quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Memórias 22

Lx. Belém
1985- 05-23 Mais um Encontro

Foi no domingo, dia 19. O amigo Serra havia telefonado, uns dias antes. O certo é que eu, realmente, não entendia o que ele desejava, Avarias possiveis, no telefone? Um ruído constante a barrar as diligências!
Por mais que apurasse o meu pobre ouvido, nada alcançava!
À custa de esforço, distingui então a palavra "domingo" e "sábado"também. Em seguida, veio "almoço". Deduzi logo que seria um convite, para fazer companhia, almoçando com ele, num
dia, à minha escolha.

Claro! Aceitei prestesmente, optando por domingo, já que tinha o dia livre, a partir das 13 horas! Não era a primeira vez que o facto ocorria. A gentileza do Serra, que foi aluno, em Manteigas., desde o primeiro ano ao 7º inclusive,leva-o por vezes, a demonstrações de grata amizade!

Por tal razão, às 11.45, arranco do Calvário, no carro 24, rumando a Benfica. Uma vez aqui, recorro ao comboio, que surge prestesnente. levando-me em seguida, para a Amadora. em 5 minutos.
Chegado à Estação, endireito breve para a rua do Serra - 9 de Abril, 41. 3º, Um tanto subida, cansa-me um bocado, já que a percorro.um tanto acelerada! O mesmo faço eu, pela escadaria.
Bom. ncontro-me já no patamar da entrada! Leve pressão, na campainha de aviso, e eis o meu amigo, todo sorridente, a fazer ali as honras da solene abertura!

Logo após, vem a jovem asposa, com sorriso nos lábios,.
Saudamo-nos prestes, mostrando nas palavras o que vai nas almas.
Não há cerimõnias! Unicamente boa disposiçao e o prazer incomparável de boas companhias.
Ali, não estava decerto, o professoe exigente, sempre cumpridor e algo estrito: era o comparsa, agora lisonjeado pela estima e apreço que alunos de outrora lhe votam ainda..

Após a Adriana, vem a Milu, irmã do anfitrião e professora também.; depois, o marido e a filha ,Catarinna, que roça agora, pelos 5 anos e é o ai-Jesus , cá do rés-do-chão e do 3º andar.

Como eram boas horas, cerca das 14, aguardávamos apenas a ordem formal:" Está na mesa!" Esta não tardou, que a voz da Adriana , anfitriona também, fez-se ouvir brevemente!

Recordámos velhos tempos, que dão, verdade, matéria para tudo, sem nunca a esgotarmos.
Entretanto, íamos atacando o infelz peru que fez, nesse dia, as delícias de todos. Escusado é dizer que, durante a refeição, não falámos demais, o que prova à saciedade que, no 3º aandar, porta 41, há gosto culinário!
Por fim vieram então as "Natas do Céu, para dar o remate,
seguindo-se logo a tradicional bebida "café e macieira"

Saímos dali para a sala de visitas, onde o Serra paciente, me explicou em meúdos,o funcionamento da nova aparelhagem:
magnetoscópio, gravador novo, amplificadores e o mais que falta.
Fez alusão à bela poesia de 5 sílabas, que merecei 1o contos.
Confortado e saudoso, fiz as despedidas, logo que as 33 se vinham aproximando.
Remocei então e vivi outra vida que não era a minha!.

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Lx, Belém
1985-05-24
Mais algumas pinceladas, em erros frequentes -- algures trattados, -- sobre educação.
Verificadas já todas as razões que me prendem ao jogo e o fim verdadeiro a que se destina o lucro obtido, é bom ensejo para os pais decidirem.

Não é com sevícias que vão deter, por certo, aquela tendência Jamais alguém, por certo, a consegue eliminar! A criança ambiciosa fica assim toda a vida. E é bom sinal! Quem não tem ambiões é pessoa nula! Cabe ao educador moderar a ambição e
apontar-lhe os limites: respeito sagrado pelos direitos de Deud, bem como os do próximo!

Provado e certo que tal meúdo gosta de haveres! Promete ser alguém! Há-d ser trabalhador, cuidadoso e activo!

Procurará, no geral, sair-se bem de qualquer projecto. Não será esmoler, convindo por isso chamar-lhe a atenção para as grandes carências de outras crianças. Se os pais, de facto, não querem que jogue, forneçam-lhe meios que prescindam do jogo e levem o meúdo a conseguir a mesma coisa.

Preencham-lhe o tempo, com tarefas agradáveis.É sempre um desvio, aplicando as energias e fazendo-as convergir em outra direcção.
Gosta de chegar a certos objectos que outros possuem? Proporcionem-lhe os meios qe levem a tanto! Se for caso disso, ponham-lhe dinheiro à disposição. ou coloquem-no em pontos de ele o alcançar. Pode ser até uma actividade, que lhe esteja no sangue e tambem no coração!

Pode acontecer que se trate de criança,vivente campo, onde os pais se dedicam a tarefas Se houver no local uma porção de terreno. para ele cultivar, cedam-lha pronto dando-lhe ajuda; em cabeças de gado, para ele criadas; ainda outros cuidados, que possam aumentar-lhe o vulto do pecúlio!

O produto não deve aplicar-se em artigos necessários, a cargo dos pais, como seriam, por exemplo, vestuário e calçado, e o mais que falta. Há-de ficar livre a aplicação da receita!

Desta maneira e outras semelhantes, a criança realiza-se, valoriza os talentos, prepara-se para a vida e sente-se feliz!
E com pancada, espiões danosos, e alcoviteiras, sevícias e ralhos,, pressão e ameaças?

Num caso, edca-se; notro domestica-se. Uma criança é bem ditosa,; a outra, infeliz!
Pretender extirpar as raízes da alma é destruir, fazer desabar.reduzir à impotência, à própria nulidade!
Assim, não temos homens, seres prestáveis, elenentos valiosos,,
imprescindíveie e diligentes!

Importa, na verdade,formar a preceito o coração das crianças, e esclarecer-lhes o espirito sedento e impressionável!
A educação é uma obra de amor, tenacidade e muita paciência. Pancada e pressão nem para animais!

Preparemos bem or progenitores, afim de que não errem nem sejam responsáveis pela desgraça dos próprios filhos!

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Lx. Belém
1985-05-25 A nossa Juventude

Fala~se muito, sobre a juventude! Não é de estranhar, pois dela, realmente, depende em cheio, o futuro do Homem! Por esta razão, importa sobremodo que esteja ao nível do tempo corrente, para responder aos quesitos da época.

Sendo bem preparada, tudo correrá pelo melhor. se for ao invés, teremos o caos.
Apraz-me acreditar que, entre os nossos jovens, muitos haverá , com nobre ideal, propondo-se manter os grandes valores de tipo universal, que a civilizaçao, dita cristã, e as nossas tradições outorgaram uma vez aos nossos Maiores.

Quando, porém´vejo tanto desalinho e falta de aprumo, em certos jovens, dói o coração, perguntando eu logo: que vai
ser dum país,com homens assim, à frente dele?!

Que espera a sociedade, alicerçada em pilares que vejo, poraí?! Absolutamente nada! Quem nada tem que é que pode ofertar?! Serão, bem o julgo, um fardo enorme para a sociedade, se não até imensa vergonha!

Isto penso eu, avaliando as coisas pela amostra do presente. Pois não é?! Vejo-os por aí, arrastando a existència,
à maneira exacta de irracionais, já fumzndo, já bebendo ou
então drogando-se em doses maiores que atentam a fundo,
contra a mesma vida e constituem perigo para os outros membros da infeliz sociedade.Trabalho e fadiga não é com eles!
Preparação, a diferentes níveis também n~so intsressa!
Viver somente como os animais! Sexo e droga! Honra e pundonor, respeito e caridade passaram `a Hirtória! Não lhes toca o peito!
Destes molengas é que fia a Pátria o seu porvir?!
Com os horizontes assim anevoados, podemos confiar?! Não se governando, poderão eles governar alguém?! Não existem acções que nobilitem apessoa humana, tornando-a respeitável,
util e necessária?!

Isto dói altamente! São membros cancerosos numa sociedade t~so enfermiça!!
Ó meu Portugal que já foste grande, respeitado e querido! Porquê? Porque a tua juventude era bem sã, de corpo e alma! Hoje, não!

Restam, já se vê, os que fazem excepção, persistindo em manter as belas tradiçoes, que fizeram então da nossa Pátria
uma Escola de honra, amor nobilitante, serviço à Humanidade e homenagem a Deus!

Entretanto, hoje, só minoria poderá levar a cabo a reconstrução, com tantos elementos, sem acção nem vigor!

Requer-se, para já uma hábil campanha,, a nível nacional, para assim evitarmos a horrível catástrofe,
É preciso e urgente vivermos sobre nós, pensando e agindo pela nossa cabeça!

Imitemo o qu é bom, venha ele de fora! O resto, porém, é forçoso bani-lo, esquecendo-o para sempre! O que nos desonra, torna menos homens e, de algum modo assemelha aos cães, é preciso eliminá-lo!
Não foi pelos cães que o Senhor Jesus Cristo morreu no
Calvário
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Lx. Belém
1985-o5-26 Eu, perante o Sacerdócio.

"Assim como o Pai me enviou a mim, assim eu também vos envio a vós!"Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a
toda criatura.Quem acreditar e for baptzado, salvar-se-á; quem não acreditar, será condenado. A quem perdoardes os seus pecados ser-lhes-ão perdoados; a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos,"
É na última Ceia, quando Jesus institui a Sdgrada Eucaristia, como Sacramento e como Sacrifício.
"Fazei isto em memória de mim!"

São frases eucarísticas, donde de inferem os poderes excelentes, comunicados por Jesus Cristo aos colaboradores.
sobre a face da Terra!

Até lhes promete assistência perpétua:" Estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo!"
Perdoar pecados....actulizar o sacrifício da Cruz e garantir, cá neste mundo, o pão dos Anjosa como cibo divino. reconfortante e necessário, afim de conseguir a imortalidade,
tal é a Missão, confiada aos Apóstoos e seus sucessores.
Perante razões de tão alto nivel e capacidades assim divinas ( os mesmos poderes do próprio Deus) não posso, realmente, deixar de ver no mesmo sacerdote o homem de Deus, Ministro do Senhor, elemento seguro e imprescindível,
para a ventura da pobre Humanidade!

É, pois, excelsa a missão do Padre.Sendo isto assim, deve ser respeitado, obedecido e acarinhado! Fazer o contrário é passar um atestado que denota má fé, ignorância crassa e maus sentimentos!
Levantar-se contra ele é pôr-se desde logo ao serviço do diabo.
Considerado em mim esse mesmo Sacerdócio, não o julgo honrado, mercê de factores que me foram estranhos e a que fiz referência, em outros Diários. Preferiria que não me ordenassem, como insinuei, com bastante clareza e convicção.

É que eu, realmente, não sou de meias tintas!Como era divergente a minha opinião com a dos Superiores, renunciei à minha (contrariado), para seguir a de outrem.

Se fosse hoje, não teria cedido!
Entendo, na minha, que o Padre católico há-de viver somente para o seu mister e, ao mesmo tempo, sentir-se feliz e realizado.
Tem de ser zeloso, verdadeiro apóstolo, sacrificado, pronto a servir e não a servir-me. Por isso, era minha intenção nunca pedir o subdiaconado!

Ora bem. Como só em grau ínfimo eu noto os requisitos, na minha pessoa, é por iso que este cargo ficaria bem melhor em outro que não eu.

Ressalvo, pois, este múnus, o seu alto papel na conversão do mundo, como também na sua felicidade.
A minha fé permanece, graças a Deus que me tem protegido!

Espero a salvação, tomando Ele em conta as grandes limitações. que são bastantes! Sei muito bem que não julga como nós! O pecado é muito subjectivo: de modo nehum pode ser decretado por uma sociedade! O pecador é quem sabe e conhece bem a intenção que teve, ao fazer uma acção.

Não quero negar a existtência do pecado: se ele não existisse, Jesus Cristo não morria ignominiosamente
Entretanto, asssiste-me a crença de que muitíssimas coisas não são pecaminosas, mercê de não haver plena advertencia, consentimento e matéria grave
Faltando, pois, uma das cláusulas, já não há pecado mortal.
Muitas infracções nascem da fraqueza e não da malícia. Por outro lado, a própria maneira de formar a consciência vai influir na responsabilidade.

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Lx. Belém
1985-05-27 Formosa, linda, bela
Derivada como é, a primeira palavra mostra, de início, o que ela encerra. A partir de "forma", palavra primitiva, apresenta, depois, o sufixo"osa,"que logo insinua qualidade em abundância.
Um termo português, derivado, já se vê, por sufixação!
O núcleo de "formosa" significa aspecto, aparência, vista exterior; corpo com estética, pela disposição e arranjo das partes, contando somente o físico.

No mesmo ponto convém, decerto. a palavra "linda!
Vê-se, pois, que ser formosa ou linda é prenda da Natureza, criada por Deus e por Ele mantida. Nenhum mérito existe, de ser formosa e linda! Efectivamente, o que designamos por mérito real, a que é devida alguma recompensa, deve ser, na verdade, fruto espontâneo do esforço pessoal, diligências feitas, imolação bem como renúncia, dedicação e sacrifício.

Se a mulher nasce linda, que fez para isso?! Absolutanente nada! É por isso que eu verbero esse uso persistente de premiar a mais formosa!

Quanto à última palavra das que aparecem no topo, o caso é diferente bem como em gentil.

"Beleza!"que não exclui a chamada "formosura"há-de ser fruto de esforço pessoal, Refere-se, é claro, às qualidades morais que exigem renúncia, diligência e sacrifício e, quantas vezes, devotado heroísmo!

Para manter a honra, o pundonoe e a dignidade, priva-se a jovem de alguns passatempos que seriam agradáveis; foge a contactos que até lhe agradariam; esquece, por vezes o bem pessoal, para atenderaos necessitados; imola-se dia a dia por uma causa justa. Disto e do mais resulta a beleza que pode até existir, sem formosura.

Impõe-se mais a beleza do que a formosurs! Esta reside no corpo; aquela, sobretudo na alma! A sua projecção avança ainda, para além da morte.

A formosura, revelada em pormenores que são destrutíveis, por serem matéria, não é perdurável nem se mantém, para lá da morte. Ouso até dizer que desaparece, antes que ela chegue Bastam os anos, varíola ou sarna ou outros factores, para tornar feio um corpo formoso!

A beleza, por´m, furta-se breve a esses golpes!
Em conclusão: os bens da existência devem ascalonar-se, pela ordem do seu valor. Não podendo a mulher ser formosa e bela, ou então não podendo ser formosa, resta-lhe ainda um campo maravilhoso que deve explorar e que é um tesouro --
a beleza moral ou gentileza.

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Lx. Belém
1985-05-28 Quatro Olhos verdes

Embora a cor verde se torne atraente, por não ser vulgar e, ao msmo tempo, a encaremos como símbolo vivo da nossa esperança, não é por estas razões que a trago a pêlo. Também os olhos da saudosa Joaninha, essa figura adoráve e tao portuguesa, que aparece nas Viagens, tinha os olhos verdes! Bom.
Traz gratas embranças a cor sedutora! Entretanto, como disse, é agora outro o móbil que me impele.
Bem. Sem mais delongas, passo a contar.

Na semana passada, viajava eu para a Amadora, aonde vou, por norma, quase diariamente. Ao longo do percurso, que dura somente um quarto de hora, até à Reboleira, posso ver e ouvir diversíssimas coisas. O caso se hoje foi o seguinte: logo a meu lado. ia uma senhora, com bela criança, recostada no colo.
Andaria, talvez, pelos 5 anos.

É vulgar e correntíssimo depararem-se mães, com filhos amimados, junto do peito. No caso presente, era uma menina.
Se bem que despertas, mantinham-se alheadas, com ar satisfeito. Chamaram-me a atenção, por três fortes razões:
1. não serem gárrulas, segundo o costune;
2. olhar para a meúda, com olhos enlevados, em
quase arroubamento. Diria que cismava aquela mãe ausente, descobrindo-se ali grnde foco de amor.

Em que cismaria aquela mãe extremosa?! Gostava de saber a razão do caso! Seria muda aquela criança? Ocorreu-me agora esta ideia triste! Ou dar-se-ia o caso de sentir a mesma coisa que eu ertava magicando?!

Bom. Como eu sei,desde já,´que o leitor não me larga, por faltar ainda a terceira razão, vou sem demora atendê-lo!
É que esta meúda tem os olhos verdes. Olhos lindos..lindos! Lindos como esmeraldas!

Vendo assim aquela mãe que, parecia arroubada, embora pensativa, fixei-a ali, demoradamente. Quadros semelhantes levam.me apõs eles.
Deixei-ne arrastar por aquela sedução que seria bem grato ver já lançada, em cassete de video
Queres tu saber, amigo leitor? Não tinha a progenitora olhos verdes também?! Achei curioso e dei-me a pensar!

Quem haveria pintado os olhos da criança?! Precisamente iguais! Um verde-moço vivo, insinuante! Uma frescura inocente, aliciante, angelical! Que lindos olhos!

Entretanto, não fiquei por aqui! Seria bem pouco!
Apraz-me sempre levar as minhas coisas até à raiz! Aqueles olhos falavam, mas era uma linguagem que só entendem,
provavelmente , as almas de eleição! Pintores? Mais do que isso!
Filosofos crentes? Não estuda ela, a Filosofia, as últimas causas? Não ia ficar ali, considerando as coisas, superficialmente! Gostava de saber quem havia pintado uns olhos tão lindos, fixando-lhes a cor pela da mãe

Os pintores deste mundo fazem coisas belas!
Basta lembrar alguns nomes célebres: Greco, Velasques e Durer; o famoso Miguel Ângelo; Leonardo da Vinci; Rafael e
Grão Vasco; Goia e Murillo; e muitos outros.

Entretanto, não me consta agora haverem eles feito coisa assim tão bela! Olhos verdes... verdes! A cor, na verdade, seriam capazes de imitá-la, mas olhos vivos, eloquentes e belos
a dizer segredos... só o Grande Artista que habita no Céu!
Meu Deus! Que maravilha! Quem de longe Vos iguala,
Infinito Senor?!
De uma gota de matéria, invisível a olho nu, formaram-se uns olhos iguais aos da mãe, capazes de falar e matar de amores!
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Lx. Belém
1985-05-29 Os meus Professores

Referindo-me a eles, de modo nenhum. pretendo vexá-los ou contribuir para a sua humilhação. O que tenho
a muitos dentre eles, até porque alguns já foram desta vida, havendo prestado contas ao Supremo Juiiz.
É homensgem póstuma! Se nem de todos eu posso aprovar a maneira de agir. apraz-me crer que tenha havido, ao menos, boa intenção.
É certo, evidentemente, que boas intenções e nada mais, podem originar graves efeitos. Ficam estes, de facto, para escarmenta! Convém, pois. denunciar aquilo que está mal, afim de que aos outros não suceda a mesma coisa.

De modo geral, enfermava o Ensino (1933-1943) de grave defeito: decorria quase todo à base da memória ( ensino mnésico)
Outro defeito gravíssimo é o ensino pela síntese, em vez da análise.As maiores vítimas desse "método de trevas" são as populações de meios atrasados.
Por que é que Portugal anda na cauda, perante os povos da União Europeia?!

Efeitos malignos de tal ensino.
1. É inútil: o aluno fixa hoje, para esquecer amanhã.
2. Não penetra: é como chuva que fica à superfície .
Nada vale, em ordem ao futuro.
3. Faz correr perigo à pronta memória.
4. Mata o génio criador: o aluno pensa por outrem e não por si.
5. Mata a iniciativa e a vontade própria.
Se não reagir, ao longo do tempo, abrindo os olhos e remando contra, torna-se manuseável, renuncia até à personalidade, imita apenas, repete somente o que os outros dizem, actua sem vigor e originalidade.

É curioso que se deixe influenciar, com facilidade!
Torna-se crédulo, aceitando, sem exame, o que outrem diz, faz e recomenda ou até impõe. Autêntica cegueira que deveras lamento!
Não é sempre aceitável quanto os outros dizem. Pode ser ou não!.Por isso, há-de sujeitar-se a um critério são que
principie pela útil dúvida , Será ou não? Começa o exame!

Uma vez concluído, analizando a rigor, os orós e os contras, vem a sentança, coada por nós.
É aconselhável atendermos sempre ao que os outros dizem, sentem ou pensam, desaconselhando e verberando talvez.
Pesadas e bem medidas as suas motivações, à luz do raciocínio, vem a decisão.
Voltando, pois, à causa basilar de tantos males, condeno veement o ensino mnésico, pois torna as pessoas verdadeiros títeres, sem nenhum valor nem cotaçao!

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Lx. Belém
1985-05-30 Eu e Deus

Com o leite materno, bebi igualmente a crença em Deus, que sempre servi, embora com falhas e intermitências.

Enquanto neste mundo vai decorrendo a nossa vida, há limitações e vários factores que intervêm fundamente na prática religiosa. Esta, afinal, pode ser deficiente e muito debilitada, já por mera falta de correspondência, já por causas externas, próximas ou remotas.

Neste Diário, intento focar as causas externas que me afectaram directamente e que tenho como próximas.
Tenho agora em vista a educação no lar e no Seminário,
de 1933 a 43.
Em primeiro lugar, a mais recuada. Um lar cristão é, na verdade, uma bênção do Céu. Nunca um mau exeplo, em palavras ou ações! Pelo contrário, sempre um ambiente, mais celeste que humano! Por outro lado, orações frequentes, já na própria casa, já na igreja, o que mortifica, por haver imposição, serem excessivas, muito prolongadas e imprópris da idade.
Resultado? O que é bom em si, diria até excelente, volveu-se em rotina, aceitação forçada, revolta surda, atitude
passiva.
Depois, no Seminário, sucedeu a mesma coisa! Criando-se a rotina, o deixar passar. o educando em vez de progredir,
vira refractário

Pode não mostrá-lo, já com receio, já por cobardia, mas
faz-se de pronto um elemento banal, frio inoperante.
É que, na verdade, tudo tem limites! Há-de haver prudência,
bom discernimento, grande habilidade em ministrar a Religião, de modo particular, nos primeiros anos.

Criar saturação no espírito de alguém; fazer uma coisa, porque é obrigatória; obedecer, qual autómato, a sinais imperativos, como seja, por exemplo, a palavra de comando, a sineta
ou as palmas o assobio, é criarmos, para logo, verdadeirs fantoches... talvez manequins, bonecos articulados,
em que nada penetra: fica tudo à superfície. Raízes não existem nem há convcções nem apego a nada.

Que acontece, depois? Ao verem-se livres de pessoas e horários, vem a desforra que leva a inclinar para o lado oposto.
Nestas circunstâncias, põe de parte os seus deveres...
olvidam prestesmente o que fora imposto, vivendo, na verdade, como se nada houvera a preparar-lhes a via.

