terça-feira, 5 de junho de 2012

M 42 - DA INFÂNCIA

MEMÓRIAS DA INFÂNCIA (42)

”Eu não sou de cá”
Rosa Maria ouvira tais palavras, dos lábios paternos, ainda em tenra idade, repetindo-as sempre, maquinalmente, dentro do lar. Um dia, porém, já pelos 7 anos, ressoaram fora, sendo escutadas pela vizinhança. O facto deu brado e divulgou-se, em pouco tempo, sendo interpretado por modos variados. Diziam uns: “Se ela nasceu em Entre-Vinhas, como vai aceitar-se tal afirmação?!” Atalhavam logo outros: “Foi o pai quem lho disse e, como sabemos, ele é alguém, na sociedade!”
Os graus académicos e os vários estudos a que se entregou, conferem-lhe o direito de ser acatado como pessoa ilustre e bem informada! Ensinar erros a uma criança que, para mais, é filha desangue, não cabe jamais na cabeça de ninguém!
Nesta encruzilhada se encontravam as gentes da localidade, quando a petiz o informou do que estava correndo. Incomodou-se um tanto o digno Engenheiro, mas não se irritou com o sucedido, uma vez que as aparências levavam a enganos o povo iletrado. Decidiu, antes de mais, serenar a filha, desculpando logo o analfabetismo que ali vicejava.
- Olha, meu amor, não te indisponhas,com esta gente, que não faz isso por mal! É instigada pelo que parece! Hás-devê-la mais tarde, quando já elucidada… Primeiro que tudo, esclareço o teu espírito. Os teus 7 anos e o avanço que levas permitirão iniciar-te nestes graves problemas. Uma vez ilustrada esta pobre gente, dar-te-á os parabéns e amim também.
As expressões “de cá” ou “daqui” designam o Planeta ou Entre-Vinhas; “de lá” ou “de fora“ aludem ao local, habitado, após morte (Céu ou Inferno). Mais claramente: Deus criou-nos para Si (para o Céu – a felicidade eterna), deixando-nos algum tempo, aqui na Terra,para mostrarmos o que desejamos, por meio de boas obras. Servem-nos de guia os10 Mandamentos, por Ele ditados, no Monte Sinai. Para nosso amparo e guiaseguro fundou a Igreja Católica, à qual deu um Chefe, com poderes especiais.
Como se vê, a vida continua, paraalém da morte, porque a nossa alma é imortal. De ser mortal, o corpo humanofica sujeito à destruição. Portanto é certo que ninguém é de cá. Entendes o quedigo, meu rico tesouro?!
- Com certeza, paizinho!
Chegamos agora ao ponto crucial das consequências, que vamos desenvolver, nos próximos capítulos. Como és curiosa e amiga de saber, ouvirás com atenção as minhas palavras, para corrigires o povo ignorante, sempre que precise.
O engenheiro Inês empenha-se a valer em instruir a sua filhinha, nos assuntos religiosos. Nesta caminhada, vamos prosseguir. Aquilo que está para além da morte é uma consequência do jeito de viver. Interessa, portanto, conhecer bemos nossos deveres, para os aplicarmos na vida prática. Com este propósito, nos vamos lançar.
Convém partir deste princípio, deixado pelo Mestre: “Vigiai e orai, para não entrardes em tentação”. Querer é poder! Na caminhada, hão-de surgir-nos inimigos poderosos. Só com ajuda os poderemos vencer. “Pedi e recebereis“. Assim apetrechados, nada tememos. Vamos,pois, lutar!
Entra agora em acção uma dançarina, muito procurada pela sua beleza, modos aliciantes e trajo habitual. Rosa Maria acompanha seu pai, Engenheiro Zé Inês, que lhe chama a atenção para o que interessa. Os 12 anos da jovem abrem-lhe as portas para aspectos curiosos que a vida apresenta. Fixando a actriz, demoradamente, pergunta o pai se ela é “de cá” ou então “de fora“: vestido em uso, pelo meio do joelho; peitos recolhidos, mal se notando o início deles.
- “De cá” não é! Já se vai preparando para a vida nova do após morte, o prémio do Céu. Luta no tempo, afim de gozar na eternidade! É um trajo honesto, que não induz ao pecado.
- Muito bem - diz-lhe o pai! -Atenta nela, ao dançar e diz-me também se confirma ou não.
- Já reparei, há dias, notando com espanto que não andava colada. Portanto, “não é de cá”.

