alguns dias, entesto para lá, com ar decidido!
Sem demora, encaminho-me ao 8º, onde aguardo que chegue.
Perante a demora, chamo a empregada, que ali me esclarece: " O Senhor Doutor Zeferino atende no 4º. Rumo para lá e indago paciente.
A jovem de serviço envia-me de novo para o 8º.
Conclusão: andavam a enganar-me. Não sendo conhecido , afastavam-me da área, para não perturbar!
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Lx. Belém
1984-01-28 Cont..
Assim andava eu, de Anaz para Caifaz, perdendo o meu tempo, sem nada obter. Uma vez apurado o que estava ocorrendo, abeiro--me dum médico, ao passar por mim, esclarecendo-o prestes, acerca dos factos. Ele, então, já compreensivo, diz-me
sorrindo:" Vá ao 4º andar, que é onde ele está!".
Perante isto, ganho mais ânimo, dirigindo-me logo para o sítio indicado..Uma vez ali, pergunto à enfermeira onde posso encontrá-lo. Ante a minha decisão, que lh pareceu firme e bem alicerçada, volve prestesmente:" Olhe, não é costume o que eu vou fazer, mas venha comigo".
Sigo-a, num ai até onde pára, enquanto vai dizendo e logo apontando com o indicador: " Além, à esquerda, aguarde um pouco, até que saia o doente!!"
Assim me comporto, Entretanto, não havia maneira de a porta se abrir, surgindo alguém, para eu entrar.
Parecendo-me exagerado o tempo de espera, volvem-me em resposta: "Saiu há pouco! Ele volta ainda.
Foi um caso de urgência! Aguarde."
Bem eu esperei, mas não voltou!
Quase horas de almoço, rumo para casa, pondo-me ao fresco!
De outra vez seria!
Bom! Mais dias se passaram, sem que eu realizasse o desejo veemente, que vinha de longe.
Certa manhã, em que eu estava livre, ao passar de eléctrico, saio decidido,, em frente do Hospital e digo ao porteiro: olhe lá, o
senhor é capaz de conhecer o Doutor Zeferino!
Pedia-lhe um favor: indicar-me o lugar onde posso encontrá-lo. Não demoro nada! É somente para o saudar!.
Nisto, apressa-se ele a dar a resposta, sem usar de rodeios: Vêm para aí tantos e tantos médicos! Sei lá agora quem é o tal médico?!
Assim terminava esta diligência que me deixou prostrado!
Andaria ali enguiço`! Mas eu não acredito nesse desconchavo!
Não desanimei, assentando logo em dar seguimento, na primeira manhã que tivesse disonível
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Lx. Belém
1984-01-29 Cont.
O caso em foco tinha de resolver-se! Nunca fui de meias tintas! Jamais fiquei a meio! Começava uma obra?Tinha de acabá-la! Era um capricho ou lá o que fosse, mas nisso timbrava! Pelas razões, atrás expendidas, encaminho-me outra vez ao dito Hospital. Assistia-me a fé de ser diferente!
Sem fruto real aquela insistênca que havia utilizado, por 4 vezes?! Agora, porém, alcançaria o meu objectivo!
Era, na verdade, uma voz interior que me dava a certeza!
Subo, pois, a escadaria, penetro célere no extenso lajedo e eis-me pronto, no rés-do-chão!
Há pessoas ali, aguardando o elevador. Faço também a mesma coisa., enfiando-me nele, assim que aponta.
No seu percurso, vai estacionando, aqui e além, pois o edifício tem 8 andares. Chega, finalmente, aquele que eu intento.
Uma vez ali, enxergo uma senhora,, toda salamaleques, ao passar uma enfermeira ou qualquer médico daquele Hospital.
Não só cumprimenta senão também diz o nome, com grande nitidez
Perante isto, era pessoa azada para dar-me achegas. Arrisco então a pergunta seguinte: por favor, a senhra, por acaso, não sabe dizer-me se o Dr. Zefeino já se encontra presente?
-- Há.de estar a chegar! Eu também espero por ele!
Bom. Fiquei mais em sossego. A tranquilidade subbia de ponto,
assim que ela juntava: logo que ele chegue, eu aviso-o disso.
Bom, estava garantido. Daquela vez, já me não escapava!
Levara tempo, mas seria realidade! Dar-se-ia o caso de ele não vir? Seria grande azar, se tal acontecesse!
Bom! Aguardo em pé, não obstante os protestos da minha perna esquerda, que já repontava
Outros clientes vieram juntar-se, esperando também pelo Dr. Zeferino. E se o não reconhecesse? Não tinham passado 2o ou mais anos? Deixara-o com 15 e não tinha bigode!
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Lx. Belém
1984-01-3o Aborto
Tremenda campanha lavra no país, já pró-aborto, já contra ele! O Partido Comunista apresenta um projecto; o Partido
Socialista, aparece com o dele; os da Direita militaram contra..
A tudo se recorre, desde a Radio Nacional à televisão.Os artigos fervem, nos jornais do país! Há conferências, discursos inflamados; discussões e encontros. A Igreja não falta, marcando presença.
Após o movimento que foi apaixonante, veio, por fim, a viva discussão, na Assembleia da República.. Avançou pela noite, que só de madrugada se apurou a votação.
O projecto do PS foi log aprovado. por 132, contra 1o2.
PSD e CDS votaram contra.
Já era de esperar, uma vez que as querdas tèm, à data, mais deputados..
É certo e sabido que o actual PS está coligado com o PSD, mas
no caso presente uniu-se desde logo ao Partido Comunista., Foi, pois, incoerente! A coligação tem os seus limites, segundo acordo prévio.. Esperava-se outra coisa, pela parte do PS.
Antes de mais, porém, vou expor em alíneas o projecto do PS. 1. Despenalizar o dito aborto e obtê-lo gratuito, em caso de violação. 2. Em perigo de vida, no tocante à mãe. 3. Havendo acaso grave deformação, verificada no feto.
O projecto do PC foi posto à margem. Intentava o aborto, pura e simplesmente, em todos os casos. Seria, pois, despenalizado e obtido sem custos, a rogo da mãe.. Acabaria assim, dizem eles confiados, o aborto clandestino.
À despenalização opuseram-se, como disse, os deputads so PSD, bem como os do CDS. A Igreja Católica, pelos seus Bispos; O Ministro da Justiça.
Houve argumentos a favor e contra.
Este, na verdade, o estado da questão.
Apurada a votação na Assembleia da República, deu em resultado aquilo que já disse. O PSD ficou irritado, mas o patriotismo não levou os deputados a romper sem mais, a coligação.
Os do PS douraram a pílula dizendo o seguinte: Ninguém é
obrigado a praticar o aborto. Se a mãe não quiser, isso é co ela!
Omesmo também, no tocane ao médico: pode recusar-se!
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Lx. Belém
1984-o1-31 Cont.
A questão do aborto agitou o País. A Imprensa, Radio e Televisão fizeram-se eco das várias opiniões. Muito se disse e mais se escreveu, levando a questão para a esfera política. O caso.
porém, nada tem a ver com assuntos políticos: é uma questão da Lei Natural!
Não é só a Religião que se pronuncia contrariamente:
qualquer sistema, filosofia ou credo se erguem e combatem.
Efectivamente, a vida humana é um bem essencial e um direito absoluto, pessoal e inalienável. Só Deus intervém nele, porque é o Senhor! Ao homem, portanto, não cabe destruir o que ele, defacto, não pode restaurar!
A vida humana está nesse caso. Só Jesus Cristo mostrou poder excelso, na matéria em causa! Ressuscitou Lázaro, sepultado já, havia 4 dias; fez a mesma coisa à filha de Jairo, Chefe da Sinagoga; igual facto se passou com o filh único da viúva de Naim; finalmente, Ele em pessoa ressuscitou, ao terceiro dia, após a sua morte! Ninguém mais o fez. Portanto, como pode alguém arrogar-se um poder que não está na sua mão?!
Devido a tudo isto, o projecto comunista foi derrotado,
Triunfou o Socialista, nos casos indicados, que são apenas três , deixando à mãe e ao próprio médico liberdade inteira, para escolher. Nestes casos, fica despennnalizado, sendo pois grátis a assistência prestada.
São, na verdade, casos especiais. Entretanto, o direito à vida não admite excepções. Se é lícito matar, em casos determinados, é
igualente lícito fazê-lo sempre! Admitido um caso, fica a porta aberta, para todos os outros.
Diz a Ciência biológica que o início da vida começa já, na fecundação. Formado o 'ovo', pela junção das duas células (masculina e feminina), fica logo com vida, dando pois início ao feto. Este, por sua vez, desenvolvendo-se, gradual e persistentemente, vem a dar o ser humano.
O homem, no geral, acaba a evolução aos 25 anos; a mulher, aos 22.
A propósito, não se deve esquecer a frase de Deus, após a morte de Abel, levada a efeito pelo irmão Caim: " O sangue de teu irmão clama da Terra por mim!"
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Lx. Belém
1984-02-o1 O Doutor Isabel
Quando fui a Manteigas, em 4 de Março de 1983, demorei-me ali, pelo espaço de três dias. Procurei-o então com vivo interesse, quase diria, verdadeira ânsia, Foi a primeira porta a que eu bati, na mira de visitar os meus bons compadres.
Tinha saudades, lembrando, com prazer, os serões inolvidáveis, que passara com eles. Digo e repito, com sincrridade: entre as horas mais belas que passei na vila, enumero aquelas, Excelente companhia, fraterna camaredagem, franco à-vontade Sentia-me ali bem, fazendo esquecer essas horas agradáveis os males da vida.
Vinha sempre mais humano, cordial e bondoso, quando regressava à minha habitção. As suas palavras trago-as comigo.
Tanatas são as razões que se erguem do passado, que sinto desejo, vivo e premente, de tudo relembrar, mas em presença!
Indo a Manteigas proferir uma conferêmcia, na Câmara da vila ,
era bela ocasão para o nosso encontro! Isso confortava-me. Para mais, dispunha de tempo. Sorria-me o plano!
Com esta mira, denandei a sua casa, pela face do quintal, não
muito distante do velho Patronato.Muitíssimas vezes eu passara ali. Como seria bom reviver, em pleno, esse tempo, já distante!
Saíra de Manteigas, em 1972! Haviam, pois decorrido 12
largos anos..
Nessa altura, ainda ele trabalhava! Recordo-me bem. À despedida, encontrei-o na Câmara, exercendo a profissão.
Pois, ao chegar ao portão que dá para o quintal, encontrei-o fechado. Logo suspeitei de que não ia ter sorte! Examinando bem o interior do acesso, distanciava-se muito dos velhos tempos!
Onde havia ordem, arranjo e asseio reinava agora o caso inverso! Nem um sinal que denotasse presença!
Não deviam estar! Aguardo, pois, que alguém, ao passar, me
ponha ao corrente! O primeiro a elucidar-me foi, na verdade, João Morrinha
Diz ele de chofre: Não os procure, que estão para Lisboa.. O
seu compadre tem algo de grave!
Fico varado e sem acção!
Voltando para Lisboa, interrogo sobre o caso a Teresnha Rabaça. que me diz logo estarem no Algarve.
Numa palavra: desisti prontamente! Nunca mais os veria?!
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Lx. Belém
1984-02-02 Cont.
Ainda assim, prosseguia interessado, ficando alerta e fazendo perguntas, referentes ao mesmo. Geralmente, só encolher de ombros.! Que tristeza! Não é lastimoso?! Nem Manteigas nem fora dali! Que posso eu fazer?!
Já ultimamente, informou alguém que estaria em Benfica,
onde mora a Gracinha. Mas o endeeço?! Cheguei à conclusão de que seria baldado todo o meu esforço!
.Ontem, porém, foi a mana Agusta que rompeu o silêncio, em que já mergulhara. Procurando-me ansiosa, chega-se a mim e dispara ,logo: A Teresinha Rabaça avistou-se comigo, ali nos Jerónimos e falou-me dum assunto que anda a perturbar-te. Respeita o caso ao Dr. Isabel.
A estas palavras, sou todo ouvidos: fico imobilizado e pendente de seus lábios.Diz ela então, neste passo cruciante:
a tua ex-aluna foi a Manteigas, podendo assim dialogar com a senhora e ouvir a situação em que o marido se encontra: gravemente enfermo, só os medicamentos o estão aguentando.
Como eu fiquei, perante os seus dizeres! Não me ser possível ir a Manteigas e ficar por lá, uns dia seguidos, para acomnhá-lo, na enfermidade! Que pena me faz isto!Grato prazer e funda alegria hava de sentir!
Vou também perder aquele bom amigo?! O círculo dos vivos vai-se estreitando! É o fim de todos!
Que Deus o abençoe, ampare e conforte, para levar a cruz, seguro e firme, ao alto da montanha! Que ele, realmente, foi sempre bom cristão. Íntegro e puro, igual a si mesmo, honesto, prestável, humano e sincero! É uma grande luz que se apaga, na vila, mas que vai continuar, brilhando mais viva, no seio da eternidade!
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Quem me dera vê-lo! Entretanto, os deveres que me prendem não consentem isso! Aguentasse ele até ao Verão, iria visitá-lo Mas se é cancro, segundo informarm... Deus nos acuda! É preciso rezar por ele! Isso vou eu fazer!
Disse minha comadre que seria boa ideia escrever uma cartinha. Vou tentar amanã ou então depois. Não me esquecerei!
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Lx. Belém
1984-02-03 " Mil nove e oitent e três"
Ouvi, hádias, aquela expressão a certo aluno que frequenta agora o duodécimo ano. Não era ,realmente, a primeira vez que o facto ocorria, pois, na verdade, a tinha já ouvido a muitíssias pessoas.
Desta vez, no entanto, prendeu-me a atenção, dando-me.o caso ensejo favorável, para reflectir.
Afinal que intentava dizer o citado rapaz?.O que ele projectava sei eu que era: mil novecentos e oitenta e três. A lei do menor esforço e o espírito fraco de imitação levaram-no, porém. a exprimir-se de outra maneira.
Ninguém se debruça, a verificar se está bem ou mal.
Vejamos, então, se estará correcta a forma aludida.
O que se intenta, em boa verdade é um milhar, nove centenas, oito dezenas e très unidades, referidas a anos.
Se a expressão do topo equivaler a isto, não posso criticá-la. Se não,levantarei aqui o meu protesto, sem dó nem ppiedade!
Perante o erro, não convém o silêncio. A quem aproveitaria?! Não diz o povo:"Da discussão nasce a luz?! "
É exactamente o caso de agora, Observemos, pois!
Mil nove e oitenta e três não é, a rigor, o que o jovem ptretendia, Efectivamente, dá o seguintte: mil anos + nove anos +
oitenta e três anos. Somando tudo isto, dá a rigor, 1092 anos. Cerceiam-se, pois 891 anos. É que, na verdade, em vez de nove centenas (900), apontam-se apenas nove unidades, o que dá em resultado subtraírem-se daí 891! Não é isto, de facto, o que está em causa
Devemos sempre reflectir naquilo que dizemos, não nos atrelando, pura e simplesmente, ao que os outros dizem.
O espírito crítico livra de muits erros e males sem conta!
Poupa.r energias? Só quando puder ser!Neste caso, não é admissível!
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Lx. Belém
1984-02-04
Faz hoje, precisamente, 42 anos! Como o tempo se escoa! Nessa data recuada, morria na Cerdeira o bondoso sacerdote. que me fez cristão, filho de Deus, membro da Igreja e herdeiro do Céu . Fora ele, na verdade, que ministrara o baptismo à débil criança que denominaram Pedro da Fonseca.
Pena tenho eu de que houvessem omitido um terceiro nome .'Inês' que iria buscar ao lado materno! Ficaria assim: Pedro Inês da Fnseca!
Mas paciência! Oficialmente, devo cingir-me àqueles dois nomes. em que o do pai está inserto.
Voltando. pois, ao assunto que inicia o Diário. lembro hoje, com saudade, o pároco modelar de Vide-Entre-Vinhas, o Reverendo Padre, José Maria Martins que, durante muitos anos presidiu, na aldeia, ao destino das almas.
Era um homem íntegro, zeloso, cumpridor! A ninguém dera escândalo e todos lhe queriam.
Nessa altura, havia frequência, no templo dr Deus. Quem é que, na serra, faltava à Missa , caso fosse Domingo ou dia santo?!
Só o velho Carriço que nem era de lá! Apesar de tudo, nos últimos anos, já cumpria também.
Pois naquele tempo, era a freguesia um viveiro de piedade.
Enchia-se o templo, não só aos Domingos,se não também, vários outros dias, ao longo do ano, Sejam exemplo as primeiras quintas-
feiras, sextas e sábados; o terçoà noite, rezado na igreja; o mês de Maria; Coração de Jesus; o mês do Rosário; o mês das Almas e o de S.José; as formosas novenas, em que primavam sempre: a do Natal e assim também a da Imaculada; a catequese, os retiros frequentes, para as filhas de Maria e do Apostolado da Oração.
Quem ouvia ali uma palavra grosseira?!
Jamais presenciei atitudes ofensivas ou escandalosas, no tempo de criança! Tudo isto era fruto do zelo incansável que transformou a velha freguesia.
Deus o tenha em glória, pois era um justo!
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Lx. Beleém
1984-2-05 Berros no eléctrico
" Ó vasco! Ó Vasco!" Vinha eu de Alcântara, rumo a Belém. Haviam de ser umas 10 horas! Como sempre, bastante movimento, agitação... ruídos! Já nem falo em cheiros! O que agora me prende é a cena que observei. Posso narrá-la, com todo o pormenor, já que estava presente e fui protagonista!
Há muito já, que não suporto ruídos! Sou contrário a eles. Desde. sempre o fui, mas agora muitíssim pior! Questão de idade, nervosismo exacerbado, pelos anos de África, em zonas de guerra
ou de guerrilha Os maus bocados que a dura guerrilha me fez suportar?! Noites de insónia, em grande expectativa, perante boatos de possíveis ataques... Seria com certeza. Este conjunto há-de ter influído.
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Agora, tenho de aguentar!
Entretanto, não faço bom rosto a quem me perturba!! Sem reacção é que eu não fico! Já me não contenho. à semelhança perfeita de tempos idos! A minha idade também é responsável.
A própria agitação que se veifica, na capital, exerce também enorme influência. È que eu, realmente, já vim há 4 anos, de terras africanas. e não saí de Lisboa, ainda no Verão! Vejo outros fazê-lo, durante um mês, largando os deveres, para recuperar!
Bom. Sendo isto assim, não aguento lá muito que outros me incomodem, por maneira abusiva!.