É muito lastimoso receber alguém tal educação que gere desinteresse, quando não desamor ou mesmo ódio a quanto foi mandado
Por tais razões, deve o pedagogo ser muito avisado, afim de não causar males sem conto, exorbitando! Tudo por medida! Remar virilmente contra a rotina! Não criar a noção de que somos obrigados, pois isso tira imediatamente a virtualidade! Ir sempre dos efeitos para a causa ou raiz, porque Deus é bom, amigo e generoso, vale a pena servi-l'O.

Como prémio é que devem ministrar-se noções e práticas
de carácter religioso.
Nunca, decerto, por mera obrigação!.
É excelente a via analítica! Rapazinho guiado, mas não forçado; orientado, sim, mas não empurrado!

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Lx. Belém
1985-05-31 O Mês das Flores

O termo das coisas é bem mais triste que o seu início. Acontece o facto, invariavelmente, seja no que for, É ver, por
exemplo, o nascer e pôr do Sol!; o nascer duma criança e o seu enterramento.Estes dois casos são eloquentes! Por isso, não cito mais nenhum.

Voltando ao tema, indicado acima, as coisas de Maio podiam ser diferentes. Bastava, realmente, que a parte final deste mês de eleição fosse igual à primeira ou então melhor ainda! Se fora assim, iria por certo, contradizer o princípio geral,exposto ao alto.

Infelizmente, porém, não só não foi igual, senão muito pior! Com que alvoroço eu quis saudar o princípio de Maio!

Eu que tanto gosto da bela Primavera! Após o longo Inverno, chuvoso e frio, carregado e sorumbático, alegra-nos a alma o sorriso fascinante da jovial Primavera, com flores e amores, suspiros e ais e as belas canções das aves do céu!

Estava ansioso por vê-la junto a mim, dilatando-se no espaço e abrindo-se em cor! No entanto, o mês foi correndo, em grande surpresa, já qu a temperatura se mostrou irregular,
com bastante variação, de um dia para o outro e da noite para o dia.
Claro! Tal situação reflectia-se nos ânimos, provocando tristeza e agum nervosismo! Entretanto, vinha sempre a luzinha da esperança, afim de acenar-nos, com promessas fagueiras!.
Neste vai-vem, chegámos finalmente ao cabo do mês, verificando, cheios de amargura, que o estado do tempo fora
empiorando, à medida que o mês se aproximava do fim.

Este final apresenta-se já, para não haver qualquer ilusão! Demais, o boletim do costume havia anunciado, com
antecedência para 30 e 31, 2céu nublado com aguaceiros!"
Assim falhou, pois, a nossa esperança! Amanhã, já começa Junho que faz lembrar o Verão suspirado e o tempo das ceifas!
De facto, é já neste mês que tomam início as tarefas cosumadas, relativas às searas. Contudo, esta acção exige calor, para que o centeio chegue a bom termo. De outra maneira, com o grão ainda verde e não endurecido, que viria pela proa?! Deterioração, fome e decepçoes.

Pois bem! Se Deus não acode, não sei o que vai dar a presente situação! Estou bem convicto de qe são os homens, aqui em baixo, os grandes culpados!

Vem a proposito a frase de Herculano: "Deus criou o homem e colocou-o num paraíso de delícias; a sociedade tornou a criá-lo e colocou-o num inferno de tolices!"
O pensamento do autor é este exactamente. Quanto às palavras, não ggaranto eu a fidelidade total, por não ter à mão aquilo que preciso.
Hão-de ser, creio eu, as experiências, na esfera nucclear.que provocam logo alterações profundas, nos elementos climáticos.
O enorme desequilíbrio, provocado na atmosfera, pelo forte aquecimento, influi na prssão, de maneira assustadora,
originando vendavais, chuva em caudal, tempo inconstante,
irregularidades grandes, surpresas, harto desagradáveis,
Nem o mês de Maria escapou à lei geral, originada pelos homens.
A poluição e o desbaste das florestas influenciam também o clima da Terra
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Lx. Belém
1985-o6-01 O Senhor Armandino

Foi como raio, caindo sobre mim!
Se é boa a notícia, alegra o peito; sendo, porém, infausta, entra no seio, qual tóxico mórbido. Ocorreu exactamente o
que estou dizendo: o senhor Armandino partiu, sem regresso!

Que choque violento veio sacudir-me as entranhas de alma! Era um bom amigo a quem eu devia muitas finezas! Bem disposto sempre, dava prazer dialogar com ele, a toda a
hora.
Além disso, vizinho da igreja, pois a sua Agência - Gustavo Baptista - ficava situada na Rua de Alcântara, via-o
diariamente, logo de manhã, ao passar em frente.

Por estas razões, fiquei abalado, quando a notícia me chegou de perto. Não devia ser assim, já que para morrer alguém, basta viver ainda! Entretanto, sempre que a amizade nos prende e cativa, sentimos a falta, o que traz à alma tristeza e pranto!
Aquele bom vizinho não pode esqueer-se! Quem um dia o conheceu, ficou preso a ele para todo o sempre! Aconteceu comigo! Distinguiu-me sempre, chamando psra serviço, quando essa atitude lhe era possível.
Ao telefone, tinha as suas graças, que faziam rir e dispunham bem!
Que Deus o tenha em glória! Era um bom amigo, adorável pai e belo esposo..

enho imena pena de não me informarem, sobre o curso da doença! Ou foi inesperada a própria morte?! Ignoro ainda como se deu o caso!

Apenas sei há poucoter sido operado talvez à catarata e
que afinal tudo correra bem, Depois, volvido algum tempo, sobreveio a morte! Hemorragia interna?! Que pena eu tenho do amigo Armandino! Foi de abalada, para não voltar! Quem tal diria?! Nem uma palavra! Como isto é duro!

Gostava imenso de tê-lo visitado! Mas se eu de nada sabia!
Agora, já não tem remédio! Que Deus o protea, dando-lhe no Céu um lugae de repouso.

Rogarei ao Senhor, nas minhas orações, que torne leve o seu penar, lã no Purgatório! e lhe dè em breve o descanso eterno.
Conforto e paz aos seus familiares!

Daqui em diante, ao passar ali, na Rua de Alcântara, ninguém já me saúda, com o belo sorriso e ar insinuante que
sempre lhe via. Emudeceu para sempre, cá neste mundo!

Aquela voz amiga que tinha seu jeito de bem gracejar, por modo inimitável, sem ferir ninguém!...
Que o seu exemplo fique e dê frutos sazonados, para bom entendimento, entre filhos e amigos!

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Lx. Bel«em
1985-06-02 Ção Lopes

Comunicou há pouco um dado lastimoso. Para tanto, serviu-se d e uma carta,wm que dizo seguinte: " Ninha mãezinha já faleceu a 12 do corrente. (Maio) EStou desolada e desmoralizada! ão sei que dizer! Sinto-me agora sem força para nada! `nossa casa falya já tudo! Eu bem orocuro, mas só acho solidão e a saudade de alguém que ja passou e nao volta mais!

Eloquente nos dizeres que a~i ficam expressos! Em poucas palavras traduz, a rigor, a situação lastimosa! da sua alma em chaga, após a morte da fada que Deus chamou a si.

A antiga aluna do Externato de Manteigas,lá nos anos 50,
/como eles passambreve!) também sente a fundo o que outrem experimenta,, quando morre aquela que não +e substituível!
É órfã de mãe, tenha embora pai e um alegre casalinho -
o Tó e a Carla. Não obstante isso, ficou às e scuras ( o jovem marido morrera em desastre) e nada existe já que possa confortá-la.
Caso igual se deu comigo, em \964, Há 21 anos. Foi uma tragédia!
Pois a Ção, coitada é digna de lástima! A palavra mãe já nºao é suficiente, para dizer em pleno, a ternura e o carinho, o amor e o apego que se extravazam do peito, nesta hora ingrata

Só "mãezinha, com este sufixo que faz vibrar a mema alma
e põe estremeções no coração!!
" Desolada e desmoralizada"

Estes dois termos exprimem a claro a prostração e o desalento!
Angústia, descontrolo, aflição e inércia, abandono sistemático a
forças poderosas que lhe tiram a energia, impedindo que actue

" Sem forças para nada! À nossa casa falta tudo!"
Compreedo-o bem Se uma mãe é tudo!.Luz e amor, carinho e doçura, enlevo e paz; solicitude, aconchego e providência!...
Uma vez ausente, que é que vai ficar?! Somente Deus nos pode valer, em tais situações.
Não é Ele, na verdade, a fonte viva da consolação?!
" Eu bem procuro, mas só acho a solidão e a saudade de alguém que jã passou enão volta mais!"
Que podes tu procurar, inditosa Ção?! Com ela foi tudo quanto andas procurando! nºao procures mais!Ao menos cá em baixo! Olha para o Alto!Aí encontrarás aquilo que procuras! Cá na Terra, saudade...solidão e nada mais!

Um dia a verás, num mundo melhor, em que a morte não impera nem exerce comando! A solidão bem como a saudade perderão seu reinado, para abrirem caminho ao convívio eterno Este, de facto, exclui a saudade, pela presença constante do bem que se progura e muito se preza.

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Lx.Belém
1985.06-03 " Não te ponhas a pau!"

Expressão popular e muito usada, cujo sentido é convencional! Por isso, não se entende facilmente, a não ser que notemos os
casos peciliares, em que são empregadas ou que outra pessoa, já dentro do assunto, nos venha esclarecer.

Entretanto, esta como ouras são espontâneas e cheias de vida, surgindo prestes, no momento dado, em que são oportunas.

Há poucos dias, viajava, de auto-carro, viatura ligeira que anda na brasa, ocasionando, por vezes, amargos de boca.
A designação "expresso" quadra-lhe bem. Quem tenha pressa de chegar ao destino, com "passe social", procura sempre este meio de transporte.
O pachorrento eléctrico é bem mais lento!
Com maior velocidade que o dito "expresso", apenas o "metro" que não chega, claro está, aonde a gente quer!

Há também o táxi, bem entendido, que pode ser,às vezes,
mais veloz um pouco, mas dispendioso!
Como ia dizendo, o auto-carro seguia o destino, com o desembaraço que lhe e habitual, quando un automóvel, inesperadamente, lhe pasa por diamte, rumo directo à faixa esquerda.
Aventurou-se ali, o ousado motorista, que foi imprudente. podendo ocasionar um choque tremendo!

O nosso condutor mostrou-se logo ágil, harto previdente e
bastante calmo. De outra maneira, haveria desgostos! Pois foi exactamente ao dominar a grave situação, que proferiu as palavras., expostas ao alto..

Se elas fossem ouvidas por qualquer estrangeiro que soubesse Português, não lhes captava o sentido exacto!
É preciso conviver...escutar os naturais e observar as circunstâncias. De outro modo, parece chinês!
Atendendo, pois, ao caso indicado, viu-se logo bem o que significa , afinal, o que vem a seguir: Não tenhas mais cuidado
e verás em breve o que te acontece!

Portanto, a expressão "pôr-se alguém a pau", aplicada assim,
dá pelo seguinte: ter sempre cuidado; tomar cautela; ser muito prudente; olhar com atenção; tomar providências; não ser distraído; não se aventurar; jamais se expor; fugir de riscos; não
se atirar para a mesma desgraça; ter mais juízo.

Como iria um forasteiro sair de apuros?! Por mais voltas que desse, não acertaria. Inteiramente impossível!
Existe ainda a expressão: pôr-se a jejuar; (pôr-se a vinho e pão); e outras semelhantes.

Aqui, ao que vemos, é já diferente a significação. Implica, a rigor, uma certa dieta, no uso de alguma coisa; restrição ou abandono de certas iguarias
Semelhantemente, há centenas de expressões de tipo igual, que se ntroduziram na Língua Portuguesa, contendo, por vezes, foros lisongeiros de cidadania.

Nada mais fazemos que aceitá-las prontos, de bom grado ou não!
Curioso se torna que essas expressões acodem prestesmente
na hora exacta, sem nenhum esforço ou hesitação, tentando lembrá-las.
São chapas feitas que resolvem problemas, dando resposta e
solução a perguntas e casos que estão na mente ou foram

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Lx.Belém
1985-06-04 Três cus num Saco

Fará impressão o que deixo no topo?! Veremos em breve se tenho razão!Negando-a acaso. não fico indisposto! Seria disparate!Não é parte do corpo que mereça tanto!
Olhemos agora para outros aspectos.A questão do cheiro também não importa,já que se encontravam bem amarrados, em amplo invólucro!

Pensará o leitor que venho com charadas moer-lhe a paciência?!Não é esse intuito que me anima. ao presente! Respeito o meu próximo, não querendo jamais servir-lhe de estorvo nem originar qualquer moléstia!

Voltemos ao assunto.
Parecem cus a mais, dentro dum saco?! Isso depende!.Se fossem cus de elefante ou de hipopótamo, não haveria saco, para os arrumar!Nem um cabia!Quanto mais três!

Que eu, realmente, para dizer a verdade, não foram três os que vi no saco! Foi apenas um! Avaliando, porém´, o tamanho do invólucro, levsria três, caso fosse cheio!,

Agora, porém, ocorre-me o seguinte: ainda não expus que tipo de animal se encontrava ali. dentro do saco! Elefante ou hipopótamo isso não era, evidentemente!,i. Não vão supor que era de grilo ou de mosquito! Nem tanto mar nem tanto à Terra ! Eram de animais, com tamanho regular! Diria melhor: animais racionais!

Efectivamente, para ser explícito: eram cus de gente!
Com mais precisão: era um cu humano.
Agora, já se compreende, ao menos em parte! Falta somente falar do saco! Não vale a pena dar tratos de polé à sua fantasia
Eu digo já que espécie de saco está na berlinda!

São umas calças que hoje se vêem, quando na rua passam gaiatas (nem todas!) que primam, a valer, pelo mau gosto!
Era tão grande o espaço vazio....havia tais encolhas, altos e baixos , que não seria dificil chegar à conclusão: três cus, num saco!
Bom! O assunto, agora, fica arrumado! Entretanto, precisa bengalada! Aproveito o ensejo, para dar-lha já!

Lá que andem de calças ou o façam de saia, isso é com elas ,
embora imitar seja próprio de macacos! O que se impõe forçosamente é que não façam na rua figura de espantalhos!

Se fosse um acto de Carnaval, ainda passava! Com seiscentos mil diabos, mas durante o ano inteiro e em lugares respeitáveis, trajar-se daquele modo, faz cismar as gentes!

Depois, há uma agravante: o custo de vida leva a restrições.
Para quê usar tanto pano, afim de envolver apenas um cu?! A não ser que intentem acumular os gases! Ainda neste caso levanto protestos, em nome da Humanidade!
Poia se há tantos cheiros,! Para quê mais um, com tamanha pestilência?!
Basta de cheiros e de caçoada! Restrinjamos o caso ao tempo de Carnaval, respeitando assim o resto do ano e as nossas boas gentes que passam pelas ruas da linda capital!
Jovens portuguesas,não deixeis empalmar-vos! Vesti com arte, decência e gosto. imitando quem sabe, cá entre nós!

Largai, para já o figurino estrangeiro que muitas vezes, não pode assentar-vos!!
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Lx. Belém
1985-06-05 Televisão, Lar,Educação
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O que pode ser bom, quando aproveitado. com senso e prudência, torna-se mau e até perigoso, noutras circunstâncias.
Acontece, exactamente, com a televisão.
Se tal aparelho está fechado, abrindo somente , quando vale a pena e é oportuno, então dá lucro.
Para tanto, é ncessário que haja comando ao qual se obedeça. Estão em foco os pais e os filhos.

Horários e temas hão-de ser escolhidos, de harmonia com a idade, trabalho a fazer e as conveniências. O tema geral que não pode ignorar-se é o seguinte: primeiro, a obrigação; depois, a devoção.

Fazendo assim, é, na verdade, escola de educação, a que os filhos se habituam. De outra maneira, sobrevém o contrário: postergam o dever, tudo sujeitando a caprichos pessoais. Isto é péssimo!

Os inconvenientes são manifestos: não cumprem jamais as suas obrigações ou nada fazem ou aldrabam tudo, para estar presentes: fogem assim à útil obediência, crendo-se livres e senhores absolutos, o que os torna insuportáveis, em sociedade ou no lar futuro que eles virão a constituir; deformam o carácter e prevertam, não raro, a própria vontade, com certos programas que são maléficos..
Além disto, fazem arredar o controlo da família, que deve existir em todos os lares.

Qualquer sociedade, por mánima que seja. tem que ser ordenada,
para que haja nela estabilidade, bem-estar e progresso. Ora, isto não sucede, quando todos mandam, fazenndo a capricho a vontade prõpria
Os problemas da família ficam ignorados, alheando-se deles filhos e filhas.
Ocasiona isto males irreparáveis, uma vez desligados e já entregues a seus desvarios. Não tendo ninguém a quem devam respeito, obediência pronta, amor e gratidão, tornam-se orgulhosos, um tanto irrequietos, insuportáveis, turbulentos e despóticos,,, alheados até da vida real. São reles membros duma
dociedade que se encontra em formação.
A televisão bem como a radio hão-de estar desligadas, abrindo-as apenas, em certas horas, com o beneplácito dos chefes da casa, que velarão pelas horas e assim pelos temas, que interessem a todos.
Por este processo, evitar-se-á, com certeza, o desentendimento, a discussão perigosa, e a desarmonia..

Se os filhos, na verdade. estiverem, de facto, mentalizados,
a partir de longa data, já não surgem desacatos nem se vai originar o que torna as famílias centros de anarquia e focos de mal-estar.
Os progenitores nunca devem renunciar, qualquer que seja aidade que seus filhos já tenham.A sua autoridade não vai diminuindo, com os anos dos filhos! É sempre a mesma!

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Lx, Belém
1985-06-06 "Eles receberam creio que nada"

Ouvi esta frase, há pouco ainda, a pessoas iletradas. O facto em si despertou-me a atenção, pois não é vulgar, no idioma português, a ordem transposta.O que o povo usa, habitualmente, ´w a ordem directa. e já bastante pouco a ordem inversa.Para compreensão, vou dar um exemplo, para cada um dos três casos..
:
1. Ordem directa: sujeito e pertnças; predicado e extensões, complemento directo e alargamentos.Sirva isto de exemplo: José
António, rapaz estudioso, alcançou belo prémio. tido por alguns como autêntica pechincha.

2. A ordem inversa pouco difere: consiste naturalmente em colocar o sujeito, depoido verbo: "Morreo Jaime!"
3. A ordem transposta é pouco usada,na Língua Portuguesa e
consiste, a rigor, em quebrar a ordem lógica, exigida ali pelo contexto: eles receberam creio que nada..

Verifica-se nela uma transposição, quer dizer, uma deslocação de palavras para ligares inusitasos.. O verbo "receber" é transitivo: exige portanto o complemento directo"nada", após ele. o que não se verifica.
Quebrou-se a ordem lógica, metendo de permeio "creio que"
Querendo utilizar a ordem directa, na frase apontada, viria logo o seguinte arranjo: creio que eles receberam nada ou melhor ainda: creio que eles não receberam nada.

As línguas germânicas proibem duas palavras negativas(não e nada). Elaboram as frases, segundo este plano: eu vejo nada;
eu vejo nada ( I see nothing; Igh sehe nichts
Ordem directa, inversa e iransposta
O Português utiliza os três processos, embora o terceiro seja de uso mais restrito; o Inglès e o Francè usam quase sempre a ordem
durecta; o Alemão utiliza os très, com predom´nio do terceiro.

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Lx. Belém
1985-06-07 Em Viagem

Pequena que seja, leva-me a pensar qualquer viagem, De facto, há coisas diversas que trazem cuidados e grande inquietação. Não vou referir-me a incómodos vulgares, como seriam, por exemplo; frio e dissabores; assaltos e rapina, e outros casos semelhantes.

Também isso importa, bem entendido!
No entanto, o que agora me ocupa é muito diferente! Para nao ser difuso e levar alguém a perder a paciència, chamando nomes feios, a quem isto escreve, tentarei pòr a claro, em curto espaço, o que trago na mente.

Falo da experiência que tenho adqsquirido. É, pois, um saber "de #xperiências feito". Assinm diz o poeta..

Achando-me dentro de qualquer viatura, seria meu desejo
escolher o lugar bem como a vizinhança
Isto, porém, nem sempre é dado, melhor diria; nunca é permitido!.
São breves percrsos, indo os transportes abarrotadinhos!
Com o passe social, entulham-se os veículos, principalmente em horas de ponta! Resultado? Uns vão de pé; outros, sentados, ao passo que uns terceiros se encurvam bastantee seguem oprimidos,
Lá suportam a angústia do pesado momento! São 5 minutos, 10 ou 15 mais!.

Por não ser duradoura a situação aflitiva tolera-se afinal!
Sendo isto assim, torna-se incómodo viajar cá dentro. Além disso, com tais apwrtos,há perigos enormes! A proximidade põe a descoberto muitíssimas coisas: incita, desde logo a roubar o que é de outrem; obriga-nos a todos a suportar o mau cheiro que vem geralmente de pessoas javardas, o que assaz molesta quem anda limpo!
Como impedir este mal-estar?!
Se o vizinho é fumador,então o nosso caso ultrapassa as raias de
todo o imagin+avel! Aquela mão estendida, em busca de apoio, em frente do nariz do pore viz.nho, causa desmaios,, provocando vómitos! E da boca fumadra?! E do próprio nariz ?! Digo-lheetisco!eu que é um bom petisco!

Afigura-se então um cano de esgoto, os resíduos, acumulados, há muit, se encontram detidos. Que vai acontecer, havendo uma rotura?! Pode imaginar-se! Da boca e do nariz de qualquer fumador exala-se, pois, um cheiro nauseabundo que faz logo tombar!!
Livre -me o Céu de tal maldição, em carros a us ar!
H+a outra realidade que assaz me ocupa, ao buscar um assento que se encontre vago! Se é para dois e só tem um lugar a que eu recorra?! Não faço meu, se a pessoa for gorda! Prefiro ent~ao que seja magra!.
Se o encontro vago,, chegando eu primeiro, estou ansioso porque venha unm msgro! Caso o não seja, passo maus bocados. indo comprimido e cheio de angústia!
Estes sºao, na verdade, os perigos habituais, que eu mais temo, em Lisboa!.

Apesar de tudo, muitos outros se apresentam, como os que seguem: crianças mimosas e harto malcriadas, junto de nós:, grafonolas vivas: de corda longa, capaz de aguentar-se , durante muitas horas; falsos estudantes, cujas conversas a ningu´ interessam, pois não têm princípio nem meio nem fim!

Falhas de conteúdo e sem vocabulário que traduza os sentimentos ou as próprias ideias, fazem-se banais, abusando de termos que não têm lugar e se repetem ali, vezes sem conta!
É o caso das palavras: gajo e pinha; pá e portanto; bom e outras mais.
Os que nunca tomam banho comstituem um foco de emanações pestilentas! Como aguentá-los, em recintos fechados?!

