1-5-1989
Abril, no seu termo,que afinal foi ontem, deu o tom a Maio.
Na verdade, está quente. São 16 e 1o, ficando-me a impressão de que hoje,a rigor, é um dia estival. Se ontem, afinal, foi a 22 a temperatura, hoje é mais
alta, com toda a certeza.
Vi os seus efeitos, no jardim de Belém e, de igual modo, no próprio
auto-carro. Lá, demandavam a sombra de ãrvores folhosas, sentando-se as gentes, quase ofegantes, nos bancos jacentes; nos transportes, fugiam todos para o lado oposto ao do Sol escaldante.
Terá sequência o dia presente?
É certo e sabido que Abril foi chuvoso, parecendo Inverno. Entretanto, não
foi chuva abundante que saciasse as barragens como também o solo ressequido.
A gente, em geral, aprecia o tempo bom mas, se não chover mais, haverá no país,casos a tratar, com certa dificuldade.
Que Deus-Providência atenda solícito as nossas carências, pois só Ele, afinal, é que pode valer-nos!
Quem é Deus?
Responda Camões, na Epopeia Nacional: "É aquele que o impossíbil pode!"
Recordemos também o saber popular:"Nada anda à vontadede Deus, como é o tempo!"
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Amadora
2-5-1989
Entraria na moda? Ainda que fosse, não era novidade! Com efeito, em Vila Soeiro (Fornos de Algodres), havia, em tempos certo casal que
tinha dissabores, pela mesma causa. Vou ser mais claro!
Certa esposa, algo descuidada, envergonhava o marido, por andar ranhosa. Isto, exactamente, foi referido por alguém do local, passoa já idosa, que veio a falecer com 93 anos
Voltando ao caso, o marido aguentava, mas sempre nervoso. É que ela própria, sorvendo embora, engrossava o monco (muco), Ao mesmo tempo, alongava-se bastante, em frente dos lábios.
Quando isto sucedia, vinha logo ele, com a frase de sempre: Ó Maria. assoa-te, que és a minha vergonha!
O caso de hoje não foi bem igual, mas algo senelhante! Eram dois jovens : ela, sentada, junto de mim; ele, de pé, também ao lado.
Que havia de suceder?!
Enquanto eu me enervava e harto indispunha,com tanto referver daquele nariz,ele, adorador, nem se apercebia da figura infeliz, que ela estava fazendo!
Nunca pensei que uma jovem casadoira fosse tão porca!
Inspirava nojo e faria correr um pobre aleijado!.
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Amadora
3-5-1989
Se mais vivermos, então mais veremos!
Nova surpresa hoje me tomou! Ao passar em Benfica, deparou-se-me alguém que me encheu de espanto. Era uma jovem dos seue 18 anos.
A princípio. afigurou-se-me um rasgão, em frente da saia ( espécie de saia!)
Entretanto, olhando melhor, notei prontamente haver-me enganado, pois era feitio. Admiti, nessa hora, que a jovem aludida não fosse honesta ou então que sofresse da cabeça! Tudo figurei, poia não concebo que, em simples mini-saia, possa haver feitios que penetrem fundo, na zona pudenda!
Fizeram sso, primariamente, na zona posterior. Agora, levaram a coragem para a zona da frente. Não será impudor, tremenda ousadia. e até falta de senso?!
As outras pessoas não merecem respeito?! Para onde caminhamos?!
Haja honestidade, na mulher portuguesa que, em tempos, foi exímia, neste
particular!
A minha censura não vai abranger todas as mulheres, bem entendido!
Li, no passado, um livro curioso, cujo nome apreseno: A Mulher em Portugal, Elogio maior e mais completo não era possível, acerca do pudor e honestidade que distinguia a mulher portuguesa
Se o autor escrevesse hoje poderia manter o que havia assegurado?!
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Amadora
4-5-1989
Logo de manhãzinha, ouvi esta frase, na camioneta que rumava a Lisboa:"Hoje, é o dia da espiga!"
Recordei então a famosa quinta-feira da Ascensão do Senhor, que já foi
dia santo.
Sabemos da Escritura que o Senhor Jesus, passados 4o dias, após a Ressurreição, deixou este mundo e foi para o Pai, ficando sentado à sua
direita.
Este é o facto ímpar que vai ser comemorado, no próximo Domingo,
dia 7 do corrente.
Deixando agora este belo aspecto, voltemos breve ao dito inicial
Logo que a ouvi, saiu-me espontânea a frase seguinte: se fosse apenas hoje!
É verdade palpável : de espiga, afinal, são na verdade, quase todos os dias! Toma-se "espiga", como sendo azar,, contratempo ou má sorte,
inêxito grave, decepção e angústia.
São tantos os problemas que a vida nos põe! E nesta época!
A receita auferida não dá para comer, segundo a necessidade. É preciso
restrngir, em quantidade e até na qualidade!
-- Que come ao almoço?
-- Sopa!
- - E ao jantar?
-- Sopa!
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Amadora
5-5-1989
Ferreira Comes, Bispo do Porto.
Faleceu há pouco. Televisão e Radio bem como a Impremsa falaram
muito, acerca dele, pelas suas qualidades, obra realizada e. sobretudo, porque fora exilado, no tempo de Salazar.
As Esquerdas então fizeram do facto cavalo de batalha, apontando o Prelado como grande campião e insigne paladino da liberdade.
De tudo o que ouvi, a respeito dele, guardei uma frase que vou deixar aqui, por ser, realmente, de sua autoria.:" De joelhos, diante de Deus, mas de pé, diante dos homens"
Define, a rigor, o carácter singular de Ferreira Gomes.
Havendo injustiças, devemos apontá-las, verberando atitudes, e corrigindo falhas, sem temer consequências
Os primeiros são mártires, por via de regra, mas, lançada a semente, ela vai germinar, em tempo breve.
Quanto ao exílio, tê-lo-ia evitado, se fosse mais prudente,
mas não era oportuna a carta do Prelado a Salazar
Sintomático foi que todos os colegas se houvessem calado!
Sinal de aprovação, reprovando a atitude de Ferreira Gomes?!
Todos nós sabemos que Salazar era Catedrático, na Uviversidade e que foi instado, uma e muitas vezes, para tomar as rédias do Governo portugues. Por fim, a rogo de muita gente, aceitou o cargo, mas impôs condições: ser ele a governar e não a ser governado
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Amadora
6-5-1989
1492 ou 1450?
Destrinçar este caso é tarefa curiosa, que agrada aos Portugueses e causa desgosto aos vizinhos Espanhóis. Trata.se agora de saber claramente
se foram eles ou nós quem primeiro chegou a terras da América.
Ainda que fosse como diz a História e sempre estudámos, cabe-nos também uma parte de glória, pois Cristóvão Colombo estudou em Portugal
a arte de navegar. casou com uma filha de Bartolomeu Perestrelo e ofereceu os serviços ao Rei português.
Hã quem afirme ser ele português,embora não haja certeza absoluta.
Quanto às datas, está o mundo alarmado, esperando que o assunto fique bem esclerecido.
É quel nas Baamas, foi agora descoberta uma bela inscrição,
deveras interessante, com a data precisa de 145o, a qual apresenta, ao lado,
navios desenhados, Há uma diferença de 42 anos!
O dito por não dito, na História Universal?
A primeira vez que fui a Barcelona, em 1946, avistei do comboio uma
estátua colossal, no porto da cidade. Ignorando a referência, pergunto a um
espanhol: que es aquello?
Volve ele, com altivez e grande arrogância: Aquello es Colom!
Inchou como a rã que queria ser boi, mas perdeu o inchaço,quando eu
disparei: no tienen Ustedes un español para poner alla?!
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Amadora
7-5-1989
" A língua que Deus entende!"
Foi um Bispo da Malásia que veio com esta frase, referida claramente à
Língua Portuguesa. Ainda hoje, naquela zona, como em outras mais dos
vários continentes, se reza em Português.
Não é isto admirável?! Não será também motivo de alto orgulho para
os Portugueses?
Mas, infelizmente, o 25 de Abril, por quanto originou, levou os Porugueses a sentir vergonha das suas raízes! Que tristeza! Um povo tão grande, benemérito dos povos, arauto do Evangelho, pioneiro insigne da navegação
no Mar e no Ar!...
" E se mais mundos houvera, lá chegara!"
Que disse Armstrong, ao voltar da Lua? Que o "horizonte artificial",felizmente inventado por Gago Coutinho, lhe tinha servido,
para ir e voltar, com segurança. Maior elogio para o povo português?
Pois é certo e provado: em muitas zonas do Globo, que já fizeram parte do Império Português e se perderam ou foram roubadas, consarvam as gentes a Língua Lusitana, em suas relações com o nosso Deus.
O mesmo acontece, ainda em nossos dias, tanto em Malaca, Ceilão e
Baamas, como no Rogo e outros lugares, pelo mundo além.
É de notar que vocábulos nossos fazem também parte do léxico nacional.
Sempre é verdade que a Língua Portuguesa é aquela que Deus entende.
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Amadora
8-5-1989
Adam Smith
Bem se vê, pelo nome, que não é português! Sendo isto assim, a que
propósito vem um nome estrangeiro?!
E deveras pertinente a pergunta exarada, que muita gente faria. Por esta razão, vou matar, desde já, a curiosidade aos amigos leitores que assim o
desejem.
Quem disse aos Portugueses que o nosso Fernão Lopes, já no sécolo XIV, foi, na verdade, o maior historiador de todos os tempos, como
de nações?Não foi Adam Smith quem o afrnou, mas trata-se igualmente de quem não era luso! Que pena me faz! Ser preciso dizê-lo os que são estranhos! Não sabemos o que é bom nem apreciamos o que vai por nossa
casa!
E Adam Smith,afinal,que foi realmente o que ele esclareceu?
Que a época do Gama foi a mais extraordinária da História da Humanidade, pelos feitos gloriosos que o povo portuguès levou a bom termo!
Nem assim acreditamos ?
Será verdade que preferimos. realmente, viver apagados, tendo iluminado tantos povos e nações?! Sendo valioso o que é portuguès deixa de o ser, para nós, portugueses?!
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Amadora
9~5-1989
A Sonda Fernão de Magalhães.
Esta sonda admirável que foi agora lançada pelos Estados Unidos, tem por missão fotografar, a rigor, a superfície de Vénus, em 90% ou
prõximo disso.
É um feito espectacular! O Atlantis (foguetão de lançamento), já
regressou ao globo terrestre e fez isso afinal, em boas condições.
Tudo, tudo grandioso! Tudo, realmente, fora de série! Entretanto, a razão principal do presente Diário não´é, precisamente, o facto em si, embora
relevante!
É, sim, o nome que foi dado à sonda. Fernão de Magalhães é
o maior navegador de todos os tempos e até lugares, sendo ele, a rigor, quem deu a volta â Terra, pela primeira vez.
A escolha deste nome, que é português, redunda em prestígio, honra e glória do nosso Portugal! A navegação aéria vê-se prestigiada, utilizando o nome do grande navegador
Boa liçãopara o mundo em geral, que às ves nos ignora, e até, para os
críticos de origem lusa, que são injustos, ao falarem dele!
A morte do herói ocorreu, nas Filipinas,( Ilha de Cebu) varado por uma seta.
Tinha navegado pelo Ocidente. Pelo Oriente, já outros portugueses lá
tinham chegado!
" Primus circundedisti me" Para Elcano, é, realmente, falso,( Foste o primeiro a circundar-me!) Glória para Maglhães e não para Elcano.
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Amadora
1o-5-1989
Século XV e XVI - Descobrimentos Portugueses.
Na semana passada, o nosso historiador, António J. Saraiva, dissertou
largamente, sobre descobrimentos, na televisão.
Focou ele, então, o seguinte assunto: por que é que os Portugueses foram os primeiros a lançar-se ao mar? Haveria razões para serem pioneiros?Tantos outros povos foram navegadores! E eram destemidos!
Fenícios, Gregos e Cartagineses; Egípcios e Ingleses; os Noruegueses e
assim os Holandeses. Outros houve ainda, como os Espanhóis.
A opinião de J, Saraiva é a que segue: " A nossa navegação foi única no mundo, por se tratar duma acção colectiva, Toda a nação esteve nisso empenhada. Autêntico projecto de carácter nacional!"
Não é contestavel esta resposta, já que nos outros povos o caso em
vista foi diferente! Eram, de facto, acções individuais, motivadas ali por feia cobiça, harto desenfreada. Assim apareceram os famosos piratas,
qual Drake inglês e outros mais.
À opinião do arguto historiador, acrescento agora, de munha lavra, o
que vem ao de cima: razões ponderosas de carácter científico, social e político, bem como religioso.
De facto, circunstâncias peculiares de alto relevo,eram-nos favoráveis
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Amadora
11-5-1989 Cont.
Aspecto Científico
A navegação não foi ao acaso nem se fez apenas,â vista de terra, como sucedeu com outros povos. " Por mares nunca dantes navegados".
Diz a tradição que o egípcio Necau fez o périplo da África.
Nenhun documento o pode comprovar, mas ainda que surgisse, trata- se de acto, bem junto da costa.
Fazendo-se ao mar alto, lá ficava para sempre! O mesmo sucedeu ao povo Fenício e outros mais.
Os Portugueses é que introduziram a navegação, dita científica, podendo alargar-se, pelo Mar alto, sem perigo de extravio.