*
Tem a vez um bêbedo, cujos disparates são conhecidos, aqui na vizinhança.
- Como o classificas?! Cadeiras, bancos e loiças; pancadaria brava, na mulher e nos filhos; falas incorrectas editos chocarreiros é acção de toda a hora. Também não falta roupa ensebada e praguejo como chuva, em tempo de Inverno! E mau cheiro?! E berros de protesto, por falta de pagamentos?!
- É fácil a classificação! Como efeito de tantos abusos, se não houver emenda, cabe-lhe o Inferno! Portanto, é “de lá”(do Inferno!) Que precisa de fazer?
- Reparar o mal feito e prosseguir em sentido contrário. Para bom êxito, impõe-se desde logo, o arrependimento e a fuga do vinho, como o diabo triste foge da Cruz!

*
Vem, seguidamente, a jovem sem pejo.
Rosa Maria, como já observaste a sua loucura e grande espavento, expondo ao mundo o que deve encobrir e o faz com prazer, dá opinião acerca do caso, indicando a zona a que pertence.
- Sinto vergonha de falar sobre ela e lamento animosa que seja do meu sexo quem assim dá escândalo, com tão baixa moral, sem respeito nenhum pela gente honesta! Julga talvez que a beleza físicaé o dom supremo que adorna a mulher! Ilusão profunda e supremo engano! O queimpõe a mulher é certamente a beleza moral. Por isso, é “de cá” e tem comoefeito o horrendo Inferno, se não houver emenda.
*
Minha filha adorada: vou apresentar um caso lastimoso, a que farás, depois, a justa correcção. Por alta madrugada, certa mãe exigente vai ao quarto do filho, decordas na mão. Fora informada, erradamente, acerca dum acto, que não praticara. Sem mais nem para quê, aplica-lhe um castigo, em extremo rigoroso, que só termina, quando esgotada. Ouve então as palavras chorosas e condenatórias: “A mãe foi injusta, que eu nada fiz que merecesse castigo”.
-Rico Paizinho: além de injusta, foi imprudente! Devia fazer assim: é verdade o que dizem, acerca de ti?! Nunca mentiste! Fazes isso agora?! Dizendo a verdade, não te castigo. Espanta o nervosismo, que eu sou tua mãe. Alguém há que te queira, assim como eu?! Mostra-me bem que és meu amigo!
A Pedrada Sonora e Tentadora
Em propriedade rural, não longe do caminho, havia um telhado, com folhas de zinco. Que havia de lembrar à gente nova e agarotada?! Atirar furtivamente pedras miúdas, cujo embate sonoro ia ser deleitoso. Seguidamente, davam à perna, sem olhar para trás! Era um prazer o efeito produzido e, ao mesmo tempo, uma vitória, por baixo preço!
Alguém sofreria, pelo atrevimento, sem dar uma lição, que fosse proveitosa! Quem pagaria a ruína dotelhado?! O dono e mais ninguém, quer pudesse quer não! Já se não olha ao prejuízo!

* * *
Os pais de Clara e de João tinham propriedades, na zona da Roçada, que ficavam lado a lado. Isto permitia que os dois se encontrassem, com facilidade. Havia já um laço que de longe os prendia, para troca de impressões, em longas conversas, que absorviam o tempo e muito os deleitava.
As horas passavam e os dias também, sem que eles o notassem. Um dia, porém, chega a puberdade: ela com 12 e ele 14. Sentem-se atraídos e cada vez mais presos, mudando-se as crianças em gente crescida. Verificam breve que os laços apertam e rumo novo se impõe tomar. Entretanto, por vezes, a vida é traiçoeira e faz das suas.
Que havia de suceder?! O que menos esperavam e nós também.
Ela, então, com imenso cuidado, apura a vista, franzindo o rosto e erguendo, levemente o indicador, na direcçãoda gola do casaco dele, exclama, gritando: Tens aqui um piolho!
Ele cora fundo e foge prestesmente!