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Lx, Belém
!985-06-08 Projectos
Em 1975, (já lá vvão 10 anos), comecei eu, ainda em Angola, os meus trabalhos de revisão, no tocante aos meus esdritos. Simultaneamente, escrevia os Diários que nunca abandonei.e, de igual passo, lançava à máquina os borrões emendados.
Esse labor, um tanto exaustivo, para o qual tenho vivido,
levando-me o tempo, deu em resultado o que passo a indicar: todos os Diérios estão dactilografados, a partir de 1955.

Em iguais condições, outras obras ainda, como: Um Sonho fascinante e Amor e loucur - Último Encontro; Consulta da Tarde;
Esparsos; Amor e Pranto, Sangue e Morte; de que já aprontei os primeiroe capítulos.

Com o meu Diário de 85, penso que serão, em boa verdade, 3o volumezinhos, que rerei preparados, ao fim deste ano..

Resta agora o osso mais duro: 600 páginas de velhas Sebentas, com 3o ou mais anos. São elas abrangidas pele designaão " Papéis de Beto ou outra personagem, a que vão encostar-se.

Estendem-se os ditos a 1952, prolongabo-se depois,
até 1955, ainda incluído. O núclio deles é de 1953.

Acontece, pois, que o papel utilizado já tem outra cor,
tornando assim harto difícil e bastwnte moroso, o trabalho de copiar! Além disso. houve, pelo menos duas correcções, notando-se emendas a cores diferentes!

Por causa disto, resolvi passar, à mão, todas essas páginas.
Somente depois, serão dactilografadas!

Quamdo chegar a isto, haverá pelo menos,umas 4 emendas!
Tenho para mim que, em fins de Agosto ou lá para Setembro, terei levado a cabo esta cópia a limpo. Seria evitada, se fosse bem
legível, mas assim é preciso paciência! Vou encher-me de calma, para acabar os os meus trabalhos
Era vivo desejo concluir a escrita, no fim deste ano!, mas agora já duvido, pois esta cópia leve imenso tempo! É quase dilig ência, para sair de grande labirinto! Entretanto, exarada agora em papel branquinho, facilita-me já o trabalho final - passar à máquina.
Tudo farei, para concluir em Dezzembro - 85. Se o condeguir, ficarei satisfeito!

Sempre que possa, avançarei 1o páginas.! Dias há, na verdade, que não permitem isso, já que tenho funções que não
devo postergar. Restam somente os tempos livres. Se eu tivesse, à dato o vigor de outrora! Mas vai decaindo!

Ante-ontem e ontem, consegui, afinal, o que raro acontece: não havendo fora, trabalho a fazer, trabalho a fazer, passei no meu quarto 7 horas seguidas, entregue à escrita!

Quando isto acontece, fico extenuado!
Bom. Paciência e coragem não me hão-de faltar, para deixar, neste mundo um pequeno sinal da minha passagem. Não apenas isto!Quero, realmentte, que seja mensagem, afim de aliviar o sofrimento humano e dar transparência aos caminhos de Deus.

Que o Céu me ajude! Julgo ter razão e falar por multidões,
que viveram, neste mundo, ao longo dos séculos, ao longo dos séculos. Julgo-me porta-voz duma causa bela, sagrada e respeitável!

Lx. Belém
1985-06-09

Daqui a um mês, se Deus quiser, estariei,. provavelmente,lá para Guimarães. Ghegarei ali, a 8 de Julho.A não ser que tenha livre o dia anterior, pois em tal caso, seria mesmo em 7. Havia ja muito que o trazia na ideia.

O ano transacto recebi um convite. O mesmo sucedeu o ano que passa. Decidi, por fim. Agora, é um dever, já que anunciei esta minha visita. ao amigo Antero..

Várias razões me levaam a isso!
A maior de todas é a grande amizade, que me liga, há muito, ao velho aluno ( eu é que estou velho!)

Na verdade, foi em Pinhel um bom companheiro, dedicado e prestável! Conheci-o logo, pelos seus 10 anos. quando ele frequentava o antigo Colégio de João Pinto Ribeiro.
Esta designação foi depois alterada, ao vir para ali o Doutor João Teles, como seu Director. Nesta data, passou a conhecer-se
por estse nome: Externato de Pinhel.

Voltando ao assunto, a grande razão que me leva ao Mainho, é a rigor a sólida amizade que sempre nos ligou!
Na velha cidade, foram 5 anos de aturado convívio, uma vez que fui seu professor, desde o 1º ano ao 5º liceal.
Aluno distinto e muito dedicado, jamais o olvidei.
Havendo casado em Guimarães é, nesta data, onde reside, com a ~esposa e filhos.
Vai ser agradável, de mo igual. pela vista risonha desta bela província.

Tenho para mim que é já a 3ª vez que ali vou encontrar-me. As duas primeiras foram de raspão. Uma delas, durante a lua de mel da mana Agusta; a segunda, para assuntos graves, relativos
ao Colégio de João Pinto Ribeiro.
Como agora vai ser é muito diferente! Tomarei o gosto à bela provínciado nosso Portugal. Ao menos três dias conto passá-los, na primeira capital do nosso país e berço venerável da Monarquia.

É a primeira visita que o faço, em Portugal, após o meu regresso da África do Sul. E vão passados quase 6 anos! Já preciso de arejar!
Convencer-me, afina,l de que, aos 67 anos, ainda não sou velho! Recordar o passado, em companhia, deveras prezada!

Falar desses tempos de grata memória! Resolver até alguns breves
problemas que trago em mente, segundo o conselho que ele me dará, pois é advogado!
Que bom vai ser!
Já vivo, antecipando, a renitència premente que ha-de invadir-me,
quando regressar! É que eu sou, na verdade, um tanto difícil em cortar relações, quanso são autênticas! "Cortar", disse eu agora, mas noutro sentido que eu tenho em mente! Desprender-me então de Guimarães!. Haverá prazer em ficar por ali!

Por que não comprei, na cidade nortenha, o andar da Amadora?!
Se pensava, a tempo! Nem tudo lembra, na hora exacta, precsa e necessária!
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Lx. Belém
1985-06-10 Feriados Nacionais

É dia de Camões e dia da Pátria! Igualmente o é das Comunidades, espalhadas pelo mundo. Esta efeméride junta os dois motivos,coma
se fossem, realmente, uma coisa só!
O 25 de Abril quis ainda separá-los, ultrajando o poeta. Entretanto, esbarrou com obstáculos e teve de ceder!

Parecia uma trincheira de gente inamovível, decidida e pronta!Nessa altura, era eu professor se línguas vivas, na Escola Técnica de Silva Porto. Recordo-me bem, Ao sabermos claramente qual era a intenção, em ordem aos Lusíadas, erguemo-nos em peso, dizendo "não"!

Suprimir os Lusíadas! Como?! Teriam os homens ensandecido?! Nunca!Nunca!Nunca! Eliminar, puar e simplesmente,, a bíblia da Patria?! O Cantp imortal, que ressoará, na própria eternidade?!

O eco da Nação, apregoando, forte, realizações e feitos sublimes?! A expressão mais bela da alma lusíada ?! Os supremos ideais do povo portuguès, que o fizeram conhecido, amado e temido?!
A defesa intransigente dos grandes valores que não podem perder-se, por serem eternos?! A glória dum povo, cantada ali, em versos imortais, inimitáveis?!

Rasgar os Lusíadas?! Pobre Camões e pobre Nação, no dia
infeliz, em o diz bem claro Latino Coelho?!
Nem eu precisava que ele o dissesse! Todos o sentimos, dentro do peito! Os formosos Lusíadas são o penhor da nossa independência!

Todos nos, Portugueses, sentimos alto orgulho de possuir uma epopeia que não tem igual!

Chamar "imperialista" ao genial autor da Epopeia Nacional!
Imperialistas são eles, esses bandidos! Se Portugal usufruiu terras,
eram asseguradas pelo Direito das Gentes, no tempo em vigor!
Era essa a razão! Fraco motivo! Portugal respeitava as crenças, instituições e costumes, vigentes, naqueles domínios.

Hoje, porém, esses agentes do próprio inferno é que são imperialistas, no sentido rigoroso!
Não intentam eles exercer domínio, sobre as conciências?!
Impor aos outros a maneira de pensar, querer e sentir, amar e educar!
Onde está, pois, o verdadeiro e harto danoso imperialismo?!
Farçantes! Andais e agis, obedecendo a sinais que vêm do Inferno!
Para onde atirastes a personalidade?! Sois, afinal, puros fantoches!
Deixai repousar o grande Poeta! Não perturbeis o sono longo,
que o mantém sereno. Levásseis por diante o vosso projectol, que
é algo satânico, as cinzas frias do cantor imortal iam estremecer de
profundo horror, na fria sepultura!
Tende vergomha no rosto criminoso, manchado agora com a desonra de molestar o Vate!
Era suma afronta ao grande Portuguès que amava do íntimo
a Pátria que serviu!
****
Lx. Belém
1985-06-11 Sinais

Mais propriamente, o que tenho em vista é a linguagem.Divide-se em falada,escrita, mímica,etc. A que intento apresentar não é falada nem mímica: não é transmitida por meio de caracteres, usados na escrita. É uma coisa invulgar! Exclui, de facto, a gesticulação, bandeiras e fogo, e o mais que haja! Coisa esquisita, inesperada e
algo excêntrica?!

Sim e não! Trata-se, realmente, de vestígios bem claros de lágrimas quentes e abundantes! Surpreendido, moto-os eu agora,
em folhas de papel, escrito por mim, há mais de 3o anos! Já nem me lembrava!
O tempo, afinal, usa esta esponja,, que passa, ao de leve, sobre coisas da vida, levando a esquecer o que a tinha amargurado.
Ainda bem que assim é, de facto! Que faríamos nós, a ser de outro modo?! As grandes dores, atenazando sempre, fariam sucumbir-nos precocemente!. Deus- Providência tudo faz bem!

Não fora Ele, realmente um Pai amoroso, de infinito saber!
Pois lá estão as manchas, dilatadas e escuras, sobre folhas de sebenta! Essas lágrimas autênticas não eram de crocodilo,,pois foram derramadas , no interior do meu quarto, bem longe, claro está, de vistas humanas!

Eram sinceras, francas, leais! E ninguém mas enxugava!
So as paredes nuas, insensíveis e frias davam conta disso!
A tantos anos distante, já vou em 67!. Nessa altura precisa, andava eu pelos 35!

Pergunto a mim mesmo: porquê?! Valeria a pena?! Quem me fez chorar?! Por que estava tão so?! Ao meio da vida, com bastante bagagem. para triunfar.... e já vertendo lágrimas, sem lenitivo! Não
era um condenado a pena maior! Não havia crime a exigir punição!

Era um homem paciente, compreensivo e humano, laborioso e diligente, respeitador e algo cordato. Porquê, então, fazerem-me chorar?! Ainda porquê achar.me sozinho a curtir a minha dor?

Que razões pode haver, de carácter humano, que obriguem a tanto?!Além do mais, havia uma agravante: nem sequer me era dado revelar alguma vez, a causa da minha dor! Não será isto a maior desventura que um homem pode ter?!

Desabafar é necessário, impressindível, urgente, compulsivo. Não o fazendo, arruína-se em breve o pobre ser humano, vergado e indefeso, perante o sofrimento! Que pena eu tenho do meu pobre ser! Joguete fatal de forças opressoras, a nível humano!

Se Deus o mandasse, curvava-me logo, porque Ele é bom, santo e amável!
Bem ao invés ser esmagado, incompreendido e, às vezes, saturado por convenções humanas, isso não me cabe na pobre cabeça!
Eu fui ingénuo, simples e dócil, manuseável até, julgando erradamente que os homens eram outros e tinham mais poder
e maior autoridade que hoje lhes atribuo.

Enfim, o erro estrangulou-me em breve e agora é tarde,
que só restam destroços do ser que Deus me fez

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Lx. Belém
1985-06-12 Planos

Já o disse antes: comecei, há 10 anos, acuradas revisóes aos meus trabalhos escritos. Estava quase no exíllio, ( em vésperas disso) na Missão do Cuangar, não longe da fronteira com a Namíbia.
Era o ano triste de 1975! Escorraçado de Angola, em 26 de Agosto desse mesmo ano, fiquei ao Deus dará, por campos de miséria, fone e desamparo.

Como havia tempo livre, empreendi, seguidamente, a revisão total dos meus escritos, que jaziam em sebentas e vários cadernos, cheios de timidez.

A partir já de 1952, fui lançando no papel assuntos variados, sob a forma de Diários.O estado moral, em que vivia imerso não permitia dar muitas horas à tarefa momentosa que me propusera realizar então: rever, a preceito, diversas vezes; copiar à máquina; vistoriar, por fim, a obra ultimada.

Entretanto, quando já no Sudoeste, subiu-me o entusiasmo e a boa disposição, para atacar mais forte.

Assim é que, volvidos 10 anos, me restam apenas 6oo páginas, enquadradas em globo, entre 1952 e55.
Uma parte dela já está copiada em letra mais legível e papel acomodado. Dão imenso trabalho!

O que estou fazendo seria bem escusado, em condições diferentes. É que as sebents já mudaram de cor. Em fundo escuro é muito mais árduo fazer a leitura. Depois, houve, pelo menos duas emendas, se não já três, o que torna a escrita verdadeiro labirinto!.

Daqueles três anos, calculo agora, com mais rigor, serem pelo menos,800 páginas, em sebentas da época.

O meu trabalho vai acelerado, pois queria aprontá-lo, até
fins de 85. Talvez seja demasiado, mas vou tentar. A novelazita de que já lancei à máquina os primeiros capítulos, e os tais escritos, harto obscurecidos., a que já me referi, constituem labor que me leva as horas todas.
Esforçar-me-ei por levar a bom termo a tarefa entre mãos.
Calculo mais ou menos, 33 volumezinhos, com 200 páginas, por média geral. São os meus filhos. Que sorte os espera?! O tempo o dirá! Por enquanto, jazem escondidos, modestos e tímidos, em estantes de mogno.

Que Deus lhes dê boa sorte - melhor que a minha!
Se nenhum outro mérito houverem de seu, expressam decerto, a pura verdade: não só a minha, mas também a de milhões, através dos tempos.
Não basta sentir, protestar em segredo, viver resignado
em estreita camisa de 7 varas! Isso é bem pouco! É nada até!,,,
Deveras humilhante! Inadmissível! Verdadeira escravatura, em
tempos de liberdade!
É preciso e urgente devolvermos ao Homem aquela situação em que Deus o colocou! Sistemas humanos são passíveis de crítica, se não forem justos! O Céu protector não
nos quer amarrados!
O caso de Judas é concludente!

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Lx. Belém
1985-06-l3 CEE

Foi ontem assinado o Tratado de Adesão, ali nos Jerónimos. Um passo novo... autêntica viragem no rumo histórico da vida nacional! Por isso, lhe chamam até um
"Marco Histórico".

Oxalá seja isso, trazendo à nossa Pátria a paz e o sossego, de que anda carecida, há bons anos já!
O estado de espírito, à data presente, é lastimoso e de graves efeitos. Apatia e descrença, murmuração... alto desalento!

Uma vez aqui, só a morte nos espera!
Confiara o povo no governo actual, que é de maioria socialista.
Muitos embarcaram nesta aventura. Até eu o fiz, de boa vontade! Falta de tempo? Escassez de meios?Falta lastimosa de colaboração? Terreno minado?Factores diversos que eu desconheço?

Averdade nua e crua é que, realmente, as condições da existência se foram deteriorando; o custo de vida, sempre subindo... os salários em atraso...aumento de desemprego, falências a rodos... fuga de capitais... receios diversos, carência enorme de investimento!

Perante os factos, perdeu-se inteiramente a fé nos governantes. .
Para mais, o sistema fiscal é quase bárbaro!
Que pena eu tenho de tudo piorar!
Teoricamente, é o Socialismo o sistema ideal, para repartição dos bens materiais.

Porquê, então este desenlace?! Inflação galopante! Dólar americano em subida crescente...
É nesta moeda que pagamos o petróleo e outros produtos.
E a dívida externa sempre aumentando, assustadoramente?!
E as 900 arrobas que Salazar nos deixou, em ouro de lei, para garantir o papel-moeda? Que é feito disso tudo?! Não há
dúvida! O panorama é já tremendo!

Às portas da catástrofe?!
Não havendo remédio que faça deter a marcha para a morte!...
Esta onda medonha que só tem crescido, com todos os gover nos, e suas Coligações!...

Quem é que nos acode?! Quem deve e não paga descategoriza-se e perde o prestígio. Com isto, depois, vem tudo o mais, incluindo, já se vê, a perda lastimosa da independência. Que grande catástrofe!
Onde o remédio, para males tão graves?! Estará na CEE o
grande segredo que nos vem libertar do grave pesadelo?!

Permita Deus que sim e que Ele nos ajude! Que dê a sua mão
àqueles homens sérios , de boa vontade que julgo teremos, afim de evitar-se o maior mal de todos -- a extinção da identidade num povo imortal que deu mundos ao mundo!

Se as coisas vão mal, h´-de haver uma causa! Efeito sem causa nunca existiu! Onde situar a dita origem?
Acho eu para já, que deve procurar-se, em um de dois lugares: nas pessoas do governo ou no sistema legal.

Há, evidentemente, factores estranhos, já interiores, já exteriores que podem aumentar o estado lastimoso, em que tudo se encontra mas ,no fundo, os motivos de raiz são aqueles dois ou pelo menos um deles!

Investigada a causa, -- pessoas e programas e leis vigentes -- é atacar, em sentido inverso. Continuar a marcha, isso não presta! Ajudar, sim! Corrigir prontamente o que julgam estarbmal, ainda que doa!
Não importa a dor que tende a curar o doente crónico!
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Lx. Belém
1985-06.14 Marco Histórico"
Assim parece. De facto, se tudo correr bem,pode ser uma viragem que venha compensar-nos, ao menos em parte, das perdas sofridas, com a entrega do Império, em condições,harto desastrosas, para o nosso país. Entrega, sim, pura e simples!

Ignoraram-se em pleno os direitos da Pátria e aqueles portugueses que viviam por lá. Tudo foi votsdo ao negro ostracismo! Os próprios indígenas ficaram entregues à mísera
sorte! Masm enfim, o mal está feito!

Agora, a partir da miséria, em que todos nos achamos,
( brancos e pretos, mestiços e amarelos), é que temos de encetar uma vida nova. Que eu não sou, realmente contra a independência! Ela tinha de vir, mais cedo ou mais tarde!

O que eu reprovo e não posso entender são as condições
em que tudo se deu! Agora, impõe-se vida nova!... Uma plataforma, que nos ajude prestes a subsistir, vivendo com honra, sem vergonha no rosto. Já no século XIV, reinando em Portugal o rei Dom Fernando, houve, bem sabemos, tentativas de expansão para o nosso Continente.
Aquele rei pressentiu, na verdade, o glorioso rumo histórico dum povo diminuto, mas fadado por Deus para grandes coisas!

A ideia expansionista e bem assim o alargamento do nosso território, no sentido europeu, andava na berlinda!
Fervia nas veias o desejo de aventura. Sentíamos decerto,
predestinação para levar ao mundo a civilização, dita cristã.
formada com base na greco-latina e, ao mesmo tempo, alargarmos as fronteiras da Pátria lusa.

Como, porém, fomos barrados pela forte Europa, dilatámo-nos então pelos mares fora, indo em seguida para outros Continentes.

Rumo à Europa não era possível.Por um lado, a grande cordilheira dos Pirenéus,obstáculo temível, d e ordem física;
pelo outro, nações mais poderosas impantes de seus territórios, jamais permitiriam a nossa aventura! Nem a mesma Espanha deixava prosseguir!

Qual foi sempre a aspiração de Castela? Não era anexar Porugal, tornando-o província?! O grande sonho dos reis católicos jamais se realizou nem realizará!...
Impunha-se, de facto, a referida expansão, mas para o Mar.

ssim aconteceu! " Se mais mundos houvera, lá chegara"
Este estado de coisas manteve-se, de facto, até à data fúnebre do 25 de Abril. Desde então, ficámos desguarnecidos, caindo na miséria milhões de pessoas, já na Europa, já no Ultramar.

Ninguém desconhece que os próprios indígenas foram atingidos, sem distinção de cores nem de raças! Um pavor!
A guerra civil continua ainda, passados 1o anos!

Um crime horrendo de lesa-humanidade!
A Inglaterra não fez de igual modo, bem como a França e a própria Holanda! Ficaram ligadas por fortes vínculos de amizade e apreço, assegurando-se bem os interesse de ambas
as partes
Cá, falhou isso, o que nos pôs em maus lençóis uma vez que, de Angola, como de Moçambique, vinham muitas coisas, em boas condições.Também os indígenas eram beneficiados.
Isto falta agora! Aonde ir buscá-lo?!

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Lx. Belém
1985-06-15 O Cristianismo na velha Europa.

Cristandades houve, na Ásia Menor e na África do Norte, que foram viveiros de grandes virtudes. Nessas mesmas regiões, outrora tão faladas e notáveis, sem favor, pelos santos famosos que ali se criaram e onde exerceram uma acção prof+icua, que vemos n´0s hoje?! Tantas vezes, nem sinal do passado!
Tudo o que é humano tende para a corrupção. Dá-se no físico e também no moral Requerendo-se esforço, disponibilidade e prontidão no serviço,, mais facilmente a pessoa degenera.

O homem é, por natureza, avesso ao esforço. Só por ideal, é capaz de o fazer. O ideal, porém, vai amortecendo, ao
longo do tempo, já por carência de generosidade e fiel correspondência à graça do Senhr, já por escassez dessa mesma graça que Deus sempre recusa a quem a não merece
nem faz por ela!
Seria, a rigor, dar pérolas a porcos, perdoe-se a expressão! Quando Maotsetung andou pela Europa, estudando e observando, tirou conclusões que não posso esquecer.
Alguém lhe perguntou:" E que tal os católicos?

-- Não creio neles! Fingem somente! Não estão convictos daquilo que manifestam! É artificialismo que ostentam nas maneiras!"
É o que se chama agora "testemunho negativo", dado pelos Europeus.
Não vou pronunciar-me sobre a veracidade que a resposta encerra. Entretanto, já é de lastimar que fosse tirada essa conclusão!
Mao, na verdade, era um homem de cabeça, arguto, observador!
É o caso de perguntar: todos os Europeus serão exactamente como os que ele viu?! Aplicarse-á o designativo a
todos em geral?! Acho que não! Muito longe disso! Não os viu todos! Ouso até dizer que só observou casos isolados, onde o mal avulta, porque faz alarde!

Quem pratica o bem, segundo o conselho da Sagrada Escritura, (Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a direita"
não o faz jamais, por ostentação! tende sempre a esconder-se
furtando-se à vista dos restantes homens.

Não obstante as excepções que devem ser muitas, ( que seria
de nós. se não houvesse, na Terra, belos pára-raios da jua«stiça divina), a verdade é que há muito de fachada na crença de alguns!

Uns praticam, realmente, sem convicção, levados talvez por seimentalismo, velha rotina ou pela tradição; outros, Para insinusr-se no espírito alheio, com vista pronta a serem considerados; outros ainda, para fins inconfessáveis que o diabo conhece.