A utilização de coordenadas geográficas permitia-lhes, pois, identifucar todos os lugares, determinando sempre a latitude e a longitude.
Por tais razões é que vinham astrangeiros ilustrar-se em Portugal.
aprendendo assim a arte de navegar.
É muito curioso que à navegação aérea foi também Portugal que lhe deu início. Imortalizou-se Gago Coutinho, inventando, para isso, o
Horizonte Artificial
O Infante D.Henrique e a Escola de Sagres são a glória dum povo e o farol da Humaidade.
Há quem chame ao Infante D, Henrique o maior homem da Humanidade. Todos os seus bens, que eram muitos, foram aplicados, em favor da Ciência e da Humanidade, Após a morte, encontraram-lhe um cilício, em volta da cintura.
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Amadora
12-5-1989 Cont. Aspecto Político
Ao tempo glorioso dos Descobrimentos, as nações europeias ou estavam fragmentadas ou ainda a braços com guerras intestinas ou em luta renhida com ferozes inimigos, de que não era fácil obter a liberdade.
A este propósito, vêm logo os Castelhanos, Alemães e Franceses,
Ingleses e Gregos,Italianos e outros.
Temos, por exemplo, o caso relevante dos nossos vizinhos. A Espanha actual, como conceito de natureza política, data somente do século XVI.
Unidos em um reino, Leão e Castela, pelo casamento de Isabel e Fernando,
gerou-se prestesmente a ideia da expansão e até da conquista de toda a Península.
Não se consultam as populaçóes. É a força das armas que impõe os regimes, trate-se embora de povos civilizados.
Assim, o reino andaluz, em 1492; o reino de Navarra ( país basco),em 1516.
Recordemos agora que nós, Portugueses, no século XIV, com D.
Afonso IV, já tínhamos ido às Ilhas Canárias, por mais de uma vez,
Quer isto dizer que a Espanha actual só ficou disponível, no século
XVI. para iniciar os Descobrimensos. Nesta data, não havia sítio, aonde
os Portugueses não tivessem ido já.
" Se mais mundos houvera, lá chegara!"
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Amadora
13-5-1989
Aspecto Social
O sistema político, vigente nestes séculos, veio condicionar a vida social. Diversos povos, embora ribeirinhos, não puderam então fazer-se ao mar, por estarem subjugados. É o caso dos Gregos, Biscainhos e outros.
Havendo guerras, no seio dos povos, faltava já tempo e os meios necessários, para as façanhas do Mar.
Portugal não tinha empecilhos. Havia grandes senhores, principalmente com D, joão I, que recompensara, muito largamente, os serviços prestados, na guerra com Castela.
Haja vista, por exemplo, Nuno Álvares Pereira, a quem pertencia um bom terço do País! Apesar de tudo, nada impedia que os Portugueses de então se lançassem na aventura. É que, e fectivamente, o nosso País achava-se em paz.
O perigo castelhano tinha desaparecido, uma vez que Aljubarrota se impusera com firmeza. Em 40 minutos, com 5ooo homens, resolveu-se o problema.
Vizinhos do Mar, gozando de paz, boa união e grandes aspirações,
chefiados por homens que viveram a findo os problemas da época, estávamos fadados para a grande aventura.
Muita gente, para se ver livre de senhores embirrentos e dominadores, ou por ambição, ideal religioso ou desejo de glória, preferia, desde logo, sujeitar.se a tais riscos
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Amadora
14-5-1989 Aspecto Religioso
Como a navegação foi, na verdade, um projecto nacional, assim também a evangelização! As Crónicas da época e outros documentos
são disso a prova. Os nossos Reis encaravam a sério a questão religiosa, enviando Missionários para as terras de Além-Mar. Junto com os guerreiros, os comerciantes e aventureiros, iam Religiosos e outros elementos, destinados sempre à evangelização.
Por este motivo, pôde Camões afrmar com verdade: "Dilatando a fé
e o império".
Lembra-me, a propósito, uma alínea famosa do programa elaborado
por D, Sebastião:"Quero ser na vida o Capitão de Deus!"
O primeiro Canto da nossa Epopeia exprime claramente o ideal deste Rei, que seria um assombro, não só pata a Mourama, se não também para o mundo inteiro
S, João de Brito, S. Francisco Xavier, santo António de Lisboa, Padre António Vieira.. Padre Anchieta e tantos outros falam bem alto, sobre este assunto.
Vêm para já, a talho de foice, os grandes privilégios bem como as indulgências que os Sumos Pontífices concediam ao País e seus Soberanos, pelo tipo de Cruzada que sempre revelaram.
Em conclusão: este nobre espírito foi nacional e levou muita gente a
servir então a causa do Evangelho
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Amadora
15-5-1989
Passou por nós o 13 de Maio, que reuniu em Fátima centenas de milhar: peregrinos devotos, vindos todos eles, dos mais diversos lugares!
Falou-se em várias línguas, pois havia gente de origem inglesa, italiana, suíça, alemã; da Jugo-Eslávia, Estados Unidos; Espanha e Holanda, Polónia, etc.
Segundo constou, seriam bem mais de 300,ooo pessoas!
Tudo maravilhoso, pelo espírito fé, que ali as conduziu!
Só não gostei de certo locutor, pelo modo vincado como pronunciava
o "s" reverso. Uma calamidade, avolumada ainda pelo micro de serviço!
O s aludido, em final de palavra foi um horror! Desfeia tanto este
lindo idioma, quando alguém descuidado o apresenta assim!
Imitemos a pronuncia da Coimbra Doutora! Sirva unicamente este padrão!
Por que não imitar o s alemão, francês e brasileiro?!
Os estrangeiros detestam o Portuguès, quando ouvem pronunciá-lo. de maneira chiada, Acabemos para sempre com esse chiadeiro e ficará o
Português como a língua mais doce, harmoniosa e suave do mundo inteiro!
Este desapreço é provocado pelos emigrantes, quando analfabetos e descuidados.
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Amadora
16-5-1989
Pela segunda Vez!
Logo à primeira, fiquei alarmado! Bem se deixa ver que um facto inesperado, assaz repugnante e dado em presença, desce muito fundo, em questão de alcance, pois na verdade, tem grande repercussão em todos os
circons tantes. Não sabe o leitor qual é o assunto que estou visando, maz eu
esclareço.
Há dias, tratei igual caso, em pequeno Diário. Dessa vez, fosse embora a pimeira, surgiu msis forte do que hoje o fiz.
Deu-se o facto da seguinte maneira: viajava eu, de Lisboa-Amadora. na
Rodo-Viária,
Vinha satisfeito, pois achara um lugar da minha preferência, junto à janela, embanco singular.
Ocupava então a banda esquerda, no transporte indicado.
Pois nuito bem! Quando tudo ia certo, aproxima-se um preto, alongando um braço, por cima de mim, para abrir a janela, na parte superior.
Até aqui, parecia normal quanto ele fizera.. Podia, naverdade, estat sflito. Nada a objectar! Mas, oh surpresa! Quando menos esperava o desfecho imundo, atira um escarro, harto volumoso, deixando-me atuedido, por algum tempo!
Disparei seguidamente: Isso não se faz! Javardices assim, escuso-as eu! Não se usa cá, por ser imundo!
Bom! O tempo avançou, até este dia! Repete-se exactamenre a mesma acção! Só que hojr, por acaso. encontrava-me, sim,mas do lado oposto e ninguém foi vítima.de restos nauseabundos, spalhados pelo ar!
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Amadora
17-5-1989
Lembramos hoje S, Pascoal Bailão.
O Santo e o dia fazem evocar acções da ninha vida, que há muito ocorreram.
Nesta data precisa, começavam. no Fundão, os primeiros exames. no ano recuado - 1934!. Tratava-se já de matérias leves e menos difíceis:
Religião e Nusica.
Sendo embora assim, havia apreeensões, não obstante fucar próximo
o final do ano. que me traria , pelo S. Pedro,( 29 de Junho,) as férias grandes. três longos meses,, sempre curtos e breves, para a minha pessoa!
Estas as razões por que não esqueço o 17 de Maio!
Após um ano lectivo, cheiinho de cuidados e sérios contratempos,bastando para isso os enormes problemas que trazia, para logo, a minha adaptação ao regime de Internato, sempre esmagador e até desumano, vinha brevemente o papão dos exames, que era sufocado pela força hercúlia da liberdade, em férias grandes!
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Amadora
18-5-1989
" Onde disse, digo que não disse".
Ouvi esta frase, há muito já e foi-me despertada por uma ocorrência
bastante recente.
Tem esta a ver com uma inscrição, encontrada, nas Baamas. onde se leria a data recuada - 1450. Teriam os Portugueses alcançado a América, 42 anos, antes de Colombo?!
Historiadores e críticos estão acompanhando, com sumo interesse, o caso em foco.
Exame posterior revelou, afnal, que a data suposta dista de nós apenas meio século!
Apesar de tudo, a questão permanece, já que foi revelado encontrar-se um navio no fundo do mar! Procede~se agora ao exame do caso.
Surgirão dados , para confirmar a prioridade, em ordem aos Espanhóis?! É o que há-de ver-se!
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Amadora
19-5-1989
Já o tentara, por várias vezes, sem resultado! Achava, geralmente, algum obstáculo, a formar barreira!
Hoje, porém, tomei a decisão e fui por diante! Trata-se, afinal, da viagem suspirada a Santo Adrião( Póvoa). Não foi ali que entreguei o manuscrito, em Agosto (88)? Vão já passados quase 1o meses e nada referiram, acerca do livro!Bom! Urgia me dissessem o que há resolvido! Ou sim ou não!
Preciso de saber!Pelas 11 e 30, chegava à Editora que é designada por Europress! Entretanto, nada lucrei! Só foi prometido escreverem, sobre o caso, na semana próxima. de 21 a 28 do mês corrente1
Aguardo, pois, me seja relatado o que desejo saber, no tocante ao
livro " A segunda Noite" -- Diário vivo de 1975!
Lá diz o povo: "Para tudo, afinal, se desejam bons princípios!"
Não é, realmente, o que está acontecendo, no caso presente! Aguardemos, no entanto!
Venha agora em socorro outro rifão: " Nem sempre o Diabo se
acha atrás da porta!
Para bom remate e esclarecimento: a minha confiança não está no Diabo, mas acima de tudo na Divina Providência.
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Amadora
20-5-1989
Assédio Masculino.
Está na ordem que o dia nos traz. o candente assunto. Muito se escreveu e foi dito em conferências, acerca disto. Por estas razões, também
eu me permito revelar o que penso, a tal respeito.
Focando o assunto, várias perguntas, se podem fazer:
1 . Que é que se entende por assédio masculino?
2 . Existirá, de facto, ou será talvez pura invenção?
3 , Em caso afirmativo, quais serão, de facto, as suas causas prementes?
4 . Haverá também assédio feminino ou será mero fruto da imaginação?
5 . Qual dentre eles,será,realmente, o mais perigoso,insistente e importuno?
6 . Causas gerais do assédio feminino?
7 . Como evitar o assédio masculino?
8.Qual dentre eles é o mais disfarçado?
9.Qual dentre eles é o mais nocivo?
10.Em Democracia, há muita liberdade?
11. Tem a Santa Igreja papel a exercer, no caso tratado?
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Amadora
21-5-1989 Cont
1º .
Por assédio masculino, entendemos obviamente a perseguição que o homem intenta à mulher cobiçada, para fins sexuais. Com essa mira, jamais a larga, surge em toda a parte, aprecia imenso encontrá-la sozinha, promove situações, tendentes ao diálogo e tenta, de cada vez, progredir alguma coisa.
O olhar denuncia-o, os gestos e movimentos, de igual maneira também
Quanto mais ela foge, mais ele persevera e lança ao ataque.Faz loucas promessas, oferece préstimos, facilita contactos. não quer simplesmente beijos e abraços.
Partimos do princípio que ela não quer nem se presta a isso. Este proceder é que é responsável pelo nome dado - assédio. É um termo, afinal, de cunho militar! Assediar uma Praça! Quer isto dizer: atacar e submetê-la, com o fim de a tomar, guardando-a para si.
Daqui, portanto, a aplicação , do termo à insistência importuna ,junto de alguém, para levar a pessoa a relações sexuais
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Amadora
22-5-1989 Cont.
2 º.
Existirá tal assédio? Contra factos não valem argumentos! Verificam-se eles?Logo. existe assédio!
De casos sei eu, em que a parte feminina, assaz contrariada e sempre indeffesa, optou brevemente pela deserção, abandonando o emprego.
Isto é muito grave! Representa um abuso de tipo abominãvel!
Nestes dias, porém, é mais grave ainda, pela dificuldade em obter emprego
De lamentar é o caso, em que o homem lascivo, abusando da força.
rabulice ou dextreza, pretende levar as coisas bel-prazer!!
Por vezes ainda, abusa até da sua posição, na craveira social.
Havendo anuência da parte feninina, já se não aplica o nome "assédio."
O homem que o é nunca recorre ao uso da força, pois em tal caso, é
mero selvagem e besta humana! A mulher é um ser livre e merece respeito a sua dignidade.
Em tais circunstâncias, pode matar o agressor, não tendo à mão outra saída.A sua consciência fica tranquíla, perante Deus.
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Amadora
23-5-1989
Quais as suas causas?
3 º.
Não há efeito sem causa, diz a Filosofia. Averiguando bem as razões
primárias, notamos desde logo que o primeiro impulso é originado pela mulher.