Focando melhor: subira eu para o velho eléctrico, dirigindo--me ao banco, para ai me sentar. Nisto, rentinho a mim. ouço a voz forte dum homenzarrão que dizia , com entono: Ó Vasco ! Ó Vasco!.
À terceira vez, olho-o de frente, assanhado e carrancudo, enquanto ele dizia?! Ó Vasco!Ó Vasco!.
Então, emudece. olhando-me desdenhoso e medindo o meu corpo, da cabeça aos pés.
Ignoro a razão por que ele emudeceu. O certo, porém,é que eu de facto, não tornei a ouvi-lo!
Foi, depois, sentar-se, lá mesmo ao cabo,,à porta de saída, e ali se manteve. De vez em quando, porém, deitava olhadura que trazia veneno.
Eu, porém, que jamais tive medo ou o confessei, mantive a postura
Que o faria emudecer?! A mimha ossatura?! A maneira imperiosa,, aberta e resoluta como lhe falei?! Ele é que sabe.
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Lx. Belém
1984-02-06 Três Cartas
Seguiram hoje, por via postal. Eu próprio as levei,afim de selar e meter no marco. Fiqiei satisfeito, de contactar os velhos amigos. Havia já tempo, que o assunto girava, preocupando-me o caso.
Ontem, de tarde, como era domingo, aproveitei logo, para ser mais feliz. A primeira missiva foi para Aldeia Nova , lugar do Olival, já no concelho de Vila Nova de Ourém. Tinha saudades do amigo "Carlinhos" o Padre Carlos Albertto C. R. de Almeida.
De pequenino, fora para a minha terra,Vide-Entre-Vinhas, onde correu a infância,a adolescência e parte da juventude.
Filho mais velho de professorse primários, ele próprio o foi,
durante algum tempo. Entretanto, não era esse o caminho certo, em que Deus o queria.
Far-se-ia Dominicano. Hoje, é o Pasre Carlos, que superintende, numa Casa-Abrigo de crianças infelizes. e abandonadas, em Aldeia Nova.
A última vez que o vi em Fátima, foi há mais de 20 anos.
Havendo convivido, na remota aldeia, com tanto empenho,
estima e apreço, nunca pude esquecer o amável " Carlinhos",
enlevo e glória de Dona Clementina.
Por estas várias razões e para agradecer os gentis cumprimentos de B F, por altura do Natal, enviei-lhe uma cartinha, com muito agrado e boa vontade. Gostava também de saber notícias, sobre a Mariazinha. Ignoro ainda se ficou em Moçambique, É muto natural que tenha regressado. O mano informará.
Lá para o Verão, se for possível, farei uma visita ao amigo Padre Carlos, afim de lembrarmos tempos decorridos.
A segunda missiva dirigi-a a meus compadres, residentes em Manteigas. Levou-lhes um abraço e muitas saudades Desde 1972, que não tornámos a ver-nos.
Foi então, exactamente, que me fiz ao Mar, com destino a Angola.
Já lá vão 12 anos.
Além disto, há uma circunstância, muito especial: O Doutor Isabel está muito doente. Será, pois, a despedida, chorada e saudosa dum grande e bom amigo. Quem dera, uma vez mais, poder visitá-lo! Mas a vida é tirânica! Amarra-nos sempre, de pés e mãos!
A terceira fo para a Namíbia, onde vive um amigo que jamais esquecerei: o Padre Hermes Wirth.
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Lx. Belém
1984-02-07
De um terceiro Andar
Tinha 2o anos. Na primavera da vida, atira-se ela para a negra morte, deixando em angústia aqueles que a amavam - os pobres pais! Não posso imaginar quanto devem sofrer!
Tantos carinhos... tanta meiguice... tão grande amor!
Aonde, por fim, tudo foi parar! Valeu a pena tanta dedicação!?
Aonde, finalmente, vieram morrer os sonhoa da infância! Onde
ficam sepultados os belos projecos da terna infância!
Era filha única. Perante o mundo, seria bem melhor que não houvesse nascido.Com efeito, poupava-se aos pais esta grande amargura! Que vai embrandecer tamanha agonia?! A quem vão dar lucro os bens adquiridos, ao longo do tempo e sempre guardados, com tamanho cuidado?! Por quem é que fariam esses pais infelizes tão grande sacruifício?!
O casamento dos sonhos... os planod de grandeza ... as esperanças fagueiras que douravam seus dias ... tudo morreu e se lançou no abismo, nessa hora fatal, em que a pobre donzela se atirou para a morte, de um terceiro andar!
Como estaria aquela imaginação! Disseram que foi droga! Produto infernal que destrói o cérebro, impedindo as gentes de raciocinar! Veneno mortífero que arruína em breve, o que leva tantos anos a erguer e firmar! Tónico deletério, onde acaba a esperança, para cavar-se um abismo, deveras horroroso!
Os passadores deviam ser enforcados! Com efeito, inutilizam as gentes que ficam desde logo, sem nenhum controlo,
sobre os seus actos! É preciso um correctivo que faça reagir, chamando a atenção e levando a propósitos. Caso contrário, surge uma sociedade, em que apenas vegetam deficientes e idiotas!
É o fim dum povo! A desgraça duma Pátria!
O que faz o interesse e a vil ambição! Cega os olhos em breve, lançando os povos, em negra escuridão!
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Lx. Belém
1984-02-08 Idílio trágico.
Trabalhava o rapazinho numa Agência funerária. Vivia feliz, se não encantado, pois à sombra do pai, conseguira o lugar.Não que fosse uma pechincha, mas vivia satisfeito, pois sempre auferia uns belos escudos, ao fim do mês!
Fosse ele embora mero "cangalheiro", uma vez que tal Agênca tem muito serviço, já dava origem a um lugar cobiçado! por todo e qualquer, de igual condição..
Bom! Até aqui, tudo normal e sem contratempos!
Acontecia, porém, que o dono da Agência tinha uma filha , com a qual o jovem usava, habitualmente , de extrema gentileza,
tributando-lhe sempre carinho especial. Encontrando-se os dois ameudadas vezes, deu isso nas vistas, embora, a rigor, nada houvesse ainda a criar desconfiança.
Apenas enlevo... alguma adoração... palavras requebradas, e brandos olhares! Não obstante o caso, logo que o pai se apercebeu do facto, decidiu prestesmente lançar-se em campo, não fose o jovem alimentar ideais, decerto incomportáveis para a sua aspiração
Comaçavam ali bem prontas diligências: recomendações, na casa paterna; serviços desencontrados; olhar sempre atento!...
Chega o mês de férias para o senhor da Agência. Em razão disto, chama o substituto e diz-lhe, à puridade: olhe,meu amigo, fulano está de folga, durante 15 dias. Regressa brevemente.
Quando chegar, diga-lhe o seguinte: o patrão, ao sair, ordenou que o meu amigo podia ficar em casa, pois não é preciso, à data presente. Quando fosse necessário, ele o chamaria
Bom. Chegado que foi, dé férias, aguarda o gerente um pretexto qualquer, para lhe transmitir a ordem recebida, o que, na verdade, não levou muito tempo.
Regressando ao trabalho, cheio de entusiasmo, e planos de ventura, tenta logo um encontro. Foi isso a perdição!
Sentados num sofá, conversavam os dois, com grande interesse e muito à-vontade. Vistas indiscretas não haveria decerto! Muito menos ainda gestos ameaçadores.
Era de aproveitar, embora fosse apenas um diálogo vivo.
Nisto, chega o gerente e despeja, sem delongas, a ordem recebida.
Terminava assim o inocente idílio, sem visos prováveis de recomeçar
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Lx. Belém
1984-02-09 "O maior risco que Deus correu!"
Vi isto exarado, no Diário de Notícias, há dias atrás. Encheu-me de espanto a frase aludida, que terminava assim:"foi criar o homem livre!" Palavra de honra, que fiquei atarantado1 Para mais, foi escrita por alguém que deve estar ao corrente, já no campo filosófic, já no teológico.
Enchendo-me de espanto a frase citada, levou-me a pensar, demoradamente, lançando no papel o que vai seguir-se.
Vamos então debruçar-nos, sobre a magna questão, atendendo primeiro ao sentido literal das mesmas palavras, afim de chegarmos a um ponto firme, que sirva de conclusão.
Que significa, afinal, 'correr um risco?' Sujeitar-se a dissabores e perigos sem conta; originar decepões e males tremendos, baseados na atitude por alguém assumida; criar situações que não podem tolerar-se!.
Quem pode correr riscos' Os homens, por exemplo, estão sujeitos a isso, por serem incapazes de prever o futuro.
Mercê da inteligência que é sempre limitada, está sujeito a graves consequências, harto desastrosas. Baseiam-se elas na mesma ignorância dos seres humanos.. Sucede, às vezes, que até o presente é mal interpretado, quanto mais o futuro!
O risco, portanto, é filho da ignrância..Provém sempre da falta de luz e dados suficientes, para jogar com acerto!
Chegados aqui, vem logo a pergunta, que eu fiz a mim mesmo, quando li o jornal: poderá Deus, a rigor, corrr algum risco?!
A frase memorável de Samora Machel, quando veio a Portugal, está de harmonia: "Até Deus comete erroos!"
Santa Bárbara!
Pois digo afoitamente: os dizeres citados andam muito próximos! Entretanto, de Samora não falo, que é um homem da mata e da crua guerrilha! Se ndo isto assim, não há tempo bastante, para alguém se instruir.
Bem diferente é o caso do nosso articulista! A dita frase
peca pela raiz: Só um ser ignorante, imperfeito e limitado pode correr risco e lançar-se em aventuras.
Só Deus é que não, pois sabe tudo e tudo vê, num eterno presente!
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Lx. Belém
1984-02-10 A Porta do Forno
Afim de evitar qualquer desvio, é melhor o seguinte: A Porta da Fornalha. De facto aquela dá entrada ao edifício ; esta,porém,
conduz, sem delongas à lareira aquecida, onde fica o centeio, afim de cozer-se.
Falando sobre fornos, com o meu amigo Alberto, sócio recente duma Agência funeraria, aqui na cidade, relatou um facto que me levou a pensar!
"Na minha aldeia, metido o pão na fornalha, altamente aquecida, com giestas e pernadas, fechavam logo a portinhola ( nalguns casos não existe)".
Havendo porta, deve fechar-se, pois deste modo concentra-se o calor que assim actua, de maneira intensa, apressando a cozedura.
É medida normal: poupa energia, despesa e tempo.
Ora, que é que se passa, na terra do Alberto, lá na Beira Alta? Fecham a porta, como é natural e. em seguida, tapam as junturas, com certo produto que precisa licença, para nele se falar!
Palavra de honra que não esperava uma coisa assim!
Com bosta de boi!
Fiquei alarmado! Quase enjoei e, por pouco, não entrei em desmaio! Quem iria lembrar-se de fazer tal coisa?!
Convenho, realmente, em que seja eficaz, não dispendioso e bastante prático, mas com a breca, servirem-se de bosta é coisa que me espanta!
A propósito, disse eu gracejando: não era a minha pessoa que engolis tal pão!
Ele, entõ olhou-me sisudo, rematando assim: Que é? Não tem mal nenhum! O pão fica bom à mesma!
Não quis discutir! Calei-me em seguida, ficando a magicar, sbre o tal assunto. tenho de expressar o que me vai na alma!
Havendo eu notícia daquele estratagema, tenho para mim que não me entrava na boca o referido pão! Sentiria repulsa, entrando a vomitar, logo em seguida! Não era capaz!
Que arranassem produtos, oriundos doutra fonte, compreendia-se, mas bosta de boi!.
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Lx. Belém
1984-02-11
Morreu Andropov.
Chegou ontem a notícia. Não fo surpresa que nos tomasse de assalto, pois havia meses que ninguém o enxergava!
Factos importantes, que exigiam a presença, distinguiam-se, em regra, pela ausência total daquela Entidade. Mas, enfim, a nova chegou!
Os magnates deste mundo também vão prestar contas, se bem que lhes pese! Cá na Terra, mandam, impõem, abusam, tiranizam, subestimando talvez que o Supremo Juiz haja de exigir-nos contas bem estritas!
Nem todos assim fazem? Também eu o creio. Entretanto, os grandes criminosos, à maneira de Hitler, Estaline e Andropov, deixavam perceber que não tinham em mira dar contas de seus actos.
Se a morte dum só homem é já suficiente para grandes remorsos, quanto mais a morte de milhóes?! Para mais, inocentes!
No tocante ao chefe russo, tenho agora presente um crime dos maiores, no século XX. Talvez o mais cruel, desumano e bárbaro! Ocorreu, de facto, em 1960, na Hungria mártir, se a memória não falha! O mundo em peso estremeceu de horror, perante a barbárie que a cena revestiu!
Queria a nação banir o Comunismo, escolhendo um governo, de feição diferente. Comunismo... isso nem por sombras! O Cardeal
Mindzenty era a esperança daquela nação! Entretanto, da Rússia agressiva, sopraram logo ventos que tudo envolveram.
Qual furacão assolou cruelmente a infeliz Hungria! Duzentos mil homens, com forte aparelho, de carácter militar, em que primavam os tanques horrorosos, atiram-se em fúria, quais demónios possessos, ao exército pátrio e libertador, que esmagam impiedosos
Nessa hora trágica, mães e esposas, noivas e irmãs lançam-se em montões para a frente dos tanques, ficando logo esmagadas,
no tremendo holocausto!
Quem foi o responsável? Esse homem sinistro, de nome Andropov!
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Lx. Belém
1984-02-12 Dion Swart
Natural de Cape Town (Cap Staat), na África do Sul, veio para o Cavango, em 1978, ficando nessa data, Reitor do Liceu.
Terminara o mandato de Mister Potgieter, que deixara a Namíbia, para baixar à República (RSA).
No tocante a mim, dava-me bem com o precedente. Na verdade, era um homem compreensivo, disciplinador e inteligente.
Uma vez demissionário, viria depois. Mister Dion Swart preencher o lugar.
Estávamos, pois, harto ansiosos, como é natural,
Voltara ele costas à Damaralândia, Uma vez entre nós, procurámos viver em boa harmonia, dando-nos ali como os Anjos do Céu. Com efeito, era um homem piedoso, humano e convicto.
Um senhor ideal, para a minha situação! Tive sempre nele o amigo prestável, acolhedor e muito bondoso, o que facilitava meu triste viver!
Em fins de 79, junto aos exames, vim-me então embora, do
Sudoeste Africano, indeciso ainda, sobre o meu regresso à velha Namíbia. Despedi-me dele, com dificuldade! Custava-me deixá-lo, talvez para sempre!
O ano passado, informou Padre Hermes que Mister SWart já
estava no Rundu, exercendo ali o múnus de professor.Mais disse ainda que tivera um desastre a que seguiu logo horrível perfuração em um dos olhos, por causa de uns arames.
Bom. A coisa passou .Em 83, por altura do Natal, ennviei-lhe as BF,para a capital do velho Cavango ( Rundu), onde eu o supunha. Passdos alguns dias, recebo devolvido o cartão que lhe enviara.
Trazia o seguinte, impresso à máquina: "Ignorado no local". Vinha isto gravado em línguas germânicas Alemão, Inglês e Africânder, acrescendo o Francês, que é de origem românica.
Isto abateu-me! Por onde se gasta aquele bom amigo?! Desejava escrever-lhe, mas como fazê-lo?!Não sabemos um do outro!
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Lx. Belém
1984-02-13 Ção Lopes
Chegou uma carta. Embora não esperada, foi lida então, com muito cuidado e grande interesse. Isto ocorre sempre, no tocante aos alunos que tive, no passado.Conservo de todos enormes saudades! Por esta razão, sempre que os vejo ou então me escrevem, fico radiante!
Duas notícias me chamam a atenção, nesta missiva.: a primeira dentre elas respeita à Ana B ranco ( a nossa Aninha) que, segundo informa, vive na Guarda, em cujo Liceu exerce a profissão, na cadeira de História.
Até aqui, não há novidade, pois já o sabia. Entretanto, algo revelou, que é novo para mim. Enviara-lhe as BF, por altura do Natal, Como não respondeu, fiquei a duvidar, acerca do endereço.
O amigo Serra é que havia informado, sobre o paradeiroi
Bom. Estava, pois, duvidoso... já um tanto inclinado a que não morava lá. Ora, que diz a Ção? Que há dias, fizera um telefonema, às 22 horas e a tinha encontrado. Como era natural, fez-lhe saber que estava em sintonia, por meio de cartas, ao que a Aninha respondeu::"Mandou-me as BF e eu, por preguiça, ainda não respondi.Envia-lhe um abraço!"
Fiquei então ciente de que ela, na verdade, mora na Guarda.
Por um lado, fiquei satisfeito; pelo outro, estranho bastante que não haja revelado o seu contentamento, uma vez que outras, com menos razões, o têm feito. Falando sincero, até me invadiu uma ponta de mágoa! Mas, enfim, já estou habituado! Pode ser, no entanto, que ela ainda escreva..
A se gunda notícia respeita à Carlita que anda, nesta data, pelos nove anos. Exprime-se a mãe, com grande regozijo e alguma verdade, ao fazer menção dos serviços relevantes que lhe vai prestando, no acto de conduzir.: " Afrouxa agora! Além é stop!
Acelerar um pouco!"
Quem é que lhe fala! Automóvel e casa,, emprego e carta, o Tó e a Carlita!
Que mais, afinal, pode ela querer?!
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Lx. Belém
1984-02-14 Desilusões
Vem a desilusão, se esperamos uma coisa e nos sai ao invés. Tal situação é harto indesejável, pois causa tristeza e gera abatimento!. Para nos valermos, em casos semelhantes, recorremos à esperança, que é luz diamantina,, a brilhar nas tre- vas.
Ai do infeliz que, no meio da tormenta, deixou, alguma vez, perder este arrimo! Com ele por fundo, tudo se compõe, aviva e abrilhanta.. Sem ela a brilhar, acaba o interesse, vem o desânimo,
aproxima-se o fim.
Mas, afinal, que vem a ser a existència do pobre ser huano, senão cadeia sólida e ininterrupta de sérias desilusões?!:
Não é esta, realmente, a sina fatídica do pobre ser?! Quem pode libertar-se, fugindo a seus liames?! Não teria fim o extenso
rosário das nossas decepções, querendo enumerá-las!
Um qualquer propõe-se, delirante, arranjar bela noiva, que seja prendada e tenha bons meios. Tudo ele orienta, nesta direcção.. não pensa, não sente, nada ele intenta que não vá radicar-se no sonho embalador.
Na vigília trabalhosa ou durante o próprio sono, é a noiva que aparece a dourar-lhe a vida! Um dia,porém, já que ela o deixe, para seguir outro, já que, após o casamento, não se entenderam...
Tudo se acabou! Finda o belo sonho... chega a desilusão!