Um Casal de Pombas
Havia já muito que José Pinto ansiava a fundo por um pombal. Aonde ir buscar o casalinho, para inaugurar a fundação? Dos arredores da Covilhã saiu em breve a satisfação de tal desejo. Num caixotinho, de cor esverdeada, surgem as primícias do futuro pombal: eram pintalgados, a verde e azul, os dois pombinhos tão esperados.
Onde havia de colocá-los? Na casa do Carvalhal, o meu património. A 500 metros da povoação, ficavam bem! Dei-mepor satisfeito e fiquei esperando os primeiros ovos, para início da multiplicação. Nenhum dia passava que não fosse visitar os novos inquilinos. Ao oitavo dia, é que foram elas! Que fui eu ver ao Carvalhal?! Apenas dois cadáveres! Que tristeza a minha!
Foram as doninhas que lhes sugaram o sangue.

Novo Casal de Origem Diferente
Agora é o Forno, telheiro, que oferece as primícias, por intervenção de pessoa amiga. Foge do Carvalhal a instalação e fica no povoado, ao alcance da mão. Desta vez, o assassino foi também um animal, mas de tipo racional. Ganhou uma sova-mestra, volvidos alguns meses.
Porque razão faria tal coisa?! Por ser inferior, no brilho das aulas?! Sempre há cada um! Saiu-lhe cara tal brincadeira! Repetirá o facto?! Que fique para emenda!

Ainda outro Caso
A instalação fica muito alta: só com escada é possível tocar-lhe! Ficará libertade ataques animais?! Que a paciência não falte, para conseguir o que tantodesejo! De vez em quando, subia até lá, para ver os dois ovos, tão cobiçados. Logo que o facto se verificou, encheu-se de alegria o meu coração. Entretanto, não viria longe a maior tristeza! Os novos seres jamais apareceram! Não era casal, mas duas pombas!
O novo casal, por mim esperado, fora um sonho! Apenas em Angola viria a ser realidade o pombal ansiado, na vilado Chitembo, a 150 quilómetros de Silva Porto.

O Borrego
Não se trata aqui de animal pequeno, filho de ovelha. É um pouco de massa, extraídado queijo, enquanto estão a fazê-lo. Vem quase no princípio, depois de picada a massa, dentro do acincho.
A velhinha querida habituou-me a ele e jamais o dispensei, transformando-se em hábito. À falta de netinhos, afeiçoou-se a mim, criando-se entre nós forte ligação. Os 80 anos que nos separam não afrouxam a saudade!
As Cabras da Ti Ana
Eram 4 as cabrinhas: Riscada e Negra, Laranja e Rouxinol. Os pastores, em geral, não prezam este gado, porque os seus elementos são manhosos e pregam às vezes, grandes partidas, que danificam e revoltam as gentes. Basta que o pastor se durma, esqueça ou afaste, para uma delas, já mais batida e habituada, se atire àscouves de algum vizinho.
As mais idosas e práticas são hábeis no serviço, aproveitando bem as ocasiões. Que os vizinhos não guardem bem as suas culturas e pomares, verão depois as consequências!
Ralhos dum lado pancadaria do outro, ira e praguedo, Justiça e tribunal! Um horror a vida, nestas condições!

A Ordenha
Após o dia a pastar, haviam recolhido, esperando ansiosas que o pastor surgisse, para tirar-lhes o leite. Chegado o momento, lá vem o ti Cândido, ferrado na mão. Entra açodado na loja da casa, onde a Laranja quer ser a primeira a ser atendida. Vai-lhe, pois, ao encontro, muito satisfeita, ouvindo as palavras, já costumadas: espera, Laranja, que venha a candeia! A vossa amiga Ana mete-a sem demora, por aquele buraquinho, feito na cozinha!
Palavras não eram ditas, ilumina-se o local, notando-se brilho, nos olhos dos animais. A candeia é pendurada ecomeça a tarefa.
Laranja, diz ele, a tua idade concede-te a honra de seres a primeira! Ela, então, dispõe-se como é preciso, e toca de premir os dois mamilos, que lançam no ferrado o leite precioso! Com ele, fará ti Ana queijinhos deliciosos, que serão vendidos, em Celorico da Beira, por bom dinheiro.