Haverá sempre excepções, à regra geral, bem entendido! Ninguém pode negá-las, mas por via de regra. dá-se o que eu sustento.
Isto aplica-se, de modo especial,.. em nossa época.
De facto, a maneira de trajar, nos dias que passam, abre caminho a tal situação. A mulher, neste caso, provoca o outro sexo, desperta, excita e impele.
Por fim, vem o descomando, a força da natureza, O abismo está em frente! É a sedução ... a luz a encandear. Nestas circunstâncias, ou a fuga veloz ou o refúgio em Deus, pela oração!
Se a mulher é honesta e segue os princípios da Moral cristã, nenhum
homem avança, a nao ser, já se vê, um tarado sexual ou um animal, com forma humana
Por isso eu digo que o nó da questão reside na mulher.
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Amadora
24-5.1989
Haverá também assédio feminino?
4 º.
Que eu me lembre agora ninguém pôs a questão, mas ponho-a eu!. Respondo que sim. Tanto mais perigoso, quanto mais disfarçado, subtil e
atraente ele se apresenta!. E esta questão não é só de hoje! Não vem na
Escritura um exemplo curioso, a este respeito?!
Que aconteceu a José do Egipto?
Recusando uma oferta, em moldes satânicos, foi caluniado, seguindo-se o cárcere.
Quanto ela não fizera, para o seduzir?
Eu, pessoalmente, observei alguns casos, que fundo me impressionaram!Podia citar um caso famoso, ocorrido, na Inglaterra, quando reinava Isabel I.
Mister Raley era favorito da célebre Rainha, (Julgo não me enganar, sobre o nome exacto). Que género de morte o esperava, sendo a vida um mar de rosas? Um dia casou: foi a desgraça, morreu na forca.
Um assédio feminino dos mais horrendos!
Então não houve assédios femininos de grande categoria?!
Se a questão existe, por que a nao põem?
Amadora
25-5-1989 Cont.
5º
Qual dos dois é o mais nocivo?
O assédio feminino é mais danoso, Se não vejamos!
O do outro sexo não é excitante, bastando a recusa da parte feminina, para desligar
O mesmo não sucede com a parte contrária, que é mais insistente,, mais importuna e insatisfeita, quando tal ideia entre, de facto, na cabeça de alguma.
Por outro lado, a atitude feminina, em que houve decisões, actuando com vida, é muito excitante, principalmente, se usa então o maior dos trunfos.
Além do mais, havendo relações que dêem origem a novos seres,
trazem encargos e novos cuidados. Por estas razões, concluo, pois, que
o mais nocivo é o feminino. Casos aparecem que levam a mulher a pôr-se nua, perante o homem que ela cobiça. Nele, há mais decência e menos coragem, o que torna o assédio menos perigoso,
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Amadora
26-5-1989
Cont.
6 º.
Causas gerais do assédio feminino:
1.Intenção de casamento; 2. Enervante ciúme, decorrente do mesmo; 3 . Vingança por desforra. 4.Instinto sexual; 5 . Amor exaltado; 6 . Vaidade e orgulho; 7 .Sigilo e segurança.
1 . Pode ser, em alguém, a maneira possível de assegurar talvez a posse do noivo. Há, na verdade, o receio de o perder! Com um flho, pois, a estreitar os laços paternos, afigurar-se-ia como provável o futuro enlace.
2 . Existindo um concorrente, o que sucede, não raro, pode levar uma parte a assediar a outra, para criar uma barreira, julgada intransponível.
3 .Ocorre, por vezes, a chamada vingança, quando uma das partes contrai matrimónio, entrando em fúria a segunda pretendente. Esta, geralmente, procura a desforra, levando assim o noivo perdido àquilo que não devia. -
o adultério.
4 . Os encantos dum rapaz que desperta uma jovem somente pelo sexo, quer dizer, pelo prazer do instinto sexual, não havendo outro fim. 5 . Dá-se, por vezes, a entrega por amor, como prova cabal de generosisade e elo de ligação, entre as duas partes: é reforço e complemento desse grande amor.
6 . Verificam-se também alguns casos de vaidade: sentir orgulho de viver ligado a certa pessoa, que tem alto prestígio e exerce influência de carácter sodial; 7. A segurança, por nada extravazar, exerce igualmentr influência notável.A crítica mordaz a factos do género é sempre temida e
contém muita gente! Eliminando o receio, fica desde logo a porta aberta
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Amadora
27-5-198 Cont.
7º Como evitar o assédio masculino.
Antes de mais, dar formação de carácter moral às nossas jovens, afim de que elas não estimulem paixões desordenadas; incentivar o gosto das boas qualidades; recomendar a modéstia , humildade e renúncia; o espírito
generoso de sacrifício; a caridade; a honradez e o respeito ao próximo.
Não pode esquecer o amor acendrado ao Pai do Céu, que é base segura , como garantia de quanto existe.
Em segundo lugar, incutir nos jovens o respeito sincero do outro sexo, vendo nas donzelas "irmãs de sange,"futuras noivas e mâes de seus filhos.
Habituá-los, desde longe, à mortificação e domínio de si, pela renuncia de tipo cristão e garantia segura dum lar futuro que seja ditoso
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Amadora
28-5.1989
8º
Cont.
Como evitar o assédio feminino.
Directamente não o julgo fácil, a não ser pela fuga, mas esta medida nem sempre é exequível. A transferência de alguém para lugar distante seria
meio acabado, entretanto, deveres a cumprir, bens a administrar e outros
factores, que podem existir, impedem, tantas vezes, o bom êxito do caso,
Mais eficiente há-de ser, com certeza, a boa formação de carácter moral, a ter logo início no próprio lar. Havendo princípios que se imponham à vida
e procurando viver a sua religião, este belo recurso terá mais eficácia.
Assim o creio eu.
Somente em casos de paixões violentas ou exaltadas não dará fruto. ou será mais precário. Aquela pessoa que, em geral, se domina, fazendo-o por Deus, com a ajuda celeste, é que está defendida, contra os perigos desta natureza.
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Amadora
29-5-1989 Cont.
9º
Qual o mais disfarçado?
Sem dúvida nenhuma que é o da mulher! Até porque esta simula bem melhor que um homem qualquer! Sendo assim, é mais perigosa, pois colhe
inocentes, com facilidade.
O perigo oferecido pelo varão é mais sacudido, assaz aberto e aclarado, traduzindo-se, não raro, em actos de violência..
Daí que, a tempo, o elemento contrário pode livrar-se, desde que actue com prontidão
A mulher que assedia é perigosíssim, até porque joga com a malícia, armando em vítima, num caso qualquer,
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Amadora
30-5-1989
10º
Cont.
Democracia e Liberdade, em larga escala?
Com certeza, mas tem limites! É condicinada pela Moral cristã e pelos direitos que assistem aos outros! Se assim não fosse,
vivíamos errados, invadindo a esfera alheia, onde os outros têm seus direitos, que são inalienáveis!
Onde terminam os nossos direitos? Onde começam os direitos dos outros.! Duas fronteiras nos fazem deter: Moral cristã e direitos alheios!
Liberdade absoluta sõ Deus a tem.
Postos estes princípios, vem logo a conclusão: o assédio sexual não é permitido, porque viola os direitos alheios!
Donde vem a sanção e quem a aplica? Daquele que tudo fez, orienta e conserva -- o Deus-Providência!
Jamais esquecerei as palavras finais, dirigidas àqueles que estavam agonizantes: " Adeus, até dia de Juízo!"
É o dia de contas, em que todos nós vamos ser julgados! Ninguém escapará! Grandes e pequenos, ignorantes e sábios, pecadores e Santo! Não
interessa a cor nem os bens deste mundo, assm como a posição, na sociedade.
Leitores e leitoras, ainda estais a tempo de rever os programas que vos orientaram. Aproveitai a oportunidade! Trata-se da coisa mais séria da vida, em que não há pedidos nem cunhas fortes. O próprio Jesus é que vem como Juíz, para nos julgar.
No Livro Sagrado vêm as palavras que ele vai usar, As que dirige aos impenitentes são aterradoras!
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Amadora
31-5-1989
Papel da Igreja
Nenhuma actividade é neutra e amoral. Fica, pois subrdinada à Lei positiva, já de ordem humana, já de ordem divina. Ora, quem interpreta lei de Deus e dirige os homens para a salvação, é de facto a Igreja que Jesus instituiu, para tal fim.
Postas assim as coisas, infere-se, desde logo, o papel insubstituível que a Igreja tem, para orientar, corrigir e ensinar os caminhos da Moral e das Verdades da Fé.
O respeito sagrado a Deus e ao próximo levará ceramente a pessoa humana a evitar o dano seja a quem for.
Vivendo a Religião e deixando-se guiar pelos seus princípios, evitar-se-ão os assédios, conservando-se pura a Moral do Evangelho
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Lisboa
1-6-1989
"A palavra mais linda"
Ocorreu hoje, no campo dos mortos, ali na Ajuda. Finalizada que foi a encomenda,ção, para ser adeus e rogo ao Senhor, afim de ajudar, lá no Purgatório, a alma da finada, irrompem breve gritos pungentes de peitos amigos
Uma filha sobressai, derramando-se em ttermos que são eloquentes.
"Aih! que perdi a minha mãe! Aih! que já não tenho mãe! A palavra mais linda que existe no mundo!
Comoveu-me logo aquela veemência da filha angustiada , que punha alma toda, em seus dizeres!
Tinha razão, quando afrmava ser o termo exíguo a palavra mais linda que existe na Terra! Concordo inteiramente!
De facto, quem há no mundo, tão sacrificado, amigo sem trcuo, generoso e clemente?!
Só ela, na verdade! Apenas essa fada, inigualável, maravilha e prodígio que o Deus-Amor nos deixou na Terra, para ser, no exílio. o Anjo
visível, protector e fascinante.
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Amadora
2-6-1989
Perante o cadáver.
Foi recentementr e ocorreu o facto, em Santos-o-Velho. Acabara, na capela, o acto religioso, constante de Missa e encomendação. Até aqui nada em registo que destoasse.
O caso inesperado veio no fim.
Urna aberta ainda, pede a faamília ao senhor sa Agência que leia o Testamento, o que logo se efectua!
Foi a p imeira vez que um facto destes, em tal ocasião e na minha presença, veio a suceder!
Bom! Acabada a leitura, começa a discórdia.
Àpartes não faltam e bem assim palavrras descorteses, com graves aneaças de pronta revisao, por meio de juristas.
Confesso, magoado, que estava bem longe de esperar ttal coisa! Em vez de orações, esmola e sacrifícios, por alma do finado, vem a discussão e pronta ameaça! O falatório! Atitude insensata, harto desumana e anti- criatã!
Se havia discordâncias e até razões, algo especiais, não eram, decerto, para aquele dia! As circunstâncias tão delicadas! O lugar impróprio, em dia de funeral!
Toda a gente censurou, reprovando com firmeza o incidente lamentável!
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Amadora
3-6-1989
Mamoeiros
A que propósito, vem isto, afinal?! Depois, direi. Por agora,detenhamo-nos um pouco,fazendo anotações, acerca da palavra. Entendo eu que é preciso fazê-lo, uma vez que os europeus, não tendo viajado, ignoram, por certo, a
significação.
Eu, que andei por Angola, na zona do Planalto, fui testemunha de factos curiosos,, relacionados com os mamoeiros.
Trata-se, afinal. de plantas xerófilas ( amigas da secura), que prestam serviços, muito valiosos.
Vi mamoeiros, no Distrito do Bié, designadamente, na vila do Chitembo. São plantas curiosas de tronco mole e bastante carnudo, o que vem a ser efeito de acumularem água. Também no Cuangar e depois na Namíbia ( Katere e Nyangana ), apreciei sumamente os seus belos frutos,
Crescem bastante, desenvolvendo-se em poucos meses e dando logo fruto, no primeiro ano. Por estaem adaptados ao clima regional, aguentam secas e temperaturas, que nem sonhamos!
No entanto, com 6o graus ( escala centígrada), chegam por vezes a meter dó!Apesar de tudo arribam, geralmente!
Pela tardinha, consola-os imenso o fresco da brisa, Arrebitam logo e já não parecem os mesmos de antes.
É muitíssimo útil, grato e necessário encontrar estas plantas, especialmrnte, em lugares descampados
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Lisboa
4-6-1989 Cont,
O fruto é grande, tenro e suculento. Acontece, por vezes, que os ramos escacham, devido, naturalmente, ao peso que os verga.
Se bem me recordo, lá no Cuangar, já na fronteira com a Namíbia, era a única planta que dava fruto. Os arbustos arranhantes que ali vegetam.
são as espinheiras.
Lembro saudoso esses frutos excelentes, em zonas semi-desértcas.
Por um sol abrasador, onde tantas vezes escasseiam líquidos , têm os mamões, apetitosos e oblongos, uma falta a preencher. Que deleite profundo, ao chegarem aos lábios! Sabem que nem mel, no tempo da canicula.
Um pormenor, assaz curioso: não trazem canseiras nem cuidado algum!Efectivamente, nem poda nem rega nem outras diligêncas requerem de ninguém!
É só plantá-los! O resto, a seguir, não dá trabalho nem causa problemas! Planta maravilhosa Além de matar a sede, é óptima ainda para os intestinos, já que funcionam, às mil maravilhas, sob a acção dos mamões!
Há prisão de ventre? A code o mamoeiro, oferecendo a todos seus frutos preciosos.