Outro ainda projecta confiado. obter, a curto prazo, meios de riqueza.. Deseja subir, impor-se. triunfar... ir além dos outros,...
Parece empertigado onde quer que seja!
Vem um cataclismo, irrome uma doença que logo o invalida. Ou então surge uma guerra... medonho conflto. Tudo se altera. Nada já resta de quanto amara!
Este, agora, blasona de esperto e é presa fácil de quantos o seguem; aquele, por seu lado, intentava, por vezes, ser diferente e
nem sequer igual foi capaz de se!
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Lx. Belém
1984-02-15 Uma Carta
Assunto de cartas é mais importante do que julgamos! Quanta influência exercem as ditas, sobre a nossa vida!
Uma carta inesperada, agressiva, mal soante; uma cata desleal. traiçoeira e com cinismo, é como punhal, cravado na alma!
Descanso e paz ... nem sequer o nome!
Decorre o tempo em vigílias; a própria cama, em reviravoltas; o dia todo, em fundo cismar; a nossa existência, em degredo constante! Desejaria alguém alijar este fardo, mas intentã-lo e dar-lhe remate?! " Verba volant; scripta manent" Palavras leva-as o vento; a escrita permanece!
Uma carta do género é como um polícia que se agarra a nós.
Talvez melhor ainda: assemelha-se, de facto, a medonha carraça !
Não sabemos nós o que fazem tais demónios?! Empanturram-se de sangue, até mais não! Que importa, na verdade, perder-se o líquido?! Ficaram saciadas!É quanto basta! As pavras são brasas; as frases, carvões! Sujam e queimam!
Nestas circunstâncias, que podemos esperar?!
Entretanto, cartas aí há que nos enchem de gozo, derramando no peito o bálsamo da paz que tanto inebria! Eco da amizade e sua
projecção, como Sol benfazejo, em dia de Inverno!
Tudo o que é mal foge para longe, ao embate confortante de seus raios belos, de fogo e ouro! Afastam-se as trevas, clareia a manhã... avivam-se as cores. É tudo já diferente, criando no ser humano o desejo intenso de viver e amar e tornar-se bondoso!
Foi de tal jaez a carta de Manteigas, ontem recebida!
O casal Matos Cunha apresenta cumprimentos e anuncia para breve uma vista a Lisboa.
Seja embora por doença, teremos já ensejo de trocar impressões, dando assim largas à curiosidade e vivo desejo de nos vermos ainda, cá neste mundo!
Já desde Julho de 1972, que não tornámos a ver-nos! Vai fazer 12 anos e, no entanto, os nossos corações estiveram unidos.
Venha, pois, o querido amigo,Dr, Isabel e sua esposa,
Que não tardem muito, ali no Restelo!
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Lx. Belém
1984-02-16 Como tem s ido a volta 66.
Aproxima-se já o fim desta volta! A 19, é que tem seu termo! Por ser data marcante, faz logo cismar, deixando-me absorto! Nem admira! Não é já um bom troço. na existência dum homem?
Quantos há, na verdade, que não atingem este bom limite?!
Na minha aldeia, embora pequena, já foram bastantes aqueles que partiram, Além disso, há um porme nor que me traz angustiado! Talvez mais que um! Se tivesse aproveitado esse tempo de vida que já se esccou, Se houvesse, realmente, na folha de serviço, muitas páginas belas!
Se todas essas páginas gerassem alento e desejo de viver!
Para que serve a existência, não havendo um ideal que nos prenda e seduza?! Fazer bem aos outros, esquecendo, hora a hora o que a
a nós se refere... Cuidar do infeliz e fazê-lo por Deus, sem qualquer interesse! Servir generosa e devotamente! Olhar para mim, sempre em último lugar! Como seria bom !
Entretanto, como foi este ano a volta 66 que já vai no fim?!
Não posso queixar-me! De Deus nem por sombras! Estúpido seria, como outro qualquer, se fizesse tal coisa!
Ele, sim, é que pode queixar-se de mim e de todos!
O que tenho em mente é agradecer, bastante penhorado, os benefícios, já inumeráveis que me tem concedido. Sim!
Agradecer e louvar, pedir indulgência e também muitas graças para a volta seguinte, que vai começar, muito brevemente. O
sentimento de viva gratidão é o que mais impera , na minha alma rendidaTantos dons celestiais! Tanas graças penhorantes! Tanta solicitude que o Pai do Céu revelou!.Tantos carinhos que me tem dispensado!
Sinto-me perplexo e cheio de confiança.na sua misericórdia! Quanto aos homens, por eles detestava-os, mas em Deus e por Deus, tento suportá-los, com a graça do Senor..
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Lx, Belém
1984-02-17 Um Roubo
Assuntos do género andam na be rlinda. A Imprensa diária regista o facto, deixando-nos surpresos com tal desfaçatez e incrível ousadia. É vergonhoso! Para isto, afinal, se defende agora a Democracia?! Nesse caso, não vale a pena!
Atiram-se aos Bancos, em pleno dia; invadem-se as moradas; a qualquer hora; aproveitam-se ainda os próprios auto.carros, comboios e eléctricos, para o mesmo fim.
Até as crianças ( vergonha é dizê-lo!) são vítimas de assaltos! Quem tal diria?! Fios e anéis, carteiras e relógios, nada se poupa! Não vale a idade nem a condição! Os lugares sagrados não fogem à regra!
É uma bandalheira! Não se pode aturar!
No tempo de Salazar e Marcelo Caetano, havia respeito, ordem, temor! Agora, sinto vergonha, pelo que vejo, observo e ouço!
Desta vez, coube-me também a dita sina! Fui roubado!
Trata-se, é verdade, convém declará-lo, para não iludir ou então enganar o bondoso leitor, de um caso especial! Roubo é de facto,
embora o assunto revista um aspecto muito singular!
Quem veio a ser o autor do furto? Melhor, talvez, autora?!
Ninguém suporia que tal ocorresse! Uma antiga aluna do Colegio de Manteigas! Para escarmenta, aí fica já o nome dela!
Que a lição aproveite!vFoi a Ção Lipes, natural do Sameiro e
professora na Escola Primária do Chafariz do Areal!
Donde se não esperam é que elas vêm! Parecia, em tempos, que não partiria um único prato! Mas, enfim, a vida é isto!
Perguntarão: que roubou, afinal?! Três dias de vida! Reputo isto um assunto grave! Até um dia que fosse!
Entretanto, perdoo-lhe! Não o fez por mal!
Esta é, de facto, a verdadeira razão da minha indulgência!
Faço os meus anos, a 19, e ela felicitou-me a 16 do corrente!
Assim, pois, o que devia alegrar-me tornou-se vector de profunda tristeza!
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Lx. Belém
1984-02-18 Democracia
Já´lá vão muitos anos, que eu falava do assunto com alguém conhecdo. - o Padre Martiniano. Seria até, possivelmente, quando
no Outeiro exercíamos o múnus de professores liceais. Bons anos se passaram! Depois disso, levei 7 em Pinhel, 15 em Manteigas, quase 8 em África e 4 em Lisboa.
Decorria o tempo do arguto Salazar. Belos dias esses, em que tudo era ordem, progresso, respeito e boa harmonia! Agora, ao invés, é só atropelos, ruído e mal-estar... alto desengano!
Como estou desiludido!
Teoricamente, sabia muito bem o que era a Democracia! Na prática, porém, longe de mim prever como iria ser fonte de tamanha ruína!
Diza o meu colega: "Nada há, politicamente, que chegue à Democraci!" A isto contrapus: Talvez tenha razão, mas em Portugal não creio no sistema!
Nessa altura, imaginava apenas; agora, porém, sinto-o na alma e na própria carne! Que funda, amargurante, desesperada
surpresa! Nada há como os factos, para chegarmos a certeas horríveis e escaldantes! Estas vieram infelzmente, levando consigo, para muito longe, quanto havia de esperança, nas almas ingénuas!
Desterraram a esperança, deixando o nosso peito mergulhado em treva! O que hoje se vê é decepcionante! Os Portugueses odeiam-se uns aos outros! Que podemos esperar de tal sociedade?!
Apenas mal.estar, insegurança, martírio! Nenhum mal existe que não venha do ódio! Se mais não houvesse, já seria bastante, para sermos infelizes! Mas esse rosário não fica por ali! Decresce o patriotismo, avilta-se o carácter, embota-se até a própria consciência, degenera o sentimento! Pois o nível de vida! Quanto se ganha é só para comer!.
Acorda, minha Pátria, que te vais afundando! Levanta a cabeça e olha-te no espelho, para veres, realmente como houve mudanças!
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Lx. Belém
1984-02-19
Este dia lembra-me o passado, esse ano remoto, ha 66 anos. Terminava a Grande Guerra e assolava o mundo a chamada 'pneumónica..Esta epidemia levou, cá da Terra, milhões de pessoas. O meu organismo, ainda combalido,( nascera havia pouco), já teve de enfrentar o grande flagelo! Começo lastimoso, para seres indefesos!
Numa aldeia serrana - Vide-Entre-Vinhas - que só tinha deveres, em ordem ao Estado, ( pagar contribuições, impostos e multas ), que podia esperar-se?! À mínima doença, vinha o fim da carreira!
Sem estrada nem luz!... Se, pelo menos, tivesse telefone!
Uma desgraça! Entretanto, nas cidades portuguesas, havia bons palácios, casas fidalgas, paços e vivendas! Quem é que olhava para as míseras aldeias?! Apenas sugá-las!
Bom! O tempo escoou,se. Após muitas viagens, um tanto díspares, cheguei, finalmente aos 55 anos! Hoje, na mesma, caem sobre mim! Com princípios daqueles, estava-se esboçando todo o meu futuro! Por Deus que arribei! Assim, cá me encontro em Lisboa, após o meu regresso, da África do Sul. Tortuosa vida e cheia de sofrmento, por haverem contrariado os meus anseios de jovem!
Obedecer apenas e fazê-lo cegamente, sendo espezinhado,,é
cavar a sepultura, utilizando nisso as próprias mãos! Deste modo, não se vive! Apenas se vegeta! Se a sombra de alguém!
Fico horrorizado, só de pensá-lo! Querer somente o que os outros querem! Fazer apenas o que outrem faz! Pensar estritamente o que outrem pensa! Desejar também o que os outros desejam!
Onde fica, para logo, o poder criador?! Onde a iniciativa?! Como realizar-se?! Onde a convivência?! Só frustração, ressaibo e dor! Inconformidade e revolta íntima! Os homens decerto não pensam como Deus! Perdi a fé neles! O que me vale é ter-se avivado a fé no Senhor
Se tudo foi vão, resta contudo a parte melhor.
Que o Céu me favoreça, para chegar a porto seguro!.
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Lx. Belém
1984-02-2o Disparates Linguísticos.
Tantas vezes se ouvem, que parece normal a utilização! Para mais, vê-se o caso amiúde, nas colunas dos jornais.ou ainda no espelho da televisão. Apesar de tudo isso, não pode
aprovar-se o uso insistente de inconveniências.
Entre as incorrecções, encontramos a seguinte : "de modo a que..."
"Fala devagar, de modo a que eu capte o que estás dizendo"
Correcção : fala devagar de modo que eu...
Faz grande pena que a gente, em geral , caia nesta falta!
Também o erro tem foros de cidade? Utilizemos, pois,:de modo que.
Outra expressão, agora em moda, é a que segue:" ao fim e ao cabo . Trata-se aqui dum espanholismo. Não precisamos dele, graças a Deus,Sirva-nos antes aquilo que é nosso: ao fim; por fim; finalmente.
À semelhança doutras expressões que o uso consagrou (subir para cima; descer para baixo; entrar para dentro; sair para fora) também estas, de facto, poderão enraizar-se, caso o não estejam.
Entretanto não são necessárias. Basta simplesmente: suba;desça: entre;saia. O pleonasmo, aqui, não se justifica. Casos há, porém de bons pleonasmos. ("Vi claramente visto" Camões.
Há modismos vernáculos, já consagrados: afinal de contar: na verdade; a bem dizer; na realidade, e muitos outros
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Lx. Belém
1984-02-21 " O Avião não chegou"
Passaram ontem os anos do Isaías, como é conhecido, no meio lisbonense. Assim era chamado o saudoso pai que o Céu me deu. Pois o meu sobrinho fez agora os seus 2o. Qual Primavera, em grande pujança, é de facto assim que ele se apresenta: cheio de vida e juventude, promessas, alegria.
Nasceu no Chitembo, vila angolana, pertencente ao Bié.
A Revolução de 74 é que o fez abandonar a sua terra natal!.
Este jovem rapaz é, afinal, o mais novo dos irmãos As duas mais velhas ficaram sepultadas em Silva Porto.. Ali descansam, pois, os seus restos mortais.
A primogénita era a Julieta que deixou este mundo com 5 anos apenas A seguinte - Maria Margarida - já partiu dele, com 19 e era finalista do Liceu Silva Cunha, na mesma cidade, onde está sepultada. Foi vítima do ódio que se fez sentir, durante a Revolução.
Bom. O que agora me prende é o caso interessante que foi ontem narrado pela mana Agusta.
Estando iminente a chegada ansiosa do Isaías, a 20 de Fevereiro de 1954,( o caso verificou-se pelas 13 hras) resolveram os pais enviar os filhos para o Campo da Aviação, perto do Chitembo.. Eram eles: o Carlitos ( 5 anos); a Guida (9 anos); a Cina, 3.
Foram estas, de facto, as palavras de ordem: Meninos, ide lá para cima. O avião chega hoje e traz o bebé - o vosso irmãozinho..É preciso então que o espereis lá , para o receberdes.
Assim que chegue e o tenhais em poder, vindes logo, transmitir, para o irmos buscar.
As três crianças, no seu entusiasmo, lá vão pressurosas, olhando para o céu, onde ia aparecer o cobiçado menino, trazido no avião.
Eles esperaram... com muita paciência, fixando ansiosos seus olhos inocentes naquele céu de prata mas, na verdade, o avião não surgiu!
O menino chegara, de facto, mas seguira outra via.
******??????????????????
Lx. Belém
1984-02--22 A grande Aventura
Post tot tantosque labores, ( depois de tantos e tão grandes trabalhos), canseiras e vigílias,.. Foi i sto de facto, assim que regressei da África do Sul, no mês de Dezembro de 1979.
Não olhei para trás! Pus-me breve em campo, afim de realizar o sonho que gerara - adquirir uma casa. Alugada ou comprada? Hipotecada? Levado por esta ideia, pus-me logo a vaguear, por aqui e por além, sondando o ambiente e fazendo o paralelo, entre preços conhecidos.
Achava sempre muito. As magras receitas. após o grande baque, ocorrido na Torralta, e o caso de Angola, onde ficara tudo,
não iam proporcionar o que era necessário!
Passaram, já, mais de 4 anos, qie levei trabalhano e fazendo poupança. Nas minhas digressões, que andaram por largo, estudei os lugares, olhando a factores que eram importantes : clima, igreja e transportes; super-mercado; solidez de construção e preços das casas.
Assim andei eu, chegando a Oeiras, Cacém e Barcarena,Queluz e Amadora; Benfica e Areeiro; à Cruz de Pau, Amora e Laranjeiro; Colina do Sol, Reboleira e Alcântara; Venda Nova e Algés e o mais que falta!
Hoje, porém, enchi-me de coragem , porque via fugirem boas oportunidades. Gato escaldado de água fria tem medo.
Já no Domingo (hoje é quarta-feira) lá dei uma saltada, mas sem efeito, pois os moradores estavam ausentes.
Havia decidido optar pela Amadora e, finalmente, lá fui cair!Atendendo às vantagens, tinha de ser aquela!
A compra a efectuar gera cuidados, pois o custo é alto: 3600 contos! Aonde vou eu buscar dinheiro bastante, para cobrir a despesa)! Entro com metade, concedendo-me três meses, para dar o restante.
O final da mimha vida, se Deus mo permitir, ocorrerá, pois, na dita cidade: Rua 27 de Junho, 6, 3º Esq.
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Lx. Belém
1984-02-23 Cont.
Situação. Quanto ao lolocal, nada a objectar! Com efeito, satisfaz plenamente os quesitos mais diversos. Se não, é ver: fica a breve curso da estação ferroviária; mais perto ainda, em ordem ao jardim; está sito o andar, confrme já disse, na
27 de Junho.
Esta posição alarga-se ainda a ouras vantagens. É preciso o comboio, quer paa Sintra quer para Lisboa? Em dois, tres minutos, chego à estação.
Prefere-se acaso o Metropolitano? Em 90 segundos, atinge-se o lugar que dá para isso; escolhendo então a RN que diz:" Longo Curso", leva-nos prestes ao Marquês de Pombal; projectando Sete Rios, aguarda-se também, a Rodoviária que ostenta o mesmo nome. A paragem do auro-carro é sempre a mesma, ficando exactamente, na Rua Alfredo Keil.
Ainda na mesma podemos optar pela de Benfica, se quisermos, em seguida, apanhar o auto- carro, número 29, que vem do Padre Cruz. Éque ele, de facto, passa nos Jerónimos, onde trabalha o cunhado Martins, e tremina em Algés.
Além estes meios, existem mais dois: a carreira frequente de Alcântara - Venda- Seca ( nos dois sentidos) e a carreira de Belém, que parte da Amadora, mesmo à Estação. e tem o seu termo, na formosa Praça, Afoso de Albuquerque.
Como se vê, é privilegiada a situação do andar. Melhor do que isto não é fácil encontrar!
Para efeito de compras, há um super- mercado qie fica no rés-do - chão e tem quanto baste. em qualquer dos ramos.Nem que chova bastante, mercê do alpendre, em frente do prédio, não se apanha gota!
No tocante à igreja, há mais dificuldade, mas não assusta!
Passado o jardim, que fica ali à mão, corta-se à esquerda, na 3ª Rua, vendo-se logo perto a cúpula do templo.
O mais próximo de todos é o Centro de Saúde!
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Lx. Belém
1984-02-24 A grande Aventura. Cont,
A casa. em si mesma, não carece de nada. É um prédio recente. Só tem 4 anos e não foi habitado, a tempo inteiro. A parte exterior é forrada de azulejos, oferecendo um aspecto, agradável à vista,
A fachada principal que dá para a estrada, apresenta uma varanda, cuja largura atinge 1 metro, sendo o comprimento de três metros e noventa. É aberta.
Sendo um 3º andar, já puxa um bocado pela energia, mas não assusta, pois há segundos, com a mesma altura. A escada interior é feita de mármore e assim, também, os parapeitos das amplas janelas
Na caixilharia, não entra madeira: só alumínio ali se descobre, o que traz ao conjunto un ar agradável e confortante.