Que dizer, pois. de tal catolicismo? Para que servirá? A quem
aproveita? Agradará. por acaso ao Senhor do Universo?!
É uma desgraça que tal aconteça! Aos homens deste mundo podemos enganar, mas a Deus não! Ele nos julgará, no último dia!
A hipocrisia dos chamados fariseus foi bem sacudida e até
desmascarada pelo Mestre Divino! Se a tivermos, por igual, não seremos poupados, no dia de contas!
Deus é justo para todos,, recto, santo e bom.
Sentir uma coisa e fazer ver outra é detestável , baixo, asqueroso!

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Lx. Belém
1985-07-01 Duas Chaminés

Inestimáveis serviços prestam, no geral, essas aberturas, que dão pelo nome de chaminés. Com efeito, libertan a dasa de produtos nocivos, como seja, porexemplo, o óxido de carbono. Por isso, as vemos irromper de telhados amigos, que protegem sempre as nossas habitações.

Como elas se encontram a nível superior, descarregam os produtos, na atmosfera envolvente, enquanto as árvores tomam a seu cargo transformar os gases tóxicos em carbono e oxigénio. Havendo plantas, nunca chegam, de facto, a incomodar,em larga medida.

Aquilo que Deus faz corre sempre bem. Ele próprio se encarrega de solucionar os grandes problemas! Já o mesmo não sucede no que o homem faz!

Bom. O que agora me proponho é, na verdade, um tipo de chaminés, a nível mais baixo. Deu-se ontem, na Amadora.
Na rua designada por 5 de Outubro, esperava eu que chegasse a " Carreira", com destino a Belém. Há outras Carreiras, mas esta, afinal, é mais directa. veloz e agradável

Ao chegar à paragem, ninguém estava ali. Entretanto, chegava-se a hora
Nisto, surgem dois homens que ficando à minha esquerda, logo puxam do cigarro. O vento, nesta hora, impelia o fumo, de encontro a mim,
Escusado é dizer que me senti infeliz, miserando e pobre!
Os dois mariolas faziam de Chaminés, deixando emanar fortes
espirais de fumo pardacento e nauseabundo!

Não precisio dizer que vinha molestar-me e tirar a paz
Para mais agravar a aflitiva situação, permaneciam ambos harto
inconscientes daquilo que faziam!

É lamentável que se tenha chegado a tal insensatez! Ao menos, mudavam~se um pouco, ficando então eu para o lado esquerdo!
É o mudas! Só egoísmo! Para onde foi hoje a delicadeza,
a prestabilidade, a gentileza e a mesma caridade?!
Embotou-se já o sentimento humano?!

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Lx- Belém
1985-07-02
Teve ontem princípio um novo semestre. Por esta via,
atingimos, de facto, o meio do ano, encontrando-nos agora a iniciar a descida que leva directo ao ano 86, A pouco mais de 15 anos, para alcançarmos o ano 2000!

Quem terá olhos ainda, para o fixar?! Deus é quem sabe!. A vida humana está na sua mão! Eu é que, provavelmente. já não aspiro a tal aventura ou melhor, podia aspirar, mas daí à realidade, pode mediar uma longa distªancia!

Seja feita, neste mundo, a vontade celeste! Se eu lá chegasse, teria, nessa data, 82 anos! Pode ser que chegue! Coloco-me inteiramente nas mãos do Senhor!( Agora, que passo a computador, j´ultrapassei
90!) Que Ele faça de mim o que for melhor para a minha salvação.

Já que tudo falhou, aqui neste mundo, querro assegurar a parte mais útil, após a minha morte! Deus me ajude agor a recuperar aquilo que perdi!
A frase de Bocage, no soneto famoso, " Saiba morrer quem viver nãu soube" tem aplicação, no meu caso pessoal!

Não me tenhorealizado, segundo os predidados e gratas aspirações, que senti, na minha alma, Fui na vida o que outros quiseram; não o que eu queria, amava e sentia! Molaram-me a capricho, utilizando sempre a minha ingenuidade, posição social,
generosidade e origem humilde!

Por este caminhar fi a minha vida um mar agitado, incongruente e desluzido, inconformado, algo reticente e angustiador.
Vou nos 68: fá-los-ei em Fevereiro de 1986, se Deus o permitir!

A fé nos homens há muito a perdi! Detesto e verbero suas más acções, na medida em que agiram, para tomar o comando e roubar o que era meu: a escolha pessoal, o caminho preferido, o ensino isento.
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lx. Bel«em
1985-o7-03 "S"Reverso.

É também chamado (s) beirão). Gonçalves Viana, que é, segundo creio, o foneticista de maior envergadura, no mundo português,
descreveu assim a exacta pronúncia do s reverso: " É proferido, com a parte anterior, um tanto côncava, da ponta da ponta da língua, no convexo das gengivas dos incisivos superiores".

Como eu sou beirão, por haver nascido em Vide-Entre-Vinhas,
concelh e comarca de Celorico da Beira, interessa-me a questão. Para mais, tratada como foi por Gonçalves Viana!!

Não que eu goste do sonido De maneira nenhuma! Até ouso afrmar que é, seguramente, a maior fealdade que tem a prosódia da língua portuguesa. Será falta de bairrismo, entretanto, não sei mentir nem o quero fazer. Porquê disfarçar?! Afirmar o contrário daquilo que sinto nunca foi doutrina que pudesse quadrar-me!

Quanto eu me esforço para o liquidar,mas é quase vão o meu trabalho, ao menos em parte! Sendo inicial, ainda o cosigo,mas noutras circunstâncias, não vejo saída!

Observei já o caso, em pessoas da província . Dá-sse o mesmo caso! Sendo inicial...Tenho imensa pena!
Gostaria, realmente, de imitar no caso o s coimbrão. É muito suave, repousante oce, enquanto o reverso arranha no ouvido e confere à linguagem um tom desagradável.

Se não fosse ele e o sonido ão, a língua portuguesa seria a primeira, ainda acima da italiana. Refiro-me, neste caso, à musicalidade. Se não fosse a demasia das vogais que enervam profundamente o Itaiano! O Português tem mais colorido e variedade.

Com a pronúncia de Coimbra, é a mais bela , fascinante e deleitosa de todas as línguas que há, neste mundo.
Eu é que não consigo!
Por ser mal soante, verifico nos Franceses e mais ainda nos Bsasileiros e Alemães, um cuidado extremo em evitarem o s reverso
Os Franceses, em casos diversíssimos, tornam-no mudo: le's sien's
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Lx. Belém
1985-07-04 Ainda o s Reverso.

Os que nasceram, como eu, na área precisa do s reverso, pronunciam-no, a rigor, sem fazer esforço, para o conseguir.

Na Beira Baixa, então, é pior ainda o caso em foco!
A Sul da região, banhada pelo Mondego, há melhor pronúncia do s
que tratamos. Não foco agora se é lídima ou não, se é mais portuguesa e, por isso mesmo, de preferir.

Esse aspecto não me ocupa, de momento, É que em zona montanhosa ou de periferia, conservam-se mais os traços autenticos da língua materna, pois remonta, com certeza, *as próprias origens. Quanto mais isolada e sem comunicações for
uma zona, menos eivada, com dadoos estranhos!

Lembra-me o que li, em Câncico de Figueiredo, a propósito do caso. Ao ser consultado, em questão de pronúncia, mandava ir a S,Bento ouvir o João Franco, Ministro de D,Carlos, para acertarem a pronúncia do s.
O famoso político era, ao que sabemos, de uma aldeia remota, vizinha do Fundão -- o Alcaide.

O citado filólogo dava como genuína a sua pronúncia, que não tentou jamais alterar em nada! Fazia gala disso, esmerando-se
ao máximo por salientá-la!

Bom! Era certamente, um caso de barrismo. A tanto não vou eu! Incomoda-me tal s e noto, ao ouvi-lo ( ainda o meu) que torna a prosódia algo inestética , feia, arranhante! O meu ouvido repele-a,
com grande presteza! Devia eliminar-se, embora seja lídimo, nacional e portuguès.

Já vi os estrngeiros mofando a valer, por causa do s!
Alguém da Alemanha perguntou uma vez:" Então você é da terra do
aõ... aõ e do xe... xe?... "

Fiquei amachucado e até mal disposto, porque a língua portuguesa é das mais belas, quanto a sonoridade, flexão e colorido, e entoação.
Dá-se, porém, o caso de apanharem eles o que há nela de pior!
Ora bem. Como formamos o plural dos nomes, por meio dum s,
avulta desmesurado, salientando-se a valer!

Em certo linguajar, lá na Beira Baixa, produz além disso, verdadeiros assobios, que deslustram, ao máximo, a doçura da loquela! É tão fora de norma o s reverso, que tendeu e tene , ora para x ora para j.
Foi o caso da " vesiculam"que deu "bexiga", (na lingagem do povo ) e caije nada.

Os que nasceram na Beira e nunca de lá saíram nem jamais contactaram elementos de fora, não se apercebem logo da enorme
fealdade no s reverso! Noutras circunstâncias, o caso é diferente.

Na Escole Primária, não sendo já antes, é que devem os Mestres tentar a correcção dessa feia pronúncia., contribuindo assim para limsr o ikidioma, tornando-o, sem favor, um dos mais belos, em questão de harmonia, sonoridade e até colorido!

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Lx. Belém
1985-07-05
Aproxima-se já o belo dia 8, que aguardo em alvoroço.
ÁS 11 horas, segundo informação, partirei satisfeito, da Rua Casal Ribeiro, lá para a Estefânia, rumo a Guimarães. A Rodoviária vai ali conduzir-me, para então remoçar, ao longo de três dias, em
contacto amistoso com o saudoso Antero.

Leva-me ao Norte a amizade inquebrantável e o afecto acrisolado, que sempre mantive ao Notário de Guimarães, Antero Ribeiro Tavares.
Desde os bons tempos, em que fui professor, na cidade Pinhel, nunca mais esqueci os simpáticos alunos que ali amestrei.
Entre eles, ocupa decerto, lugar especial o Doutor Antero

Durante 7 anos, láme conservei,, ensinando gostoso v´rias matérias, em que figuravamM Português e História, Francês e Canto.
Foi, na verdade, ao principiar a segunda metade do século XX,
que tive como aluno o referido jovem. então adolescente, com os seus 1o anos.
Mito vivo ele era, de olhar luminoso, inquiridor e afectuoso.
Nas provas das aulas. distinguiu-se entre todos.Havia somente o Canotilho a ombrear com ele.

Os primeiros exames vieram confirmar a opinião formulada.
Nessa altura, dispensavam-se os alunos que obtivessem 16!
Exigiam bastante! Raros eram os jovens que atingiam a média!
Pois o Tero, como então lhe chamávamos, era na verdade um amor de criança!
empre risonho, muito bem disposto e amável em extremo, insinuava-se logo no espírito das gentes. Além disso, como aluno era excelente!
No tocante a disciplina, assiduidade e gentileza, era exemplar!
Ali convivemos,, no Curso Liceal, que abrangi 5 anos.
Houve sempre entre nós esoecial camaradagem. Muitíssimas vezes, fomos ambos passear, ou que eu o chamasse ou que ele
próprio viesse ao meu encontro!

Nunca mais olvidei o aluno brilhante e deveras amigo.
Entretanto, o Curso posterior e, seguidamente, a Universidade,
empiorando também a minha abalada para a vila de Manteigas,
tudo então nos afastou, fisicamente.

Apesar de tudo, na minha mente e mais ainda no meu coração
nunca mais se apagou essa grata memória!
Um belo dia, apareceu em Manteigas, já como Delegado do Ministério Público, Foi grande o regozijo que logo senti.

Entretanto, deu-se breve a transferência , para a Vidigueira.
Isso convinha-lhe, afim de subir e ser promovido. Depois, eu fui para África e não mais nos encontrámos!

É agora, sim, que matamos as saudades, revivendo passado
e dando expansão »as nossas almas.

Quanto foi desejado este encontro amigo, ao lolongo dos anos que transcorreram longe! Mas, enfim, Deus que é bondoso, proporciona a todos, ocasiões favoráveis que dêem cumprimento a
fundas aspirações!
Que Ele swja bendito, louvado e amado, por todos os benefícios que me tem concedido!

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Lx. Belém
1985-07-06 Troncos nus

Vi-os em Angola, no Sudoeste Africano ( Namíbia) e na África do Sul. Havia-os a montes, dispersos na paisagem, ninguém estranhando! Troncos a esmo do chamado pau-ferro, já bem seculares, que tinham arrostado com os temporais, calores ardentes e grandes alternâncias, da noite para o dia, ali se mantiveram, firmes quais rochas, dando fortes provas de grande solidez, resistência e firmeza.

Nunca arredaram! Jamais cederam! Nunca ,de saber meu, alguém, por ventura se escandalizou,, com seu proceder!
Ao fim de muitos anos, séculos talvez, largaram a casca, mas não o fizeram espontaneamente! Foi-lhes imposta essa mudança!

Por tal razão é que eu os admiro! Não foram eles a tomar a decisão:
os factores climáticos, o tempo e os homens é que se impuseram de maneira tal,que o seu viver logo se alterou, embora com pesar!
E eu, por isso, olhava-os benévolo, fixando os troncos sem protecção e de pálida cor! Entretanto, continuavam de pé, arrostando ali com os temporais e sentindo orgulho, pela sua oudadia! Coisa admirável! Resistem sempre esses troncos já velhos, em cuja estrutura entrsm células já mortas!!

Na selva africana, desloquei-me aos povoados: uns, de pretos; outros, de brancos. Aqueles nomeavam-se embalas, sanzalas ou quimbos; estes: cidades, vilas ou aldeias, lugares ou lugarejos.

Tanto nuns como noutros achei troncos nus, o que me fez espécie, dando-me a pensar!.
Gosto, geralmente, de baixar às causas, atingindo as razões que que presidem aos factos

Estes, afinal, eram troncos humanos O facto em si levou-me
desde logo a fazer comparações. Encontrei semelhanças e,de igual passo, enorme disparidade.

Os primeiros troncos de que falei acima, eram constituídos por células mortas; os segundos. por células vivas.
O revestimento dos citados primeiro, fora arrancado, contra sua vontade, sem deixar memória. Da raiz ao cume, só o tronco se via; nos outros, poém, só parte do tronco ficava patente!, donde concluí existir vergonha, junto ao pudor, com respeito ao próximo.

No entanto, esta cobertura vai encurtando, por maneira tal, que eu fico perplexo! Já se tenta mesmo o nu total
Terá o homem, de facto, enlouquecido ou então a mulher?!
Ou ambos, juntamente?!

Valha-nos Deus! Haja decência, higiene e propósitos! Os outros seres vivos merecem respeito! Serão eles obrigados a aturar caprichos, ceder a veleidades, aguentar macaquices e cheirar a próximo?
Quem pode obrigar-nos a tanta humilhação, disparates sem igual e falta de senso?!
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Lx. Belém
1985-07-07 Tronco nu em Lisboa.

Se tento este assunto, não é,a rigor, por ser puritano ou de vistas acanhadas. Foco-o somente no campo da higiene. sob a face da estética, da necessidade, respeito aos outros e da personalidade.
1. Higiene.
Dizia um velho amigo - o senhos Mourão - que estava hospedado no Outeiro de S, Miguel, não longe da Guarda; " Não há buaco nhum, no corpo humano, que não deite porcaria"
Está certo ou quase! É isso exactamente, adefesa constante do nosso organismo! Se assim não fora, estávamos perdidos!
Entretanto, são produtos nocivos que, liberta pronto, lançando-os fora, através das aberturas.

Alguns deles são tóxicos e bastante deletérios; outros, não cheirando mal, são prejudiciais; outros ainda, não podem suportar-se. devido a exalações altamente nauseabundas!

Sejam quais forem esses produtos, ninguém ao lado pode suportá-los! Nem admira nada que seja assim! Se o nosso organismo os vai eliminando, é por serem nocivos! Deixarão de o ser, no que toca a vizinhos?!
Nem se diga também que o banho e os perfumes, dão atalho a isso! Ninguém me enrola! O perfume apenas disfarça! Esconde, na verdade, uma situação que não pode eliminar. Tanto mais que os produtos são permanentes e o tal disfarce é bem passageiro!

Quanto ao banho, o mesmo se aplica: resolve a questão num tempo limitado, ao passo que o organismo, para auto-defesa, está sempre
elaborando e breve eliminando produtps nocivoa

Bom. Chegados a este ponto, vem uma pergunta: desejarão as mulheres ( só as atingidas) impor aos homens este castigo?! É muito incómodo o cheiro a próximo!, havendo alguém que tenha de aguentar! Até o cheiro próprio custa um pouco! Quanto mais o dos outros?!
2, Vem agora já um ponto delicado - o da estética!
Deu-me o Céu bons olhos, para avaliar a formosura feminina e, de igual passo a sua deformidade.

Convenho, realmente, em que há, não raro, corpos modelares, que serviriam de norma ,para os escultores. Contudo, não são a maior parte! Antes ao contrário, são minoria, bastante restrita!
No geral, há imensa deformidade, motivada , claro está, por causas diversas,

Não vou aqui alongar-me, descendo a minudências, pois era enjoativo fazer tal coisa e levaria bom tempo! Além disso, causava logo intranquilidade, em muitos corações! Entretanto, os factos permanecem e são inegáveis! Sendo isto assim, é desde já bastante aconselhável que as nossas mulheres se não fiem no espelho, chegando à conclusão de que é mentiroso.
Concida a mulher de que eu flo verdade, acautelará breve as suas deformidades, afim de evitar arrelias e enjoos, nos outros seres vivos!!
Ninguém se arrogue o direito de contribuir, só por maldade, para o mal-estar. do género humano!

Acabando ahora o meu arrazoado, quero lembrar uma coisa
importante que o povo português condenou há muito, num formoso
adágio: Quem nos avisa bem decerto nos quer!"
Não intento, a rigor, que me queiram bem. É coisa valiosa que não se compra!

Entretanto, basta para mim que não me tenham rancor!
Como prova de estima, aqui lhes deixo um conselho de amigo: as que não se impuserem pela formosura do corpo material, cultivem a fundo a beleza da alma, que não se disforma e tem como prémio as Moradas eternas
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Lx. Belém
1985-o7-08
Pelas 10 horas, chegava açodado à Rua Casal Ribeiro, não longe do Saldanha, para dar início ao longo percurso que me levaria à cidade Guimarães. Aqui reside, sem dúvida, o meu querido amigo, dos tempos de Pinhel - Dr. Antero Ribeiro Tavares, que ali exerce, com brilho e louvor, a profissão de Notário.

Às 11, em ponto, é que partiria, segundo informações.
Afinal, houvera alteração, ja no horário, já no itinerário.
Conclusão: partida às 11.30, a qual se efectuou, rigorosamente, aos 1o minutos para o meio-dia. Em tais ocasiões, vale a paciência!
Assim,pois, quase ao meio-dia, arrancámos de Lisboa, em busca pressurosa da auto-estrada! Uma vez aqui, fazendo, como é uso, os desvios necessários, entestámos logo para Leiria e, em seguida, para Coimbra, aonde chegámos, às 15 e pouco.
Volvidas duas horas, estávamos no Porto, donde largámos para Guimarães, dando aqui entrada, aos 2o para as 7..Era um pouco tarde! Por mim, nenhum entrave, pois, estando em férias, que podia obstar?! O que me doía era o tempo gasto pelo meu amigo, que aguardava paciente, havia quase uma hora!

Mas, enfim, que podia fazer eu?!Apenas lamentar o sentir-me oprimido!
Bom. Ao descer do auto-carro. vi-o sem demora, prestimoso como era, amável e risonho, estendendo os braços, para me saudar.

Reconheci-o logo, embora na verdade o achasse bem mudado! A última vez que nos tínhamos visto ia já bastante longe - 1968 Dezassete anos! Era um lapso de tempo assaz considerãvel que não passava em vão!
Deixou marcos e sinais, que breve descobri! No entanto, isso não obstava a que identificasse o meu amigo Antero!

O trabalho exaustivo, preocupações a montes, canseiras diversas puxam pela vida, assinalando o agir.
Trocados que foram os nossos cumprimentos, pega ele na maleta, encaminhando-me logo para a viatura, que havia de levar-nos para a moradia - um segundo andar, que é deveras um sonho: moderno excelente e bem iluminado.

Enquanto aguardávamos que chegassem os restantes - esposa e filhos, ocupados com exames - íamos conversando, a lembrar tempos idos e velhas amizades. Passámos em revista nomes e situações, até que, por fim, chegou também a senhora da casa, a Dona Belém Tavares e os filhos ambos. - Carlos e Cristina.

O penúltimo era de peito, quando chegaram à vila de Manteigas.
Nascera em Lisboa. A Cristina surgira depois, já na Vidigueira, no Baixo Alentejo. Esta segue Históricas,ao passo que o Carlos prefere Direito.
Quanto aos alunos, em tempos de Pinhael, veio logo a pêlo a Maria de Fátima, cursada em Direito, a qual, segundo consta, exerce a actividade, no próprio Ministério da especialidade.
Em Lisboa também, o Armando Marta , que é Redactor no Jornal - A Capital.Quanto ao Lourenço que um dia encontrara, junto da Baixa,informou o Antero que morrera de desastre. Tive muita pena!
O Liberto é Director dum Banco, lá para Viseu, vivendo feliz e em boa situação. Gostaria imenso de encontrá-lo agora Creio tratar-se do Banco Burnay. O Joaquim Canotilho é lente em Coimbra. Aqui também exerce, em igual situação, o Avelãs Nunes.
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Lx. Belém
1985-07-09
Visitara Guimarães, havia já uns 32 anos, pois tantos decorreram, entre 1953 e 1985. Após qaquela data, vim aqui uma vez, pra tratar duns assuntos: não foi visita!. Em 1953, embora visse a Penha, muito de relance, não foi também uma visita em forma.
Passei por aqui, na grata companhia de minha irmã e cunhado, que se encontravam, à data, em lua de mel.

Desta vez, o caso é diferente!. Só Guimarães eu tenho em vista., embora não conte demorar-me bastante! Sendo isto assim, há logo mais tempo e melhor ambiente, para ver um pouco do muito e belo que tem a cidade. Para recordação, vou fazer uma resenha do hoje visitei.
Após a merenda que veio deleitar-me com o mel de Pinhel,
arrancámos logo, no Opel Vadett, rumo directo à famosa Penha:
O condutor e simpático amigo, Notário da cidade; o filho mais velho, de nome Carlos que, aos 17, já tem ao que sei, o 12ºano! de
escolaridade.e projeccta formar-se em Direito Civil: fialmente, o hóspede amigo que escreve estas linhas.

Cheios de euforia, entestámos logo ao antigo Castelo, onde viu primeiro a luz deste mundo o valente Afonso, dando rápida mirada ao Paço dos duques. Em seguida,começámos a circundar o monte, afim de alcançarmos o topo do mesmo.