O Regresso do Ti Cândido
Regressar é bom, quando a vida promete. A gente do campo não faz excepção, pois acabam as tarefas. Os agricultores bem como os pastores deixam os trabalhos, para descansar. O ti Cândido, porém, não cumpre a regra. Vejamos porquê.
Sendo proveitoso e muito prático, recusa obedecer aos costumes do povo. De volta a casa, junto com o gado, as suas cabrinhas, empunha um sacho e carrega um cesto que é utilizado, ao longodo caminho. Parece esquisito aquilo que faz, mas a horta do povo, em frente da morada, acusa os efeitos. Notemos, em pormenor como tudo se passa.
Não tendo adubos, para a sua horta, aproveita os excrementos, que vai encontrando e, ao fim do percurso, atira-os para o monte, que se vai erguendo, junto da porta. Engenhoso processo!Batatas, couves e flores, assim como a figueira e a hortelã, sorriem gozosas eagradecidas.
“O Monte” faz maravilhas!

Engano do Ti Cândido
De quando em quando, o forno do povo era esquentado, para cozer o pão. Uma vez preparado, entrava em acção. O primeiro casal gastava muita lenha, para aquecê-lo, razão pela qual ninguém desejava tomar a dianteira. Resolvido este caso, seguia-se a ordem, indicada na parede, por um raminho.
Chegada a vez do ti Cândido, levava este um molho de giestas, pedindo à ti Ana que peneirasse para amassar. Na sala de entrada, via-se um arcaz, em cima do qual estava a masseira, em que a farinha era peneirada. Isto, exactamente, estava sendo feito pela ti Ana, quando eu, pequerrucho, de bracitos no ar, me agarrava à saia, choramingando. Como ela, agora, não podia atendê-lo, persistia, esbracejando, com lágrimas nos olhos.
Neste momento, chega o marido, para dar ordens e dizer que o forno está preparado. Entretanto, a surpresa, no grande aperto, enche-o de nervos e desprende-me da saia, com fala exaltada, provocando gritos em desespero. Inesperadamente, a porta abre-se. É a mãe que chega como um relâmpago e dá logo a explicação do sucedido, lamentando chorosa, o que estava acontecendo.
Com o miúdo apertado ao peito, entra em sua defesa, dizendo logo: Meu filhinho!
Aqui, interrompe-a ele, cheio derazões: O demoncho do rapaz ‘num’ queria ele ir para dentro da masseira?!
Agora é ela que fala, muito cheia de razões autênticas: Meu filhinho! Está habituado a pô-lo sentado, em frente de mim, quando peneiro, em cima do arcaz! Não era para a masseira que ele queria ir!

O Pastoreio das Cabrinhas
Habitualmente, era o ti Cândido que levava as cabras, para a pastagem, mas de vez em quando, a ti Ana Rosa fazia a sua vez. Os lugares procurados eram os seguintes: Chão dos Bacelos, Demoacho e Ladeira, Tapada e Soito. Falta ainda a Horta, pertinho de casa.
A mais valiosa era a primeira. Excedia as outras em extensão, qualidade e variação. Em todas, elas, havia cordões de belas videiras, sem faltar o útil abrigo: cabana de colmo ou então minas subterrâneas. Também se criavam árvores de fruto: figueiras, macieiras eoliveiras. Avultavam ainda sortidos couvais, hortelãs e salsas, cardo e cenouras de cujos frutos, folhas ou fermentos, se serviam os animais ou as pessoas.
Em dias de tempestade, o gado caprino comia na loja: batata miúda ou casca de feijão. Hoje, passa-lhe a estrada, pelo fundo fora, na terra melhor. Desvantagens, sim, mas também algumas vantagens!