Distribui-se o andar por 4 assioalhadas que podem ter, em supefície, os dados seguintes: : 13-13-12, em metros quadrados..
Se não chegar, a rigor, não deve faltar muito!
A cozinha que é belíssima, ampla e soalheira, goza de uma despensa. As vidraças, a Nascente, deixam enetrar a luz e o sol, em grandes caudais
Na linha de Nascente, vemos a sala, com 5 e tal metros, no seu comprinmento; a cozinha, logo em seguida; ainda contíguo, um belo quarto, De caras para a estrada, onde passam os veículos, que demandam a Amadora, avistamos um quarto e a sala comum,
de varanda aberta.
Falta mencionar as duas casas de banho ou melhor, só uma, porque a segunda não tem banheira.. As louças aplicadas julgo esrem boas e oferecem à vista um aspecto deslumbrante! A madeira, tanto nas portas como nas janelas é bastanta maciça,,
atirando para o forte. Já teve telefone e conserva ainda a linha que serviu..
A porta de saída ostenta por sua vez, uma rica fechadura.. No sentido vertical é ela de fendida por uma barra de ferro que prende nos dois lados. Além disso, anda tem uma cadeia, para reforço da mesma.
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Lx. Belém
1984-02-25 Primeiras diligências, ainda feitas ontem.
Nunca eu tratara de assuntos do género. Por esta razão, procedo, realmente como ceguinho. Vou pela senda que outrem aponta, Entretanto, julgo que não me enganam. Ficou-me a impressão de não haver trafulhice, de ma parte e de outra!
A prova disso posso encontrá-la nas acções e atutudes que já presenciei. Efectivamente, os vendedores, José de Sá e Gracinda, moradores na Amadora, preencheram um impresso, que assinaram depois, o mesmo fazendo eu, em pessoa..
Identificadas as partes em causa e exposto o assunto, vêm, seguidamente, as duras condições, O papel timbrado exige um selo de looo$00. Como sinal, entreguei eu já um quarto de mil contos.
As diligêncas que houve de empregar levaram-me, de facto,
à C:G:D. Aqui, após haver colhido certas informações que muito aproveitaram, fiquei bem elucidado, acerca de tudo. Pelo que disseram, os depósitos a prazo hao-de ser convertidos em depósitos à ordem.
Uma vez feito isto, preenche-se um impresso, fornecido pela Caixa. Do papel selado consta a descrição, com bastante pormenor, sobre as condições. Assim: negando-se os donos ao
contrato assiinado, pagam 500 contos; se for eu a fazê-lo, perco
o sinal.
Tenho para mim que somos todos pessoas de bem.
Hoje mesmo, entrego, sem delongas o cheque visado à Dona Gracinda, para sossego de espírito. É o primeiro passo que garante, de facto, a minha posição, como proprietário, aqui na Amadora. Traga-me embora cuidados e sérios problemas que
tenho de resolver, sinto-me feliz e bastante confiado,
É um capital que se está valorizando. Enquanto o dinheiro se
vai degradando, a propriedade, mercê da posição e aspecto que apresenta, sobe de preço.
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Lx. Belém
1984-02-26
Ontem, lá fui à cidade, afim de cumprir o que fora prometido.. Era a minha obrigação! O dinheiro só fica bem nas mãos do seu dono! Ele, sim, é que deve administrá-lo! Amanhã ou depois, já me entregam as chaves.
A fechadura custou 1o contos e está reforçada por uma barra de ferro, a todo o comprimento, Além disso, há também um cadeado que entra em função, caso se precise.
A dita fechadura dispõe de três chaves, cujo tamanho fica abaixo de médio.
Como já disse, levei o cheque à proprietária, que atendeu, com enorme agrado, por eu haver cumprido a palavra dada. Fomos, seguidamente, à CGD, sita ao jardim. Não quis levantar a nova inportância. Depositou-a logo, pois é hoje arriscado trazer dinheiro consigo.
Que diferença eu acho, comparando agora esta época ruinosa com a de Salazar! Mas, enfim, é preciso aguentar!
Recebido o cheque, assinei o documento, já antes selado, ficando ela também com uma cópia. A mim pertence, evidentemente, o original!
Amanhã, se eu tiver tempo, ( não vai ser fácil!)vou ao Banco de Fomento e à CGD. O meu dinheiro, encontrando-se a prazo, é
agora convartido em depósito à ordem. Feito isto, passarei dois cheques: um para cada lugar. O total, que preciso já, eleva-se ao montante de 1559 contos. Este dinheiro com o sinal, já perfaz metade, quer dizer, 1800 contos!
Esta conversão representa uma quebra, muito acentuada, nos juros a vencer! Muito maior do que eu esperava!
Agora, é andar e carinha alegre!
Se o Banco devolver 7oo e tal contos, a CGD fornecerá o resto! Quero ver, realmente, se neste fim de mês ( restam só três dias) concluo o que ajustei. Depois, fica a outra metade, que deve ser entregue, antes que chegue Junho.
Expira o prazo a 31 de Maio..
Donde virá tanta nota?! É o que resta saber! .
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Lx.Belém
1984-02-27
Hoje, é um dia atarefado e cheio de cuidados.
Efectivamente, após os deveres que tenho de cumprir, segundo o costume, vieram outros novos, aos quais, na verade, não posso furtar-me. Falo, evidentemente, a respeito do momento que agora atravesso.
Estou fazendo esforços, para tudo sair bem, não faltando à palavra. Assistem-me dúvidas, mas isso não obsta a que vá por diante, cheio de entusiasmo e bastante confiança.
A noite passada é que não me ajudou. Com efeito, às três da manhã, já estava desperto, assim me conservando, até ao fim da
noite. Por esta razão, fiquei amolecido e carente de energia. Contudo, a minha vontade ainda se manifesta e pode alguma coisa. Sobrepondo-se ao físico, lá vai dominando, enquanto dá ordens.
De manhã, após as 9 e 3o, desloquei-me prestes ao Banco de Fomento, afim de pôr à ordem um pequeno depósito que se encontra a prazo, com a data seguinte: 2 de Julho.
Venceu apenas 13%, o que é uma quebra sensível!
Realizada a operação, fui então presidir, na igreja de Fátima, a certo funeral que ali se realizou. Em seguida, almoçar, para logo tomar parte, em outro serviço, havendo ido antes, à CGD, para deixar à ordem aquilo que faltava, até perfazer os 155o contos
Este montante com os 250 contos, que dera como sinal, perfaz, a rigor, o que fora estipulado: 1800 contos. Daqui a três meses, entregarei, a 31 de Maio, uma soma igual. Parece-me um sonho!
Deixar, possivelmente, a casa hipotecada? Veremos, de futuro, o que posso realizar!
Bom. Após tantas diligências, apetecia o repouso, mas em vez disso, rumei à Amadora, afim de entregar dois cheques que faltam.
Sendo aguardado, receberam-me com júbilo, por notarem seriedade e verem na mão o fruto precioso do seu trabalho!
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Lx. Belém
1984-02-28
Ontem, como disse, estive na Amadora, já por noitinha, para dar cumprimento ao que fora ajustado.
Parti, sem falta, às 18 horas, quando o Sol declinava e o frio da tarde se entranhava nos ossos!
Foi um dia excepcional, em termos de clima. Ninguém parava, mercê do frio!. Os melhore agasalhos foram reclamados, notando-se cuidado e muita diligência em todas as pessoas. Chuva é que não! Antes ela viesse, que o tempo amaciava.
Pois, ao chegar. encontrei a proprietária, Dona Gracinda, que vive no segundo. Dentro em breve, chegava o marido. Por
espaço duma hora, felámos, com ânimo, tomando por objecto a vizinhança da casa.
No 3º direito, moram três meninas, cujos 7 irmãos casaram já, O pai delas, um caboverdiano é embarcado, visitando-as sempre, quando passa por Lisboa.Segundo parece, a mãe não está.
Fiquei satisfeito, com tais informações, naquele aspecto que mais interessava, para efeito de convívio. Cheia de gentileza e muito dada!. Estou feliz!
No 2º direito, vive um Engenheiro e sua família.
O meu andar é, como dise, o 3º esquerdo.
O prédio, afinal, só tem 4 anos e dispõe de 3 andares. Aspirei sempre a esta realidade: ninguém ficar por cima! Há-de ser mortificante ouvir sapatear, a qualquer hora do dia ou por noite avançada! Calhou muito bem!
Quanto às chaves, jã estão em meu poder"A porta de casa é muito resistente. e dispõe de fechadura que não cede facilmente.
As chaves são três. A Dona Gracinda dispõe de uma delas, para
limpar e depois encerar. Vai ficar bem bonito! Quem me dera já nele! Uma casa minha! Onde não chove nem entra humidade! Onde não há ratos nem o vento molesta!
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Lx. Belém
1984-02-29
Se não fosse bissexto o mês de Fevereiro, teria dado fim, no dia 28, que foi ontem já. Sucede tal facto, de 4 em 4 anos.
Bisexto ou não, põe logo fim ao mês corrente. Para mim, o final do segundo não é coisa banal. Efectivamente, vem recrdar-me um facto inegável e cheio de apreensões. No dia 19, perfiz 66. Foi, pois, a rigor, a volta 66, que a roda fatal já levou a seu termo.Para trás 'e que ela não torna!
Sempre rodando, avança para o fim, que a morte importuna há-de vir trazer-me! É fim, neste mundo, em que sou estrangeiro, pois que, em seguida, começa a vida eterna, já fora dele! É esse o meu destino que Deus bem conhece, desde toda a eternidade!
Não me deixo prostrar, ante a ideia da morte! Um destino glorioso me espera, além-campa, se eu amar a Deus, acreditando firme em Jesus Cristo!
Diz a Escritura: "Quem acreditar e for baptizado tem a vida eterna".
A roda fatal iniciou, pois, no dia 19 a volta 67, avivando-me este facto o termo de Fevereiro. Restam só 11 meses, se Deus o entender, para ser realidade o início de outra volta. - o giro
68.
No concernente ao assunto, resigno-me sereno à vontade celeste! O que Deus quiser isso mesmo eu quero! Que o Céu me esclareça, abençoe e proteja, afim de realizar-se o que intenta de mim.
Tenho enormes problemas de ordem variada, incluindo no rol o aspecto moral.. Entretanto, não fico prostrado, porque Deus é meu Pai.Neste mundo, é coisa inegável que os filhos desventurados são os mais estremecidos. Tudo fazem os pais, afim de aliviá-los
Não procede igualmente Aquele que é origem da paternidade?! Não é Ele Providência que me guia e protege, defende e acompanha?! Para as minhas fraquezas há-de Ele volver um olhar de piedade!
O meu norte é Deus, embora tropece e faça desvios, ao longo do caminho. Caído não fico: tento reerguer-me, ficando em pé!
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Lx. Belém
1984-03-01 " Não tirem os vossos chapéus
Ouvi isto uma vez a um dos locutores da nosa televisão. Sempre que o facto é ergistado, fico logo em brasas!
Professor de Português, vai para 4 décadas, afigura-se o caso puro atentado. A gravidade aumenta, se atendermos à fonte que lhe dá
origem, pronta expansão e até garantia!
É um horror que maus locutores apareçam em público!
Devem ser preparados, com o máximo cuidado, nesta matéria,
para que o idioma não seja ultrajado, por modo tão cruel!
A língua portuguesa é, sem dúvida, o próprio respiro da nossa alma. Por onsequência, devemos esforçar-nos por mantê-la genuína, autêntica e pura. Ao invés, fica logo alterada , ilegítima e feia.. Há-de conservar-se igual a si mesma, de maneira tal, que possa reconhecer-se, em todosos lugares, através dos tempos.
Já é mau e perigoso incorrer em barbarismos, utilizando insensatos palavras estrangeiras, sem qualquer motivação!
Entretanto, há um crime superior: atropelar, a frio, a sintaxe
portuguesa. É isso, na verdade, a nossa Língua na própria essência.
Estão neste caso os exemplos seguintes. dentre os muitos e variados que podia citar haviam homens; vende-se couves; a triste ocorrência teve lugar ante-ontem; tirem os vossos chapéus.
Tais solecismos, como outros quaisquer devem ser banidos, sem dó nem piedade! Está posta em causa a nossa identidade como povo livre, capaz e idóneo.
Bom. Vejamos um pouco a razão do barbarismo
O termo 'vossos' é um pronome adjunto ou 'adjectivo possessivo', como já foi chamado e designa a segunda pessoa ; é do número plural e de género masculino.
Ora bem. O termo 'tirem' é da terceira pessoa, número plural, no conjuntivo presente, usado aqui, como imperativo.
O sujeito, olhando nós à pessoa do verbo, tem de ser, pois, não um pronome, que seria "vós", mas uma expressão do número plural: os meninos, os senhores, os homens, as passoas presentes.
Todas estas expressões e outras idênticas exigem, de facto, a terceira pessoa , o que sempre aconteece, na Língua portuguesa, quando alguém. se expressa, de maneira cortês
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Lx. Belém
1984-o3-02 Cont.
De quanto se viu, no Diário precedente, infere-se logo que não é correcto dizer como segue: os meninos tirem (terceira pessoa) , os vossos (segunda pessoa) chapéus. Havia incongruência, com o nome de 'barbarismo'
É então disparate usar o dito verbo na terceira pessoa, e o pronome na segunda!
Se quisermos empregar 'vossos chapéus', necessário se torna modificar também a pessoa verbal Assim, pois: não tireis os vossos chapéus.
Neste caso, já está correcta a frase portuguesa. Entretant, o dito linguajar não deve empregar-se indistintamente. Fica muito bem, se falarmos com iguais, que tratamos por 'tu'. Isto, porém, nem sempre acontece.
Lidando nós com pessoas mais velhas, com os nossos superiores ou alguém desconhecido, fique ele embora, em grau inferior, na escala social, é de longo uso tratar por 'senhor'
Ora, manda o costume e o uso da Língua empregar o verbo na terceira pessoa e não na senda.
, como faz, por exemplo, o idioma inglês e também o francês: you should get up early; vous devez vous lever tôt
A Língua italiana bem como a espnhola usam também a terceira. O mesmo sucede com a Língua alemã.
Mercê do que aí fica, não podemos alterar o uso da Língua!
Conservá-la pura, genuíne e autêntica,é o nosso dever. Respeitando a Língua, respeitamos , por igual, a nossa identidade.
Evitemos, pois, que ela se corrompa ou então degenere.
Que acontece a um corpo, já entrado em corrupção?!
Desaparece breve, não podendo realizar as funções específicas e perdendo logo a capacidade que lhe é peculiar!
Voltando à frase que temos sob os olhos, deve empregar-se como fica adiante: " Não tireis os vossos chapéus"!
É o chamado tratamento de 'tu', " Não tirem os seus ( dos senhores, dos meninos, dos homens. de vocês, das meninas) chapéus"
Fazendo de outro modo, é criime grave e imperdoável contra a Língua Nacional.
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Lx. Belém
1984-03-o3 A partir de 22-2 1984
Surgiu, nesta data, mais um cuidado: mobilar a casinha que agora me pertence, embora só pagasse metade! O resto que falta não está definido.nem eu sei bem como isto há-de ser! Peito levará, mas com sacrifício.
O andar não é mau, entretanto, olhar para ele, estando vazio, é anguatiador! Só paredes nuas, torneiras e louças. Estas, claro está, respeitam à cozinha, estando assim.
Há, pois, realmente, quantidades enormes de coisas variadas que lá se requerem, desde a cozinha às casas de banho, sala comum e seus três quartos.
Como vou preenchê-los?! É o que resta saber. Irá lentamente, à base de esforço, reflexão e prudência. Até porque hohoje há muita vigarice!
Por outro lado, é bastante difícil equilibrar as finanças, em épocas destas! Irei, pois, de meu vagar, agindo por fases
A primeira coisa, assaz necessária é a mobilia dum quarto.
Somente depois, estendo a minha acção`às restantes divisões. Ora, sendo assim, disporei, talves, de 17o contos para este fim.
Os objectos visados hão-de ser os seguintes: cama (barra) e colchão, guarda.fatos simples. mesinha de cabeceira, cómoda e cadeira, espelho e moldura.
Neste sentido, partirei de uma base de 400 contos, que projecto arranjar, para levar a cabo o grande objectivo.
Preferia, claro está, uma barra metálica, à madeira habitual, mas ignoro ainda qual a resistência .
O guarda-fatos precisa de ser amplo, caso contrário, não ficam devidamente os casacos de uso.
É meu desejo apontar ao alvo, durante o mês corrente. Se nada houver contra, vou prosseguir em Abril e Maio. No final deste mês, haverá, pois, um bom dispêndio de 4oo contos!
Uma dívida enorme!
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Lx. Belém
1984-03-04
Será esta, de facto, a última transferência?
Cheguei a convencer-me, durante longo tempo, de que o meu destino, cá neste mundo, era algo semelhante ao dos próprios ciganos!Na verdade, houve, afinal, tanta deslocação, até ao presente, que fiquei transtornado! E não só este aspecto, que era já bastante!
Quanto a prejuízos, temos conversado! Se não, é ver! Deslocação de Vide-Entre Vinhas ( Celorico da Beira) para o lugar da Vide, ( concelho de Seia); mercê de enfermidade, regresso extemporâneo ao berço natal.
Daqui, rumei eu logo às proximidades da velha Guarda ( Outeiro de S.Miguel), permanecendo neste ermo, durante 5 anos.
Em seguida, fiz caras a Pinhel, com os meus trastes a acompanhar. Ali, foram 7 anos.Tal como Jacó, a servir Labão!
Depois, arranquei para Manteigas, onde vivi 15 anos, envolto em neve! Seguidamente, leventei ferro, entestando a lisboa. Aqui ficaram os meus trastes que, passado meio ano, foram de barco,, para a vila do Chitembo (Angola, distrito do Bié). Neste local. foram só três anos, por causa, já de vê, do 25 de Abril!.
. Em 1975, saí do Chitembo, rumo à fronteira. Fui recebido, num extenso campo de refugiados, mantendo-me ali, por cerca de dois meses, sempre acompanhado por milhares de infelizes!
Não podendo suportar a dureza da situação, evadi-me dali para o Cuangar, fixando-me lá, pelo espaço de alguns meses. Sempre o Taunus 17 me fazia favores, transportando as malas.
. Da terra angolana, passei à Namíbia, arribando a Nyangana., junto à margem do Cubango (rio) .Recebigo na Missão, f xei-me no local, por mais de 4 anos. Parte da bagagem levei-a depois rumo ao Katere, onde leccionei, durate esse tempo.
Em fins de 79, deixei a Namíbia . para chegar a Vinduque , capital do Sudoeste. Desta cidade, iria em seguida a Joanesburgo e depois, finalmente. viria de novo para Lisboa, onde agora me encontro.