Bela paisagem agora se oferece à nossa vista! A vegetação, pujante e mimosa, sobe a encosta, deleitando o nossolhar, com seu colorido, e o olfacto por igual, com aroma inebriante!
Habituado a Lisboa, estranho a valer a mudança de ambiente, mas sinto, na verdade, que tudo, nesta ona é bem mais
português!
Emergem as parreiras, que formam ali extensos parreirais.
estendendo-se depois, na extensa paisagem, a perder de vista!
Encontrzmo-nos agora no topo do monte
Um Largo dilatado, onde vamos parar a nossa viatura!

Cantos vibrantes se elevam nos ares, entoando com ânimo os "Parabéns a Você". Neste local, olhámps ao longe, mas pouco observámos.
Havia muitas nuvens, a caminho de Braga! Entretanto, fixámos a cidade e a bela vegetação que reveste a encosta, donde emergem as videiras, que vão fornecer o "Vinho de enforcado",Ali vivem elas, firmemente agarradas a plantas amigas, que lhes servem de apoio e,em simultâneo, as libertam da humidade!

Em seguida, mir´smos a Capela, feita de granito. Quisemos entrar, mas estava fechada!
Impunha-se agora uma nova subida, mas esta a pé, galgando
escadinhas e encurvando-nos, dob massas rochosas, que se encstam, por vezes, umas nas outras.

Entestamos, em seguida, ao pico mais alto, onde se ergue majestosa a estátua de Pio IX, Tudo arranjadinho, com asseio a primo! Pequenas mesas, feitas de granito, convidando o forasteiro a abancar ali!
Bom! Dilatando, amplamente, o olhar embevecido, pela vasta redondeza, comaçámos descendo, para chegar à igreja da Senhora da Oliveira,que precedeu já a fundação do Reino.
Um pouco mais abaixo, a exígua Capela de S Mamede, onde
foi baptizado o nosso primeiro Rei; o célebre Campo, onde Dona Teresa foi derrotada e logo o velho Castelo de Guimaães, primeiro berço de Afonso Henriques.

Não longe dali, num troço da muralha, vê-se uma inscrição:
"Aqui nasceu Portugal" Avistámos ainda a Capela de S Dâmaso que foi Pontífice da Roma Católica e havia nascido, sm solo nacional.
Este e João Paulo I eram portugueses!

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Lx. belém
1985-07-10
Desta vez, saí do "casulo" e fui sozinho explorar o terreno. Primeiramente,segui pela Avenida que se estende em frente e se nomeia de D. João IV, a inclinar para a esquerda.

Demandava o Castelo, mas ficava à direita, em sentido oposto. do que só me apercebi, havendo já ultrapassado o Hotel do Fundador. Chegado à extrema parte, recuo prontamente.

Agora, estava de facto no caminho certo. Ao fundo já, ergue-se airosa, com linhas esbeltas, a igreja de S.Guálter, ostentando orgulhosa duas torres modelares, que terminam em bico.

Depois, fui subindo, a costear pela direita o Paço dos Duques, em frente do qual se apruma altivo o famoso Castelo,orgulho da cidade
Estava calor e senti fadiga, Apesar de tudo, não resisi à tentação! Subi lá cima, deparando-se logo o seio vazio e sem visos claros de habitações. para alguém lá viver! Supunha eu que houvesse divisões. Não foi ali que nasceu o Rei fundador, o grande Afonso Henriques?! Houve, pois, quem ali habitasse, em datas recuadas.
Entretanto, agora, afastados nós, por quase mil anos, já nos foge inteiramente a grande animação que lá devia reinar, em tempo de paz, com saraus e bobos, quer em plena luta, arremessando setas e virotões, pedras e mais!

Essas vozes, porém, emudeceram já. Imaginamo-las,coaas pelos séculos e recriadas pela nossa fantasia. É, na verdade, um mundo silencioso que nos fala ainda, pois do alto rochoso daquela fortaleza, nós, Portugueses, temos ainda bastante que devemos recordar, aprender e seguir.

Lá encontrei a torre de menagem, firmada sobre rocha, no centro da fortaleza.
Nos vários ângulos do grande arcaboiço, as torres quadrangulare, com balcões e ameias. erguendo-se ufanas, hirtas e orgulhosas do seu passado glorioso.
Ainda assim, desligado inteiramente , desse tempo glorioso, em que era inexpugnável, falou com entono ao meu coração!

Castelo de Guimarães. não te olvidei, na minha digressão nem porei de parte a grande lição que tu me deste!
Em seguida, prparo-me já para descer, fazendo logo caras à famosa Capelinha, onde foi baptizado o grande Rei, Afonso Henriques.
Nas cercanias do velho Castelo, recordei, emocionado, a histórica batalha de de S, Mamede, entre D, Afonso e a própria mãe, Dona Teresa. Sendo ela vencida, saiu logo prisioneira, para Lanhoso,, em cujo Castelo iria passar os últimos tempos.

Lembrei, a propósito, as referêmcias de Camões, . Após haver tecido os maiores elogios ao Rei-Fundador, no Poema imortal,
vinca a censura: " Mas de Deus foi vingada em tempo breve\
Tanta veneração aos pais se deve!"

A verdade, porém, é qye a política de Dona Teresa era favorável ao Conde galego, Fernnando Peres de Trava, opondo-se este à independência do nosso Condado. A Providência, porém, talhara D Afonso para viver livre e fundar um reino que iria dar brado. no mundo inteiro, pela acção cristã, civilizadora e missionária.

Poderia, sim, tratá-la no Castelo, com benevolência, humanidade e carinho. Foi harto severo, temendo com certeza, o retomar das hostilidades. o que viria impedi-lo de conquistar aos Mouros as belas cidades que hje possuímos e haviam feito parte da Lusitânia, (Portugal antigo).

Resta agora apenas fazer referência a um facto lastimoso.
Ocorreu ele, segundo me informaram, no conhecido Museu, Alberto Sampaio. Falarei do caso, em outro Diário.
O criminoso de lesa-Pátria fugiu para o Brasil, ao sentir-se
receoso, Está sendo julgado.
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Lx. Belém
1985-07-11
Nestas digressões, vejo e ouço coisas diversas, algumas das quais me deixam abalado, bastante pensativo e
muito indisposto. É o caso lamentável, ocorrido há anos, no Museu citadino, Alberto Sampaio.

Ao que dizem por aqui, foi um dos Capitães do 25 de Abril
quem actuou, nessa data, cometendo assim, a maior vilania, de que tenho memória: o roubo sacrílego da coroa real poertuguesa
e um cordão de ouro que se encontravam guardados, e eram pertença da nação portuguesa.

Mais ainda: os dois objectos eram sagrados, pois o rei portuguès da 4ª dinastia, D, João IV, havia oferecido a coroa ream a Nossa Senhora da Concição. O mesmo fizera D. João 1º da primeira dinastia, se ganhasse a batalha de Aljubarrota, o que veio a acontecer, pelo que ofereceu a Nossa Senhora um cordão de ouro, com um quilómetro de comprimento, prometendo fazer descalço o percurdo dum quilómetro, o que veio a suceder.

Património do País era já um bom título a exigir respeito, contenção e domínio, ante o roubo inadmissível das jóias da coroa - Seja onde for, constituem um depósito que diremos intocável e que todos respeitam!Ele, porém, é que não hesitou e foi por diante, consumando , sacrílego, uma acção vergonhosa e intolerável.
Entretanto, para livrar-se de incómodos, fugiu para o Brasll, onde está sendo julgado! Isto é o que dizem por aí. Só eu é que nada sabia!
E era tamb«em capitão de Abril! Com esta massa é que fazem revoluções os povos da Terra! Que podemos esperar de elementos assim?! Se nada valem razões humanas e até desprezam motivos sagrados!
Confesso abertamente que me sinto revoltado e cheio de vergonha, por acção tão baixa, vil e sacrílega e altamente diaólica!
Que feio atrevimento, vergonha e petulância revelam tais acções!
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Guimarães
1985-o7-12 Oásis

Porção de terra, fértil e mimosa, regada a capricho e ensombrada, no meio duma paisagem, ressequida e inóspita. Ouvia falar deles e via-os pintados, em livros e revistas. Fazia, pois ideia de que seria aprazível. No meio da aridez, secura e desconforto, um vale carinhoso, pequeno embora, mas cheio de frescura, sombra e paz.!..
Como há-de ser bom, refrescante e desejável! Isto era, na verdade, o que eu imginava! À falta de realidade, vinha a cojectura, entrando em função a minha fantasia.

Bem. O que eu, realmente, não tinha experimentado, ao longo da vida, em toda a extensão, vejo-o presente agora, de maneira sem igual, aqui em Guimarães!
A minha vida, em Lisboa, tem sido agitada e cheia de problemas, nestes quase 6 anos, após o regresso da África do Sul.
As condições lamentáveis, em que fui deixado pelo Abril de 25, forçaram as medidas, que têm depauperado o meu organismo,roubando o sossego, a paz e o bem-estar, a que tinha direito, já pela idade, já pela vida, assaz trabalhosa,em que tinha singrado!
Além disso, viver em Lisboa é duro martírio. Com efeito, não se adapta a gente, de modo nenhum , aos 67 anos que já levo, neste mundo! É tudo a correr, sem horas para nada! Atropelamentos, palavras duras, incompreensão e feroz egoísmo, sem faltar ainda vaidade e luxúria!

Para avivar o inferno, só provocações, depravados exemplos,
impudor e cinismo, ares apestados e densa poluição!
Sendo isto assim, figura um labirinto, onde a alma se conspurca,, não fugindoo corpo à mísera sorte! Cansasso da alma e enervamento do próprio corpo!

.-Em tais condições, vem-me do Céu um lugar repousante, aqui em Guimarães.. A própria cidade, embora industrial e muito buliçosa, parece-me calma, harto sossegada e muito receptiva.

Não vejo nela aquele frenesim que pronto desconcerta, lá na capital! Mas onde eu vivo, no 2ºdireito, Rua D, João IV, Bloco 8,
o caso é sui generis!Não chegam aqui os rumores lá de fora!

Apenas me visita a voz dos sinos, que não se envergonham, e o lento ressoar dos relógios pacatos, situados nas torres. Tudo o mais se apaga ou chega diluído a esta habitção do meu grande amigo e Notário da cidade, o Doutor Antero Ribeiro Tavares a
cuja amizade, penhorante estima e fidalguia fiquei eu devendo este belo encontro!
Andava há muito no pensamento e descera breve ao coração
esta grata visita. Por duas vezes, em cartas enviadas, me falara já "numas férias minhotas"Teve agora a sua vez esse mútuo desejo!

Amanhã, já quase se perfazem oito belos dias! Tão grato se afigura convver neste lar! Há 4 pessoas que nele vivem felizes: os
ditosos pais, Antero e Belém, e o grupinho adorável, Carlos e Cristina
Em Músicas belas, descubro, às vezes, notas destoantes. Aqui, porém, isso não ocorre!! ´É tudo harmonia, paz e bem-estar
Resulta o facto, da compreensão, bom entendimento e dedicação que se nota em pais e filhos.
O amor que os une, a lisura de consciência e os nobres sentimentos que todos revelam e entram em acção, ocasionam de facto esta maravilha.-- um lar unido, íntegro, feliz e assaz admirável, por Deus abençoado,, em que a gente se eleva, esquecendo a sordidez , que vai pelo mundo!

Foi, na verdade, qual oásis selecto que a amiizade sugeriu, para olvidar toda a mesquinhez , grossaria e petulância dos grandes centros
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Guimarães
1985-07-13
Às 5 e 25, o despertador avisava, canseiroso de que era necessário abandonar o leito e dar-se logo pressa, afim de sairmos para Compostela. Ficara assente, no dia anterior, que a bela Santiago, na velha Galiza, nos iria receber como visitantes e
peregrinos. Para mim, era caso excitante. Com efeito. nunca ali fora. em dias da minha vida.

Ao todo, éramos 5: os meus bons amigos, gentis e simpáticos, Antero e Belém, Carlos e Cristina, e quem isto escreve.
No tocante a eles, já não era excitante, pois tinham lá ido. mais de
uma vez
Tratando-se afinal, dum belo passeio. em terra, desconhecida, aco dei muito cedo, havendo quebrado o sono do costume, ao longo da noite. Sucedeu, pois, o que er de esperar: antecipei-me ao despertador. Dali, no entanto, não viria rande mal, embora fosse preferível que houvesse dormido., sem quebra nenhuma.

Dentre os 5, fui eu o primeioro que dei início à faina.
Aprontadas que foram as diversas coisas, elaborei as notas do dia anterior, que haviam ficado só em potência. Cansaço da minha parte e falta de tempo ocasionaram o facto.

Entretanto, chegam rumorres ali de perto: eram, na verdade, os anfitriões e os caros herdeiros que punham em ordem a bagagem a levar. Não que fosse muita coisa, mas ia bastar, para aquele dia!
Belo arroz de frango. com vinho e fruta, não falando já no pão espanhol, que depois compraríamos. em terra alheia.

Deixámos então a casa hospitaleira, dando breve mirada pelo arredor. Havia nevoeiro, o que não agradou! Entretanto, a esperança de melhoras trouxe-nos alento, infundindo confiança!
Por outro lado, tornaria mais fresco o ar atmosférico, na quadra estival.
Fazendo então caras à cidade Barcelos e depois à de Braga,
seguíamos porfiando, já que o percurso iria a 200 e tal quilómetros.
Aproximadamente a 23o! acrescendo a isto a chuva miudinha, que depois surpreendeu, vimos tudo agravar-se junto à fronteira!

Aqui, sim, fiquei mal disposto! Havia uma bicha a perder de vista, dando a impressão de que estava sempre igual! Coisa aborrecida, ingrata , inadmissível!Ignoro as razões, mas ainda que existam, são inadmissíveis! Por que não imitarem a breve passagem, por Vilar Formoso,?! Aqui é sempre a andar!

Quem procura antecipar-se, madrugando a valer, por causa das distâncias, não pode suportar demasiadas esperas! Desafinam-se os nervos, surge brevemente a má disposição, originam-se até desastres na estrada!
Quem são os culpados? No caso presente, a Polícia de Trânsito!Ao que me disseram, alguém afirmou ter ali esperado cerca de três horas!
É lamentável que isto se dê! Não se olha, de facto, aos grndes transtornos que vão deparar-se!

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Guimarães
1985-07-14 Viagem de Regresso

Chegara a Guimarães às18 e 40 de segunda feira ou melhor ainda, a 8 do corrente. Era minha intenção partir a semana em duas metades, consagrando a primeira à província do Minho, e a outra metade ao Alentejo, onde visitaria o amigo Padre Albano, a
quem prometera o encontro desejado. As cirnstâncias, porém, ´foram adversas..

Vendo-me em baixo, por causa do intestino, decidi logo alterar o meu plano.. " Muito calor!" - diziam-me lá, Iria sufocar, esperando.no o leito, caso adoecesse! Em face disto, optei ao invés. Iria mais tarde, por tempo melhor!

Seria Borba o rumo a seguir! De outra vez iria ser!
Em Abril ou Maio, que é suportável e, por outro lado, maravilhoso o aspecto do campo!

Ficando até hoje, havia de sair, logo pela manhã, uma vez que o serviço me está esperando, no dia seguinte. Às 6 e 30, regista a minha agenda, presença inadiavel, na paróquia de Alcântara, sita em Lisboa., havendo chegado, pelas 15 horas.

Voltando, ao ponto inicial, ainda em Guimarães, levantei-me cedo, afim de aprontar-me e seguir para a estação. Às 7 e 30, arrancaria dali, na auto-motora..

Aprontada a barba e tomadas breves notas, preparo a maleta e, ao olhar através da sacada, ouço passos lestos de alguém amigo que se dirigia a mim.. Era, na verdade, o amigo Antero, risonho como sempre, obsequioso e deveras amável.que vinha ao meu encontro, afim de saudar e prestar-me serviços.

Do Carlos e da Tita despedira-me já, no dia anterior. Faltava, pois, a Dona Belém. O marido, no entanto, vendo-a dormir, não a despertou, oferecendo-se ele, para ali fazer as suas vezes.
Com muita dextreza, desembaraço raro e bonomia, serve-me pronto um breve dejejum, em que não falta o mel apetecido, Por ser de Pinhel, mais eu lhe entrei!, o que já fizera, em dias passados.
Fiquei satisfeito, por ser bom marido e belo anfitrião, Deus o conserve e lhe dê satisfação a todos os gostos!

De momento, baixamos à cave, onde já se encontra o paciente veículo para transportar-nos à vizinha estação. Em dois minutos, sem muita pressa, achamo-nos ali. Antes de mais, tiro logo o bilhete, para o qual o meu amigo sugere a redução.
A minha idade que ultrapassa já os 65, beneficia-me em 50%.
O empregado exige para tanto o meu B.I, e preenche logo o cartão dourado. Informa ele: Se fosse em Junho, não pagava nada!.De momento, vai pagar 50$00.. .

Faça lá contas! Desenbolse 1000$00 na Rodoviária! Além disso, é mais cómodo! A gente, ali, vai como quer! De pé ou sentado; sendo necessário, até deitado! Só há incunveniente, ficando o destino longe da estação!
Bom. Cnseguido o bilhete que paguei, sem demora, entrámos logo na auto-motota, onde o meu amigo fez as despedidas, ao chegar o momento.

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Guimarães
1985-07-15 Continuação de 13 de Juho de 1985.

Acabámos de penetrar em terra espanhola: era isto, realmente, o que eu tinha pensado mas, em seguida, notei o invés! O fundador do Portugal moderno que via decerto mais do que ninguém, entendeu que a Galiza era, na verdade, a continuação do nosso Portugal, como já fora anteriormente.( Veja-se Estrabão, geógrafo grego do primeiro século da era cristã) ,

Por isso, lutou com bravura, afim de reintegrá-la no solo nacional. Praticamente, já o tinha conseguido. Ultimaria depois, o que restasse fazer.
Como sabemos, o grave desastre, ocorrido em Badajoz, onde por má sorte o ferrolho duma porta lhe fractrou uma perna, impedindo os movimentos, fê-lo prisioneiro do genro espanhol.
Este deu-lhe a liberdade. mas exigiu as terras da Galiza,

Feito agora breve parêntese, noto claramente que ele tinha razão. a Galiiza nada tem de espanhol! Quanto ali se vê escrito é tudo em Português ou então muito próximo.
Sendo embora a primeira vez que fiz pesquisas, nesata área nortenha, aperebi-me logo dessa realidade. Se não vejamos:

1. Aspecto paisagístico.As culturas são iguais, quer dizer, a vegetação é, de facto, a mesma. O clima, de igual tipo!, Têm preferência o feijão e o milho que são proprios do Minho, uma vez que eles ambos requerem muita água, Desdobram-se também, a perder de vista, enormes parreirais que chegam a toda a parte.

É como no Minho -- zoma marcada para o vinho verde!
Assim, vemos por todo o sítio o choupo esguio que sustenta as videiras, furtando as uvas ao excesso de humidade, procedente do solo. Tudo se encaminha para o vinho verde!

As chamadas latadas ou melhor dito, extensos parreirais, abundam na Galiza! A cerca de 2 métros do solo húmido, erguem-se alinhadas e muito viçosas, sorrindo qual esperança ao dono laborioso.
Junto a velhos muros, ao longo dos riachos, ribeiros e correntes, aqui e além, um pouco por toda a parte, lá vemos as parreiras, tratadas com esmero, arte e carinho1
Assim o verde é a cor dominante!
A razão da altura a qie ficam os cachos, está, realmente, na grande humidade que brota do soloo e fica na atmosfera, Estas belas uvas não querem jamais humidade em excesso!
Vê-se, pois, que é bastante homogénea a paisagem fisica, tanto no clima, como na fibra e na própria formação do solo galego!
2, Paisab´gem Humana.
A psicologiua dos seus habitantes, como a própria Língua nada têm de espanhoi! Quanto à Língua
Eu ouvi-a falar e vi-a até gravada. em lugares diversos.
Mostra-se avessa ao impante Castelhano e surge maviosa, gemente e doce, como a Portuguesa, nas falas que são codilectos.
Filologicamente, sabemo-o bem, caem de igual modo, em ambas as falas, as consoantes intervocálicas, depois de sonorizdas.
Exactamente como em Portuguès, personam - persona - persoa - pessoa.
Vi, numa placa o 'n' cortado, no termo personas.
Que significa isto?!
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Guimarães
1985-07~i6
Legendas várias que eu observei, já nas paredes,´já nas mesmas placas, ao longo da estrada. "O Galego é o nosso Idioma; língua castelhana nem pintada!" La Coruña": mancharam o l, ficando exactamente como em Português -- A Corunha.

Houve outros casos, em larga abundância, a confirmar a tendência do Galego, cuja evolução apresenta os mesmos trâmites que a Lingua Portuguesa.Nem admira, afinal, que seja deste modo.

Até à morte do Rei D.Diniz, 1325, quer dizer, no tempo dos Trovadores, Período Provençal, usou-se a mesma Língua, em Portugal e Galiza. Em seguida, não houve separação, através dos séculos.
O galaico-Português quase estcionou, por se encontrar isolado e bast ante fechado!. Aconteceu,porém, que este embrião comum continuou sempre a evoluir, ao Sul do rio Minho., pelo contacto com outras línguas, sendo basilar o aspecto político.

O Galego é, pois. o Português antigo (séculos XII e XIII: Por tal razão, o consideraram os Filólogos um codialebto da Língua poruguesa. e não da espanhola.. Os próprios Galegos recnhecem isto, razão pela qual quee levantam irados, ante a imposição da língua castelhana. A viva reacção nota-se bem. por toda a parte, em terras da Galiza, `semelhança exacta do wue sucede, na Catalunha e no País Basco.

Falam-se, pois, 4 línguas, em terra espanhola!: Castelhno, Portuguès, Basco e Catalão.
Também na Suíça, acontece o mesmo, com uma diferença: as 4 unidades estão ligadas voluntariamente.
Só alguns pormenores, referentes à Galiza, no tocante ao idioma, relacionado com o nosso.
Aludi atrás à queda sistemática duma consoante, sendo intervocálica e também sonora. No Castelhano, isto não ocorre: personas (n) - pessoas.

O contacto com os Árabes marcu profundamente o Castelhano. o que pode notar-se nos sons guturais que o Português assim como o Galego não têm de facto. O latino! hodie', oxe , em que o grupo 'di' deu ´j´em Português (hoje), mostra bem a semelhança com o Portugês, e a falta dela com o Castelhano ( hoy dia).

O 'j' poruguês e o 'x' galego são semelhantes, quanto ao ponto de articulação, pois que, na verdade, são ambos palatais.
Reparemos ainda no vocábulo 'Júlio'. Em Cstelhano, deu Júlio ( guturalizado); em Galego, deu xúlio (palatizado, como em Portugês.
Anotemos também o vocábulo 'nai' (mãe). Em Português, seria ' mai ', à semelhança de pai. Não ficou mai, por haver nasalação .
Pai - português; Nai - Galego. omde houve apenas uma dissimilação Nai - Mai.
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Guimarrães
1985-07-17 Cont.)
Indo Galiza fora, encontramos logo a cidade Ponte Vedra, que é. se não me engano, a capital da Província. Olhando para o nome, deparam-se logo duas diferenças, visando o Castelhano, e duas se melhanças, quanto ao Português.