Já vim para a Europa, há mas de 9 anos,, mas não se apagou a lembrança deles!
Como se vê, sáo originários da zona tórrida, com temperatura muito elevada, baixando imenso, durante a noite
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Lisboa
5-6-1989 Cont,
Perguntará o leitor, por que veio à tona o caso dos mamoeiros, se por estas regiões são plantas ignoradas.
Bom! Afim de evitar o seu nervosismo, vou dar-lhe a resposta.
Ha´poucos dias, fixando o televisor, surgiram mamoeiros, criados na Europa.
Impossível o facto, por causa do clima?! Mas se eu próprio os vi!
A televisão reproduz o que apanha! Certamente, não se deixa enganar! O clima agora não faz ao caso, uma vez que se trata de mamoeiros humanos!
Era, de facto, uma praia francesa, à hora da canícula
O franco à-vontade e o relaxamento dominavam ali!
Dizia o locutor: "Há quem goste e quem se indisponha"
Aos derradeiros pertenço também. E boas razões eu tenho para isso!
Era tanta a variedade e a configuração, a cor e o número, que a gente ali ficava estupefacta!
Pelo geral, mamões inestéticos, de cores duvidosas e mais para ocultar que trazer ao léu!
Que deu nas francesas, para obrigarem os pobres mortais a fechar os olhos?! Seria , de facto,a única maneira de assstirem ao açougue, não correndo perigo.
Perderam o senso?! Realmente, ser televisado, para constituir solene espectáculo,, no mundo inteiro!
Se fossem obras de Arte, ainda escapariam, mas valha-nos S, Pisco, com tanta desfaçatez, pouca vergonha e falta de senso!
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Amadora
6-6-1989
Chefe Espiritual
Com 69 anos deu a alma a Deus o grande criminoso que, em nome do Céu. mandava matar.Nisto, afinal, fazia grave ofensa ao Deus Criador, que é senhor da vida e não deseja nem quer que matemos o próximo, em nome da fé.
Mas, por outro lado, que havia-de fazer, se o alcorão diz abertamente:
" O que não acreditar passai-o à espada!" São palavras chocantes e próprias do Fundador, no século VI, depois de Cristo. Para vermos o dislate e falta de agrado, no tocante a Deus, lembremos agora a atitude de Jesus, no Jardim ds Oliveiras, quando Pedro se propôs firme abrir a cabeça ao grande atrevido que estendeu o braço, para manietar o Senhor da vida,, irrompe logo nestes dizeres:: " Mete a espada na bainha! Quem com ferro mata com ferro morre!"
Pois aquele chefe, levado por fanatismo, não poupava ninguém. Com a Política externa, bastanta desastrada, lançou o país em grande ruína e obscurantismo. Com o século das luzes, em que o mundo caminha, a passos tão largos, para a Democracia, não se justifica, de modo nhenhum, a restrição da liberdade, pelo modo arrogante que afecta certos chefes.
Os governos são para os povos e não estes para os governos!
Que o novo chefe seja mais humano, prudente e comedido, para bem da nação e do próprio mundo! Impor aos outros a maneira de pensar, agir e
contactar não é admissível. Nem Deus o faz e podia fazê-lo! Sendo isso entre os homend chama-se escravatura Foi, pois, um alívio para a Humanidade a morte do Chefe.
Lembremo-nos sempre de que o Islamismo é, na verdade, um sistema religioso, fundado por simples homem - Maomé! Só tem a defendê-lo o
facto notável de ser monoteísta.
Os maometanos consideram Jesus um mero profeta, inferior a Maomé É preciso estar louco, para chegara isto!
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4Amadora
7-6-1989
A cena apresentada, em 2 do corrente, requer umas achegas que julgo oportunas.Quem fez má figura foi só, ao que penso, a filha do morto. Havia já muitos anos que não visitava o autor de seus dias. Nesta data, porém, é que ela surgiu, diante da urna.
O caso em foco teria sido assim: este finado teria enviuvado ainda jovem, o que o levou, em seguida, a segundas núpcias. Ora, a filha opôs-se, com alma, a esta união.
Como o pai, realmente, não quis desistir e levou a dele àvante, eis o
pomo de discórdia que não cessou jamais. Por desgraça, o caso não é único,
pois muitos ocorrem do mesmo quilate! Tal oposição encara somente os bens materiais, sem atender a necessidade
sa que os viúvos sintam!
E de lamentar que o facto o corra e termine, exactamente como foi narrado
Valerá bem a pena acumular bens, para deixar os herdeiros em guerras contínuas?!
Que má figura! Que feia acção!
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Amadora
8-6-1989
Um caso de Boleia para a Eternidade.
João José, natural de Paço de Arcos, saíra havia pouco, rumo a Lisboa. Os seus 23 anos pintavam-lhe o mundo a cores diferentes!
Sentia-se feliz!
Enquadrado na GNR e casado com mulher da PSP, não tinha dificuldades. O seu meúdo, com dois anos apenas,. ia ter, decerto, um porvir suspicioso
Ora bem! Este mesmo à-vontade, bem-estar e euforia levavam-no às vezes, a ser prestável, generoso, acolhedor. Aconteceu, pois, o que ninguém esperava e, muito menos, o sujeito amigo, de 52 anos, que lhe pediu boleia..
Espreitava-os a morte, ali bem junto a Paço de Arcos. Velocidade excessiva, no FIAT 12? É bem possível. Uma das rodas tocou no passeio ...
o carro descontrolou-se, jogando cambalhotas! Deu isto como efeito abater o tejadilho que esmagou a cabeça das pobres criaturas!
Foram hoje a enterrar!
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Ámadora
9-6-1989 O Papa de Roma visitou a Noruega.
Tem ele em vista a união das igrejas: não faz sentido que haja, ao presente, um fosso intransponível,entre cristãos!
Todos adoramos o mesmo Senhor, o mesmo Pai. Gostará Ele que
andemos de costas, uns para os outros?! Os motivos graves que vieram do passado, já não existem: intolerância da Roma Papal; excomunhões, a torto e a direito; falta de diálogo; incompreensão; causas políticas, sociais e ecnómicas, etc, etc.
Seria bom tempo de fazermos a paz,olvidando o passado, baseados na caridade, largueza de vistas e compreensão!
De 11 bispos luteranos, apenas 4 se abeiraram do Papa.
Não gostei do acto!
O ressentimento fica destruído pela caridade!
Chegado a este passo, uma pergunta e uma censura brotan espotâneas, do
meu peito inconformado.
Pergunta: que responsabilidade poderei eu ter nas incorrecções que
alguém praticou, há 400 anos? Se eu nem existia!
Censura: É nobre perdoar a quem pede perdão, com humildade e sinceridade,mas é indelicado, desumano e cruel não o fazer, em tais circubstâncias.
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Amadora
10-6-1989
O Pastor luterano chana-se Artur, se bem me recordo e surgiu na Televisão, para dar resposta a certas perguntas, que se prendem, a valer, com a atitude de João Pajulo II.
Pelo que expôs, fiquei a pensar que não espera grande coisa , desta visita. É que, segundo ele, a Igreja Católica não desceu ainda às questões essenciais; só a coisas secundárias e exteriores!
Esclareceu ele que estão à espera, há 400 anos e que a Igreja Católica ainda não respondeu à Confissão de Augsburgo.Quer-me parecer que se tratará.
possivelmente, de assuntos doutrinais. Seja o que for, há muita coisa que bastante aproxima e que, portanto, nos une. Por que não partir destes pontos valiosos?
Haja, de facto, boa vontade, para darmos as mãõs e acabarmos de vez, com este escândalo: separação entre irmãos que se ignoram há séculos.
Termino com as palavras de Paulo VI, em Constantinopla, ao Patriarca da Sé, enquanto o abraçava: " Se fomos nós que tivemos a culpa.
peço humildemente perdão aos nossos irmãos.
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Amadora
11-6-1989
4+1
Correu hoje a notícia, caiindo no espírito como explosivo.
Quatro pessoas, jazemdo mortas e, igualmente, um pobre cão!
Ao que me disseram, foi na zona do Pragal, não longe de Almada!
Vivia ali um casal de 25 anos, que tinha dois filhos ( 1 e 4 anos) respectivamente.
O pai cruel, utilizando uma faca, mata assim a esposa e, juntamente, as pobres crianças, enforcando-se ele, na parte final.
O pobre animal também morreu, a poder de facadas, Que tempos estes!
Dói o coração. esfacela-se a alma e todo eu tremo, ao lançar no papel estas notas dolentes, Estou apavorado, incapaz de escrever, sobre este horror, enquanto uma pergunta se levanta em mim, tendo seu iníicio nas
profundezas da alma: porquê, esta chacina,tão desaforada, sobre os entes mais queridos?! Haverá no mundo uma causa bastante, para justificá-la?!
Só estando louco esse pai homicida ou desassisado, por tremendo ciúme! Como vai Deus julgar esta cena tão horripilante?! Haverá perdão para tamanha loucura?! Não julguemos nós, mas casos destes fazem abalar as raízes da alma!
O próprio instrumento do grande sacrifício faz arrepiar! Uma faca!
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Amadora
12-6-1989
Um Fedelho malcriado!
Encontro o petiz, frequentes vezes, na Rodoviária que nos leva a Lisboa, de mahãzinha! As primeiras impressões criaram logo suspeita! É que o meúdo. com pouca idade ( seis anos apenas?), fala arrogante, com muita rudeza e até grossaria. Com adultos conhecidos, utiliza palavras que os deixam envergonhados!
Assim, por exemplo: " cabrão"!
O tom de voz é de arreganho, e os modos habituais são de arreeiro.
Ouvindo-o falar, arrepiei-me todo, uma vez que o pai se achava presente, encontrando graça a tanto disparate.
Os utentes do veículo olham-no de soslaio, incriminando o pai, pela
atitude garota Isto, assim, levou-me a estudar um pouco melhor este caso
sintomático.
Que verifiquei? Eu digo já!
Se chegam atrasados, têm de ficar no rabo da bicha.. Acto contínuo, o meúdo avança, pelo meio dos utentes, parando à frente, com vista pronta à reserva de lugares. que os dois precisam. E faz isto sempre!
Aqui temos nós como aquele pai educa o filho! Que pouca sorte!
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Amadora
13-6-1989 Cont,
Ante as cenas reparáveis que o meúdo executa, benzem-se as gentes que notam as coisas: má educação, voz de arreganho, palavras soezes, atropelo grave de regras sociais, desdém e resistência. e enfatuamento.
O pai dele é todo sorriso, atenção e bonomia. Olhar para o meúdo é como ver a Deus; os sons que produz, música celeste; as saídas aurosas, coisa original e inigualável
Ficou-me a impressão de que este paiznho só vê no mundo o filho adorado, a quem faz as vontades, sejam elas quais forem!
Notam-se erros graves neste convívio. Em qual das partes?
O erro grave está no pai. Efectivaente, ele aprova tudo. Logo, é responsãvel
pela má educação
As nossas crianças reproduzem na vida aquela educação que lhes deram os
pais, desde pequeninas!
Que deve fazer o referido pai, quanto aos lugares?
Deter o filho, explicando-lhe bem por que razão não há-de prosseguir. É um roubo que faz.
T0da agente rapara, o chama atrevido e malcriado, censurando o pai.
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Amadora
14-6-1989
Acabei há momentos a segunda revisão, pela segunda vez.
Trata-se de orignais que destino ao público. Ou será talvez que venho a morrer, sem os ter publicado?! Seria para mim um desgosto enorme!
Após tanto esforço e horas sem conto, debruçado neles! Mas enfim, tudo pode ser! Estas revisões começaram. há15 anos, aproximadamente, uma vez que, em 74, principiei a mexer-lhes, com essa intenção.
Anteriormente, escrevia sem destino. Eram páginas a montes, elaboradas, sem o mínimo cuidado. Isto, exactamente. provocou mais fadiga! Segundo me parece, vai o total para lá do que esperava, quer dizer. há trabalhos meus que exigem, por força, alguns desdobramentos. De momento, calculo eu 37 volumes. se não forem mais!
Não os quero grandes, que ninguém os leria.. Em média geral, 200 páginas. Será de crer que ascendam a mais os volumes referidos?! Verei isso melhor! Quanto ao porvir, o público dirá.
Algumas vezes, encontro beleza, espírito e graça! Outras vezes, fico decepcionado
Exigênca excessiva?
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Amadora
15-6-1989
O Antero falou! Uma carta de amigos: grande, sincera, calorosa, desejada, É já costume!
Uma vez mais, um poeta quinhentista:"Homem de uma só fé... de antes quebrar que torcer!
É um belo coração! Dedicado amigo, pai afectuoso, marido exemplar!
Quantas saudades eu tenho dele e de todo o seu lar!
Pergunta-me de novo quando é possível ir ter com ele, a Guimarães, onde exerce a profissão.
Não tenho podido mas, ao longo deste ano, creio há-de ser!. Assim Deus queira! Aí para Setembro, como tenho planeado!
Nessa altura, longa conversa hemos de manter!
É assaz grato recuar no tempo,voltando ao passado que me reteve em Pinhel. Aguardo o tal mês com alguma ansiedade!
Várias raízes me prendem à cidade, onde fui professor. durante sete anos ( dos 32 aos 39 )Lembra aquele soneto do Grande Camões : "Sete anos de pastor Jacó servia... "
Os motivos de servir é que eram diferentes, bem entendido!