******????????????????????
Lx. Belém
1984-03-05 Cont.
Parte da bagagem viera de barco, ao passo que a outra seguira de avião.Vencidas que foram as dificuldades, levei as malas a casa da prima Aurora, que vive no Areeiro. Logo que foi possível, arrumei-as então, numa exígua dependência , anexa e pertença da igreja de Alcântara..
Seguidamente, instalei-me pronto, na Rua Silva Carvalho. em casa do amigo, Dr. João Afonso, onde pus o necessário.
Mais tarde, porém, oferecendo-me quarto o Prior de Alcântara,, na sua residência,, levei os tarecos, naquela direcção.
Ao fim de quase dois anos, nova transferência, com rumo a Belém, onde agora resido.
Entretant, devido à nova situação ( a compra de um andar), importa, finalmente, assentar de vez, sem que haja, no fururo, qualquer outra mudança.
Já era bom tempo! Caramba! Nem os ciganos terão penado tanto! Meu Deus! Que grande maçada! Tanta desolação! E sempre sozinho, já para arrumar, já para carregar! Como pôde ser isto?!
Só no Chitembo é que fui ajudado: estava lá minha irmã!
Quanto ao mais, ninguém presete! Só Deus e eu!
Bom! Tudo passei. Não quero lembrar esse tempo lastimoso!
Novo rumo desejo, para acabar em paz aqueles breves dias que restam ainda!
Com esta finalidade, levei já 20 livros, para a terra de eleição! ( Amadora ). Embora falte a mobília, vou já transportando os poucos haveres. De cada vez, tentarei alguma coisa! Indo 5 ou 6 vezes, vou conseguir a transferência global
dos livros que tenho. Ficando alguns, irei mais vezes!
Roupas e malas, tudo irá, por igual!
Com persistência, levarei a bom termo o projecto que formei!
À falta de estante, coloquei-os na despensa, aguardando na calma
dias bem melhores! Sinto alegria, nestas diligências, pois me lembro, a propósito, que são as derradeiras!
Que bom é, ns verdade, possuir uma casinha! Ter eu a chave! Sentir que é minha! Talvez, enfim, descansar!
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Lx. Belém
1984-03-06 Já desinteressam anúncios de jornais! Havia longo tempo, que vasculhva na imprensa, em busca dum achado, casa suficiente para a família, satisfazendo em preço e outros quesitos. Por esta razão, comprava, geralmente, o Diário de Notícias.Uma vez em meu poder, volvia logo pre meses, sempre neste enfado . Podia até dizer que foram 4 anos!
Andava saturado, não podendo alguma vez enxergar o final!
Fosse eu desprender-me ou então sossegar! Mesmo durante a noite,, o sono fugia, para ceder o lugar à imaginação, que se espraiava, muito longamente, em voos arrojados..
Depois, eram chamadas, umas sobre outras, averiguando, cuidadosamente, acerca de tudo, quanto vinha a propósito .
Por final diligência, ajustava novo encontro, afim de examinar, com os próprios olhos, o estado exacto, em que o andar se encontrava
Perante isso, arriscava propostas. sempre cautelosas, e abaixo do valor,aguardando ,com empenho, o desfecho do negócio.Fosse tal proposta a maior de todas! Entretanto, por via de regra, saíam furadas as minhas contas!
Quatro casas me foram sonegadas por outros compradores:
duas, na Amadora, uma em Algés, outra ainda, na Colina do Sol.Todas elas mais baratas: 22oo contos (duas); 31oo; 32oo!
Uma das primeiras agradava bastante! Mas, enfim, tinha de ser a que já possuo!
Agora, não me pede o coração que leia mais anúncios!
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Lx. Belém
1984-03-o7 Amor de Mãe! ( 14 anos de Imolação!)
A mulher, como disse alguém, é o céu deste mundo, Um orador sagrado juntou o seguinte:" E a mãe é o sol deste céu".
Não ´e preciso ir longe, para ver confirmada esta grande verdade!
Cada um de nós, bem o sabe, a rigor, por experiêmcia própria, Efectivamente, as nossas mães deram prova cabal, para justificar o que fica exarado. Quamtos sacrifícios, quanta imolação, quanta solicitude, amor e carinho! Não foi isso, realmente, que todos sentimos e observámos?!
Em abono do exposto, apresento um caso, dentre muitos semelantes
Foi há pouco a enterrar uma jovem rapariga, com 18 primaveras. Aos 4 anos, atacou-a a meningite, ficando paralítica,.
surda e muda. Além disso, não pôde jamais, fazer uso das potências.
O caixão branquinho, onde era transportada, apresentava o tamanho duma simples criança, de 8 a 9 anos. Demais, fazia tudo na cama. Assim permaneceu, até aos 18.anos, em que a bronco-pneumonia a veio furtar ao convívio dos mortais. Este, o facto lastimoso! Casos iguais não são muito raros.
O que vejo, surpreendido é o modo invulgar como a grande amiga procedeu no funeral.
À encomendaçao, não pôde aguentar-se: deu-lhe um fanico , estendendo-se logo, a todo o comprimento. Depois, contra a minha expectativa, prorrompeu em gemidos, lamentos e ais! As
lágrimas surgiram, banhando-lhe o rosto
Não é admirável tão bela atitude?! Realmente, poderia alegar que
era um favor. concedido pelo Céu, afim de aliviá-la de cuidados e canseiras! Mas não! Em vez de alívio, descanso e paz, aquela mãe
extremosa ficava angustiada, aitamente infeliz, incosolável em suma!
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Lx.Belém
1984-03-08 Outra Aventura
Conseguindo habitação, é já um grande passo, em ordem ao futuro. Isto, é claro, havendo receita , em grau suficiente, afim de manter a palavra dada.
Hoje em dia, é muito delicado. Sáo, na verdade, quantias astronómicas.Quatro mil contos ou cinco mil! E não passam elas de casas modestas! Quando bem calha, não vão além de três assoalhadas! Esta a pura realidade! Bom.
Supondo que está paga, entra-se nela, mas com tristeza a
inundar-nos a alma!. Só paredes e telhados, louças de cozinha como da retrete! Móveis... uma sombra!. Como é angustiante um espaço vazio! Nem um simples banco!ou uma cadeira!
Que fazer, pois, em tais circunstâncias?! Resposta difícil, querendo expressá-la!
É que, na verdade, com tamanhos encargos, procedentes da compra, que vou eu fazer?! Como descobrir e levar a bom termo o projecto da mobília?! Só com esperas, juros e letrar?! Ainda assim, poderei satisfazer. ao menos em paerte?! Deus o sabe. Entretanto, é preciso começar, Para isso. ver e inquirir, em diversos lugares, afim de inteirar-me e fazer uma ideia, chegando, por fim, a conclusões mais seguras.
Movido por este plano, convidei a mana Agusta, para fazer companhia, no intento em questão.. Andámos, andámos, ora a bater sola, ora de elctrico. Durante o percurso, visitámos o Gradella , o velho Chiado, a Moviflor e outras ainda, incluindo no rol, uma em Alcântara e outra ainda, na Angelina Vidal.
Para tirar conclusões e chegar a decidir, já foi bastante.
Posso afirmar que é preciso cautela e tacto apurado! Muita fantasia, coisas elegantes, preços muito altos e pouca solidez
Evidentemente, preciso de objectos que sejam duráveis
e tenham bom aspecto. Somente para um ano, a coisa não agrada!
Conclusão geral: entre 7o e 100 contos, já consigo mobília de
certo jeito. Menos do que isso não vale a pena!.
Refiro-me, é claro, à mobília de quarto, por ser a primeira que vou adquirir.
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Lx. Belém
1984-03-09 Cont,
" É fraqueza desistir da Obra começada".
Foi sempre o meu lema:lançado num projecto, havia de acabá-lo, custasse ou não! Embora já com 66, ainda não me recuso a empregar diligências, fatigantes que sejam..
Apurados que foram os dados anteriores, ficaram de olho os móveis de quarto, lá no Gradella. Outros ainda me chamaram a atenção, em grau mais débil.
Trata-se de mobília, com estilo definido, à Luís XVI.
Os olhos de minha irmã fixavam-se nela. Mercê do facto, elogiava os trastes, não se furtando a grandes encómios. Não falava abertamente, por causa do preço.- 170 contos!,Entretanto,
pelas entrelinhas, notava-se o interesse!
Eu, por minha vez, andava indeciso, com fundadas razões. Fazia
cálculos e somas diversas,, tentando averiguar os dados precisos que me deixassem lançar. Tanto insisti, que veio a decisão.
Ao fim do almoço. que foi mais cedo, atiro-me ao Grandella: viatura 49,metropolitano, jundo do Marquês,e estou no Rossio.
Daqui ao destino, são 5 minutos, bastante escassos. Subo, depois, a Rua do Carmo, pela banda esquerda e olho furtivamente, para as montras do lado.. Havendo inquirido. já não pude ver o que desejava.
O material de quarto fora substituído. Alguém me precedera! Fiquei prostrado! Sendo única a mobília, tinha-me fugido!
Agora, pois, estou indeciso: vir-me logo embora ou subir ainda ao 5º andar, fazendo averiguações? Opto por isto! Ao chegar ali, noto precisamente, o que eu então menos desejava: já estava desmontada a referida mobília.
Cai-me o alento, apercebendo-me do triste facto. Quase fico sem fala! Vendo-me pois, assarapantado, aproxima-se alguém
oferecendo seus préstimos. Revelo prestes o meu desgosto, expondo o sucedido. É então que sei tudo. fora vendida, realmente. Apesar de tudo, havia duas ainda.
Uma delas já estava apalavrada: restava a outra. Por isso, arrisquei-me logo, não perdesse a ocasião, que se estava esgueirando.
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Lx. Belém
1984-03-10 Cont,
Avanço, pois, declarando o meu pensar. Confesso ali: gosto da mobilia, por que não dizê-lo?! Entretanto, vou expor as condições, em que posso levá-la: a 10 de Abril, vence-se um título, na CGD. Se desse agora uma parte, ficaria o restante para essa altura.
O empregado fita-me insistente, dando a perceber (se eu bem entendi) ser dinheiro empatado, sem nenhum lucro, pois queria, na verdade, preparar as coisas para nova remessa.
Mostra-se ali hábil, na defesa porfiosa daqueles interesses que o ligam à`Firma.
"Há muitos clientes... Pagam o total! Se fossem três dias...
o máximo 8 ! Quando muito 15! Agora um mês!..Com quanto iniciaria ?.
-- Talvez uns 30%.!
-- Não, diz ele. para 3o dias, entregando metade...
Está dito, remato eu logo. Passo um cheque sobre a CGD.
Nisto, irrompe, acentuando bem: Vou falar com a Gerência, pois já me transcende o assunto em causa.
Ele afasta-se e eu, então, fico cismando, para fixar depois,
com grande interesse, o guarda- fatos da linda mobília; o belo espelho,à Luís XVI, a cadeira e a cama e assim também a própria cómoda.
Não se trata ali de folheado a mogno! É madeira. ´Por esta razão, as partes de suporte ou que exijam resistência, não sofrem dano.
Bom. Passados momentos, lá vem o senhpr, brilhando no rosto a marca da alegria.
-- Estou autorizado, Vamos pronto ao escritório, para ajustarmos o resto..
Pedem-me então o BI e o endereço.Tudo proporciono, em escassos minutos. Passado o cheque. no valor exacto de 65 contos, marca-se o dia para a entrega da mob«ilia e seu e seu pagamento de maneira integral,
Fica ajustado que será de manhã,, logo por noie numa terça-feira, já que só em tal dia ou sexta-feira é que sai o carro na direcção de Sintra.
000000 Até ao dia 10, fica armazenada., esperando a transferência. É um mês exacto que tenho de esperar.
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Lx. Belém
1984-03-11
O que agora me ocupa é levar os trastes, daqui para a Amadora, Ando nisto há dias. Hoje, fui lá uma vez. Conto ainda ir lá mais outra, logo por noite.. Sucede, não raro, que vou três vezes . Tenho pouco a levar mas, ainda assi,m, origina cuidados e gera canseiras.. Só os livros! Entretanto, j+a os levei todos.
Ontem, iniciei, desde logo, a transferência da roupa, Utilizo para isso (no tocante aos livros) a mala pequena,, que é useira e vezeira, em tais operações. Ando já fatigado, pois custa de morte subir ao 3º andar, se for carregado! E não apenas isso!! Ir daqui para a carreira e, lá na Amadora, da carreira para casa!
Entretanto, uma coisa me anima: é a última fadiga, em questão de transferências. Ali, de facto, é já para ficar! Esta razão é que pesa imenso! De outro modo, não aguentaria! Ao longo da semana, conto fazer tudo, não havendo entraves.
Aparecem tarefas a que logo renuncio, pois tenhp despesas que não posso evitar. lém disso, outras coisas surgem, que não,, posso arredar. Já nem falo na escrita que leva diariamentee, uns bocados largos. Com estas andanças ficou prejudicada, mas +enso em breve colocá-la a nível.
Uma vez transportadas as coisas que viso ficam lá na Amadora, aguardando ensejo, para serem arrumadas, no devido lugar. Mesnha s de cabeceira, guarda-fatos e cómoda, já permitem espaço, para guardar muita coisa.
Para os livros é que não tenho estante Verei, pois como hei~de fazer! Uma estante desmontável? Seria talvez ideal!
Por enquanto, utilizo a despensa, integrada, na cozinha. Po ser um tanto ampla, recebe muitas coisas..
Em Abril próximo. requisito a água.. Em último lugar, virá, com certeza ,, a energia eléctrica. Montes de coisas se vão juntando Se Deus quiser, levarei a bom termo este"Cabo das Tormentas".
Os meus 66 guardam ainda energia bastante, para estas canseiras.
Quero muito a fundo, viver descansado os anos derradeiros!
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4Lx. Belém
1984-03-12 " Os Portugueses não querem uma mulher, aqui .em Belém"
Se não me engano, era na verdade o Correio da Manhã que trazia o título, na primeira página. Passava eu no Calvário, quando o jornal se ofereceu à vista. Não tive ensejo, para ler o conteúdo, afim de assegurar-mme das razões invocadas.
Entretanto, chamou-me a atenção e fez que pwnsasse, durante alguns dias., Como fruto maduro que guardei para mim, aí vão alguns dizeres, referentes à questão
Tenho para mim que a mulher, em geral,, é igual ao homem ante Deus e a sociedade, no tocante a direitos como a deveres,
Entretanto cada um dos sexos está fadado para funções específicas Por esta razão, não deve o outro sexo tentar exercê-las. embora em abstracto, disso fosse capaz.
A estrutura física e assim a psíquica diferenciam, em grau elevado, os sexos em causa. Não vou eu enumerar os casos diversíssimos, em que apenas um dos sexos é chamado a agi.
Limito-me apenas à presidência,
Uma mulher teria, de facto, engenho bastante, para assumir tão alto cargo? Como ser racioal, um tanto experiente arguto, arguto e sensato, admito que sim, mas só na falta absoluta dum ente varão
Na verdade, a chefia dum povo, já na presidència, já no governo exige tamanho esforço e disponibilidade, sangue frio e persistência, que náo é de pedir tanto ao sexo feminino.
A própria natureza, estruturada por Deus,, requer outrras vias.. O papel da mulher é muito outro: como mãe, educadora e mestra,, isso está bem.
Na chefia indicada não vem a dar certo!
Infelizmente, porém, devidi a carências, tem ela de consagrar-se a outras actividades.
Mais: não serve um homem qualquer. Há-de ser um civil.
(não militar!), experimentado pela dureza da vida e muito calculado: íntegro de costumes, honesto e calmo, imparcial e bom,, apartidário,, prudente e arguto
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Lx. Belém
1984-03-13 " A como é a Nêspera?"
O Albaninho da Sé foi quem o referiu..De facto, nunca eu sonhara que o caso se desse! Sabia alguma coisa, acerca de Mortágua , onde causa furor, se alguém perguntar: " Quem matou o Juiz?"
Fiz a experiência, ainda em rapaz e fiquei ciente.
Quanto ao Porto, nada conhecia, referente ao caso.
Segundo o Albaninho, arrisca-se muito quem ouse alguma vez fazer a pergunta: " A como é a nêspera?
Nada importa que seja de boa fé ou reine a ignorância, no tocante a isso! Quem proferir aquela palavra, na cidade tripeira, já sabe, de antw mão que fica mal visto, podendo arriscar-se ainda a pior! Este é o facto em si.
Filosofando agora, acerca do caso, deixo no Diário o que sinto e penso, em tais circunstâncias( estas ou outras), há duas atitudes que é uso verificarem-se: 1. de pronta reacção?;de total passivismo?
A primeira delas gera logo entusiasmo, sendo até encarada, à maneira dum filão, que produz bem-estar, prazer e alegria. Quanto mais furor se erguer na vítima , tanto maior o empenho e
frequência no exlorar do facto.
Por outro lado, corre de boca em boca, sendo experimentado porgente endemoninhada, que a tudo recorre, só para ferir e alterar o ambiente! -- 2 . Passividade.
A questão agora apresenta-se ao invés. Não havendo reacção, perde logo o interesse. Ninguém se entusiasma! O caso em si torna-se banal e cai na insipidez.
É este o segredo: não ligar importância, mostrando.se indiferente!
Alguns aí há que até ajudam, na própria festa, rindo prazenteiros, juntamente com outros, que intentariam vexar o próximo. Procedendo assim, acaba o filão. A ninguém interessa!
Perdido o entusiasmo, já não vale a pena!
Assim fica em paz quem de outro modo, passaria maus bocados!
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Lx. Belém
1984-03-14 " O Círculo"
Oivindo a palavra, acode-nos à mente uma figura redonda formada, já se vê, por pontos equidistantes dum ponto comum, que afinal é o centro.
Era isto, mais ou menos, o que a gente dizia, no tempo de estudante.,. Dentro em breve, já lá vai meio século! O tempo não anda!
Voa, sim, e desaparece! Mas, voltando à questão, proponho agora, frisar aqui bem o que trago na mente: além dos círculos, ditos geométricos, estudados na Escola, havia também os do tempo de rspaz, no jogo da "chona"
Chamávamos "ola" à dita figura.
Ontem, porém, surgiu , de improviso, outra espécie de círculo.
Sucedeu na Amadora, lodo à paraem do auto-carro, Rua Alfredo Keil, em frente do edifício que anda em construção.
A vida presente é feita de surpresas. Quem tal diria!
A verdade, porém, é que o facto se deu! Como ia dizendo, chegado que fui ao dito local, após haver deixado a 27 de Junho,
tentei aguardar. Interessava-me então a carreira de Belém. ou até a de Alcântara, se não outra qualquer: Benfica- Rete Rios ou então Lisboa..