A Dorna Aparece
O tempo das vindimas acaba de chegar: corre o mês de Setembro. Por esta razão, fazem-se já os preparativos, a fim de juntar os cachos maduros, numa dorna grande. Mas ela está seca e desconjuntada. É preciso enchê-la de água, durante alguns dias, para que as aduelas fiquem no lugar e não percam o líquido.
Em seguida, é levada para a loja da casa, onde estão as cabras, a qual está dividida em duas partes: gado a um lado e arrumações ao outro. O labor do ti Cândido volta a mudar. Ao findar a tarde, carrega uns cestos e trá-los juntamente com as cabrinhas. Ao fim de algum tempo, está quase cheia; tudo bem pisado, fica esperando que fermente, para extrair o vinho.
Como vai ele saber se já começou a fermentação?! Eu, garoto ainda, não perco um movimento de quem investiga. Agora, desprende a candeia e mete-a na dorna, aguardando uns momentos, de olhos fitos na luz. Apaga-se ou não? A princípio conserva-se, mas depois já não: apagou-se!
Esta mudança puxa-lhe a fala: ÓAna, amanhã, tiramos o vinho, passando a fazer a aguardente!

Aos 4 Anos!
António Cândido era um homem prático e, no tempo exacto, dispunha de tudo quanto era preciso: alambique e tear, ferramentas várias e tudo o mais. Entra agora em acção o chamado alambique. Sem ele em campo, não se faz a aguardente. Armado nopátio, junto da casa, atrai as atenções. Até o Pedrito, de 4 anos apenas, olha deslumbrado para o conjunto, donde sai, na extremidade, um fiozinho de líquido brilhante.
O ti Cândido, vendo-o assim, julgou erradamente que tinha sede e mandou buscar um copo. Foi um desastre! O meúdo bebeu, caindo logo no chão, sem poder levantar-se, embora o tentasse. Neste momento, chega Margarida, que lhe ouve dizer: Ó mãezinha, dê-me uns pauzinhos, que não posso levantar-me!
O álcool, em excesso, faz mal a toda a gente! Quanto mais a uma criança! Devia ser água, na sua vez!

Ti Ana e Ti Cândido
Ainda em nossos dias, usava o povo de Vide-Entre-Vinhas a forma respeitosa ti (tio,tia), “Ó ti João! Ó ti Lucrécia!”, por exemplo.
Este casal vivia sem filhos, porque morrera aúnica herdeira, quando eu nasci. Ele tinha mais 10 anos do que a esposa. Ouvi-lhe dizer, muitíssimas vezes: Ai, Antonho, se te falto!
Estas palavras eram proféticas!Na verdade, chegou, decerto, à miséria extrema: diziam por lá que, sendo já viúvo, ia para a Ladeira varrer, com uma giesta, os piolhos do corpo. Além disso, invadia as cozinhas, aproveitando os restos e rapando as panelas! Homem infeliz! Que desdita!
A figueira da horta, para lembrança, proporcionou-lhe um tombo, num tanque, cheio de água. Que seria feito das 4 cabrinhas que tanto zelava?! Que pena e saudade ele havia de sentir! A Laranja e a Negra, o Rouxinol e a Riscada!
Deus o tenha em glória, para se desforrar das misérias deste mundo!

As Aparências Iludem
António Felizardo parecia bom rapaz e era estimado por toda a gente, no velho povoado. Fizera a 4ª classe, frequentara a doutrina e preparava-se já, para iniciar os estudos liceais. De bom tronco familiar era ele também. Nada oindiciava para maus caminhos nem um porvir de infelicidade.
Entretanto, na realidade, as coisas divergiam. A horas mortas, por noites seguidas, atirava pedradas a um telhado vizinho. Qual a razão de tal proceder?! Não se via motivo, que justificasse tão baixo agir! Só por diversão? Para verificar se tinha mão certa? Para deleitar-se com estrondos em telhas?! Que mau gosto!
Este facto obrigava alguém a sair de noite, a fim de entrar em casas próximas, onde colheria dados úteis. Apesar de tudo, nada obtinha, pois o culpado recolhia logo e não deixava sinal que pudesse elucidar. Triste situação a dos moradores!Como descansar e dormir sossegados?!