Entre essas raízes, avultam duas que na área masculina,atingiram o máxmo de profundidade: o Dr. Antero Ribeiro Tavares, Notário insigne de
Guimarães ( hoje aposentado) e o Sr. José Coelho
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Amadora
16-6-1989
Três carros funerários!
Não é grato, não, falar de de ttais coisas,mas afinal, se fazem parte da vida, como vou esquecê-las?!
Foram hoje a enterrar,no monte da Caparica, sendo acompanhados por grande multidão. Eram três infelizes: Ana Paula (Paulinha), Helder e Bruno (1 e 4 anos).Très urnas em fila: duas branquinhas como eran as almas desses inocentes; uma de adulto, a da mãe infeliz.
. O pai assassino que se enforcara, por fim, já o tinham sepultado.
Toda agente condoída, cismava, reprovando. Angústia geral! Consternação e lágrimas sinceras! Vozes e gritos, harto reprovadores, clamavam da alma: Assassino!
Também eu fiz coro, porquanto chorei e muito sofri
Será já tarde que vai apagar,se da minha memóriaa cena exposta!
Homens e mulheres, jovens e crianças, todos lamentando a triste ocorrência! A mãe da Paulinha, afogada em pranto. figurava ali a estátua da amargura! A irmã da infeliz é transpottada em braços e levada para fora da
massa humana.
Autêntico horror!Um quadro fúnebre, comovente, inesquecível, doloroso e
trágico!
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Amadora
17-6-1989
Dados que obtive
O caso pavoroso deu que falar! Toda a gente se esmerava em obter informações, Queriam saber ali a causa verdadira do crime infando.
Entretanto, havia só conjectura,s meras hipóteses.
Aconteceu, porém, o que eu não esperava. Uma vizinha da Paula infeliz
era amiga dela e sabia pormenores, acerca do caso. Afinal, o Joaquim espancava a esposa, com mita frequência. Embebedava-se e já de solteiro ele se drogava.
Os pais da Paulinha viviam em França e, por causa das saudades que a filha
originava, tinham vindo a Portugal, como visita aos parentes-
O horrendo assassínio processou-se deste modo: a Paulinha matou-a cruamente com três facadas; aos pobres meninos estrangulou-os; em seguida, esfequeou o cão; após tais crimes, enforcou-se, ali perto.
Causa próxima: ela dissera-lhe, pouco tempo antes,: " Vou pedir o divórcio! Eu não aguento nem te dou nais vinho! É que ele faz-te mal!
Há verdades que não se devem dizer; outras vezes não convém dizê-las.
O seguro morreu de velho"
" Pela lingua morre o peixe.
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Amadora
18-6-1989
O gás CIDLA foi substituido pelo gás GALP
Também às garrafas coube igual sorte, apresentando as novas um rotor diferente e mais funcional.
Ora bem. Como vivo sozinho, nesta solidão, tenho por força de pôr-me em dia,.com estas coisas. Exercer actividades para as quais não sorrio
nem disponho, a rigor, de tempo suficiente!...
Verifica-se o provérbio " aprender até morrer!"
Pena é, realmente, que eu não execute o que me dá prazer! É afinal o que tem de realizar-se.
Uma força hercúlea me toca e obriga, queira eu de facto ou, às vezes não queira.
Dará isto a ventura?! Se consiste, a rigor, em fazer cada um aquilo de que gosta!
Bem aclara a sentença: ninguém diga, pois, " Desta água não beberei!"
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Amadora
19-6-1989
Sendo, pois, o meu caso, segundo já disse, impõe-se que eu, faça, ande e actue, goste ou não goste, queira ou não queira! Cá ando entalado pelas obrigações, que me cabem agora!
Para consegur o dito gás, desloquei-me seis vezes`a Drogaria!Nem três deviam ser! Os factos,porém, é que falam por si! Deu isto em resultado ficar sem gás, durante sere dias! Forte nervosismo, inquietação e falta de sono foi o efeito!
Lá por fim, vieram as garrafas. Urgia dispô-las no local destinado.
Ia ser um problema!Dava-me a impressao de não caberem lá.
Após árduos trabalhos e várias tentativas, consegui o objectivo.
Chegou a vez dos rotores que já eram diferentes.. Outro problema!
Encaixá-los na garrafa não havia meio!. Foi preciso então recorrer â vizinhança! Uma tarde em cheio, nestas diligências!
Agora, impunha-se ainda outra coisa mais: saber usar bem o novo interruptor.
Com insistências e muita resignação, cheguei a conclusões: para cima, abrir o gás ou tirar a cabeça; para baixo, fixar o rotor; para o lado:tapar o gás.
Será, de facto, assim?!
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Amadora
20-6-1989
Noivado Infeliz!
O jovem Élder seguia enlevado e quase absorvido, pois ia a seu lado a jovem eleita, que seria, no porvi,r a mãe de seus filhos.Entretanto, quis
a má sorte que o pequeno veículo batesse levemente com a parte dianteira
num Canião-Tir.
Este simples facto logo descontrolou a pequena viatura que se enfiou
num ai por baixo do camião.
Ocasionou isto o breve esmagamento da jovem enamorada, juntamente com o noivo! Pobres criaturas!
Nunca sabemos onde a morte nos espreita!
Na flor da vida! Com tão belo projecto, num futuro próximo, a tornar-se realidade!Uma curva de estrada lança-os prontamente no
silêncio do túmulo!
Grande lição para todos nós que ficamos ainda!
Paz às suas almas! Que o Supremo Juiz ,que nos há-de julgar, use de
clemência
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Amadora
21-6-1989
O Caso da China.
O governo senil, exaltado e fanático da China Comunista está realizando uma obra satânica e anti-humana que levanta protestos, no mundo inteiro. Há consternação, lá dentro e fora... rogos de clemência .
Entretanto, os velhos não cedem. Há execuções, com grande frequência, pois ainda hoje tiveram seu fim mais sete elementos. Que vai seguir-se daqui?! Só Deus o sabe mas eu, avaliando, antevejo o pior.
Se eles assim fazem, é porque, na verdade, se não sente seguros.
Quanto mais opressão e uso da força,, maior a reacção, no foro da consciência..
Aquele movimento é irreversível! Não é ele de jovens e intelectuais?
Esperemos, no entanto que os velhos reconsiderem, antes que seja tarde e
vejam seus cotpos ficar pelo chão!
Qualquer governo é para a nação, em todo o mundo! Ora, na China, dá-se o contrário. A nação, aqui, é para o governo!
Tal desconchavo é preciscá-lo da história da Cnina
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Amadora
22-6-1989
Está hoje correndo a Grande Cineira, em que tomam parte Chefes de Estado ou substitutos: todos os povos de Língua portuguesa;
os da linha da frente (Zaire,Gabão, Congo, Costa do Marfim e outros).
Trata-se de harmonizar os chefes angolanos. dos Santos e Savimbi,
com visa directa a obter-se a paz, na infeliz naçao que tanto amamos.
Oxalá que um raio de luz venha breve luzir, nas trevas cerradas que envolvem Angola, vai para 15 anos!
Savimbi advertiu:!Pode ser um dia negro, caso não haja a solução correcta e de todos esperada. José Eduardo dos Santos mostra-se, no entanto, muito
aferrado ao sistema inicial de Partido único. Jonas Savimbi propõe , de início, um governo mixto de transição, afim de preparar eleições desoprimidas, ao fim de dois anos.
Estas, por fim,iriam efectuar-se com a supervisão das Nações Unidas e da OUA
José Eduardo dos Santos não quererá ver?! É tempo disso!
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Amadora
23-6-1989
Revisões
Começaram estas ainda em Angola, nas férias grandes de 75.Decorreram, pois, bons 14 anos! É quase Maratona! Sucedia, no entanto, haver matéria nova,, uma vez que persistia em fazer o meu Diário,
com assiduidade. Ficava assim aberta uma dupla via que se prolongava, pelo tempo fora.
Além disso. após uma volta aos manuscritos, surgia logo outra
Deu isto como efeito chegar até agora, em labor constante,
Será desta vez que termina a faina? O ano passado tinha resolvido que fosse a última! Acabariam, pois, as minhas revisões. Afinal de contas,estou
já ultimando oitra posterir! Faltam os Esparsos, mas estes, por anódinos, mão intento publicá-los.
Os demais têm, à data, várias revisões
Ontem ,pois, acabei o livrinho, sobre a Guida, sobrinha infeliz, assassinada em Angola. Deu isso, ao todo, 36 volumes, com 2oo páginas, por média geral. Será, de facto assim ou muito mais?Na realidade, alguns Diários recenter têm mais volume do que tinha pensado. Não quero livros grandes,
ninguém os leria.
Os Diários de 89 são meros apontamentos, que precisam lima e aré mais corpo. Duvido muito, acerca deles.
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Amadora
24-6-1989
Angola
Bons augúrios? Foi anunciado para as zero horas, o cessar-fogo! O
mundo, em geral, acolheu a notícia com regozijo, de modo especial o
espaço português. De facto, Angola é-nos muito querida.
O nosso coração manifesta-se logo, de jeito fremente,sempre que uma nova corre entre nós, de bom cariz. É o caso de agora! Aqueke aperto de mão, entre Jonas savimbi e Josè Eduardo marca , sem dúvida, o primeiro
degrau, para essa paz que tanto desejamos..
Se não for avante, nesta ocasão,não vejo maneira de obter-se jamais.
É que foi excelente e de grande alcance a comparticipação!
Entre chefes de Estado e seus representantes, elevou.se a 33 o número de
elementos que tomaram parte no grande encontro, celebrado no Zaire.
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Amadora
25-6-198 Cont.
Desta vez, foi Mobutu o anfitrião, glória incomparável que lhe cabe, sem dúvida. Os esforços dispendidos, com este objectivo, levaram a juntar-se os dois inimigos, tomando compromissos que breve conduzam à estabilização
O mundo africano tendo à sua frente o chamado lusófano e o da
linha da frrente, com a Ãfrica do Sul, puseram no acto os melhores esforços.
Ficou bem provado que a força das armas a nada levou.
Catorze longos anos de guerra civil, morticínio e vinganças originaram
verdadeira hecatombe: só o nosso Portugal e os bons Portgueses sofreram
com isso!
Os povos da vizinhança, com relevo para a Zâmbia, Moçambique e Zimbawue, Botzuana e Malawi viam de rastos a sua economia, devido às
carências de toda a natureza, devido às carências que o caminho-de.-ferro -
Benguela-Beira tem ocasionado.
Mercê deste facto, punham no encontro suas grandes esperanças
Amadora
26-6-1989
Cont,
Vinte e oito anos de guerra total! Quem tal diria?! Desde 61 a 89, decorreram precisamente esses longos períodos. em que doram raticadas horrendas acções. Nesse ano remoto, os três Movimentos fizeram notar-se
por actos violentos, contra Porugal. Asssim: em 4 de Fevereiro, o MPLA
entra de chofre, na Reclusão, sita em Luanda,
matando 8 guardas e soltando, para logo, os presos políticos.
A FNLA inicia também a bárbara hecatombe, levada a cabo, no Norte de Angola : 3000 brancos foram esquartejados, em Dezembro-25; a UNITA de Savimbi lança o ataque a Teixeira de Sousa.
A guerrilha mantém-se , com grande firmeza e largo desgaste, até 74.
Assim, começa a desgraça de Angola, em que Portugal não teve culpa mas
povos estranhos, roídos de inveja e cheios de ambição, por causa das riquezas do solo angolano.
Em conclusão: esta guerra foi-nos imposta e nunca levada a cabo
contra a população das terras ultramarinas.
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Amadora
27-6-1989 Cont.
A ambição do mundo com a intervenção de milhares de cubanos, armados pela Rússia, conduz ao governo os do MPLA, afastando pelas armas os outros Movimentos e contrariando o que fora estipulado pelo nosso Governo
Pelas razões expostas e outras mais, começa em breve a guerra civil atirando os Angolanos uns contra os outros
O Chefe Savimbi mantém-se firme e luta denosado pelo bem de Angola.
Quer o estrangeiro (cubanos e outros) fora do seu país; eleições livres e um governo coligado.
É apoiado pela África do Sul e os Estados Unidos.
Nesta data, porém, novo rumo se impõe. Que vai seguir-se?!
Enorme interrogação!
A proposta de Savimbi com o apoio do governo portuguès, seria o caminho da libertação! De outra maneira, estamos para ver!
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Amadora
28-6-1989
O futuro de Angola como o da UNITA
O primeiro passo já decorreu. Fez-se entre os chefes (José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi) o acordo de cessar-fogo. O aperto de mão,que todos presenciaram, sancionou a escrita. O que vai seguir-se é um. caminho longo e cheio de abrolhos.
Entretanto, com boa vontade e cedências mútuas, chegará tudo ao fim almejado. Há diversas arestas que urge limar. Jonas Savimbi não vai aceitar
a mera integração dos seus filiados nos quadros férreos do governo actual, de feição comunista. De modo igual, também não aceita o exílio voluntário.
Permanecerá, em terra angolana, sua pátria querida, pela qual se bateu, cerca de 30 anos, vivendo nas matas, com a sua gentee lutando firme, sempre lado a lado. Exige ainda a pronta expulsão de guerreiros estranhos.
Além do mais, eleições livres, ao fim de 2 anos, formando-se, até lá, um governo forte de coligação.