Uma vez ali, observo o panorama, ao longa e ao perto.
Juntinho a mim, depara-se logo um cavalheiro aprumado, já passante dos 50, melhor diria, talvez,vizinho dos 60.
Alto e magro vestia a rigor, não esquecendo a bela gravata, de nú impecável, sapatp engraxado, calça preta e bem vincada, e
casaco cinzento. Usava chapéu e ostentava aspecto de quem vive feliz. e não teme a existência.
Até aqui, tudo muito bem.
Eis senão quando puxa do cigarro, pega-lhe fogo e chupa que se farta! A cada investida ., segue fatalmente funda cuspidela e, enquanto o faz, vira e revira, ora num sentido, ora no oposto.
Resultado? Um círculo nojento, que me encheu de enjoo e
até desamor â vida presente.
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Lx. Belém
1984-03-15 Uma Visita
Fora prometida, com muito empenho, sendo, ao mesmo tempo, vivamente desejada. Entretanto, os dias passavam, não chegando notícias do Dr. Isabel. Viria de Manteigas, sua terra natal, onde exercera , com tanto brilho e proficiència, o múnus de Clínico,
ao longo da vida.
A doença que o mina obriga a deslocações, até à capital, na mira fagueira de recobrar ainda a saúde perdida!
Não havia de ser essa a prmeira vez, já que o seu maal se se vem prolongndo há coisa de dois anos.
Há três semanas, dei eu o endereço e o número exacto do telefone a uma das filhas - a Elsinha - com esta finalidade: logo que chegasse. lá de Manteigas,far-mo-iam saber, pelo telefone.
Que havia de acontecer? O papel extraviou-se e o encontro gorava.se! Eu, por mim, não ia, julgando qie não vinha; de lá , não podiam achar-me, por não saberem, de facto, onde eu me encontrava-
Bom. Hoje, ainda cedo, no regresso do trabalho, irrompe minhs irmã, comunicando a nova:" Adivinha lá quem esteve aqui hoje de manã!
-- Sei lá!
-- Vai tentando! São duas pessoas da tua amizade: é mãe e filha!! Nem agora, afinal, com estes dados?!
Por mais tratos de polé, que desse, em breve, à imaginação, não pude chegar aonde pretendia. Sendo isto assim, resolveu intervir.
fornebendo os dados.
-- Foi gente de Manteigas: Dona Maria do Carmo e a filha, Elsinha! Os teus comadres já estão na capital, há 2o dias! Vinham prevenir-te, para ires visitá-los!
Pois bem, disse eu, hoje mesmo lá irei, após o almoço!.
Havia mau tempo, que foi, a rigor, um dia invernal, mas não resisti, Demais, não era longe! Desço brevemente a rua do Embaixador, entestando, em seguida, ao Museu dos Coches, para
tomar, em frente, o carro 49, que se dirige ao Restelo.
À terceira paragem, levanto-me prestes, afim de apear-me.
Havendo-o já feito, corto à direita.na mira de atingi a conhecida
Praceta : Alfredo da Cunha. Chegando ao número 7, rés-do- Chão direito, premida a campainha, aparece logo uma senhora, que se dirige a mim. Era realmente, Dona Maria do Carmo, que já não via, há 12 anos, por causa das andanças, no Continente Africano
e das complicações do 25 de Abril
*****
Lx. Belém
1984-03-16 Cont,
Em seguida, outras personagens entram em cena, figurando entre elas a vela empregada que se nomeia Amélia, e
faz, por assim dizer, parte da família, Veio, depois, o aflhado Luisinho, que deixara, havia pouco, os Estados Unidos, vivendo agora, segundo me parece, junto dos pais. Faltava a Elsinha que não tardou, e é, por sinal, a dona da casa.
A todos já vira, mas sem dar resposta ao motivo principal, que me levara, realmente, àquela habitação.
Onde estava, pois, o bom e velho amigo,Doutor Isabel, que há dois anos já, se encontra enfermo?!
Enquanto magicava, diz minha comadre: Subamos ao primeiro, que vivemos lá. No rés-do- Chão, a nossa Elsinha, dado que agora não tem à renda o primeiro andar.
Peramte a informação, não me faço rogado e subo prestesmente. Uma vez no átrio, hesito um pouco,,ouvindo-se logo uma voz pressurosa: Ali dentro!
Avanço de chofre, deparando-se logo o bondoso amigo, que se nostra risonho e ostenta bonomia, não obstante o sofrimento, que o vai amargurando. Irrompe, num ai, tentando soerguer-se.
enquanto vai dizendo: Olha o meu compadre! Já não sou o mesmo!
Seguem-se àpartes dum lado e outro, vindo logo a pêlo assuntos diversos, referentes, já se vê, ao nosso passado.
Manteigas e serões, pessoas de família, Angola e Namíbia.
Um ror de coisas, parte das quais envoltas em dor.
Ao passo que falamos, vou fixando atento o meu bom amigo,
que é,nesta data, uma sombra do passado!
Onde está agora o Médico prestável, sempre generoso, bom e disponível, cujas palavras eram, decerto, luz diamantina, para
iluminar caminhos e veredas?! Aquele ar gentil, insinuante e fidalgo, para onde partira?! O homem singular, culto e amigo, onde ficara?! O brilho fulgurante de ses olhos tão vivos, que dardejavam centelhas, onde se escondera?"
Que choque, meu Deus! Isto faz o tempo?! A isto conduz a terrível doença?! Ainda assim, gostei enormementte de voltar a vê-lo!
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Lx. Belém
1984-03-17 " Não tirem os vossos chapéus!"
Tenho para mim que tratei o assunto, mais de uma vez, em qustões semelhantes. Entretanto, por causa do mal-estar,
que amiúde se gera, de ouvir repetições, lanço-me de novo, armdo e afoito, para atacar o s rebeldes,
Ouve-se na Radio, não podendo excluir a prória televisão. Por isso, me levanto contra e desaforo
. Para mim, ofender esta Língua e denegri-la, é a mesma cisa que
insultar a minha alma, tentando cruamente destruição. Pois se a linguagem é, na verdade, o respiro da alma, importa, realmente, conservá-la pura, de modo es+ecial, no campo sintctico É nesta esfera que mais a ferimos.
Bem. Peguemos então. na frase citada. zonde está, realmente, o feio disparate?! É na concordância. A forma verbal 'tirem' termo de cortesia. que exige, por isso, a terceira pessoa.
O termo 'vossos' é da segunda. Logo, não há concordância.
Temos,pois, um erro grave.Em Inglès e Francês usa-se a segunda.
Cada idioma tem os seus caminhos. Já o Alemão usa a terceira.
Em razão exposto, a expressão correcta: Não tirem os seus
chapéus.
Sem cortesia, dizemos bem: não tireis os vossos chapéus.
Lx. Belém
1984-03-18 A mana Agusta a caminho de Vide.
Embora raramente, acontece, por vezes. Halja assuntos graves a tratar na Beira, logo se resolve uma viagem longa à terra natal. Isto sucede, não obd tante os problemas e vàrios empecilhos que breve se levantam.no sarilhoda vida.
Assuntos de propriedades, rendas e partilhas constituem um móbil que não é despiciendo. Ocorrendo, pois,razões semelhantes, à data presente, lá foi ela ontem, receosa embora, por causa de encrencas que se levantam com isso: despesas de viagem, incómodo e fadiga, sustituição, em Lisboa e muitas outras coisas que não posso enumerar.
Assente a ida a Vide-Entre-Vinhas, saiu já onte, pelas 8 horas,
Primeiro, rumaria a Santa Apolónia, estação ferroviária,.. . .
esperando ali pelo Manuel Martins, que viria de Corroios, para o
mesmo fim. Deste lugar, entestavam aPombal, onde eram esperados pela sobrinha. e respectivo marido.
Na carrinha Toyota ia o grupo seguir, a caminho da Guarda.
Gos tava imanso de acompanhá-los, mas a vida é madrasta, que tudo orienta com rumo indesejável! É o problema da casa nova, com arrumações e licensas várias, para tudo funcionar.
Bem. Ir à terra de origem, de ser excitante! Isto para mim que a deixei há 12 anos e não tenho saído Apenas fui a Manteigas
fazer uma conferência..
Que a mana Agusta venha em boa hora e traga para todos notícias agradáveis
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Lx. Belém
1984-03-19
Findou o primeiro mês da volta 67. Cham-lheàs vezes, roda fatal, pois se move noite e dia, contra os nossos desejos. Em
vigília ou no sono, ela gira e revira,cumprindo afanosa seu mister de rodar. Não atende nem espera,avançando pressurosa, com seus
próprios meios.
Os automóveis que tive rodavam também,mas era tãi diferente seu agir e atitudes! A maior parte do tempo ficavam parados, dando-se o caso mesmo durante o di! Quanto à noite, a questão não se põe! D e scansavam, pois, de longas fadigas, levando semaba s em recuperação! Assim compreende-se, nada objectando.
A roda fatal, que me arrasta para a morte, jamais descansou, um momento que fosse! Que grande maçada! Nem ao menos, de noite! Quer chova quer neve, faça vento ou frio, ei-la sempre correndo, afanosa, persistente!
Quem pudesse contê-la, ao menos de vez em quandoQ Nas não! Como por acinte, ela vai prosseguindo, na marcha veloz,
amomtoando hora s e fazendo séculos. Eu então, nem me apercebo!
Ela actua com perícia,, de ar sempre gentil e modos fagueiros! Não se mostra carrancuda ou ainda alheia.
Outra coisa me espanta, no lidar constante: mão precisa combustível! Antes fosse de outro modo! Efectivamente, dispendioso como é. geraria, decerto, algum comedimento-
poupando carburante; a existência parava, ficando a nossa vida mais longa uns anos! Por má sorte, não gasta carburante!!
Já se viu coisa assim?!
Poderei tolerar esse agir tão indano que me põe, dentro em breve,às portas da morte?! Acaso farei rosto a seu girar tão lesto,
que faz da minha vida um sonho veloz?!
Tem mão, alguma vez, ó roda cruel, pois não olhas à volta nem arendes o meu caso! Prossegues descuidada,, se não indife rente, como se, na verdade, fizesses bela obra! Mas não é!
Desfazes, num momento, o que os anos construíram! Por que és tu assim?! Reconsidera, ao menos uma vez!.
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Lx. Belém
1984-03-20 " Atrás de nós virá quem nos louvará".
Com esta faceta, ouvi-o no eléctrico, viajando para
Algés. Levava-me ali a compra de módulos, Belém-Amadora, na
Rodoviaria. Ora, sucedeu que alguém se lamentou, com ar de tristeza, pondo na voz acento e calor! Declarava a senhora: " Tantos meses em atraso! Além disso encontra-se a Firma em grava situação! Se ela fechar, como todos esperam,, que vai ser de nós!
A estas palavras, irrompe o Carteiro:, que estava ao pé de mim: " Atrás de nós virá quem bons nos fará!!"
Eu conhecia o rifão, com leve diferença: Atrás de nós virá quem nos louvará!
O motivo real que me leva a escrever, não é este, de facto! Tais palavras ajustam-se, a rigor, à situação delicada, em que todos nos achamos: iminência de fome, ana quia e desemprego,
inflação... desânimo!
Terá o Governo força bastante, energia e calor, eficácia até nas suas diligências?Se ao menos salvamos a parte económica! As coisas, no entanto, vão correndo mal! Há fome a rodos, em bastantes sectores; campeia a depravação; drogam-se os jovens;
faltam empregos!...
Mil e uma coisas, para resolver!
Perante a realidade, opovo desanima, lamenta-se, a valer e perde a fé nos homens.
Dizia o meu vizinho, no dito electrico: " Olhe, sabe? Falavam do Tenreiro, no 25 de Abril. Chavam-lhe gatuno! Afinal, pagava sem falta aos seus trabalhadores! E agora?
Quem dera hoje que a nossa moeda voltasse ao antigo!
Uma nota de mil já não vale quase nada! Como isto vai mal!
Nem ordem nem salários nem sequer emprego! Banditismo, sim, por todo lugar!
Ah! bom Salazar! Por que é que mataram o Sá Carneiro?!"
Gostei imenso de ouvir o Carteiro ! Falava convicto e cheio de pena! Afinal, o povo luso vai abrindo os olhos!
É já um pouco tarde! Mas, ainda bem que eles vêem direito
e falam acertado!
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Lx. Belém
1984-03-21 A Ilha do Farol
O meu amigo, Doutor Isabel, natural de Manteigas, one levou tantos anos, curando enfermidades, falara-me em tempos , sobre a Ilha do Farol. Tanta coisa ouvi, que me aguçou o desejo de visitá-la um dia. Servia de pretexto a companhia amável do excelente . amigo.
Segundo informara, antes da minha ida para terra sngolana, era um sítio ideal, a Sul do Algarve, não longe de Faro, capital da Província, Após um ano de intensa fadiga,, sempre lutando, para sobreviver, sabia a mel a estada ali.
Nessa época, era seleccionada a gente que entrava.: apenas
artistas nos vários misteres, gente de Letras ou profissionais, recomendados por seus amigos, Como se vê, não ia qualquer, para a Ilha do Farol.
Por outro lado, ficavam desligados , em ordem ao mundo.
Com efeito, electricidade não havia ali; recusavam os jornais e
icava muda a própria Radio bem como a televisão. Timbravam nisto, para sossego completo de coração e espírito.
Como há-de ser belo passs ali um mês, em total silêncio, liberto de ruídos e outros incómodos! Livre de cuidados elonge do bulício , em que sempre mergulha a nossa capital, é como bálsamo, de tipo mefític, vertido na alma!
Demais, sem poluição nem emanações, o organismo retempera-se logoe ganha novas forças
Ante a perspectiva, enchi-me d e ânimo, antegozando apetecíveis delícias, naquela mansão! Entretanto, houve de ir para Angola,
perdendo o ensejo de conhecer o local!
Agora, volta o problema a ter ocasião. Já me sugeriram a estadia na Ilha e eu vou nisso, com toda a alma! Apesar de tudo, foram-me dizendo que o 25 de Abril alterou, em parte, a face da estância. Já penetram elementos de outras procedências, modificando-se o faciesdo belo areal
Ainda assim, não vou desistir!
Ao que dizem, será no mès de Agosto. que há mais penetração e maiores abusos..
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Lx. Belém ??????????
1984-03-22 " Ficar debaixo de olho"
Nas minhas diligências, para dar com a Praça, Alfredo da Cunha, levara imenso tempo. Recorrera aos auto-carros que vão para o Restelo,27,49, 28 e 12.
O senhor mora aqui?
-- Sim, há vários anos que me gasto, por cá!
-- Sabe, por acaso, onde fica a Praça, Alfredo da Cunha?
--Não! Isso não! Jamais ouvi tal nome! Pergunte num Café ou Loja de Vendas! Há-de haver quem saiba!
Bom. Assim levei o tempo, em grande ansiedade, para localizar a Praça indicada, com vista a um encontro.
Teria chegado, lá de Manteigas, o meu bom amigo, Doutor Isabel
que já não via há quase 12 anos!
Foi em 1972 que o dexei, em Manteigas, sua terra natal.
Agora, está doente e muito combalido, razão pela qual viria a
Lisboa , para consulta.
Como suas filhas vivem na cidade, é muito mais fácil estacionar cá, demorando-se algum tempo. Simultaneamente, livra-se do clima, lá na Beira, onde ele é duro e assaz medonho, ao longo do Inverno.Fixar-se-ia, no mesmo edifício , onde mora a Elsinha.
Querendo visitá-lo, procurava, pois, o local do encontro.
Cansado, porém, de fazer devassas, vinha-me já embora, quando ali me assalta uma ideia luminosa: dirigir-me à Esquadra.
Com sorte andei eu, que logo alcancei o que desejava.
Perante o caso, não entro em delongas: vou passoalmente reconhecer o local.
Dava tudo certo! Um Largo extenso, com Árvore muito alta.
a servir de vigia e, lá no fundo, o prédio visado!
Fazendo-me anunciar, indaga a porteira, sobre o meu intuito,
Uma vez inteirada, fornece pronto os dados necessários, que logo aplico, seguidamente.
Surgindo a empregada, leva-me à cozinha, o que foi censurado pela senhora da casa, Ela, então, remata sorrindo: Procedi assim, afim de o terr debaixo de olho!
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Lx Belém
1984-03-23 Mudança
Trabalhava o Gonçalves, na Agência Tavares. Via-o sempre alheado e um pouco nervoso: Problemas de família? Doença a miná-lo)?
Descontentamento? Lá o que fosse, em boa verdade,
é que eu não sabia. Uma vez e outra andava sem alma, figurando um vencido, já sem esperança1
Aquilo impressionava-me! A existência é dura, segredava eu para os meus botões,
Bom. Os dias passavam e, recentemente, chega uma voz, por via telefónica. Era a dele. Entretanto, desta vez, parecia diferente. Fico intrigado e bastante perplexo.
Presenciando ele a minha hesitação, tenta desde logo pôr-me ao corrente, embora o vá fazendo, por meias palavras.
-- Sou o Gonçalves que andava na Tavares.!
-- Mas eu não percebo! Disse-me há pouco, se eu bem entendi que me está convidando para outra Agência! Como posso entender?!
-- Eu lhe direi, assim que possa!
À hora combinada, surge radiante o amigo citado. Não parece o mesmo! Cheio de vida e quase eufórico, todo ele é movimento,
graça e firmeza. Autêntico senhor, a quem houvera saído a grande taluda! Porquê?! Haveria, de facto, algo importante a mudar -lhe a existência?! Era o que, em breve, eu iria saber!
Deixara, na verdade, a Agência Tavares e bem assim o amigo Jorge, que era patrão. Desarmonia? Assunto de contas?
Descontentamento? Em seu dizer, não era o caso. Simplesmente isto: melhorara o vencimento! Ordenado chorudo, com visos de aumentar ( quem sabe até?)com sonhos mais altos que deixou entrever... Por outro lado,, as circunstâncias de trabalho são maravilhosas.
Já é gerente ou coisa semelhante! Passa tudo, afinal, pelas suas mãos! Corta e risca, segundo lhe apraz, Na falta do senhor io, é ele decerto quem o sbstitui.
Direi pois: é, ao mesmo tempo, agente funerário e gerente da Firma.Quase patrão! Esta a razão de ele andar eufórico!
Sempre é verdade que dinheiro e cargos, alteram num credo o viver dos mortais.
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Lx. Belém
1984-03-24
Desta vez andava preocupado, mas a valer!
Sabendo, há tempos, que o amigo Zé Serra fora para Manteigas, bastante enfraquecido, não pude repousar, embora o tentasse! Lembraram-me, a propósito, as coisas piores!