Na palavra ponte, não vemos, de facto, o ditongo crescente 'ue',característico do idioma castelhano que usa "puente".
Na segunda palavra,, temos igual, em Vedras e Vedros que são formas divergentes de "Velhas e Velhos.

Notemos ainda que a forma castelhana é" Viejas e Viejos, onde há também ditongos crescentes."Nestas duas formas, há sons guturais, a que a nossa Língua se mostra avessa: é herança do Árabe
Ao longo da Galiza, com suas tradições,vamos prosseguir, rumo directo à Roma galega, Santiago de Compostela.
O verde, em geral, é como no Minho, a cor dominante.

Avaliando, a rigor, pelas terras de cultura e forma de trabalhá-las, o povo galego assemelha-se também aos nossos usos. Tudo se aproveita, o que mostra portanto laboriosidade e próvido espírito de bom granjeio. O mesmo gosto artístico, símil disposição, em tudo o que vemos.

Quem pode asseverar-nos que estamos,realmente, fora do Minho?! O ar farsante, o entono impante, o espírito agressivivo não se encontram ali! Só em Castela!
Chegámos, finalmente ao velho Santuário, termo final da nossa romagem. Torres venerandas se avistam de longe, emergindo sempre, bem entendido, as da linda Catedral.

Dentro do Templo, encontra-se o túmulo do Santo Apóstolo
É feito de prata. Guardado há 20 séculos e ali venerado pelos cristãos do mundo inteiro, é centro de culto, devoção e amor.

Quantos milhões de fiéis peregrinos ali foram já, provenientes, embora dos 4 cantos do mundo habitado! Muitos deles a milhares de quilómetros, fizeram caminho para o túmulo do Santo!
Devemos lembrar-nos de que foi um dos 12, chamados por Jesus , para servirem de coluna à Igreja Católica!

Pois a velha Catedral, afamado Centro de Peregrinação e fervor religioso, já dos primeiros tempos, reforçado ainda, ao longo da Idade Média, foi ali erguida, qual fortaleza! Apresenta, no extremo, formosas torres, em número de três: uma, lateral e duas no frontespício.
Traçada e construída no estilo românico, sem mistura alguma de elementos estranhos, apresenta ali a forma vulgar de Cruz Latina, com três grandes ábsides e coros respectivos
As paredes são massiças, as janelas estreitas e a luminosidade, bastante escassa, inspirando fervor e muita compostura, ante o Senhor.

Por fora, lá se vêem também os sólidos contrafortes, a servir de apoio à massa granítica.
Entra-se ali com alto fervor e muita compnção! Não há vitrais, como no gótico!.

Avistam-se ali medalhões em barda e figuras grotescas, próprias do Românico! Logo à entrada, enxerguei longa bicha, com destino imediato à coluna mais próxima. Inqurindo sobre o caso, vim então a saber ( e pude verificã-lo) que aplicavam os dados, em lugar determinado, pedindo ao Santo uma graça especial.

As mossas praticadas no duro mármore já são bem fundas!
Ao longo de 20 séculos,quantos milhões de peregrinos devotos ali terão colocado seus dedos frementes, encostando o rosto ao mármore frio, a pedir ao Santo um favor de estimação?!

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Guimarães
1985-07-18 Regresso do Minho, no dia 14.

Já me custou deixar Guimarães. Aqueles oito dias, passados ali, afizeram-me à Província , de tal maneira, que nada me importava de fixar-me lá, durante o resto da vida. É bem mais desejável que viver em Lisboa!. Aqui, o ruído constante, a poluição, as maneiras agressivas, o correr precipitado e os nervos de toda a hora, fazem da cidade um lugar indesejável para os últimos anos
A idade provecta exige sossego, paz e bem-estar.
Em Guimarães, que serviu de fundo ao meu "retiro,"havia, bem entendido, a companhia amável de excelentes amigos, Um lar adorável que é padrão e modelo em todas as coisas, onde preside um casal singular, constituído ali pelo Doutor Antero e uma esposa, deveras prendada - a Dona Belém.

A presença amiga dum casal assim era já bastante, para satisfazer! As maneiras de ambos, a sua gentileza e recorte moral, as palavras sinceras, a dignidade, sempre vivida, o culto da família como dos amigos, a busca da verdade e o mesmo ideal que ambos, afinal, tentam viver, fazem deste lar verdadeiro oásis, onde, realmente, apetece ficar!

Por estas razões, foi a muito custo que larguei de Guimarães! Pareceu-me um sonho aquela estadia! Uma quebra profunda na vida monótona que vivo em Lisboa. Um passo notável que me deu mais luz, para firme avançar na longa caminhada!

Agora, voltei um vez mais à vida prosaica. Tudo fala de matéria,e pouco do espírito! Tudo se vira, incessantemente para as lidas terrestres, deixando a gente absorver-se, de maneira total.

Reina Sancho Pança, com todo o fulgor.
Dom Quichote, com seus ideais e nobres projectos não tem lugar aqui! É uma Babilónia, crescente e pujante, em que tudo medra, xcepto a virtude que é recatada!.Por isso, me sinto menos homem !
Este lapso de tempo, decorrido no Minho, alertou-me bastante.Foi, realmente, qual despertador, a chamar a atenção1 Mercê do facto, mais uma razão, a aprovar os meus planos de viajar pelo Minho
Hei-de voltar, mas com mais tempo. afim de saborear, com mais reflexo, dentro do peito. Para mais, esse bom amigo que jamais esqueci, desde os tempos de Pinhel, convidou-me a fazè-lo sempre que eu pudesse!
Guimarães e o Minho serão, no porvr, o refúgio procurado, nas horas disponíveis.Irei ali repousar de cansaços e fadigas, retemperando o espírito e dando energias ao corpo fatigado.

Tudo. ali. me encanta a valer: a paisagem deslumbrante; o cultivo da terra; as cores mágicas; a arte e a graça; os jardins-brinquedo; os motivos históricos; a eloquência do passado; o amor ao trabalho; a paz reinante¸o grande bem-estar que pronto se desprende de quanto nos cerca!
Razão de sobejo teve, realmente, D António da Costa, ao escrever esse livro belo, a que pôs um dia a sucinta referência " No Minho",
É o melhor cantor da Formosa Província!

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Belém
1985-07-19
Voltei, de novo à lufa-lufa. Esta arena esperava por mim, como tinha decidido, antes de partir. No dia 15, já tinha obrigações que exigiam presença. Como renunciar a este vaivém que me traz amarrado e sempre correndo?!Razões para tanto?! Quer dizer: haverá motivo para assim vibrar, atirando-me de chofre, numa idade respeitável que, além de repouso. exige também relaxamento de nervos, um tanto cansados?!

Com certeza! O 25 de Abril, por haver-se desviado, só trouxe
calamidades, para vários milhões, não só de Portugueses, senão também indígenas. A ninguém poupou!

Assin, pois, a caminho já dos 68, vejo-me obrigado a fazer sempre o que não devia. Triste condição! Mísera sorte! Havendo trabalhado uma vida inteira, que me garantisse merecido repouso, nos dias extremos, surge um final, bem atarefado e harto buliçoso, como se, na verdade, agora começasse! O que fazem os homens, com grande insensatez, leviandade e cobiça!

Este grosseiro egoísmo que leva o ser humano a esquecer os outros, puxando só para si, é que o torna responsável por tantos infortúnios! Tivesse eu a coragem dos meus 2o ou 3o anos! Mas agora, já tudo é um sonho!

Bom! É preciso lutar, com armas pesadas, afim de subsistir!
Nesta corrida, para a destruição, tenho de esforçar-me e fazer o que não posso! Claro! Sei que me aniquílo, ficando esmagado, sob tantos escombros! Mas que fazer, se não tenho, de facto, uma alternativa?!
Por esta razão, vou teimando sempre, até que Deus me leve, para desforra de tanta injustiça! É o que há-de valer! A esperança radiosa num mundo melhor, onde reina a paz, o bem-estar e a mesma concórdia, para arrostar, com a adversidade, neste mundo venal!.
Que o Céu me proteja, dispensando favores, embora da minha parte nao tenha direito nem seja merecedor! Entretanto, como Deus é bom, assaz indulgente e deveras amoroso, confio n'Ele e sinto alento, na dura caminhada que estu empreedendo.

Não obstanta a minha fé e os dados maravilhosos que ela fornece, tenho horas pesadas e bastante ingratas!É assim a vida! Somente Deus é que pode valer-me!
Os homens deste mundo só prejuízo me têm causado! Incompreensão negro desamor e desinteresse, inveja e cobiça,deturpação e vil mexerico foram dados ao jogo que sempre mortifica e até desalenta!

Apesar de tudo, procuro aguentar-me, confiado no Senhor que nunca desampara os que põem n'Ele a sua esperança, Oh! Justiça divina! Eia,pois, sigamos em frente, com ânimo forte, esquecendo a mesquinhez e postergando as graves ofensas que me fizeram dano!. O Céu fará justiça, conforme o noso mérito ou falfa dele.
Em 1975, detido como estava, num campo de refugiados, na
fronteira de Angola,, junto à Namíbia, escrevi para Lisboa: pedi com instância, me enviassem dinheiro, afim de custear as viagens de avião, com destino à Metrópole. Recorria ao que era meu! Julgava-me, pois, com esse direito! Se eu o tinha granjeado, à custa de trabalho, economia e tanto suor!...Quem podia mandar sobre o que era meu?!
Assim o julgava, mas enganei-me. A resposta foi cruel, inesperada, severa e desumana. "vNem capital nem juros pode agora levantar!
Perguntei noutra carta: de quem é, pois, aquilo que eu ganhei, com o suor do meu rosto?!

É assim a justiça deste mundo! Se eu e a família estávamos em perigo, a que recorrer, senão ao que era meu e de mais ninguém?! Deus fará justiça, que os homens deste mundo são lobos vorazes!

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Lx. Belém
1975-07-20 Paisagem Humana

O caso deu-se hoje, pelas 19. São agora 21. Está, pois, ainda fresco, dando mais impulso à mão direita, que tenta registá-lo,
com exactidão.Observei, de facto, um quadro vivo, a cores tão estranhas, que jamais se apagará, na minha retentiva!

Ninguém diga jamais "desta água não beberei! Na verdade, nunca sabemos o que vem pela porta! Também há, por outro lado, coisas agradáveis,Fora de qualqur dúvida! Outras, porém, que tristeza infundem!
Já no século XX, numa cidade, que foi grande, no passado, e norma de gentileza, aprumo e asseio, é doloroso vermos realizar-se o que nunca suposemos nem alguma vez julgámos possivel!

Entretanto, o facto sucedeu e foi presenciado por quem, nesta hora, está escrevendo! Gostaria, realmente, que não fosse verdade e se tratasse antes de pura fantasia! Infelizmente, porém, o caso é real! Nem devia contá lo, pois sabe a repugnante, mas é preciso,realmente, que o público saiba, afim de protestar e obter empenhamento das autoridades.

Isto, assim, não pode continuar! Uma cidade tão bela, com lindas tradições e nobres pergaminhos, ser agora tratada como reles espelunca, onde se lançam dejectos e outras porcarias!

Há dias, na Galiza, rumando a Santiago, pude eu verificar esmerado asseio, diria até irrepreensível,o arranjo modelar e a graça inimitável em tudo o que observei!

Aqui ,em Lisboa, é raro o lugar que não tenha porcaria!
Cheira a urina, por todos os sítios!Vêem-se fezes, com muita frequência!
Andamos para a frente ou estamos parados?! Na mesma África, jamais vi pretos fazer alguma vez o que hoje presenciei!

Um rapaz já feito, que pode ir nos 18, urinando em calma, na rua de Camões!Isto, em pleno dia. à vista de toda a gente! Num pequeno ângulo,, descontraído e assaz feliz, sebento e nauseabundo, ia despejando a urina irritante, que se via correr, ao longo do passeio.
Fiquei atónito! Não sabia já se era de crer o que os olhos fixavam! Mas aquele produto, escorrendo pelas bermas, como se fora perfeito urinol, deixou-me enjoado! Como é que a cidade vai ser desejável para os turistas de fora?!

Entretanto o caso não pára aqui! Em seguida, o dito cavalheiro atravessa a rua, a toda a extensão, enquanto os meus olhos o seguiam desdenhosos! Qual não é então o meu grande espanto, vendo o sujeito assoar-se ali, com os dedos em tenaz,rentinho duma árvore que se encontra perto!

Havendo ejaculado, roça breve a mão sebenta, pelo tronco da planta, que ali serve de lenço!
Operação final: encosto do nariz ao braço direito, que apara a imundície, em movimentos ágeis de vai-e-torna-a-vir.
Ocorre isto em Lisboa, no século XX! Mas há solução!

Andaremos todos a dormir na forma?!Deve intervir quem de dreito! Por que não fazer como usam os Espanhóis?" É a Polícia que ali se encarrega de vigiar atenta os casos lamentáveis, obrigando as pessoas a limpar o que sujam

Que ninguém se atreva, atirando para o chão uma coia qualquer! Aparece logo um Agente da Polícia, mandando apanhar, sendo embora estrangeiro o transgressor!
As campanhas são boas, mas elas sozinhas não resolvem os problemas, cá no País!
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Lx. Belém
1985-07-21
Faz hoje 8 dias que deixei Guimarães, separando-me assim do Minho ridente e da bela companhia dos meus bons amigos, que jamais esquecerei! Falta apenas um quarto para as 8 horas. A este tempo, vinha eu de comboio. Dera um grande abraço ao amigo Antero, Notário da cidade e assim me separei de tão boa companhia!
Decorreu pouco tempo, mas figura muito mais. Chego a julgar se trate dum sonho, facto irreal, só fantasiado que, de modo nenhum, chegou a efectivar-se! Tão formoso se apresenta! Afinal,
ainda há sonhos que têm, por vezes, realização!

Não trazia o Minho dentro do peito, desde que o vira, há 32 anos?! Aquela paisagem, vista de longe, fixou-se na retina, para todo o sempre! Jamais a esqueci! Por isso, era meu desejo voltar com mais tempo e deleitar-me em suas maravilhas! Nunca, porém, surgira ocasião!

Distâncias longas, deveres a cumprir... largada para África...
Morreria, pois, sem ver realizada tal aspiração?! Não aconteceu, por minha boa sorte! O tal sonho fez-se realidade, excedendo em muito o que havia imaginado.Nos últimos tempos, surgiu um pormenor que activava o caso.

O Notário da cidade e meu bom amigo, desde os tempos de Pinhel, casara em Guimarães.Ora, sendo assim, havia fortes razões para eu viver o sonho. Anteriormente, era a moldura; depois, veio o quadro!
Antero e Belém, casal harmonioso, via o seu amor florir e crescer. Dera,-lhe o Céu dois filhos amorosos que são a alegria, o encanto da vida e a razão basilar da sua existência. De facto, o Carlos e a Cristinq ( Tita ou Titinha) constituem um móbil de grande incentivo para os seus progenitores.

É assim. Deus ajuda sempre aqueles que O amam. Se Ele até ajuda os seus inimigos! Aos amigos, porém, além de favorecê-los, distingue-os também, com favores especiais, É o caso real daqueles meus amigos!.
De vida sã e harto florescente, dados ao trabalho e ao lar que fundaram, ftéis a Deus e seus Mandamenotos, vivem felizes, tornando a companhia verdadeiro prazer para quem se abeira.
O tempo excedente que nunca é muito, após o trabalho e os deveres habituais, é dado à leitura e ao culto da Arte.
Maravilhoso ambiente, para quem busca a tranquilidade, a paz de espírito e o repouso grato do coração.
Por tudo isto, uma voz eu sinto que grita bem forte, dentro de mim: hei-de voltar, se Deus quiser!

Tentarei viver a fundo este sonho de beleza e torná-lo realidade, uma vez que os meus anos se vão acumulando, sem deixar margem a grandes projectos. Que posso almejar, aos 67 anos?!Deus é que sabe, mas tantos já partiram. mais novos do que eu!
Entretanto, assalta-me a ideia de que satisfarei este vivo desejo.
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Lx. Belém
1985-07-22 Bodas de Prata Sacerdotais

Decorrerão, em Vide-Entre-Vinas, no dia 28 do mês em curso.
Às 11 e 3o, há concelebração, na igreja da paroquia, na qual tomarão parte vários sacerdotes, naturais da freguesia: Ilídio Portugal, Carlos Alberto, Pedro Martins, Manuel Martins, Doutor Ferreira, Agostinho Fernandes e o Prior antigo, José Antunes Duarte.
Só eu faltarei, embora o´Padre Carlos, Prior actual, me tenha convidado. Bem me custa, na verdade, mas poder associar-me? Perderei bom ensejo, para ali avistar-me com velhos amigos, que há muito não vejo; saudaria também efusivamente, os dois sacerdotes, que já trabalharam, com grande assiduidade, no Reino de Cristo, durante um quarto de século; fixaria também, com amor e enlevo, os sítos deleitosos, onde fui tão feliz, nos tempos de criança.
Reconheceria tudo quanto vem de longe?!
O que já existia, quando lá me encontrava, iria por certo, identificá-lo, mas aquilo que surgiu ou foi criado, na longa ausência, isso já não!
Fica nesta linha, antes de mais nada, a luz eléctrica, o
ambiente social, paisagístico, moral e religioso.

Primeiro que tudo, a luz eléctrica.
Em 1972, embarquei para Angola. donde me ausentei, para a África do Sul,passados três anos,
. Por ali me gastei drnte mais 4 anos. Ora, de regresso, em princípio de 8o, já levo aqui 6, embora incompletos.
É uma conta razoável, sem ir a Vide! Ronda os 14!
Ora, acontece que, em l972 , deixei a minha aldeia, com a luz de petróleo!
A velha candeia ou então candeeiro!
\
Hoje, porém, com a luz eléctrica, chegada bem tarde, há-de ser um primor! Os que nasceram com ela não encontram diferença, mas para mim, que vivi longo tempo, ao cheiro do petróleo, até 1972, já no século XXI, há--de ser excitante ver-me alumiado por uma luz aão mágica!
Bom! Mas a vida é isto! Passamos o tempo a comer, geralmente,! do que não gostmos!
Saí da minha aldeia, em 1933, aos 15 anos de idade!Já lá vão 52!. Após isso, perdi o contacto, por ausências longas que duravam imenso! Originou isto que eu me desligasse do viver corrente, ficando alheio às várias mudanças, que se foram operando: maneira de de viver; diferença no trajar; adopção de novos usos; maior liberdade; outro panorama!

Nesse tempo, não havia estrada nem telefone; televisão e radio também eram estranhos!
Com tais aberturas, muda certamente o panorama geral! E quanto à paisagem?! O dinheiro fértil dos emigrantes, com novos costumes, outras aspirações e gosto afinado, originou belas casas,
vivendas e vilas que não vi com meus olhos, mas sei-o de outiva.

Por tudo isto, daria prazer estar ali presente , nesse dia festivo. Entretanto, apenas em espírito é dado fazê-lo!

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1985-07-23
S-ss-ç-S -z: Sapato, sossego, caça; coser-cozer

Nos séculos XV e XVI, proferiam diferente os sons indicados, segundo as zonas, em que eram utilizados. Para tanto, conside- ram duas zonas:a do Norte e a do Sul.
A primeira abrange uma parte,entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e Beiras; a segunda, ao Sul da região do rio Mondego, alcança a Estremdura Alentejo e Algarve, sem squecer as regiões liitrofes.
Na zona do Norte, troca-se o 'v' por 'b', ( não em toda a parte) ; usa-se 'om' em vez de 'ão', o que não é geral, na dita área.
Usam-se ainda como apicais o 's' e o 'z' ( s reverso ou s beirão). e como africadas s-ss ç; o grupo ch soava tx, na parte Norte, e 'x' na parte Sul.
Com o volver do tempo vieram a coincidir as diversas pronúncias, mercê do influxo social dos que falavam a língua e também da região habitada.
Os centros citadinos bem como o litoral tiveram sempre influência nas outras regiões.
Quanto ao dígrafo ch, adoptou-se já como padrão nacional a acústica 'x!, embora a gente do campo continue a usar a pronúncia antiga, soando tx. É o caso de chave, chapéu,chão, e assim por diante.
Alguns eruditos ainda mantêm o dom tx, alegando que foi pena havê-lo banido, porquanto ele existe, em outras línguas, enriquece a fonética e liberta de erros, ao grafar a palavra.

Como distinguir, para efeito de escrita, !chapéu de xarope'!
Se o padrão nacional que seguiu a zona Sul, adoptou já a acústica x!
No tocante às apicais s e z, que são proferidas, com a parte anterior da ponta da língua, um tanto côncava, sobre os alvéolos dos incisivos de cima, ainda hoje se mantêm, porque é um pouco difícil chegar a banir os ditos sons, aprendidos em criança.

Em parte, consegue-se, mas não em todos os casos!
Final de sílaba ou então de palavras, exige tal esforço e tanta demora, que se torna caricato experimentar.

Na parte Sul do País, em vez das apicais s e z e das africadas s-ss e ç são pré- dorsais e proferem-se, apoiando a língua, em forma convexa, sobre os alvéolos dos incisivos de baixo.( sapato, posso, cedo.
Na zona norte, a pronúnca rústica ainda coincide com a do
s e do z. Eu que sou beirão e tenho lutado, embora tardiamente, contra o s reverso, experimento as dificuldades que isso acarreta!

O contacto frequente com oitras línguas, sobretudo germânicas, despertou-me o desejo de corrigir a pronúncia.Eu, afinal, persistira em mantê-la durante o tempo do Seminário! Considerava entao falta de bairrismo afastar-me do padrão, seguido na Beira.

Hoje, porém, não me conformo com tal acústica e daria tudo, para eliminá-la!Arranha-me o ouvido e, por mais que faça, não consigo banir o tal 's'beirão, de modo total! Forte desgraça!Aquilo que vem já dos tempos de criança, exige enorme esforço, para eliminar-se!
Formando o plural, por meio de vogais, como os italianos!... Mas não! É com 's', por infelicidade!

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Lx- Belém
1985-07.24 Os próximos Diários, sobre a nossa língua, reflectem, no geral, o critério seguro de Silva Neto, filólogo brasileiro, utilizando para isso a conhecida Hirstória da Língua Portuguesa, de sua autoria.
" Aí por volta do século III, antes de Cristo, desenvolveu-se uma nova quantidade,que veio substituir a quantidade latina. Esta baseava-se,. como é sabido,. no número de pés,( para efeito de versificação) e no tempo gasto em proferir uma sílaba.Havia a sílaba longa e a sílaba breve (quantidade). Aquela demorava então o dobro do tempo: tinha duas moras. A breve qpenas uma.