Razões bastantes para tudo isto? Ele, de facto, não foi derrotado: isto dá-lhe
margem, para fazer exigências.
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Amadora
29-6-1989 Cont,
Está correndo, em Cuba o processo judicial, contra Ochoa,
comandante- chefe das tropas cubanas, em terra angolana.
Este caso triste vem elucidar-nos, sobre muitas coisas!
Ao saírem de Angola os primeiros contingentes de origem cubana,,
soaram, desde logo, dizeres como estes: "Missão já cumprida, com louvor e glória. Da terra angolana apenas levamos os nossos mortos!"
Tudo mentira! Grande hipocrisia! O tal julgamento veio esclarecer-nos. Há quem exija a pena de morte para o General, apontando, a prpósito, as seguintes razões, no tribunal cubano: 1 . tráfico de droga; 2 . venda ilíta de madeiras preciosas, marfim e diamantes; 3 . humilhação e desdouro, causado por ele ao exército cubano, que foi rechaçado, sempre que investiu
contra a base da UNITA.
Propalaram falsamente haver triunfado, ganhando a guerra e saindo como heróis. Afinal de contas, era tudo falsol
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Amadora
30-6-1989
Valeu bem a pena chamarem para Angola o exército cubano, para defesa e firme garantia dos interesses pátrios?! A resposta já fica dada.
Os 14 anos que lá estiveram entregaram~se â pilhagem, lançando os Angolanos em extrema penúria.
Quanto havia de bom foi logo enviado para a Ilha de Cuba! Mármores belos de cemitérios; janelas e portas de madeia preciosa e todos os veículos, sem esquecerem os auto-carros da Firma EVA , com 90 unidades; materiais e alfaias de Escolas e Hospitais; materiais do Exército, que Portugal deixara ali, para os Angolanos...
Verdadeiro latrocínio! Um perfeito horror! Autêntica vergonha!
E mulheres violadas?! E filhos ilegítimos?! Autêntica praga!
Que vieram fazer estes parasitas e ratoneiros?1 Desonrar a Ilha?! Hunilhar o exército e roubar os Angolanos, seixando-os na miséria?! Que vieram fazer lá?! Derrotar a UNITA e impedir também os Sul-Africanos de invadir Angola?!
Nunca Savimbi saiu da Jamba!
Para que serviram os 80.000 homens, enviados por Luanda, contra a UNITA?! E o seu material, deveras sofisticado?!
Por outro lado, quando os Sul-Africanos intentaram punir os seus inimigos,
vieram sempre a Angola, ficando por ali o tempo necessário.
Que vieram os cubanos fazer por ali, então?!
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Amadora
1-7-1989
Malefícios de Viagem
Quando me desloco, nos transportes públicos. procuro evitar o que mais horroriza: 1. ir empilhado, balançando temeroso, ao ritmo ingrato dos
solavancos da própria viatura. 2. ter alguém na frente, mais alto do que eu, o que permite barrar-me o horizonte visual; 3. Fique embora sentado, apresentar-se um gordo, partilhando o mesmo banco; 4. surgir um comparsa, a exalar mau cheiro ou, ainda pior - a emitir gases qe pronto asfixiam;
5. ser fumador ou então fumadora, pois, nesses casos, o mal é tão grande. que não posso aguentá-lo.
Um mal-estar que não tem semelhança. com outro qualquer!
Uma angustia de alma que prostra o meu ser e o deixa rendido
Em casos desta ordem, haveria, realmente, pronta solução, a que não é possível recorrer-se então: abandonar a viatura, mas, fazendo isto, que seria de mim, se o dever me chamasse,exigindo a presença?!
Convenhamos, desde já. em que há situações, um tanto encravadas!
Bem dizia o Camões:"Omde pode acolher~se um fraco humano?!"
Por outro lado, ninguém venha dizer: " Desta água não beberei!"
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Amadora
2-7-1989
Entre Cyla e Caribdes
Se a memória nao me falha, são dois escolhos, harto perigosos para a navegação. Por isso, havendo situações, que entalem alguém, costumamos dizer: "encontra-se, â data, entre Cyla e Caribdes!" E que osditos escolhos encontram-se,à data, entre ertreita passagem. Até julgo tratar-se dum estreito, na Sicília,
Os 71 anos já garantem pouco, no tocante à memória. O que vale, tantas vezes, é suspeitar, o que leva prontamente a confirmar a asserção, por meio de livro, estando ele à mão.
Bom. O que motivou este pobre Diário passou-se comigo, ao esperar algures que chegasse o auto-carro.
Os tais escolhos eram seres humanos: um deles, em frente; outro à recta. guarda. Quem estava no meio era a minha pessoa!
Que fazer ali, afim de livrar-me do perigo iminente?!
Antes de mais, convém elucidar, com ajgum pormenor.Um dos tais amigos cuspia amiúde; o outro escarrava, segundo o ritmo do tal cuspidor
Situações do Diabo!
Vomitar as tripas? Era caso disso, não fazendo muita falta!Devo ainda acrescentar que havia, nessa tarde, uma aragem buliçosa, o que dispersa aquelas humidades.
Nem ao próprio Diabo sucedem tais coisas!
Dum lado chovia; do outro ventava! Só um pder mais forte conseguiria
valer-me!
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Amadora
3-7-1989
Arcebispo de Luanda.
A grata notícia chegou pela imprensa. Não surpreendeu, mas encheu-me de júbilo, pois é, afinal, um preito sincero, espontâneo, eloquente, à grande nação, que levou bom termo a navegação, nos séculos XV e XVI.
Com esta heróica acção, a mais destemida que o Homem realizou, desde o início do mundo, a civilização, de cariz ocidental, profundamente cristã, chegou a toda a parte. ("... se mais mundos houvera, lá chegara!"
Embevecido e suspenso, ante o grande arrojo e espírito cristão do povo português, o Arcebispo de Luanda agradece a Deus que os Lusos de Antanho houvessem chegado à terra querida, lançando ali a semente da Vida e a luz bendita da Civilizção.
Atitude eloquente, grito de justiça, para com um povo grande e imortal que, em frágeis caravelas, introduzia sempre os Missionários. A
pura verdades vem sempre ao de cima, Desfez-se a calúnia, gizada por
Satanaz, segundo a qual o Santo Evangelho ia ter por fim, um alvo político.
Que grande mentira! Que horrorosa distorção! Servir-se alguém do que é sagrado, para escravizar!
Nunca o fizemos e Deus é testemunha! O veneno era forte, mas perdeu o vigor! Deus seja louvado!
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Amadora
4-7-1989
"O maior Império que houve, neste mindo".
O Dr. João Coito , insigne Director do Jonal - O Dia - designou por tais palavras o Império Portuguès.
Não estranhei, de modo nenhum, que ele o sentisse. Eu, de facto assim o julgava! Não o tinha já escrito o príncepe dos Poetas?!
" Se mais mundos houvera, lá chegara!"
Toda a gente sabe isso mas, por malvadez ou então cobardia, não
fazem senti-lo, quando falam ou escrevem.
Por que houve tanta inveja, cobiça ou má vontade, contra Portugal?!
Por ser incomparável, heróico e destemido?!
Não obstante isso, quero eu dizer, apesar de tantos roubos, depradações e
grandes rapinas, ficou ainda bastante, para nutrir a cobiça de povos estranhos.
A Inglaterra, Holanda e Espanha que metam as mãos na débil
consciência, caso ainda a tenham!!
Bem a propósito dos admiradores que nos fizeram justiça, lembra-me Keniata que um dia afirmou:" O Império Portuguès foi dos mais gloriosos,
à face da Terra!"
E Adam Smith;" A época gloriosa dos Descobrimentos , levados a cabo pelos Portugueses, é a mais extraordinária da História da Humanidade!"
Será preciso, na verdade, que venham os de fora garantir ao mundo
que somos grandes?!
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Amadora
5-7-1989
"Esse é um outro problema, que ficará para uma outra ocasião".
Ouvi esta frase, há pouco ainda, em um dos programas da Televisão
que se designa " As dez." Surpreeendeu-me ali o enorme colorido, levando-me a pensar muito seriamente. Será Português ou antes Francês?! Creio
tratar-se de Francês disfarçado!
Que pena me fazem casos deste género! Apunhalar o idioma, no seu meio de expressão é o mesmo que trucidá-lo! Não haverá cautério para estas mazelas?! Até quando, Senhor, estarei condenado a ver disparates de
tamanho volume?! Escandalizam e até revoltam anomalias destas!
Por que não sujeitarem a prova rigorosa locutores da Radio e da Televisão'! Seria, de facto um belo seriço, prestado, sem dúvida à causa nacional!
Não é de Pessoa a frase seguinte: " A minha Pátria é a Língua Portuguesa"?!Sendo isto assim, enxovalhar a Língua Portuguesa o mesmo é
que fazê-lo à Pátria!
A língua francesa é que assim utiliza o artigo indefinido.
Em Portuguès , é proibido o indevido uso de tal artigo, em iguais circunstâncias
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Amadora
6-7-1989
Rui Mingas
É o Embaixador da querida Angola, aqui em Portugal. Sucede no cargo a outro senhor que falava o Português com dificuldade. Este facto não era agradável, esperando~se alguém que falasse melhor o ideoma comum.
O actual embaixador que já ouvi, na Televisão. é bem diferente! Na
verdade, foi actor e cantor; futebolista; combatente estreme, na Guiné-Bissau; e não sei que mais. Este exprime~se bem e correntemente.
Chamado, há pouco, à Televisão, declarou o seguinte: 1 .logo que
Savimbi consiga justificar as violações frequentes do cessar-fogo, recomeçam breve as negociações; 2 . Savimbi vai exilar-se, nos próximos anos, fazendo tal coisa voluntariamente; 3 . o Movimento da UNITA integra-se pronto, no MPLA., ficando inserida nos diversos quadros, segundo forem as necessidades e as várias competências.
Partindo somente de tais dizeres, chegaria à conclusão de que tal Movimento ficou derrotado!Será isto verdade?!
Qual a opinião de Jonas Savimbi?
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Amadora
7-7-1989 Cont.
Declarações recentes, feitas por Savimbi, na Costa do Marfim, dão-
nos a verdade, sobre o que vai, por terras de Angola, naquilo que respeita ao célebre acordo. O que ele afirmou não corresponde, por modo nenhum,
ao que diz Luanda, pelo Embaixador, em terra portuguesa.
A Radio-Renascença e o Jornal - O Dia - apresentam os dizeres do Chefe Carismático: 1 . Não havendo vencedores nem tão pouco vencidos, Luanda não pode, evidentemente, ditar condições; 2 . o seu Movimento não
aceita a integração, mas a participação; 3 . O Chefe Savimbi não sai de Angola, que é a sua terra e, embora não se integre no chamado governo de
transição, vai propor-se candidato, pelo seu Movimento, em eleições, justas e livres, a realizar, ao fim de 2 anos.
São estas. de facto, as linhas gerais da sua declaração, apresentada, há pouco, na Costa do Marfim.
Nem outra coisa seria de esperar. Vinte e oito anos de guerra e sofrimento iam ter como prémio exílio e solidão?!
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Amadora
8-7-1989 Cont.
Quem estã de fora não tem a noção de quanto é apreciado, querido e anado o Chefe da UNITA. Em dia festivo de manifestações, na capital do Bié (Silva Porto), vi eu um cartaz que dizia assim:"Deus no Céu e Savimbi na Terra" Exacto! É este, de facto, o sentir do povo!
Aclamações, referências e aplausos são de tal modo, que parece dirigirem-se ao próprio Deus! Uma fé absoluta! Confiança inabalável!
O povo do centro e do Sul de Angola, regiões da nação que melhor conheci, de 72 a 75, plham o Chefe como pai e guia. Quase adoração, envolta em carinho, amor, dedicação!
Sendo isto assim, jamais o povo iria aceitr o exílio de Savimbi! Cairia tal facto como um sacrilégio... um caso horrendo de lesa-humanidade! Um absurdo!
É que ele, realmente, viveu o ideal como ninguém. Ama o seu povo,
imola-se por ele, oferece a vida wue toda gastou, defendendo a Pátria de gente exploradora... afastando vampiros que vieram para ali, afim de enriquecer, e não para lutar pelo bem de Angola.
Não diz isto mesmo o Tribunal de Cuba, onde o próprio Ochoa e 14
Oficiais foram condenados? Alguns dentre eles condenados à morte!
Bom! O líder Savinbi conhecia a fundo o que estava acontecendo,
na sua terra querida e o povo angolano que nºao é tolo, vendo-o mudar-se e
viver lado a lado, no meio da floresta, a combater denodado pela libsrdade, fez dele um ídolo, que ama e acarinha, exalta e venera
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Amadora
9-7-1989 Brasil - Idioma Poruguês.
Aspectos dominantes que fazem divergir a
pronnúncia da Língua
A maior alteração de carácter fonético, será, julgo eu, a que respeita, em cheio. à vocalização da consoante L. Acontece tal caso, avaliando agora pelas tele- novelas: sempre que uma vogal precede o L, este vocaliza-se.
Aplicando a regra à palavra Portugal, obtemos o seguinte: PORTUGAU.
Sirva também esta frase: deve-se evitar o mal. Dá, naturalmente_ deve-se evitar o mau.
Este facto origina equívocos e presta-se.às vezes, a certas confusões.
Imaginemos o seguinte período: um rapaz bom condena o mal.