Um belo rapaz, cheio de qualidades, tendo, a rigor, aquilo que precisa, para ser feliz, não ia ficar para sepre doente! Recém-casado, olhava o futuro senhor da existência. Ele, na Tabaqueira, e a bela consorte no Magistério; posse plena do seu automõvel e
casa, para habitar, que mais desejava?!
Entretanto, a sorte, porvezes, é algo madrasta! Não iria fazer alguma das suas, no caso presente?!
Ou fosse anemia ou nervos em desordem,eu supunha, de facto, aquilo que não queria.
Bom. Os dias passavam, não tendo informação. Mercê do facto, vou-me à Tabaqueira, julgando, na minha, que já estava no cargo! Muito se engana quem cuida! Vem ao meu encontro o senhor António Bastos, qu refere certas coisas,ainentes ao assunto
Fico pior ainda!
Primeiramente, havia dito a Adriana (esposa): Está melhor e vai regressar, dentro em pouco tempo!
Depois, voltando ali, pela segunda vez, desdiz, num pronto o que havia afirmado: Está piorando e, provavelmente não volta mais! A estas palavras, caiu-me a tristeza dentro da alma! Seria verdade que o amigo Serra estava descontrolado, não sendo já capaz de voltar à faina?! Como ?! Não podia ser!
Estando o caso assim, decido-me logo e vou, pela manhã, direito à Amadora, Às 9 e 35, arrancava de Alcântara, na Rodoviária. No fim de meia hora, bastante escassa, já subia pressuroso a rua 9 de Abril. Ghegado que fui ao 41, entro ansioso no átrio exíguo, premindo a campainha,sem qualquer detença
Quem me atende ali, à hora matinal? A própria Milu que vinha de robe. Desculpa-se ela e convida-me a entrar, ficando sentado.
Iam levantar-se, afim de iniciar o novo dia.
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Lx. Belém
1984-03-25
Cont.
Encaminhando-me, pois, à sala de visitas, expõe brevemente a razão do atraso: a Catarina em acção! Fora ter-lhes à cama, convidando-os a ficar e usando as palavras: Os pais e as mães ficam agora junto de mim.. Todos, na casa, juntinho de mim! Sim!
Estava justificada, ante a minha pessoa.
Bom. Trocando impressões, esclareço eu: o que me traz aqui é
fácil adivinhá-lo! A desgraça do mano, o meu amigo Serra! Não
tenho notícias e preciso de saber o que vai acontecendo.
Além disso, quero ainda o número do seu telefone, pois há dias esqueci-me e parti sem ele.
Exposto o meu caso, intervém a Milu: Olhe: o mano está melhor e vai regressar, para alegria de todos. A Adriana pediu um atestado e foi para Manteigas. Aqui, à data, nada fazia senão chorar! Ultimamente, as coisas modificaram-se. Em breve espaço, os teremos conosco!
A estes dizeres, senti-me outro homem! Sempre era verdade que os meus pressentimentos iam falhando. Ainda bem.
Já tenho saudades do meu bom amigo! Foi ele o primeiro que, nesta cidade, me veio visitar, após mil diligências, para localizar-me! Sempre amigo e prestável, não posso esquecê-lo!
Que Deus o traga de novo e lhe dê o bem-estar que deseja e merece.
Em seguida, aproveito a estadia, para falarmostambém sobre alcatifas, alfombras e mobílias. Nem outra coisa era então de esperar! Trago o meu peito cheiinho de projectos, em ordem à casa! Quem há-de preocupar-se, a não ser eu?!
Tenho de ser eu, necessariamente.Foge, pois, a conversa, nesta direcção!. Palavra daqui, palavra dalém, projectámos visitar Casas de mobílias. Impera em mim, à data presente, um móvel prestante, bem ajeitadinho: uma estante para livros
. Entretanto, não pode ser à toa nem de qualquer modo. Não vai ela assentar, no próprio quarto,onde instalarei objectos com estilo?! Não irá destoar! Até as cores me vão preocupando!!
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Lx. Belém
1984-03-26
Hoje, como é habitual, já fui à `cidade. Não digo Lisboa, pois nela vivo eu. Onde fica o meu ninho, construído há pouco, aí é que eu vou, com bastante frequência. Levo sempre alguma coisa que deixo, sem ordem. Se não tenho mobília nem trastes meúdos!
Esta situação conto resolvê-la, embora com vagar!
Lembra-me o anexim.: Roma e Pavia não se fizeram num dia!
Desta vez, houve certa razão, como base principal. Em primeiro lugar, o sobrinho Isaías revelou desejo de visitar o prédio
Além disso, eu tinha em vista comprar já uma estante menor.
diria um "elemento". De facto, arrumara os livros na despensa da cozinha. É necessário desocupá-la agora, colocando-os noutro sítio.
Há-de ser o próprio quarto a fazer esse jeito. A superfície dele ultrapassa ainda os 15 metros quadrados. Em razão disso, vai dar cabimento à mobília de quarto, incluindo também a do
escritório.
Com esta finalidade, rumei à Interforma, onde achei, mais ou menos o que tinha em vista. O citado "elemento" dispõe, se bem me lembro, de 6 prateleiras, cujo comprimento não vai ultrapassar os 80 centímetros.
Segundo informaram, a visada estante é folheada a mogno,
podendo levar ainda um novo módulo. O preço deste ascende a 5 contos, e não sei quanto mais, Cada prateleira vai, ao que julgo, a
1350$00. O número delas pode ser aumentado Basta, na verdade,
arrancar os suportes e metê-los depois em outros orifícios.
Com este elemento, darei satisfação às minhas pretensões,
adquirindo novos outros, à medida que precise.
Ficou, pois, combinado entregarem-mo já, na sexta- feira,
dia 3o do corrente.
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Lx. Belém
1984-03-27 "Obrigado! Já não stou habituado"
Ao longo do percurso, que reailizo diariamente, observo muitas coisas e ouço outras tantas. Como protagonistas entram, por norma, velhos e novos, que houve sempre choque entre as duas idades. Hoje, porém, é maior a discordância.
Efectivamente, operou-se, em breve tempo,( ao menos assim o julgo. )enorme transição.Em nossa época, tudo se processa
de maneira veloz. As próprias gerações que actuavam, em regra, os seus 3o anos, reduzem-se agora a menos de dois terços ou coisa que o valha, Por isso, tinha de ser forte o embate em causa.
De uma parte, aqueles que lutaram, ficando ajoujados, ao peso dos anos e do mesmo trabalho, julgam-se com direitos a que não renunciam: acatamento, respeito e obediência; da outra parte, os jovens, ainda inexperientes, sonhadores e confiados, pensam levar a cabo o que outros não puderam. Abriram caminhos novos que ninguém imaginara!
Além disto, a sua presunção, egoísmo e teimosia, leva-os ao
desdém ou, pelo menos, a certa indiferença, perante os adultos.
É nestes embates que se ouvem, tantas vezes, dizeres originais,
harto espontâneos e sentenciosos.
Foi o caso ante-ontem. Encostado no auto-carro, achava-se um velhote, já bastante alquebrado, olhando tristemente para os bancos ocupados. Os seus lhos cintilantes e o longo silêncio eram
factores de grande clareza e reprovação!
Chanava ali as atenções, razão pela qual muitos dos presentes o fixavam então, com notável piedade, interesse desvelado e grande simpatia.
À volta, nem palavra! Os que estavam sentados mantinham-se quietos, ignorando por inteiro o que vinha ocorrendo.
Bastante perto, havia, nessa hora, moços e moças bem instalados, a conversar
Alguns dos mais velhos dardejavam raios sobre aquela mocidade. Por que não perguntavam se alguém precisava, oferecendo lugar àquele ancião que mal podia suster-se natrémulas pernas?!
Nisto, uma jovem ergue-se prestes e cede o lugar, com muita gentileza!
O pobre velhinho, sorrindo já e quase sem crer, declina o convite e vai dizendo, com muito acento:" Já não stou habituado!"
Entretanto, perante a insistência, resolve sentar-se, agradecendo, harto comovido
Não será de lastimar o que vamos observando?! O que vale~
realmente é que há excepções!.
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Lx.Belém
1984-03-28 Os Serões de agora
O designativo ajusta-se mal. De facto, chamamos serão a coisas de outro género, que se prolongam bastante, pela noite fora. A isto, porém, nunca eu me adaptei. Aplicava, a rigor, o famoso anexim: Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer,
Por esta tazão, já no tempo de rapaz eu me dava a isso.
O jantar havia de ser, por grande força, entre as 6 e as 7 horas.
Ainda hoje faço a mesma coisa!!Procedendo assim, vou contra a maré, pois em Lisboa, por via de regra, faz-se ao contrário.
Deitar já tarde, para depois se erguerem, com dia avançado.
Há sempre excepções, claro se deixa ver!.Os que devem madrugar são logo forçados a ir para o leito, a horas cristãs.
Quanto a mim, conservando estritamente os hábitos de longe, vou para a cama, após as 22, nunca ultrapassando as 22 e
meia.Centrado na meia hora, é ideal para mim. Se transgrido brevemente, é devido, por certo, a um caso especial.
De facto, veio para Lisboa o Doutor Isabel, compadre e amigo. A falta de saúde obrigou-o a tanto! Mercê do caso, deixou
Manteigas, instalando-se aqui, durante algum tempo, afim de tratar-se.
Acontecia, porém, que já o não via, há cerca de 12 anos. Com efeito, havia-o deixado em 1972, quando fui para África.
Havendo agora oportunidade, para extensos diálogos, era natural qu eu aproveitasse, Acresce para tanto uma bela circunstância: reside em Belém! Às vezes, até venho a pé, descendo em breve a Rua dos Jerónimos.
É, pois, no termo da rua das Pedreiras, melhr talvez, na
Praça e Largo Alfredo da Cunha., onde passo as minhas horas, em
francos diálogos. Não vou por cerimónia: só por amizade, funda e sincera.. Devido a isso, não olho ao tempo! Duas ou três horas: tudo está bem!
Para assunto que nunca se esgota, vêem a pêlo questões de Literatura, Arte em geral, Psicologia, História e outros.
Ainda agora é brilhante! e possui uma memória bastante invejável
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Lx. Belém
1984-03-29 Os meus Trastes
Havendo mudança, impõe-se, desde logo, uma série de medidas, entre as quais se distinguem: viatura de transporte; separação de objectos e sua transferêmcia; arrumação final.Tudo isto, realmente, implica desvelos,exige cuidados, origina problemas.
Para história de mudanças, é falar comigo! A vida inteira a mudar e arrumar! Não foi apenas em solo africano, vagueando por matas e matagais e dormindo ao relento, no meio de espinheiras!
Também por cá se deu algo semelhante ao viver dos ciganos: hoje aqui; amanhã, além!
Ora bom, Estas diligências dão, certamente,enormes canseiras, originam dissabores e tiram o sono! É que, muitas vezes, somos roubados, sem o notar! Já nem falo em despesas que, nesta época, são de temer!
Bom. Apesar de tudo, necessário se torna dar solução a casos destes! Nesta matéria, fiz a minha parte!
Gostaria de saber quantas vezes, ao certo, me desloquei à Venteira, para levar a cabo a tarefa da mudança!
Trinta? Quarenta? Certos dias, ia lá três vezes Geralmente,
duas não falhavam.
A útil carreira Belém- Amadora é que utilizava. Valia-me, no caso, o 'passe social' De outra forma, não podia ser!
Pr 1460$00, pagos mensalmente, posso deslocar.me quantas vezes precisar, todos os dias!
Pois bem. Servindo a pequena mala, já pus na Amadora todos os pertenc que, afinal são poucos: livros e roupas, malas e calçado, papéis e o mais..
Em Lisboa, pouco já resta, além do necessário.
Peguei-lhe com alna! Só de lembrar-me que é já derradeira esta minha tarefa! Dali, se Deus quiser, só para o Céu, Poder algum me tira de lá!
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Lx. Belém
1984-03-30 " Anda lá, pá!
Saí da Europa, rumo à África, em fins de Julho de 1972. Escoaram-se, pois, cerca de 12 anos. É um tempo considerável que origina mudanças e gera alterações, Coisa normal, já que tudo evolui, incluindo até certos casos de moral.
Circunstâncias novas interferem na vida... pontos de vista, ainda não alcançados... regras cediças que todos rejeitavam, pela
sua antiguidade! Muita coisa, seguramente, a que não posso aludir! Doze anos em bloco, causam, por certo, um ror de mudanças!.
Entre estas, algumas conheço, falando em geral. Reportando-me agora ao 25 de Abril, acho, de facto, algo de bom, em coisas banais ou superficiais.
Na essência, quero dizer, no cerne, apenas descubro motivos de repulsa que tiveram por fonte a grave distorção do 25 de Abril.
Ao longo da vida (conto 66), não houve jamais aquilo que diríamos fome generaliza da. Entretanto, hoje, é isso vulgar, em enormes camadas da nossa população. Contudo, o que agora me prende é o aspecto educativo... as relações sociais, o respeito que devemos às pessoa s mais velhas ou então idosas.
Se bem atento nisso, fico apavorado! Deu-se o caso ontem, ao fazermos caras à Praça de Espanha, deixando o Lumiar.
Era condutor o senor Armandino, conceituado gerente duma Agência Funerária. Ao lado, vinha eu. Quanto a idade, pouco diferimos. Até me parece que estamos iguais.
Bom. Em certo lugar, enxergámos um carrão, derreado sobre um lado, obstruindo o tráfego, Já antes disso se rodava lentamente.
Aproximando-nos mais, verificámos então que uma roda partira
As gentes acorriam. movidas ali pela circunstância: camião enorme, ajoujado sob a carga.
Os outros veículos afrouxavam a marcha, usando de prudência ou
então satisfazendo a vâ curiosidade.
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Lx. Belém
1984-03-31 Cont,
.Junto da viatura, havia muita gente, no geral, curiosa.
Uns lamentavam; outros inquiriam; outros ostentavam no facies leve sorriso. Por nossa parte, fazíamos tudo, para obter a certeza do que havia ocorridoo.
Rente ao camião, aguardava um rapaz que, pelos modos, queria trabalhar, mas não podia, enquanto os automóveis ocupassem a estrada.
Ao volante, o senhor Armandino era todo olhos, assim como eu. Havia, pois, contraste nas partes em questão: nós, por um lado; o rapaz e os demais que tentavam remediar aquela situação, por outra parte.
O intuito de uns era, pois, molesto àqueles que estavam.
Iria decorrer em pesado silêncio o momento angustiante?! Certo que não! Ao passarmos ali, com jeito e prudência, tentando ser morosos, explode o rapaz, com acento e firmeza: Anda lá, pá!
Fico desnorteado!
Como é possível tanta ousadia, garotice e à-vontade?!
É que, na verdade, o citado rapaz náo atingira a casa dos 30!
Por seu lado, o senhor Armandino vai, creio eu, a caminho dos 70
Com certeza, tem mais de 6o!
Ora, pelos vistos, encontramo-nos em face de gerações diferentes! Donde vem a petulância e má educação, para assim tratar um homem cavalheiro?!Nada valem os anos?! A experiência da vida, os seus contratempos e a fadiga suportada, afim de viver honradamente, sem pesar ao Estado nem â sociedade?! Que importância revestem?!
Oh tempora, oh mores! como dizia, no Lácio, o Orador Romano.
Para onde foi a vergonha honrada e o mesmo respeito?! Que é feito do amor e da gentileza que as pessoas nos merecem?!
Anda lá, pá! Que linguagem vilã, grosseira e canalha?! Que
maneiras atrevidas, baixas e reles?!
Até quando, pois, seremos nós vexados, por tais arreeiros?!
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Lx. Belém
1984-04-o1
Graças a Deus, que me oferece ainda um sorriso de Abril! Achando-me exilado, quanto eu suspiro por esta maravilha, que é, na verdade, o Abril em Porugal! Sozinho e proscrito, sem crime nem falta, como eu sofria, nesse tempo lastimoso!
Mas Deus e Senhor é sempre bondoso, paciente, acariciador.
Quão grato lhe fiquei, por este enorme favor! Permitiu, é certo, que os espinhos me cravassem, de modo especial, entre 74 e o fim de 79. Quanta dor e amargura, na minha solidão! Hoje, porém, estou sendo compensado!
É Ele, realmente, quem nos dá tudo e pode tirá-lo, aprazendo-lhe fazê-lo! Se tivermos fé, humildade e paciência, implorando vivamente seu perdão e ajuda, nunca falta a ninguém.
Verifico isto bem, no meu dia a dia!
O que estou expondo tem-me fascinado, a níveis diversos!.
Efectivamente, não é só a Natureza, amorosa e louçã, que me verte na alma os eflúvios maviosos da Primavera! Nem me atenho somente aos doces cantares das belas avezinhas, Não! É
também a minha alma e todo o meu ser que se estão renovando, pela graça divina! Sinto isso claramente.Não posso ignorá-lo, uma vez que seja esta a grande realidade!
Seja Deus louvado, pala sua clemência, grande benignidade e infinda paciência!
Quanto eu lhe devo, por tantos benefícios! Entrou na minha alma este Abril de maravilha que o Céu abençoado oferece aos Portugueses! Março, afinal, ainda foi carrancudo. assaz pesado. nevoento e chuvoso. Que grande contraste!
Hoje, por Deus. tudo mudou! Veio luz e calor, sorriso e ternura que a minha alma ansiosa acolheu delirante!
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Lx. Belém
19854--04-02
São 15 horas, menos um quarto! É cedo ainda, mas já fiz muita coisa: após Alcântara, aonde vou de manhã, permanecendo ali uns 90 minutos,encaminhei-me, desde logo, à Rodoviária, não muito longe do Pão de Açúcar.
A caminho já, tive de comprar alguns selos fiscais, no que gastei 181$00 , para efeito do contrato, relativo à água.
De facto, uma vez na Amadora, mandei prestesmente, à Junta de Freguesia, que chamam da "Mina", afim de inteirar-me do que é necessário, para conseguir o que trazia em mente: trazer a água para a minha habitação,
Domingo, juntamente, seguem também os papéis requeridos, impressos adequados, Bilhete de Identidade, caderneta predial, contrato de promessa de compra e venda e os selos exigidos por lei vigente.
Metido na bicha que já era comprida, quando lá cheguei,
houve, por certo, de exercitar ali a minha paciência, esperando largo tempo e suportando os cheiros de repulsa que se faziam sentir..
Por fim, lá chego ao postigo.Trocadas impressões e feitos para logo os vários considerandos, anotou o funcionário quanto eu preciso, ordenando em seguida: 680$00.