Como já referi, este sistema caiu bastante cedo, originando-se logo outra quantidade. Interessa conhcê-la, pois tem relação com as línguas românicas, uma das quais é a portuguesa.
As Gramáticas Históricas referem esta regra de carácter geral: a vogal beve latina deu em Português uma vogal aberta; a longa, uma fechada.
É de notar o seguinte: esta alteração já se tinha dado no próprio Latim, ao menos em muitos casos e em data remota, segunndo afirmei, um pouco antes. Por isso, utilizei a expressão 'Nova Quantidade'
Razão para tanto? Com certeza! Uma vogal fechada leva mais tempo a pronunciar do que uma aberta!

Em razão disto, se uma vogal tónica fechada se torna aberta, varia logo a sua quantidade ( tempo gasto em proferi-la).

Em contrapartida, se uma vogal aberta se torna fechada, leva mais tempo a ser pronunciada. Entram aqui as palavras portuguesas que têm fechada a forma do singular e aberto o plural como o feminino. Exemplo: porco, porca, porcos, porcas.( ô-ó-ó-ó)
Depara-se-nos aqui um problema aparente: o singular deveria ser porco ´(ó), à semelhança do feminino e do plural.
Fixemos então o étimo 'porcu'. O 'u' final. que é vogal fechada
( quanto à posição dos lábios) exerce influência sobre o 'o' tónico.
aberto, contribuindo em muito para aproximá-lo. Torna-o fechado, por metafonia. De facto, 'ô' está mais perto do 'u' fechado
que 'o' aberto.
Se a vogal tónica for 'e', dá-se a mesma coisa.( metafonia).
É ver, por exemplo, '.metu' .
Pela regra geral, devia ser medo (é). Entretanto, devido à influência exercida na vogal tónica aberta (metfonia), alterou-se-lhe o timbre.Deste modo, aproximou-se mais da vogal 'u' que é fechada..
Daqui, a regra seguinte: o 'u' final da palavra altera o timbre
das vogais tónicas que sejam abertas, tornando-as fechadas.
( ó-é: ô-ê).
Como isto ocorria já no próprio Latim, dizemos, pois que esta nova quantidade substituiu a antiga.
Uma vogal fechada leva mais tempo a ser proferida do que ums aberta".
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Lx. Belém
1985-07-25 Cont.

O feminino de porco (ô) é porca (ó) Disto vemos bem que,sendo aberto o 'ó' tónico do feminino, devia também ser aberto .a forma do masculino. não o sendo, temos, pois. de achar
a razão. Ora, está precisamente na metafonia (mudança de timbre)
de 'o' aberto para 'o' fechado, na vogal tónica, por influência directa do 'u'final.
r.Casos há, porém, que se processam bem ao contrário, isto é, apresentam fechada a vogal tónica do singular. Quandi isto acontece, é também fechada no número plural. Quem não conhece a Língua latina, guie-se ao menos pelo singular

Vejamos um exemplo: sponsa, lupu. nestes dois casos e muitos outros, que poderia citar, o seu plural mantém-se fechado.
Trata-se, pois, de 'o' e 'u' fonológico e não metafónico
Quer isto dizer que o 'ô' é a continuação de u breve e o longo latinos.
Convém, a propósito, lembrar algumas regras, no tocante ao Latim, e à pronúnncia das vogais. Estas podem ser longas ou breves, por natureza ou por posição. São longos, por naturez os ditongos e as vogais contraídas por crase (cogo) ou por sinérese.

Por posição: as vogais são longas, quando seguidas de x-z.; ainda sendo seguidas de dupla consoante, quando não entrem 'l nem .r.
Portanto, voltando mesmo: na metafonia (alteração do timbre, na vogal tónica), não há mudança vocálica.
Em vez de porco 'ó', porco 'ô'.

Por que é que as paavras,terminadas em 'u' (metu e porcu) surmem no Português, com vogal tónica fechada? Ficando fechadas, aproximam-se mais do 'u' final, que é, na verdade, uma vogal fechada. Poder-se-ia chamar isto " uma flexão intern facto que ocorre também no codialecto galego
Veja-se agora: pêra, mesa,cebola, esposa. (pira,cepulla, mensa, sponsa -- sons fonológicos
A falsa analogia impera muitas vezes. levando até os letrados a
cometer erros
******.
Lx. Belém
1985-07-26 Novela: "Último Encontro"

Amor e Loucura vai chegando ao fim. Passei ontem, à máquina, mais outro Capítulo - número XLIII. Juntarei mais três, o máximo, quatro! Desta maneira, atingirá por ventura, duzentas páginas.
Hoje, de tarde, se nada obstar, lá irei à Amadora, para anexar o dito capítulo. Estou, de momento, cheio de apreeensões, no que diz respeito aos últimos assuntos. A dúvida persiste, levando-me a hesitar, qunto à finalidade que darei ao livro!

Inutilizá-lo?Já levou tantas horas! Consagrei-lhe tanto amor, interesse vivo e dedicação! Tamanho sacrifício. para tudo se perder?!Uma vivência tão forte, para sumir-se, no caixote do lixo?! Não sei, ao presente, que resolução é que vou tomar!

Agora, finalizo a cópia, ficando aprontada, neste particular!
Verei, depois, ao emendar o que estiver incorrecto.
É mais o aspecto lõgico, énquadrado na estrutura, o que está preocupando. A minha cabeça já não ajuda, como sempre fazia, em tempos idos!
Estou caminhando para os 68, que verei cair, se Deus for servido, em Fevereiro de 86! Até aos 66, incluindo o último, a coisa não foi mal! Posteriormente, diminuiu um pouquinho a resistêcia física, obrigando a reduzir as horas de trabalho.

Não dormindo tão bem, assalta-me o sono, ao longo do dia. Querendo fixar-me no aspecto lógico, em assuntos de estrutura, encadeamento e o mais que falta, a cabeça fraqueja, impedindo, por isso, a continuação!
Se não fossem, realmente, as circunstâcias , em que foi gizada e posta em embrião! Há mais de 3o anos!

Bom! Apesar de tudo, vou esforçar-me, para levar a bom termo este meu trabalho! ( E se fosse hoje, (aos 90 feitos?!)
Se não for capaz, então paciência!

lembra-me, às vezes, qe trabalho demais, para a minha idade. E pde ser isso! Entre seis e oito horas! É de facto, um labor de enorme concentração, pois enquanto o faço, tenho de olhar a várias coisas: aspecto formal, social e ideológico, doutrinal e religioso.
Gostaria, a valer, que não saísse aleijado. Até ao fim de Agosto. haverei ultimado, se Deus me ajudar, várias séries de trabalhos, que levo entre mãos: a Novelazita, a cópia difícil e sempre à mão, dos primeiros 4 anos, consagrados ao Diário.

Aproveito agora a luminosidade. É fundamental o aspecto em causa, atendendo, já se vê, às minhas deficiências de carácter visual.
Em seguida, já posso alterar o regime de trabalho, enveredando, por outro caminho! Tenta-me a fundo a elaboração de outros livros mais! Estão parados e só em potència!

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Lx.Belém
1985-07-27
( continua o Diário de 25-07)

Daqui, inferimos nós, bem claramente, que as nossas vogais têm origem nas vogais e ditongos, existentes em Latim, os quais, na verdade, chegaram até nós, mediante o Latim, dito popular.
\Origem do 'e'fechado 'ê'. Provém de 'oe' (pena,dor) ou de 'i' breve
(pira-pêra)
Origem do ''e'aberto. Provém de 'ae e 'e' breve.Repare-se em
caelu e januella.
Fonte do 'o' fechado. Provém do 'o' longo latino (sponsu e do 'u' breve (lupu) (lobo)

Étimo de 'i', i longo; étimo de 'u'' u longo.
Vê-se, pois, que 'i' breve aberto, se confundiu com 'e'fechado (ê)
im, en;; 'u' breve aberto, se confundiu com 'ô' (cun- com
O Português do Brasil não tem vogais mudas e assim também o Castelhano. Dizem alguns que a mesma coisa se terá passado no Poruguês arcaico. Entretanto, Gonçalves Viana é de
outra opinião.
Seja como for, o Português de Portugal tem vogais mudas,
estando isso bem patente no 'o' e no 'e'. O Brasil, que adoptou a pronúncia do Português do Sul de Portugal, para baixo da região do rio Mondego, o que pode comprovar-se, pela não existêcia de sons africais ( tx, ts, dz) próprios do Norte e centro do país, não troca o v por b. o que acontece no Minho e parte da Beira Alta.
NOTA
. O Sul de Portugal, para baixo da região do rio Mondego, e de modo especial, a Sul do Tejo, foi mais sujeito ao influxo estrangeiro, o que fez evoluir a Língua falada, aproximando-a mais dos modelos em voga.

Também o mesmo se verficou, nas cidades costeiras de áreas diferentes. O contacto frequente, com eruditos, Escolas e Exércitto Romano, Universidades e gentes bem falantes e tudo o mais, estimulam todo o mundo â pura imitação.

Assim, ter-se-ia passado de tx para x, no Sul de Portugal.
Temos em foco a Estremadura, o Alentejo e o Algarve.
O relevo dum país exerce influência na evolução da Língua... Sendo o solo montanhoso, dificultam-se logo as comunicações e, por isso, o contacto entre as gentes. Daí, menor influência nas gentes da montanha.

Por que é que os povos do Norte e centro de Potugal, ao menos em parte, conservam ainda a pronuúncia primitiva? A razão está exactamente na falta de contacto! Trás-os-Montes ainda hoje sofre de carências várias, em questão de vias de Comunicação.
Esperamos que mude, em breve tempo!

No Sul de Portugal, por ser mais plano, havia fácil acesso a todos os lugares, facultando isso o encontro das gentes. As próprias invasões de povos estranhos penetravam sem estorvo, porfaltarem ali as defesas naturais que, geralmente, são constituídas por altas momtanhas e rios profundos, muito caudalosos.

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Lx. Belém
1985-o7-28 O Tempo.

Estamos agora em pleno Verão. No entanto, apenas très vezes, o máximo quatro, senti realment que havia calor, Efectivaente, ao longo da noite, afastei a roupa, ficando somente de lenço a cobrir.

Entretanto, a partir de 24 do mès corrente, o céu enevoa-se,
dando aspecto de outra estação.Hoje, está na mesma.Isto leva geralmente. a vestir o casaco, logo pela manhã. Outro factor que deveras espanta é a mudança que o tempo sofre, de um dia para o outro.
Aqui, junto ao Tejo, não longe do Mar, aparecem diferenças que geram espanto!Seis graus, sete e mais! Tem chegado a nove! Não é espantoso?!
Este sistema causa, por certo , males sem conta, nas pessoas idosas e em todo organismo que tenha deficiências. Como remediar estes males climatéricos?! Um cientista eminente poderia responder, com grande clareza e muita segurança. Entretanto, posso deixar a minha opinião. acerca do caso, embora não assuma carácter científco.

Princípio geral: a causa disto ou reside em Deus ou então no homem.Em Deus, por modo habitual, não está, decerto! Como ser bom, perfeito e justo, não é causa de nenhum mal.Pode, às vezes, tolerá-lo , para dar ocasião de nos purificarmos. O sofrimento é já redenção, quando aproveitado, encaminhando-o bem.

Caímos assim, noutro raciocínio. O homem, com desejo de saber, esquadrinhar, penetrar fundo e sempre avançar, já por vaidade, já por malícia, arranja meios para abater os outros, entra em pesquisas que logo desordenam a vida na Terra e causam prejuízos de carácter imprevisto à pobre Humanidade! Não será isso, efectivamente, o que tem sucedido?!

Apenas desarranja, desordena e mata, destrói, aniquíla!
A tal ponto chegámos, que existem, de facto, os meios necessários, para aniquilar o planeta habitado!

Na ânsia de domínio, instigado pela inveja, ódio e malquerença ou pela ambição de tudo possuir, a que é que não recorre?! Genuína insensatez! Vendo-se perdido, lança mão de tudo, originando os maiores males aos seres viventes!

Na base essencial destas alte rnâncias, não teremos , ao certo, os testes nucleares?! Não provocam eles forte desequilíbrio na pressão atmosférica?! Que dizer também da poluição e deflorestaçã?
Deus ordenou tudo! O homem desarranja e origina a catástrofe!
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Lx. Belém ?
1985-07-29
As nossas Gramáticas ensinam, porfiosas, que o 'e' breve latino passa a 'e' aberto, na Língua Portuguesa.
Serafim da Silva Neto contesta a afirmação, pelas seguintes palavras:"Em primeiro lugar, desde o tempo do Latim, muito especialmente, desde o tempo do Império, o chamado 'e' breve
mostrava-se já, concomitantemente, breve e aberto. Logo, pois,
haveria de dizer-se que o 'e' breve latino mantém o timbre em Porruguès.
Mas isso, afinal,também não é inteiramente verdade, porque o 'u' breve e aberto passa a 'o' fechado, se a palavra finda em 'u'.
Só em caso contrário mantém o timbre aberto Na verdade, o 'u final acarreta o fechamento do 'e' e do 'o't'onicos
Verifica-se, pois. uma flexão interna, uma alternância do próprio timbre,entre o singular ( vogal fechada)e o plural (vogal aberta.) "

Uma série de casos, para comprovar

Silva Neto


c(ô)rvu corvo c(ó)rvos
côrpu. corpo corpos
focu fogo fogos
jocu jogo jogos
ovu ovo ovos
porcu porco porcos
novu novo novos
oc'lu olho olhos
portu porto portos
ossu osso ossos
grossu grosso grossos
postu posto postos
fornu forno fornos
tortu torto tortos
mortu morto mortos
escoclu escolho escolhos
fossu fosso fossos
hortu horto hortos
mornu.......morno........mornos
dolu............dolo...........dolos porru porro porros

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Lx.Belém
1985-07-30
Quando o 'o' tónico continua 'u' breve, aberto ou 'o' longo fechado, o timbre fechado continua no plural
.

lupu lobo l(ô)bos
sponsu esposo esp(ô)sos
ruptu roto rotos
ruseu roxo roxos
insulsu ensosso ensossos
totu todo todos

turdu tordo t(ô)rdos
peduclu piolho piolhos
polypu polvo polvoss
verruclu ferrolho ferrolhos
lutu lodo lodos
duplu duplo duplos
cubitu coto cotos
gustu gosto gostos
lucru logro logros

mustu mosto mostos
gurdu gordo gordos
cothurnu codorno co(dôr)nos
rutru rodo r(ô)dos
rostru rosto rostos
fuscu fosco foscos
culmu colmo colmos
soceru sobro s(ô)bros
post cottiu pescoço pesc(ô)ços
restuclu restolho restolhos
trabuclu trambolho trambolhos

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Lx.Belém.
1985-07-31
Em relação com o Diário de 29-7

No feminino, quando ele existe. e nos advérbios, terminados em 'o', fica bem claro que a alteração do timbre. no singular, se deve à à influência do 'u'

porca p(ór)ca
ova (ó)va
grossa gr(ó)ssa
nova n(ó)va
morta m(ó)rta
posta p(ó)sta
fossa f(ó)ssa
torta t(ó)rta
horta h(ó)rta
loco...

Acção do 'u' final, sobre o timbre aberto do 'e' tónico.
s(é)rru. sêrro ........mas serra....... Petrus Pedro petra-pedra
. cancellu cancelo cancela
portelu portelo portela
catelu cadelo cadela
orellu ourelo ourela
cannellu canelo canela
adversus avesso às avessas
traversus travesso traversa-travessa.
laetu ledo leda
globellu novelo
januellu janelo januella-janela
persicu pêssego
preto preta

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Lisboa-Belém
1985-o8-01
A 3o de Julho ou seja ante-ontem, ocorreu um facto,
que me apraz registar, pois é bastante raro, nos tempos de agora.
Efectivamente, ao manos entre nós, o que abunda realmente, é o feroz egoísmo, carência de gentileza, agressividade e rudeza de maneiras. De vez em quando, porém, lá surge uma aberta, como sendo oásis, em pleno deserto.

É frequente, melhor ainda, quase geral, o costume censurável de ninguém se leventar, quando entra na viatura uma pessoa idosa, enferma ou grávida, ou então com bebé.

Fazem que não vêem ! Isto sucede até, nos lugares reservados, para maior vergonhs dum povo como o nosso. Revolta observá-lo! Cai isso tão mal! Rapazes e meninas, adolescentes ou até crianças agarram-se ao lugar, de maneira tal, que nada aí no mundo, consegue deslocá-los!
Velhinhos trôpegos, gente alquebrada, milhares e milhares de casos diferentes, ninguém olha para eles!. Triste sintoma desta sociedade! Sentimentos nobres de humanidade, filantropia,gentileza e caridade, para onde fostes vós?! Corações endurecidos,! Almas insensíveis! Quanto penaliza ta situação!

Ante-ontem,porém, houve uma aberta! O caso anormal deu-se comigo!Embarcara na Amadora, com destino a Belém, num carro da Rodoviária. Contra a minha expectativa, faltavam lugares vagos, fosse embora aquela a primeira paragem. Sendo isto assim... aguentar-me de pé! Que remédio havia?! Também não é longo o dito percurso!

Cinco quilómetros? O que sei é que, ao fim de 10 minutos,melhor talvez, um quarto de hora, ao sair da Reboleira, chega-se a Lisboa, quer dizer, ao lugar terminal, que fica em Belém. Apesar de tudo, os balanços e as pressas complicam-nos as coisas!

Logo à f rente, há uma criança, no baco direito. Não havendo lugares, encostei-me ao lado, aproveitando a borda que alivia um pouco, embora realmente não seja cómoda!
Nisto, a meúda levanta-se, com enorme presteza, e oferece-me o lugar. Afasta-se logo para o corredor e não quer já, de modo nenhum, utilizá-lo de novo. Perante o facto e a boa vontade,, revelada então pela criança, aproveito o ensejo.

Pergunto-lhe então variadsa coisas, algumas das quais aqui deixo registadas: o nome, a idade, a sua Escola e também a naturalidade
Nomeiam-na Susana e tem 6 anos; nasceu na Amadora e vai frequentar a Escolo Primária. em Outubro próximo.

A mãe, vendo o sucedido. louva orgulhosa a sua atitude , levando-a a repetir, em iguais circunstâncias
Eu, por minha parte, fiquei a cismar na cena ocorrida e tão singular que deveras me encantou.

Ainda há mães que sabem educar! Quem dera, realmente, fossem todas assim.
A Susaninha tem os olhos cor do céu! Será por isso?! Deus-Providência a torne feliz, no mundo egoísta, em que todos procuram o bem-estar pessoal, não olhando jamais àqueles que precisam e vivem tristes.
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Lx. Belém
1985-08-o2 "Ustedes hacen puentes muy deprissa"

Nesta conjuntura, vem-me à lembrança o conhcido adágio:
Depressa e bem não o faz ninguém! O nosso povo assim utilizou as noções adquiridas. ao longo dos séculos. E o asserto é exacto, Por mais que rode o tempo, não perde em colorido, realidade e eficácia.
Em diálogo breve, com certo indivíduo, natural da Brandoa, contou ele o seguinte:" Há dias, mostrava o meu filho a certo cavalheiro, de origem espanhola,uns postais ilustrados e algumas fotografias que trazia com ele..

Sucedeu então que uma dentre elas, com fundo maravilhoso,
apresentava, em primeiro plano, a ponte majestosa, lançada sobre o Tejo, alcançando as duas margens deste belo rio.
O cavalheiro fixou ali as bermas, leu os dizeres e, olhando para o jovem, irrompe malicioso: Ustedes hacen puentes muy deprissa!"
É bem natural e harto aceitável que o tal rapazinho não haja alcançado a censura e a pimenta que vinham na embalagem", mas o pai que tudo vira, pois estava ao lado, apressou-se a corrigir: " De facto, a legenda, que o senhor vê agora, está falseada. Para mim, é e será sempre - Ponte Salazar -"

"Se, na verdade, queriam ter uma ponte que lhes desse glória,
exaltando o seu nome, deviam tê-la feito! Vestem-se afinal com panas de outras aves! Assim as largarão!"

Fiquei impressionado com esta ocorrêmcia! Não que ela esclarecesse ou trouxesse alguma coisa para mim novidade!
Sei muito bem que é Ponte Salazar. pois foi realmente, no tempo memorável desse grande Estadista que ela foi erguida!

Fiquei impressionado com o tom de censura que pôs nas palavras,
devidonao facto de sentirem orgulho, com obras alheias, pondo nelas outro rótulo que sirva ali, para exaltá-los. Eu tenho grande fé em que esse desacato há-de ser retirado, voltando as coisas ao lugar que lhes cabe.
De outra maneira, partiríamos do falso, em tudo o que fazemos ou deixamos de fazer!

Já lá vão 10 anos, após esse Abril de 74, cujas ruínas se vão acumulando, por modo inconcebível.! Culpar a quem? Aos maus
obreiros que vieram adulterar essa grande aberta!
Que foi então o que eles fizeram?
O quadro é tao triste, vergonhoso e lamentável, que até sinto vergonha de estar a fixá-lo!

Desemprego e fome, protestos e greves, roubos e assaltos como rapinas! Prostituição e miséria, agressividade, inflação e rudez,endividamento... vergonha até, de ser português!
Já nem falo agora da guerra civil que dizima a raça, em
Timor e Angola
Voltai, prestesmente, Salazar e Melo Antunes, que so vejjo
ruínas!
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Lx. Belém
1985-08-03 Partiram hoje

A caminho da Beira, os vizinhos da Amadora lá vão estrada fora. São eles todos: José Rodrigues, a esposa Gracinda e os dois meúdos: Ricardo e Madalena. São 15 dias a passar ausentes, visitando os pais que aguardam´, com ânsia, a presença de todos,

É um tempo agradável, em que a gente se expande, trocando impressóes com pessoas amigas, dando assim largas à alma saudosa. Ao fim de um ano, é já desejável esse tipo de encontros!
Além do mais, alteram-se os hábitos, surgem novas terras, pessoas diferentes, numa palavra, esquece-se algum tempo aquele ramerrame que puxa por nós e nos vai arrastando, a caminho da morte. Sempre o mesmo e sempre igual!

Tortura e martírio criam na alma esse fundo vazio que
apenas a mudança é capaz de preencher!
Novos contactos, lidas no campo, outros costumes! Diferente linguagem , mais puros ares, água cristalina, clima desigual!
Tudo isto é excelente e renova o espírito, revigorando o mesmo corpo
Pois os meus vizinhos seguirão rumos novos, o que é para os meúdos uma espécie de sonho! Na verdade, encontrar os avós
que vivem na Beira ou em Trás-os-Moontes é algo excitante. Para os filhos também. Enquanto os pais ainda se mantêm, a vida é outra!
Dá gosto visitá-los. manter o diálogo, prestar-lhes ajuda ,
manifestar apreço, afecto e carinho! Precisa isto o nosso coração e torna-o ditoso.Os pais são, na verdade, as grandes raízes que nos prendem ao lugar, onde fomos criados! Depois... os filhos!
Fora desta órbita que Deus criou e quer se mantenha, não há felicidade nem gosto de viver nem incentivo para a existência!
Por experiência própria o tenho verificado.
Enquanto os meus viveram, cá neste mundo, sentia-me feliz e tinha desejo de voltar à aldeia. Hoje, porém, tal aspiração esvaziou-se, em parte Se algo me prende, é apenas a saudade... o
passado remoto.. .esse tempo belo da minha infância.
O presente é nulo... pouco me diz e, se fala alguma vez, já o
não percebo!