Se não virmos a escrita, apanha o ouvido aquilo que segue. um rapaz bom condena o mau
Atendamos ainda: um rapaz mau aprova o mal: um rapaz mau aprova o mau
A vocalização do L em U origina, para logo, uma enchente de ditongos, como não haverá em outro idioma!
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Amadora
10-7-1989 Cont.
Ainda a propósito do mesmo assunto, existe no Brasil outra fonte de ditongos, Dá-se tal caso, por alongamento, em diérese: são vogais tónicas (a-e-o), Exemplo: pás; pés; nós que soam, respectivamente - pais -
péis - nóis.
Notamos, de início.que a semi-vogal do novo ditongo já é diferente.
Se lá, no Brasil, se tornasse obrigatória a escrita fonética, seria um pavor, ao menos para nós, em Portugal. Não íamos entender o que víssemos escrito.
A vocalização do L em U também se deu, cá em Portugal, mas em casos raríssimos
Exemplos:salto
Amadora
11-7-1989 Cont,
Agora, o caso do \t\ seguido de \i\ ou de \e\. Exemplo:pertinente
Pelo que vemos, dá-se tal facto, quando o D é seguido logo de e ou i.
Bacoreja-me até que ande por ali influência italiana.
Sabemos, na verdade, ser a colónia italiana a maior de todas, seguindo~se à portuguesa.
Também o Português, falado no Brasil, não tem vogais mudas. Segundo vi escrito, já entre nós houve uma fase, em que sucedia a mesma coisa.
Isto nada surpreende! Nós é que ensinámos o povo brasileiro.
Pelo que aí fica,, no tocante às vogais, nota-se, desdelogo, haver somente vogais abertas ou então médias, baseando-nos, é claro, na posição dos lábios.
Mudas não existem. Este facto verifica-se igualmente na língua Castelhana.
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Amadora
12-7-1989 Cont.
No meu espírito surge uma dúvida. Esta pronúncia que diverge da nossa, como é que surge? Não é artificial, em parte dos casos? Será ela imposta e uniformizada pela Televisão?
Custa-me crer, ouso até afrmar que não era possível, em zona tão vasta surgir espontâneo um padrão único para a língua portuguesa! Pois se há tantos factores a modificar a tal pronúncia, como ia convergir num ponto único?!
Não posso admitir! Segundo eu creio, serve a Televisão para fazer o peneiramento e uniformizar. Isto, pois, me leva a inferir que se trata, realmente, de artificialismo, em parte dos casos.Não desaprovo!
Sabemos, há muito, que a grande lei de toda a evolução, no que toca à pronúncia, tem como base "o menor esforço" Todo o idioma tende a realizar-se pelo processo mais simples
.. Ora, que sucede, às vezes, com a nova pronúncia? Uma coisa oposta àquilo que se pretende. Em vez de facilitar, vem dificultar. Não utiliza o processo mais simples: antes, por vezes, o mais complicado. Se não, é ver!
Torna-de mais fácil pronunciar como aqui "impertinentemente" do que "imperchinenchemenche".
Nem aludo já à grande chiadeira dos três sons palatais.
Sendo espontânea tal evolução, não há travões nem decerto reparos que possam bastar. Entretanto, como já disse, não admito isso! É travão dirigido... norma imposta e matraqueada. Logo, em conclusão, pronúncia artificial.
Encontramos ainda uma assimilação, regressiva completa de "e" em "i". Exemplo: menino (minino); penico (pinico)
O mesmo se dá, em palavras similares.
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Amadora
13-7-1989 Cont.
Ainda os ditongos. Falei já de aumento, por vocalização e por alongamento (Portugau; nóis), Agora, o fenómeno oposto: redução de ditongos. Vejamos para exemplo as seguintes palavras ou outrae semelhantes: bens, Belém, etc.
Aqui, em Portugal, soa como ditongo, igual ao de mãe. Que ocorre, no Brasil? Deixa de ser ditongo, para transformar-se em vogal nasal.
Se não me engano, é sonido igual ao da primeira sílaba da palavra "entrar" Será, pois, uma sinérese.
Faço votos ardentes por que o Brasi, nunca imponha aos Brasileiros a escrita fonética. Seria um caso sério t!al situação! Por outro lado, não convém, de modo algum, aperrar a Língua, na sua evolução! Deve seguir livre, sem peias nem obstáculos.
O clima da zona, a topografia, a incultura, os próprios hábitos é q ue intervêm. Não são, de facto, os intelectuais que fazem a Língua: antes de mais, o povo anónimo,
inculto, isolado é que a deixa seguir o seu próprio caminho.
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Amadora
14-7-1989 Cont,
Pelo que aí fica, nota-se bem que há grandes alterações, de carácter fonético. Se fossem espontâneas, gerais e persistentes, levariam muito longe! Entretanto, sinto-me inclinao a pensar diferente. Sendo uma tentativa, não haverá bom êxito. ao menos, cabal!
Sintacticamente, o caso já difere: são muito leves, bastante reduzidos e até sem peso, os factos verificados.
Lembro-me agora dos casos seguintes: 1 .Os pronomes, por via de regra, colocam-se antes do verbo: eu te amo; ela nos ama.
No Português utilizado. aqui, em Portugal, os ditos pronomes situam-se em geral, depois do verbo: eu amo-te; ela ama-nos. Só por excepção, em casos especiais, se transgride a regra: Deus me perdoe! Eu te ensino!
Não meandes a enganar!
Trata-se de conjuntivos, com sentido optativo; de acções diversas que exprimem, desde logo, espontaneidade ou também ameaça ou ainda uma ordem... um interesse especial!
Nota : no Brasil, predomina a próclise; em Portugal, a ênclise-
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Amadora
15-7-1989 Cont.
Foneticamente, que me lembre agora, pouco mais haverá que mereça, de facto, estudo especial.Vêm a pêlo certas consoantes ( sinais auxiliares da mesma escrita), que exercem na frase igual papel ao dos nossos acentos. Vejamos, a propósito, alguns exemplos: recepção, excepção!
No Português do Brasil, pronuncia-se o >p<; no de Portugal, é ele surdo.
Inverso caso notamos, desde logo, em outras palavras: facto, cá; fato, lá. Se não me engano, há firme tendência para eliminar algumas consoantes, utilizadas como acentos.
Vejamos o que segue: acção, baptismo.etc.
Outro caso ainda que noto no Brasil: fechar a vogal, quando esta precede consoantes nasaladas ou então dígrafos: Antônio.
Na província do Minho, ocorre o inverso do que vai pelo Brasil: abrem-se tais vogais: estudámos, (ainda no presente).
Estes casos derradeiros vêm dificultar o acordo ortográfico: por não haver iniformidade e boa vontade, em ambas as partes, jamais levarão o caso a porto seguro.
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Amadora
16-7-1989
Uma Data
Decorreram já, se agora bem conto, mais de 40 anos, pois foi o caso, em 1944, a 15 de Julho. Esste facto, ocorrido então, já olhado em si, já nos graves efeitos. que sobrevieram, marcou-me profundamente, na vida profissional, social e psicológica e assim também, no tocante a minha irmã e aos queridos pais.
Começara a exercer, escassos meses antes. de Outubro - 43 - a Julho - 44, Perfaz-se, na verdade, um curto período - 9 meses apenas!
Efeito estrondoso duma bomba potente, wue atinge, em cheio, o nosso querido lar! Estávamoa na Vide, concelho de Seia, formando o agregado só 4 pessoas: pai e mãe, a mana Agusta e o autor que narra o sucedido,
Acabado o curso, já pela idade paterna, já devido às carências, ocasionadas en tão pelos muitos gastos, precisavam eles que eu os ajudasse.
Entretanto, empioram as coisas: aspirações, projectos de futuro, uma vida tranquíla, enfim milhentos casos que preenchem a existência e lhe dão relevo!.
Nessa tarde inolvidável, partia da Vide, rumo a Balocas, lugarejo serrano, que dista possivelmente, uns 10 quilómetros. Por ínvios caminhos e sendas estreitas, ( não havia, como agora, estradas florestais), entro em Baloquinhas, onde era costume visitar, em falta, o senhor Manuel Lopes.
Pessoa grada e muito gentil, fazia o favor de er meu amigo, o que eu,
na verdade, bastante apreciava.
Estamos, de momento, em conversa íntima, brindando em seguida, à nossa amizade. Permaneço ali o mínimo de tempo, dado que Balocas ainda fica longe.
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Amadora
17-7-1989 Cont,
Exactamente, ao sair da porta, virada a Balocas, fico surpreendido e algo alarmado. Abro decidido e tenteio o pé, no primeiro degrau, Momento fatal! Noto, desde logo, que triste realidade se está desenhando, sem avaliar a longa projecção que o facto iria ter.
Em frente do olho esquerdo, figurava eu, então. cabelos compridos, um tanto emaanhados. Caso bem estranho! Jamais presenciara uma coisa assim! Subo logo a mão, julgando reais os ditos "cabelos", mas nada agarro!
Entretanto, complica-se a visão e só a muito custo percorro o caminho. Nessa hora amarga, não previa, de longe, o que iria acontecer
nem fazia sequer a mínima ideia, sobre o facto lastimoso, que estava surgindo.
Segumdo apurei, já tardiamente, vim então a saber que era, na verdade, uma coisa terrível! Hemorragias internas que afectavam, em
extremo, a zona da retina. Repetindo-se elas com muita insistência., provocaram em breve o descolamento daquela membrana , ocasionando
logo a cegueira total, no olho esquerdo.
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Amadora
18-7-1989 Cont.
Sequelas trágicas, no agregado feliz! As consequências fazem sentir-se, de maneira espantosa em três pessoas, ligadas a mim, não falando já no caso pessoal! Depois, é uma longa cadeia, cujos elos pesados se vão juntando, ao longo da existência
Quanto a meus pais. Coitadinhos! No final promissor de tantas canseiras, esperando repouso para enormes fadigas, sobrevém, exactamente, o que menos esperavam. Deixei de constituir um apoio frme, para a sua velhice.
Na iminência da cegueira, fiquei sem ânimo... sem possibiidades que permitissem ajudá-los, ao menos um pouco. Daí, voltarem ao campo, mas em tempo indevido e já sem forças!
Minha irmã casaria, bem possivelmente, no lugar, onde estávamos : a
Vide. Deste modo, iria furtar-se ao enorme desgosto de ver a filha prostrada por um tiro de espingarda, em Silva Porto ( Angola).
Quanto a mim, andei qual cigano, de terra em terra, sujeito a caprichos de gente estranha que não cultivava as boas maneiras.
Houve excepções, bem entendido!
Apesar de tudo, como o bom Deus escreve direito, por linhas tortas,
nem tudo se perdeu!
O sofrimento desperta a alma, trazendo consigo a reflexão.
Quantos destinos assim desvia, afim de centrar a vida presente em Deus e Senhor!
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Amadora
19-7-1989
Ontem, fugi à regra, De facto, era já um quarto para as 23 horas, quando me deitei. Raramente sucede!
Após os 15 anos, vou para a cama, invariavelmente. pelas 22 horas.
Estando fatigado, ainda antecipo uns 15 minutos. No dia seguinte, às 5 da manhã, já estou pronto e decidido, afim de actuar. Sete horas de repouso!
Deviam ser 8, para os meus 71! Por enquanto, vou persistindo nos velhos hábitos. Para eu andar bem e render que preste o trabalh0 executado,, não perdendo o apetite, é preciso ser fiel a este horário. Ora bem. Por quue foi então que faltei ao cumprinento da regra antiga)?. Muito simplesmente!
Na " Primeira Página", em entrevista, esperada há muito, com ansiedade, pelos portugueses e até por estrangeiros, de muitas procedências, apareceu quem muito nos prende e a quem votamos afecto acendrado.
É Jonas Savimbi, o Chefe glorioso do Movimento Angolano, que luta nas matas pelo bem do seu país, há quase 3o anos.
O Frente a Frente ocorreu na Jamba, sendo conduzido por Barata Feio, jornalista português., que ali entrevistou o famoso Caudilho.
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Amadora
20-7-1989 Cont.
Embora de longe, vi o grande Chefe, o que veio alegrar o meu coração. Minha irmã e seu marido seguiram também,. com grande empenho, o curto diálogo que ali se travou. Há 15 anos já,escutava-o eu de
maneira igual, nos famosos Comicios de Nova Lisboa como de Silva Porto.
Ele, então, era fogo, voz convincente, presença querida que todos acarinhavam. Os seus dizeres caían na alma, ao jeito de bálsamo que tudo
serena. Era o dom carismático, o espírito lúcido, a presença adorada, que a todos embevecia.
As multidões aclamavam-no sempre que passava, crendo ver nele o salvador da pátria, o grande e bom amigo, o herói da mata, o homem heróico e sacrificado
O eco de sua voz ainda perdura no meu ouvido, instilando na alma inefável doçura. Pois foi esse Chefe que ontem, na Jamba, donde ninguém pôde ainda arrancá-lo, ( em 14 anos de guerra atroz) tanto deliciou o peito dos Portugueses e de todos os Angolanos
Sem aviação, resistiu corajoso ao MPLA e aos 6oooo que a Ilha de Cuba enviara para Angola.
De nada valeu o terrível armamento, já tão sofisticado, aviação e tanques, bem como estrategas e técnicos russos e doutras origens.
Era o mesmo chefe, embora mais sereno, humano e calmo.