Neste momento, enchi-me de receio, julgando não chegasso o dinheiro que levava, mas enfim, lá se arranjou, pois ainda sobejaram 40$00
É, realmente, um pavor!Donde virá dinheiro, para tanta despesa?!
No tempo de Salazar, havia para tudo. O pouco bastava. Agora, porém, esgota-se tudo e nada se alcança! Cada vez é pior!
Bom, Dentro de 15 dias, terei água ao dispor, no 3º esquerdo, porta 6, na 27 de Junjo. É alguma coisa!Evitam-se maus cheiros Em seguida, o muito que falta e causa moléstia!
Nesta ordem de ideias, encontrando-me agora, na rua Elias Garcia, dirijo-me à Interforma,( Casa de Móveis), afim de ajustarmos o dia exacto para a entrega da estante.
Nesta mira, foi combinado e logo assente o dia 4, de tarde,
na próxima quarta-feira,
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Lx. Belém
1984-04-03 Aniversário Natalício.
Ocorreu ontem, celebrando-se a efeméride aqui em Belém, no número 7, rés-do-chão direito, Praça e Largo Dr. Alfredo da Cunha. O homegeado viu a luz do mundo, em 1903, contando, pois, 81 anos. Trata-se, afinal, dum Médico insigne, pois além do cargo que sempre exerceu com rara distinção e aprumo invulgar,
é também escritor, emergindo com brilho as duas facetas: prosador e poeta..
Sobre tudo isto, é um amigo dedicado, que muito aprecio.
Avulta nele a cultura, a fina distinção, a fé e a piedade, e o culto sincero que presta aos amigos.
Devido, portanto, a inúmeras razões, não podia estar ausente. em 2 de Abril, até porque, na verdade, raro será o dia, em que o não visite, ficando junto dele, durante longo tempo.
Após o copo de água que foi animado e cheio de unção, veio sem demora a parte musical. Fazia imensa falta a divina e bela Arte, para a qual viveu sempre e na qual exercitou a prole numersa. Esta marcou presença, como era de supor. O que estava nais longe era o Joãozinho, que vive actualmente, nos Estados Unidos.
Entretanto, lá o vi também
Neste passo, é grato nomear os restantes familiares, começando pela esposa, Dona Maria do Carmo, que chorava de emoção, ouvindo cantar. Notavam-se, pois, com muito carinho e grande
afecto, a Doutora Gracinha. o mano Luisinho. Elsinha e Micá, a
pianista, Guidinha, sem faltar a benjamina, Doutora Gildinha.
Também os netos disseram presente, começando logo pelo mais alto ( 1,85). o joão Filipe, com 16 anos; o primo André e a Margarida que deseja um dia vir a ser astronauta; não esqueça o Zezinho!
Bom. Saciados que foram todos os presentes, surge, para logo a viola da Elsinha que o distinto Médico empunha, com brilho, extraindo, em seguida, habilidosos arpejos
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Lx. Belém
1984-04-04 Cont.
O grupo está junto. Somente 9 pessoas: os pais dos rapazes e das cinco meninas. Entretanto, fico emocionado com esta cena! Os filhos cantam, pondo na voz calor e acento; o pai venerado arranca da viola, com fina perícia acordes vibrantes e tonificados: a mãe, arrebatada faz-se toda ouvidos e olhos inquiridores, donde lágrimas quentes irrompem,sem medida.
Não há programa: segue-se apenas a voz do coração.
Estamos em presença.de cancões da infância, executadas outrora, no lar paterno. Por isso, brotam espontâneas, como eco em fogo,
tocadas pela saudade. Basta que um lembre, para todos se integrarem,com ardor e sentimento..
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Eu não falo... não digo uma palavra! Estou fascinado, receando, por algum modo quebrar o encanto. É que,na verdade, aquilo para mim era qual mistério, vivo e candente, tocando já as raias do sagrado! Interrompê-lo, fosse como fosse, figurava sacrilégio.
O passado longínquo estava ali todo, em verdor e frescura:
cinco já casados e duas célibes. Mas isto não contava! Viver
uma vez mais na doce ilusão de voltar a criança! Isto embalava-os em doce fascínio!.
Prolonga-se muito? Que importa isso?! Ninguém se apercebe! Como é profundo o mistério do lar!
A propósito, vem também a famosa poesia do nosso Junqueiro:
" Ai há quantos anos que eu parti chorando Deste meu saudoso carinhoso lar! \ Foi há 20 foi há 30, nem eu sei ja´qundo\ Minha velha ama que me estás fitando\ Canta-me cantigas para me eu lebrar!"
Estes dizeres, harmoniosos e doces baixavam ao peito, ali
depositando suave fragrância.!
A hora habitual avançava para lá, mas o certo e seguro é que não pude arrancar-me a tal sortilégio
Estava emcionado, sentindo a valer a doce harmonia que um lar ideal extravaza de si.
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Lx. Belém
1984-04-05 A Catarina
Esta meúda, com 3 anos apenas, é harto exppedita e muito evoliída.Sendo filha única, ao menos por agora, concentram-se nela todos os afectos.de seus progenitores que senten orgulho e se revêem nela, procurando miinistrar,lhe os dados mais úteis que a idade exige.
Sem ela presente, a casa é nada.. Os adultos, após a faina diária, querem sossego, ordem e paz. Colocam no lugar os objectos de uso, orientando tudo, segundo o seu gosto.. Não havendo crianças, reina o silêncio, a estabilidade. É isso que a Tina põe logo em desordem. Papéis e livros, garfos e colheres, pratos e chávenas perdem o lugar, a eles reservado.
Àparte os monentos, em que brinca sozinha ou o faz com a família, é seus encantos a televisão que, por ser a cores, mais e mais a prende e retém segura.
Vindo os Marretas, ninguém a procure!Nem dá cara a ninguém nem liga nenhuma!. Fica logo alheia a quanto se passa!.
Da 'ultima vez que tomei o rumo da rua 9 de Abril, número 41, cidade Amadora , lá nos encontrámos. Por sinal, foi no 3º andar ,
pertencente agora ao amigo Serra, que é tio da petiz
Ao chegar ali, a todos saudei, com muito afecto, pedindo um beijinho à nossa Catarina. Sucecdeu, porém, que ela se negou, dizendo, sem rebuço, que não queria dá-lo. " Não quero!"
Coisas de criança! Fingi-me indisposto e algo amuado. enquanto dizia: não volto cá mais! Eu, aqui, não torno! A Catarina é má! Não me dá um beijinho!
Bom. A coisa passou e olvidei o caso.
Ela, porém, ficou preocupada, uma vez que. em dado momento, se abeirou de mim, com grande cautela, beijando a minha mão e fugindo logo.
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Lx. Belém
1984-04-06 Magnetoscópio
Se mais vivermos, então mais veremos! Aprender até morrer! Rezam assim os rifões populares, cuja veracidade ´e fácil comprovar. De surpresas vive o homem, até que morre, sendo a maior delas a que vem seguidamente..
Ainda cá na Terra, não ficamos isentos, segundo o anexim.
Passo a cofirmá-lo sem nenhuma detença.
.Quando em visita ao amigo Zé Serra, lá na Amadora,
convidou-me a olhar para certo objecto, que ele tinha adquirido, recentemente. Acedi ao convite, já se deixa ver, mas fiquei embasbacado. Em primeiro lugar, perguntei o nome.
Chamam-lhe "video tape recorder".O segundo e terceiro termo siignificam "gravador". A palavra'video' é que vem complicar. Se fosse Latim, não havia problemas: traduz-se por 'vejo'
Perante a minha hesitação, vem o meu amigo a dar-lhe outro nome, traduzindo o Francês 'Magnetoscope', segundo a palavra que temos ao alto.
De facto, há semelhança com outras da língua, o que acontece com telescópio, microscópio, etc.Dá magnetoscopio.
Em seguida, tentámos compreender, de maneira exacta o
verdadeiro sentido que as palavras encerram. O elemento final, proveniente do Grego, significa 'ver' Não se trata dum filme, segundo era uso, havendo utilizado máquina fotográfica.. É coisa
mais recente e genuína maravilha! Trata-se de imagens,captadas na antena da própria televisão, as quais ficam gravadas em banda magnética Por fim, vieram pormenores que me trazem banzado.
A última palavra que o Japão lançou e vai melhorar, ao que diz o Serra! Será em Junho ou Julho que o dito aparelho surgirá entre nós,.
Primeiramente, falámos só deste, recorrendo aos dados que
o Serra expôs, com enorme clateza
No Diário seguinte é que trato a matéria
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Lx. Belém
1984-04-07 Cont,
Pois o amigo Serra levou-me a entender, recorrendo a demonstrações, que fez em presença..Vendo-me embasbacado, mais se entusiasma na sua exposição. Seguem, desde já, casos
maravilhosos, por mim observados. Dentre todos eles, apreciei
sobremodo o que apresenta a imagem, captada na antena e,ao mesmo tempo, os sons e a voz..
Não se trata, como disse, de máquina fotográfica, a realizar um filme, por meio de fotos. A imagem é gravada em banda magnética. Isto, exactamente, fazia-se já antes, mas sem imagem.Agora. porém, é coisa admirável! Altos segredos da técnica moderna! Captar a imagem, sem necessitar de ver o objecto! Ao que nós chegámos!
É assim, realmente! Para tanto, além do aparelho que pesa, ao que dizem 4 quilos e meio, é preciso uma câmara e um transformador
O aparelho é fixo; a câmara,desligáda.
Em razão disto, ainda nunca dá jeito levá-lo paara o campo, mas consta que, em Julho, pouco mais ou menos, vai surgir o maginetoscópio,já no mercado: a última palavra que os Japoneses trazem: magnetoscópio .de quilo e meio, ligado à câmara,podendo accionar-se por bataria de carro ou outro processo.
Deste mdo, já pode utilizar-se, em qualquer lugar, integrando assim paisagens deslumbrantes que sirvam de funo,
O pior é o custo! Mas é coisa excelente!
Vamos´ver para quanto isso vai!
Descendo agora a vários pormenores, outros aspectos, que muito surpreendem: o dito aparelho é comandado â distância.; é capaz
de registar uns 14 programas ( um de cada vez), sem a nossa presença-. Actua mesmo em canal diferente,
No caso português: interessa-nos ver o primeiro canal e, ao mesmo tempo, igualmente o segundo? Vemos um deles, enquanto o aparelho regista o outro que depois transmite, com grande precisão..
Não é isto curioso e surpreedente?!
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Lx. Belém
1984-04-08 Padre Pio
Este capuchinho, de origem italiana, morreu em nossos dias,com fama de santidade. Contam-se dele coisas maravilhosas, que ultrapassam de longe, o que é normal. Assim, por exemplo: saber, em pormenor, a vida pecaminosa de quem se abeirava, para confissão.
Isto que aí fica, viesse o penitente de terras longínquas, ainda que fosse a primeira vez..
Outro facto que surpreendia eram os estigmas que vertiam sangue, à sexta-feira. Muita coisa haverá de carácter igual, que todos nós ignoramos, ao menos por agora.
Na última viagem que fiz, há 4 anos, da África do Sul, aqui
para a Europa, esbarrei, em Joanesburgo com a greve da TAP. Como é natural, fiquei desorientado! Sem dinhero no bolso, num
país estranho! Havia pago tudo, antes da viagem! Sem ver o final ao que eu não supunha veria já... sem ter ali alguém que pudesse hospedar-me! Foi uma tragédia!
Cinco dias â espera, recorri, por fim, á SAA.
Nisto, um padre italiano que me viu angustiado, apressou-se a aconselhar-me: Reze ao padre Pio. Não caíram em vão as ditas palavras que guardo e medito.
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Lx. Belém .
1984-04-09 Boiaando no Tejo
Chegou a notícia, há coisa de seis ou sete dias. Bem diz o nosso povo:" Quanto mais vivermos, mais havemos de ver!"
Uma criança, recém-nascida, foi encontada, nas águas do Tejo!Que horror! Já morta e devorada... a pobre inocente!
Como é possível que o próprio amor se converta em ódio,
esquecimento e vileza?! Trata-se aqui do que é mais puro, desinteressado, generoso e abnegado! Aquele amor que não tem igual, por ser dedicado, irrefragáve e fortel, genuíno e puro! Aquele que, realmente, não sofre paralelo e é também devido à fonte mais pura do amor humano!
Que pode haver aí, no mundo venal que, de longe,se compare? Bem certo é que não existe regra se excepção!
Pois essa mãe, com instintos de fera, não titubeou em fazer de seu filho um cadáver exposto!
Fiz o paralelo, entre ela e as feras, mas agora reconheço que não ande bem. É que elas, ao que sei, defendem os filhos e sujeitam-se à morte, para que eles não periguem!
Não vi eu, na selva africana, operar maravilhas, no assunoem foco?!
Sendo isto assim, como é que pudeste, ó mãe desnaturada, lançar no Tejo, o corpinho inocente daquele que geraste? Recebeste do Céu capacidade e amor, para fazeres do lar um paraíso na Terra. Por tua vez, quiseste fazer dele um covil do inferno! Um antro medonho, onde o crime e a vileza caminham a par!
Como podes vir à rua mostrar-te às boas gentes?!
Ignoras, por ventura, que um ferrete de ignomínia assinala a tua fronte?! Não surjas à luz, ó mãe criminosa, que o Sol vai fugir-te,
horrorizado já com teu hediondo crime'!
Encerra-te num antro, que desonras o sexo e, simultaneamente, conspurcas o ar que todos respiramos!
Enquanto assim andas, vai fazendo penitência, que o acto praticado merece o inferno, se Deus te não perdoa!
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Lx. Belém
19884-04-10 Duas jovens fumando
Em 1972, embarquei para Angola, Foi no dia 31 do mês de Julho. Ia somente por espaço de três meses.( as férias grandes), contando regressar, para seguidamente ficar em Lisboa ou no Algarve.
Os projectos de então foram logo alterados, por gostar do clima e, bem assim, do ambiente familiar. Por outro lado, convidaram-me também, para exercer a mesma profissão que tinha em Portugal. Ensino Secundário, no campo linguístico.
O Doutor Manuel Buco, director que era da Escola João de Almeida ( Escola Técnica de Silva Porto), chamou-me, nessa altura, para colaborar Sentindo-me bem, deixei-me ficar.
As viragens, porém, que a História sofreu, levaram-me depois, em 75, a abandonar Angola, fixando-me logo, no Sudoeste Africano ( Namíbia). Aqui actuei, exercendo o múnus que tivera em Angola.
Estas diligências e trabalhos específicos por lá me sustiveram, durante mais de 7 anos. Em princípio de 80 ou coisa aproximada, arribava a Portugal, num voo SAA, que teve início, em Joanesburgo.
Foi durante a estadia, na África adusta, que ocorreu o 25 de Abril, em Portugal!
Ao chegar a Lisboa, encontrei as coisas harto diferentes. Tudo mudara! Entre o que vi, de maior novidade, fica exactamente o caso das jovens, afogadas em tabaco! Fiquei então deveras surpreendido... quase assustado!
Não havia já cheiros, em larga abundância)! Não tinham os lares melhor investimento, para o seu dinheiro?! Hoje, então, que o nivel de vida subiu medonhamente, quem pode sustentar o vício do tabaco?! Faz mal à carteira e dana a saúde!
Tratando-se de jovens como as referidas, o caso é sério.
Sustentavam nos braços os filhinhos mimosos, obrigando-os a fumar e a aderir à droga!
Criminosas!Assassinas de inocentes, em que o sistema nervoso fica logo alterado e sujeito a depressão!
Estas pobres mães são degeneradas! Não cativam ninguém!
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Lx.Belém
1984-04-11 Ah! que bofetada!
Durante o percurso que vai de Alcântara (Lisboa) , para a minha residência (Amadora), ocorrem episódios que chamam a atenção e eu gosto de narrar. Muitos dentre eles não têm sabor. Diria, talvez, a maior parte! Outros, porém, exprimem realidades que são gritantes!. O que há pouco observei inclui-se nos últimos..
Bem perto de mim, embora noutro banco, sentava-se uma dama, passante dos 5o, que dava achegas e guiava, com perícia, um cavalheiro mais novo. Este escutsva, com grande interesse e
mostrava dar acordo ao que ela dizia.
"Se fosse eu, fazia deste modo!: No teu lugar, procedia assim..."
Era, na verdade, um não acabar, entoado com firmeza, muita basófia e paternalismo. As palavras brotavamm-lhe espontâneas, abundantes, saborosas!
Dir-se-ia um monólogo, uma vez que o sujeito apenas acenava ou fazia movimentos que denotavam acordo.
A dita senhora, arrogante e mandatária, olhava com prosápia, mas é arguta e exprime-se bem, mostrando iniciativa e muita abertura. Figura principal, só ela contava,recaindo sobre si as nossas atenções
Nisto, junto a nova paragem, deambula uma jovem, dos seus 18 anos. Enquanto o faz, puxa do maço, risca logo um fósforo e pega assim lume ao cigarro entre mãos.
É então que a senhora, impante de cólera, dardejando prestes sobre aquela jovem, raios de furor, profere indignada as palavras seguintes: " Ah! que bofetada bem dirigida que fizesse ir pelos ares tabaco e fósforos.!
Nada se ouviu que fosse comentário! Entretanto, avaliando pela aragem,ficou aprovada, no sentir do público!
A jovem pedante, hirta e monolítica, passeava ali, qual deusa e senhora
Para quê, afinal, tamanha importância?! Por que razão tamanho pedantismo?!, Não bastam já os cheiros de náusea que temos por aí?1 O custo de vida e a negra miséria que grassa por cá não levam o juízo às cabeças levianas?!
Apenas egoísmo. cheiro e droga, álcool e sexo?! Que aberracção!
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Lx. Belém
1984-04-12 "Deixa-me eu ir embora!"
Ouve-se, de facto, lá na Beira Alta, à gente do povo. Se olho às circunstâncias, em que o facto se dá, sou levado às coclusões que passo a expor.Por vezes, suprimem o pronome, f icando simplesmente: Deixa-me ir embora.!
Em ambos os casos, é idiomático este arrazoado!
Não deve confundir-se com a frase normal: (mãe, deixa-me ir embora?) É que, sendo assim, o verbo da oração significa, desde logo, um pedido formal de autorização. É como se dissesse: mãe,
dá-(me)licença de ir embora?
Na frase - mãe, deixa-me ir embora - ha duas orações,A segunda começa em 'me' e é subordinada infinitiva,integrante substantiva. O Sujeito está implicito em 'me', equivalente a 'eu'
A oração do topo nada tem a ver com a que exprime um pedido,: resulta dum acto espontâneo do próprio sujeito, (deixa.me (eu) ir embora)
Em conclusão a frase é um idiotismo: não tem lógica.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
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