Quanto aos filhos, não tenho experiência, já que os homens deste mundo ousaram vetá-los, mas tenho para mim que há-de ser a mesma coisa: enlevo de alma... razão de existir... um sonho belo,
incentivo forte para arrostar com a vida, fazendo assim face aos grandes problemas que ela apresenta!

Que Deus traga, em boa hora, os vizinhos da Amadora, Fazem-me falta! Jé é tão estreito o espaço de amizades, a que estou vinculado!
O tempo, as distâncias, a incompreensão, a intriga e a inveja e não sei que mais têm destroçado, junto com a morte, esse mundo grato que nos faz alentar, escondendo â vida a face detestável que às vezes assume!
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Lx. Belém
q985-08-04 Geovás

Concentram-se agora, no Estádio Belenense, para onde caminham bastantes pessoas!
Estou convicto de que uma boa parte vai lá somente, por curiosidade. Até eu, se tivesse tempo, iria também como observador, para ouvir disparates, como o que se refere à
Santíssima Trindade.

Se espalhassem a doutrina, em terra de cegos, talvez colhessem fruto, se é que tal nome fica bem ali!
Em Portugal, porém, que nasceu cristão e assim e assim tem vivido. ao longo dos séculos, é afrontosa a simples presença e, mais ainda, os erros que propalam.

Como é possível espalhar as trevas, no meio da luz?!
Entrará na cabeça de algum português qualquer doutrina que se diga cristã e chame entrujão ao próprio Fundador do mesmo Cristianismo?!."Se não, vejamos um pouco os dizeres de Jesus: Se alguém me ama, meu Pai o amará e nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada!"
Esta frase é da Escritura! Negá-la é negar tudo quanto Deus revelou!
Além desta, há outras frases, de igual teor, em que se vê claro serem três as Pessoas Divinas." Meu Pai... Nós,,, tantas vezes repetidas, indicam pluralidade
Portanto, se negam o facto. afirmam realmente que Jesus é
mentiroso! Isto incita-nos logo a repelir tal seita, considerando-a her«etica.
Vejamos também aquilo que sucedeu , no Baptismo do Senhor:"Este é, na verdade, o mei Filh muito amado.Escutai-O
Aqui, é o Pai que fala. Acime, era o Flho.
Sendo dois a falar, trata-se dum só Deus.

Na Transfiguração do Monte Tabor, deu-se a mesma coisa.
Notemos ainda outro género de frases : " O Espírito de verdade que eu vos hei-de enviar, da parte do Pai, vos recordará o que tenhais esquecido, fazendo entender o que não entenderdes"

Santo Agostinho, o maior génio que passou por este mundo,
como dusseram Sixto de Siene, Arnaque e Bossuet, escreveu, em África, um livro famoso, sobre tal mistério. É o 'De Trinitate'.

Durante 20 séculos, quamtos e quantos cientistas, grandes intelectuais e argutos filósofos acreditaram no profundo Mistério! Surgem agora uns pobres pigmeus, saídos da treva,
a negar, insensatos, o mistério mais augusto da nossa Religião!
Que se segue daqui? Eu digo.

Negando uma coisa, nada se aproveita, na Sagrada Escritura!..
Daqui se depreende que um livro santo, inspirado por Deus, não
pode transitar por mãos conspurcadas!

Ubi Petrus ibi Ecclesia - escreveu, há 1600 anos, Santo Agostinho! A quem obedecer?! A quem seguir?!
Escolher mal é fatalidade!
Jesus é Deus e não simples homem; fundou a sua Igreja e deu-lhe um Chefe, a quem prometeu ajuda especial.

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Lx. Belém
1985-08- 05 De Silva Neto, sobre casos dos Lusíadas. Matéria
de Sintaxe,
1. Particípio passado, a concordar com o objecto directo: " Depois de ter pisada longamente / C' os delicados pés, a areia ardente"( V, 47).
2. Desejar, seguido de infinitivo, regido ali da preposição 'de':
"Deseja de comprar-vos para genro."( I,16)
3. Conjugação reflexa, em vez de passiva, com o agente expresso:"( Que só dos feios focas se navega".
4. "Que... lhe", equivalente a 'a quem'."O Capitão que já lhe então convina"( I,2) O Capitão a quem já convinha..
5. "Quem... lhe!, equivalente a 'a quem'. " Como quem da
pergunta lhe pesara"(V,19).

6 Orações complementares dos verbos de impedir, proibir, postas na forma negativa. "Para estorvar que a armada não chegasse ( II,19).
7. A preposição 'em' como termo final do movimento, nos casos precisos. em que o Português moderno emprega 'a' ou 'para'. "... mas o rio \ Que dos montes hifeios vai correndo na alagoa Meótis(III,7)

8. A palavra 'homem', equivalente a 'uma pessoa', 'se' 'e gente'.
" Por segredos que homem não conhece. (III,69)
9 Adjectivo no plural, referido a un colectivo. Logo todo o restante se partiu no Lusitânia, postos em fugida
10 " Querer mais". equivalente a 'preferir'. "Quis mais a liberdade ver perdida.(IV, 53)

11. O verbo ' atrever-se' seguido de infifnitivo, sem preposoção.
"Onde não se atreveu passar Trajanio. ( IV, 64)
12. O demonstrativo 'o' a representar uma oração de lnfinitivo que se segue. " Eu o vi certamwnte e não presumo\ que a vista me enganava, levantar-se no ar um vaporzinho e sutil fumo\ e do vemto trazido rodear~se (V,19).

13. O verbo'ousar', seguido de nfinitivo, regido de 'a'. " Ousou alguém a ver o mar profundo (V,86).
14.. "Este que socorrer-lhe não queria" (VI, 48). O verbo socorrer, com regime indirecto.

15. A conjunção 'como' com o valor de ´'que', depois dos verbos de dizer e saber...".lhe diz como eram gentes roubadoras". (II,78).
16. Os verbos 'obrigar-se e ficar', equivalentes a 'garantir'. "Porque eu 'me obrigo' que nunca as queiras ver como inimigas.
(I,65)
Particularidades, em casos de flexão.: dões (dons); acude;
alferezes; consume; esteis e estê; fuge; impida; vás;imos; mouro,moiro,; vedeslos; vedes os; quem... quem; um... outro; este, aquele.
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Lx. Belém
1985-08-06 Silva Neto

Nos séculos XVI eXVII, usava-se 'ts', em todo o território do nosso Portugal. Neste caso, os colonizadores do Ultramar usavam a africada que depois de existir, no Português brasileiro, nele se perdeu, à`excepção duma zona do Sul.

Nos séculos XVI e XVII, o nosso País dividia-se cono hoje, em duas àreas distintas: uma, ao Norte, em que se usava 'ts',
' e outra, ao Sul, em que a africada já se reduziu a 's'.

Neste caso, ambas a s pronúmcias teriam vindo para o Brasil, onde se difundiria a segunda forma.
O problema curioso e mais interessante do consonantismo diz respeito ao sistema em que entram sibilantes.

Como se sabe, até 1600. não se confundiam, na pronúncia-padrão, nem as palavras , escritas com 's' - casa - nem as ercritas com 'z' - cozer - nem aquelas, grafadas com 's' sapato ou ainda com 'ç' - caça.

Hoje, ao contrário, cegar e segar. paço e passo,coser a cozer
são palavras homófonas.As palavras portuguesas escritas com 's'' surdo,eram pronunciadas como o ´s´apical e o 'z' também. Profere-se, com a parte anterior, um tanto côncava da ponta da língua,sobre os os alvéolos dos incisivos de cima.

É, com matizes diversos, o 's' castelhano e o de várias outras línguas e diversos falares ( Citânico, Basco Sardo.etc.)
O seu efeito acústico é 'sx' ( posso. passo, sapo).
É, na verdade, o dito 's' beirão ou 's' reverso. É uma forma integrada, pois apresenta uma correlação acústica, cujo efeito sonoro é 'sj', ai
As palavras portuguesas com c.ç,z, letras que, a princípio representavam as africadas tç e dz, eram pronunciadas como o 's'
pré-dorsal. Profere-se ele, com a língua convexa, encostada à parte interna dos incisivos inferiores.

A partir já do século XVI, numa ampla área do Sul de Portugal, houve, de facto, a generalizaçaão das pré-dorsais. As apicais, por isso, não fazem parte da pronúncia-padrão.e foram relegadas ao uso regional.
. Distribuição actual das sibilantes,
no território de Portugal: 1.
parte de entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e da Beira,
conservam ainda a antiga distribuição, entre as quatro sibilantes, isto é, diferenciam na sua pronúncia, s-ss-ç , dum lado; do outro, s-z.
2. Parte de entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e da Beira
distinguem apenas duas sibilantes, uma surda, outra sonora, mas ambas apicais
3. No Sul, do Mondego para baixo , Porto, Lamego etc.e nas cidades mais importantes, distinguem-se também só duas sibilantes, mas pré-dorsais. Esta última é que se tornou padrão"
Nota
Resumindo a doutrina, acerca das sibilantes: primitivamente, eram, pois,4 - s-z.-ts ( ceia, cinco) e z (dz), Tinham, é claro, pronúncia diversa, quer dizer, peculiar.
Falta ainda o som ch (tx) que no Sul de Portugal, isto é, na região ao Sul do Mondego, redundou em 'x.'

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Lx. Belém
1985-08-o7 Silva Neto

Quadro vocálico do Idioma Latino, que era falado, no século IV, perdido, já, o ritmo quantitativo,.Em quase toda a România, o 'u' aberto deu em o fechado ( ô ): pira, lupu; o 'i' aberto confundiu-se com o 'e'-
N B--- Há íntima conexão entre quantidade longa e timbre fechado; quantidade breve e timbre aberto. A mudança de um podia acarretar a mudança do outro.

Segundo Sílvio Pieri, uma consoante labial ( p-b-m-f-v) que preceda ou siga uma vogal tónica, tem a faculdade de abreviá-la;
'e' longo e 'i' breve passam a 'e' breve; 'o' longo e 'u' breve mudam-se em 'o' breve; 'u' longo transforma-se em 'u' breve.

Meyer Lucke objectou:" Há que tratar-se com timbre e não com a quantidde, isto é, a consoante labial não abreviaria a vogal
contígua, mas abriria: 'e' fechado - 'e' aberto; 'i' aberto - 'e' fechado; 'u' aberto - o fechado.

A partir do VI século antes de Cristo, desenvolveu-se uma nova quantidade, independente da antiga. Enuncia-se deste modo: vogal em sílaba fechada por consoante, abrevia-se; em sílaba aberta, alonga-se
O vocalismo galego-português conserva um sistema vocálico muito antigo, possuindo: 1. 'e' fechado e 'o' fechado fonológico;
i-e-u-ô( pèra, mensa,cepulla, sponsa).

NB--- A alternância ô-'e' é capaz de identificar o género.
No Portuguès arcaico, também o seguinte: solu- soo-sô. Hoje, está desfeita aquela alternância, com a vitória do só,
Ha formas, em que a vogal tónica se mantém aberta, apesar do 'u' final
Em primeiro lugar, há uma série que parece explicar-se, pela acção do 'r' ou do 'l': ferru, quateru ( ferro, caderno.
Veja-se também: merulu,melimellu, martellu,cultellu.

Casos temos , em que o timbre aberto da forma singular masculina se deve à forma do feminino: cego, por causa de cega;
neto, por causa de neta; fero, por causa de fera.
Ditongos_ au-ae-oe.

Vocalização do L: muitíssimo no Brasil; pouquíssimo em Por:tugal: altariu- saltu- palpare (altar-soito-poupar: outeiro.salto.
palpar, ( Formas diverg.
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Lx. Belém
1985-o8-o8 Silva Neto

O estudo comparado das Línguas itálicas. por um lado, e a descrição dos Gramáticos Latinos, pelo outro, mostram que, à excepção do 'a', sempre aberto, as vogais longas são fechadas, e as breves, são abertas.
A passagem normal das vogais longas a uma pronúncia que seja mais fechada, como acentua Millet, compreende-se facil.

Esse facto aumenta a impressão de longura, pois uma vogal fechada torna-se mais sensível à quantidade longa . Assim, os antigos dialectos itálicos, tanto latinos como osco-úmbrios fechavam fortemente as vogais longas e abriam as breves: 'e' breve e 'o' breve são abertos em Latim; 'i' longo e 'o' longo já são fechados; 'i' breve e 'u' breve são abertos; 'i' longo e 'u' longo são fechados.
Cada uma das seguintes vogais comportava duas quantidades: a-e-i-o-u, sendo uma breve, e outra longa.
Em Osco-Úmbrio as vogais longas eram muito mais fechadas que as breves correspondentes. Se há vestígio da qiantidade, é de maneira indirecta, por isso em Latim, as vogais longas e breves tinham tmbres diferentes e estas diferenças de timbre sobreviveram à perda da distinção quatitativa

Pode indicar-se o III século como o marco da perda da oposição quantitativa, perda que se estendeu a toda a România. mas que, provavelmente se deu mais cedo, nas regiões, a princípio, aloglotas..
De facto, vêm-nos de África, os primeiros indíicios da perda de quantidade., o que não deve surpreender, porque é próprio da ação dos aloglotas apressar a deriva imanente à límgua.

No IV século, em todo o império, o ritmo quantitativo não era senão uma vaga lembrança. A data extrema na qual os factos denunciadores do acento de intensidade não existem ainda, é o fim do primeiro século, PC.

Certamente, havia já, no primeiro século da mesma era, algumas alterações, no fim das palavras, mas o sentimento de oposição entre sílabas longas e sílabas breves -. a chave da abóbada do sistema fonético antigo - tinha permanecido intacto.
Este sentimento já não existe, século e meio mais tarde

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Lx. Belém
1985-08-09 Cont..

Gonçalves Viana , Leite de Vasconcelos, Cornu e outros acreditavam que até ao século XVIII, era geral, em todo o país, a pronúncia tx.Como ressalta do que dissemos, em outros lugares desta obra modesta, a falada mudança de cl, pl, fl,
foi mero fenómeno, verificado no Noroete e, só mais tarde, irradiado para o Sul
Segundo Harri Meyer, o Sul, provavelmente, não conhecia o som 'xê'. Realmente, entre os Moçárabes, haviam-se conservado os grupos cl-pl-fl ou, quando muito, haviam-se transformado em cr-pr-fr. No mesmo sentido está o ajustamento do c e do z, de tcem e de franquedza co o 's' de sem e de mesa que se diferenciam, em gandes áreas., limitadas.ao parecer,na linha do Mondego.
Nota
Os limites são muito imprecisos, pois ainda se não fez o desejado inquérito, para averiguá-lo. Parece, todavia, que o 's' côncavo ou chiado começou desde Pombal e correu para Norte.

Igualmente imprecisos são aqueles dados, referentes à extensão da diferença de pronúncia, entre 's' e 'ç' (passo e paço) e
entre 's' sonoro e 'z'. É o caso ainda da convergência,
para nivelamento, nas terminações: onu-õ-anu- ão; ane-ã; udine-õe.
Este complexo e delicado foneticismo, não podia manter-se onde não tinha as raízes profundas da tradição, mas onde se implantava como novo ideal de tipo linguístico.
Abaixo do Mondego, o contacto intenso e multímodo anulava a autonomia linguística, entre o Sul, conservador, e o Norte, inovador.
Era agora a língua dos reconquististadores, largamente trrabalhada, no sentido da deriva.e ao sabor dos substractos que vinham fundir-se, adaptando-se a ela., com a língua do Sul - conservadora, nos tempos da florescente civilização romana e estagnada como língua de cuore, nos séculos amargos da dominação sarracena.
Não surpreende, portanto, qie formas tipicamente do Norte .
como aquelas, em que se havia perdido 'n' e 'i' intervocálocos, se
impusessem a todo o território.
Também se difundiram, irradiando-se para as zonas meridionais, as occlusivas surdas ( e a fricativa f) se haviam sonorizado.
Apesar de tudo, perece evidente que, por mais que preponderasse o Romanço. ao Norte, não apagaria todos os traços
autóctones. Conservou-se, em primeiro lugar, boa cópia do vocabulário agrícola, de origem árabe.

Enquanto em Trás-os-Montes se diz segada e decrua, no
Alentejo diz-se ceifa e alqueire. No Norte, chama-se rasa, libra, càntaro ao que no Sul se designa por alqueire, dois arráteis, meio almude. Ali, diz-se càleira, copos; aqui, algeroz, alcatruz

A esta altura da nossa exposição, já se vê, bem claro que um dos pontos que parecem talvez estabelecer alguma diferença, entre a formação castelhana e a portuguesa, é, com certeza: maior participacãõ dos chamados Moçárabes nesta derradeira

De facto, é sabido que, desde cedo, colaboraram na formação do núcleo demográfico, fundamental que se estabeleceu, entre Minho e Douro e, depois, progressivamente, entre o Douro e o Vouga; em seguida, entre o Vouga e o Mondego; finalmente, entre o Mondego e o Tejo.

Nesta derradeira faxa de terra, por causa dos movimentos,
em aparência opostos: emigração de Moçárabes mais para Norte
e conquistadores cristãos mais para Sul, estabeleceu-se intão.

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Lx. Belém
!985-08-10 ( Cont.)
Observe-se ainda a configuração de carácter geográfico - extensa e plana, em oposição ao Norte montanhoso
- facilitava as intercomunicações e, portanto, a ausència necessária de rica e fértil diferenciação, no campo dialectal.

Por isso, como se vai ver, embora cristalizado na capital, o
Português comum, não representa o tipo linguístico duma região determinada. Pelo contrário, ele é, realmente, uma média, a consequência duma nivelação de tipo linguístico, provocada ali pelos factores históricos.
Com argúcia fina, salienta Harri Meyer que o facto de o centro político e linguístico se encontrar mais a Sul do que em Espanha, é uma das razões por que certos fenómenos paralelos do Espanhol e do Português meridionais, como por exemplo a evolução do 'c' de centum em 's'( sien) cem que em Espanhol têm o carácter de dialectismos andaluzes, em Português pertencem à língua oficial, o que lhe confere em alguns pontos, um aspecto progressivo, em face do Espanhol correcto.

Essa observação, traduzida em termos humanos e histórics,
significa que o Portuguès comum é a consequência de uma nivelação mais intensa do que o Espanhol e que nele foi mais pronunciada a colaboração dos Moçárabes.

Como consegur a língua comum?
Do dialecto de Lisboa? Do dialecto de Coimbra? Do dialecto do Norte?.O professor Paiva Boléu escreve o seguinte: "É opinião aceite por alguns filólogos, sobretudo estrangeiros, que o Portuguès, como língua oficial. provém do dialecto de Lisboa.

Leite de Vasconcelos, mais cauteloso e, por ventura mais próximo daquela realidade que parece depreender-se de alguns factos aqui apresentados, póe a alternativa de Coimbra ou Lisboa,

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Lx. Belém
1985-08-11 Continua ainda Paiva Boléu.

À partir des XV et XVI siècles, la langue littéraire présente quelques caractères qui sont en désacord avec le langage de la Province du Minho et d'accord avec le langage actuel du centre du Pays (Beiras)et du Sud: par exemple la terminaison''ão', dans les noms de la troisièma déclination latine,

Ainsi, l'origine de notre idiome littéraire pourrait être plutôt qu'ailleurs cherchée à Coimbra ou à Lisbonnne"
Já vimos atrás a observação de Leite de Vasconcelos de que no Português há traços como o ditongo 'ão' que não pertemcem ao falar interamnense e tive ocasião de apresentar algumas objecções à hipótese de ser a língua portuguesa a evolução do dialecto de Lisboa.

Excluindo a primeira e a terceira hipótese, ( Lisboa e Norte) significa já que tendo para a segunda, reconhecendo que não só para a História do Condado Português como para a História da própria Língua, a região situada entre Douro e Mondego deve ter desempenhado um papel importante.

Não deixa d ser bastante significativo que, desde épocas remotas, se haja oposto a Galécia à região de Colimbria.

Num documento, já dos meados do século X, escreve Leite de Vasconcelos, estabelece-se clara distinção, entre as duas regiões: territorium Colimbria e a referida Galécia.; e noutro passo, o nome de Portgal, naqueles tempos ( século X e XI), chegava já, com afoiteza, ao rio Mondego, contraposto de mais a mais à dita Galiza
No estado actual dos nossos conhecimentos e desprovidos,
como estamos, de atlas linguísticos, não é possível resolver o problema.aqui posto. Mas, se me é lícito formular uma hipótese, direi que não julgo o caso da Língua Portuguesa, semelhante ao do Francês e do Italiano ( elevação de um dialecto a língua nacional)
Com maioria de razão do que o fez Menendez Pidal para o Espanhol, ao mostrar a impropriedade da expressão "Língua Castelhana", talvez se venha a provar que. na constituição primitiva do nosso idioma entram elementos de várias línguas.

Expressões como língua portuguesa, língua fracesa, língua italiana , etc, não passam, na verdade, de simples elementos, geograficamente colectivos: traduzem apenas massas linguísticas
da mesma origem que se estendem por diversos territórios, como se fossem tapeçarias, mais ou menosn variegadas.

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Lx. Belém
1985-o8-12 Cont.
Todavia, a necessidade de intercomunicação impõe a escolha de um instrumento linguístico que possa atender todos os pontos do mesmo país : é o que, em suma ,designamos todos por "Língua comum".

Ela constitui um forte laço, um dos mais expressivos e ricos símbolos de unidade nacional. é nela que se escrevem as leis e os decretos; por meio dela ainda que o Santo Evangelho chega até nós; é com ela que exprimimos quanto a fundo amamos, sentimos e pensamos.
O luso grupo linguístico prossegue firme, não obstante os problemas e dificuldades que vai encontrando, pelo caminho.

O peneiramento e selecção dos termos e expressões faz-se constantemente, seguindo-se o padrão dos grandes centros populacionais, onde há Escolas e Universidades.

Ao mesmo tempo, eliminam-se e recusam-se formas regionais,com vista a obter a unidade linguística e todos se compreederem, no mesmo país.

Com o tempo rodando, várias palavras caíram em desuso (arcaísmos), sendo logo substituídas por outras novas. As que estão em uso tamém se alteram, na forma inicial énquanto partes duma línga falada, havedo por fim tornar mais fácil a pronunciação e dar à linguagem mais suavidade. o que é obtido, por meio de assimilações, abrandamentos, dissimilações,.etc.

A nossa língua é muito rica, elevando-se a 260,ooo o número de termos: não precisamos de esmolas!

Amadora,19 de Março de 2oo8

Pedro Inês da Fonseca
Aos 90 anos, corrigiu bem e passou tudo a computador: é fruto. da experiência, observação e largo estudo. Que muito aproveite.

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