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Amadora
21-7-1989 CONT,
Olhei para ele e fique extasiado! E uma presença muito singular! Não tem semelhante! Figura um deus, embora terreno! O que diz ou pensa é logo tomado em granfe conta, pois invoca razões a que todos se
curvam.
Que lucidez no raciocínio! Que visão profunda, tão clara e alta dos
graves problemas que afrontam a pátria! Que grande afecto exterioriza para os portugueses que o são de facto! As suas palavras deixam ver claro.
Solicita o contributo de vários outros povos, mas coloca os Portugueses na linha da frente!
As diversas perguntas do noso jornalista exigem, tantas vezes, respostas delicadas e, não raramente, difíceis de achar.
Ele, no entanto, não se desvia, como fazem alguns, fugindo aos casos. A
tudo responde, com muita dignidade, acerto incomparável e muito equilíbrio
Que diferença profunda, entre ele e outros chefes, embora provados!
Tenho agora em mente Agostinho Neto, que era de facto um homem culto,
pro-ocidental, mas de
cujas palavras extravazava, por via de regra, um certo rancor, vendo só manchas, sem distinguir aspectos posotivos!
Savimbi é diferente: diz a verdade, mas não arranha. A sua palavra é a voz da razão!
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Amadora
22-7-1989
Aspectos focados pelo Chefe Savimbi.
Cheio de razão, boa vontade e muita argúcia, apresenta ele as seguintes linhas: 1 . governo de transição, durante 2 anos, preparando as eleições, democráticas e livres; 2 . tal governo seria formado pelos dois partidos, em perfeita igualdade; 3 . após tais eleições, fiscalizadas pela ONU, continuariam as parter ambas ( ou ainda as três, se viesse a FNLA)
ficando os de maioria, na oposição; 4 . o Chefe Savimbi iria candidatar-se
como líder da UNITA.
Diz ele, e muito bem, que recusa a integração e não precisa amnistia,
como não aceita, em caso algum, o seu próprio exílio.
Esclareceu ainda que só os vencidos é que são exllados, quando não mortos ou feitos prisioneiros.
Esta plataforma é de todo aceitável, a qualquer nível.
Só deste modo se logra a paz e se pode manter.
Quanto a Portugal, mostrou-se amigo, compreensivo e muito indulgente, em questão de agravos.
Remata dizendo que são pequenas coisas que não devem pesar no Acordo de paz e reconstrução.
Porfia igualmente em que precisa dos Portugueses, reservando para eles o primeiro lugar, entre os povos diferentes que desejem, a sério, colaborar com Angola.
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Amadora
23-7-1989
Era um tipo franzino, um tanto esgrouviado que, por modo nenhum, inspirava simpatia. Puxado à fala, dizia muito menos do que era necessário. preferindo a mudez, por via de regra.Se não fosse interpelado,
mantinha o silêncio. por tempo indefinido. Esta, de facto, era a sua imagem
que eu vinha guardando, havia muito já. Fixara-a de tal jeito, que me levou a pensar não haver outro rumo
Bom. Há poucos dias, encontrei-o algures, lá na capital, Ao vê-lo de novo, julgava, na miha, que não saudava como era habitual. Aqui me enganei e redondamente! Contra a minha expectativa, surpreende-me em cheio, batendo no meu ombro, com leve jeitinho e desfazendo-se logo em amável sorriso, que me deixa estupefacto.
Algum desdobramento de personalidade? Não achava crível que fosse ali o mesmo sujeito! Entretanto, as palavras que solta eliminam a dúvida!
Sabe, senhor fulano, já trabalho agora, por conta própria!A rranjei um sócio e fundei uma Agência."Quando eu precisar, bater-lhe-ei à porta!
Caí das nuvens! Belo cartão elucidativo salta-me para as mãos.
Vicissitudes da vida! Que fizera mudar o jovem taciturno e, geralmente,
de rosto carregado?!
Ser já patrão e querer impor-se, ao mesmo tempo; achar disponíveis os que precisar- Numa palavra: o factor intersse é que o leva a tanto.
Não se tratasse da mola real que tudi impele!
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Amadora
24-7-1989 Uma Avó. Filhos mais novos que os próprios netos!
Nunca tinha visto, que me lembre agora. Apesar de tudo, a mobilidade extrema, na esfera linguística e as suas alusões chamavam a
atenção!
Falava no auto-carro, ouvindo-se claro em todo o veículo. Isto, por fim, despertou as atenções. Pobre de mim, que estava logo perto! Houve-de acalmar,aguardando impávido os seus dizeres, com forte ressoar.
Repimpado no colo sustentava ela um meúdo com três anos , que era
seu filho e dormia calmamente. Entretanto, a mãe extremosa olhsva-o com enlevo, cheiinha de ternura.
O objecto do monólogo, que todos escutávamos, era na verdade o que o petiz fazia e quanto expressava, por meio da linguagem.
No rosto dela íamos nós lendo a sua feilicidade.
Vivia sozinha, desabafava ela, mas o bom Deus enviara-lhe já uma bela companhia.
Sozinha porquê? O marido que tinha enganara uma cigana e havia fugido; o filho de 20 anos andava na tropa; a filha, de 27, casara feliz e dera-lhe netos.
Aquela mãe idosa, descrente em extremo e desiludida, em questões de amor, encontrara um íman que fortemente a prendia, se é que, de facto, a não subjugava, fazendo suas delícias! Vivia inteiramente para aquele meúdo, pensava nele e nas suas palavras; ia arquitectando um porvir maravilhoso, que já estava sorrindo. Era feliz.
Só a família opera, de facto, milagres destes!
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Amadora
25-7-1989
Os Pardais do Jardim.
Ocorreu o facto, na bela Praça, Afonso de Albuquerque. Sentado num banco, à sombra deliciosa de árvores amigas, lia interessado um livro francês de Pierre Hermann que fora dominicano, antes de escrevê-lo.
Nas minhas locubrações e vários considerandos, noto logo perto,
desusado pipilar, enquanto de asas leves, trementes, agitadas, um dos pardalitos esboçava movimentos, que chamavam a atenção. Não era pequenino o tal pardalito! Coberto de penas e de vulto quase igual ao dos
outros companheiros, mal o distingui dos outros circunstantes.
Não sabendo, exactamente, o que ele manifestava, fixei-o por momentos,
com grande atenção.Foi neste comenos que o pai ou a mãe, possivelmente,
correu para ele, metendo-lhe vermes no bico enorme, que se abria largamente. O facto repetiu-se, por várias vezes,
.
Cá para mim, cheguei a censurá-lo, por tamanha preguiça!
Já criadinho, não era afinal para tratar da vida, sem incomodar os seus
progenitores?! Os pais, no entanto, acorriam céleres, prestando auxílio!
Grande mistério o da paternidade!
Enternece a fundo e leva a pensar! Até nos seres brutos é maravilohosa!
A Providência divina a tudo se estende!
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Amadora
26-7-1989
"Território pequenino que é pertença de Espanha!"
Aconteceu ontem, no programa "Às dez!" que foi emitido pela
Televisão.
A jornalista , Patrícia, de origem mexicana, fala Português e vive em Portugal, com marido português. Foi interrogada, sobre pontos diversos,
um dos quais vem a seguir: " Que ideia aproximada fazem, à data, os Mexicanos, acerca de Portugal?!
A resposta dada encontra-se no princípio deste Diário.
Patrícia acrescentou: " Esta ideia errada já foi corrigida, pois o meu papel
é, exactamente , crisr outra imagem no meu país. Nos programas diversos
que tenho organizado, houve, da minha parte esse mesmo objectivo!
"Pequenino!" Mais pequeno era o Lácio e a própria Atenas! E que foi,afinal, o que originaram?! Quanto a nós, fundámos um Império que foi
certamente o maior deste mundo!
" Parte da Espanha!" Respondo com a frase do nosso Heitor Pinto: " Pode Vossa Majestade meter-me em Espanha! Meter a Espanha em mim?! Isso nunca!"
Reinava então FilipeII.
Como bem se vê. a Espanha, embora grande, não pode conter o nosso Portugal!
Foi o que dissemos ao orgulho espanhol, cujas pretensões ficaram sempre logradas!
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Amadora
27-7-1989
"Obrigada!"
Nunca havia sucedido. Por esta razão, foi grande a surpresa. Acontecera antes, mas com senhoras, dizendo "obrigado" para um cavalheiro. O que estou expondo era habitual. Entretanto, lá diz o povo:
" Aprender até morrer!"
Primeiramemte, ouvi "obrigada " a certo motorista, dirigindo-se então a uma senhora. Até aqui, o erro vulgar. O caso. porém, abrangeu outras áreas, ainda por explorar. É que, de momento, dirigindo-se então a um cavalheiro, empregou "obrigada". Era este um caso, para logo citar o
provérbio latino: " Hoc opus hic labor est!
Em tradução avançada, iria dar isto: "Aqui, realmente, é que a porca torce o rabo!"
Sejamos práticos. não fazendo má figura!
Agradece um cavalheiro? Dirá então "obrigado! Agradece uma senhora, cabe dizer "obrigada!"
O cortejo, porém, não cessou ainda! Para maior desgraça, falando sobre Angola e os vários portugueses que lá trabalham. elucida ele, referindo-se a um amigo: Esse dito sujeito é lá "corporante"!
Que vamos nós fazer?! Uma nação de quase mil anos vai, por este passo, encontrando-se às portas do século XXI?
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Amadora
28-7-1989
Outra surpresa! Desta vez, sim, é que foi bombástica! Recebo um telefonema do Hotel-Jardim. melhor dito, com certeza, Tivoli-Jardim, Este nome composto ressoou familiar aos meus ouvidos. Escutara-o já antes, possivelmente, havia 4 anos! Entretanto, quedei-me confuso e algo hesitante!
Perante o facto, esclarecem logo, do outro lado: é a Julieta, filha do casal, Belmiro Fonseca.
Então, sim, deliro a fundo! Ia chegar uma prima que posso dizer, nunca eu vira ou então que não vira jamais, após os dois anos. Decorreram, pois, 69 anos! É obra!
Claro! Tendo ela 4 , e eu só 2, era, na verdade, como se, de facto, nunca nos víssemos, Estava em Portugal Felicidade Fonseca, de quem eu, em menino, ouvira falar.
Meu pai embalava-me com seu irmão Zé, que estava na América; a cunhada Laura, nascida na Guarda; a prima Felicidade!...
Estas recordações ficaram para sempre, não sendo o tempo capaz de eliminá-las!
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Amadora
29-7-1989 Cont.
Ia, pois, realizar um sonho de longe, embora não total, uma vez que os tios já Deus os levara e os tem consigo, no reino da glória.
Apesar de tudo, fiquei logo em brasas. De tal modo reagi, que nada me rendia o labor que tentava.
Pelo telefone foram perguntas e vieram respostas, Houve uma delas que me fez resgir:" Só hoje ou amanhã,pdemos visitá-lo, aí na Amadora, uma vez que, wém 29, partimos já para o Algarve.
Ouvindo isto, procurei acelerar o ritmo sas coisas, dizendo com ânimo: venham já hoje! Aguardo-os aqui, ond e me visitaram. há 4 anos.Até já!
Neste comenos, demando o rés-do-chão, onde permaneci mais tempo do que esperava.
Afinal, haviam estacionado o meio de transporte aqui bem pertinho. No entanto, perguntando pela rua 27 de Junho, encolhiamos ombros, dizendo as gentes que não sabiam. Isto fê-los atrasar, pendando já que não davam com o sítio. Mas, finalmente, aparecem risonhos 4 elementos: dois casais!
Destes 4, apenas 2 eu vira antes. Belmiro Cruz e Felicidade eram desconhecidos. Os dois últimos encontram-se já na casa perigosa dos 70 e
80! A filha Julieta e o Engenheiro, José vão ser avós, mas ainda são novos.
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Amadora
30-7-1989
Uma vez em presença, vèm logo abraços , cheios de calor e vozes de ternura, com sorrisos de envolta, Seguem perguntas, acerca da origem, a restante família dos Estados Unidos; outras pessoas que julgo amigas.
Entretanto, convido-os a subir ao 3º andar. A Felicidade tenta eximir-se, mas animei-a um pouco,e ela então encheu-se de coragem. O mais velho de todos, o primo Belmiro, é seu marido, já com 78. Apesar de tudo, subiu à maravilha! As suas belas cores, dum vermelho carregado e um tanto vivo, para a sua idade, falam de saúde, aspirações e bem-estar!
Personagem curiosa! Olhar vivo, penetrante e ágil, é bastante cómico, algo charadista e bom companheiro. Gostei imenso dele! Inspira simpatia, com seu espírito um tanto jovem, desentranhando-se em ditos que provocam alegria.
É, de facto, uma ventura, quando alguém como ele faz parte dum lar, em que deixa a marca da jovialidade! Tenho imensa pena de não havê-lo conhecido, muitos anos atrás,
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Amadora
31-7-1989
A prima Felicidade é que era para mim o elo principal! Desejoso de vê-la, havia já anos, nunca fora possivel realizar a aspiração. A nossa avó referia-se a ela com muito carinho.
Um belo dia, saiu-se com esta:"Olha lá, Pedro, hás-de casar com a Felicidade!
Nessa altura, andaria, talvez, pelos meus 10 anos! Ouvindo aquela frase, logo estremeci, agitando-me, ali, bem fortenente. da cabeça aos pés.
A palavra "casamento" e outras que tais à maneira de amor, fado, sexo e o mais, não podiam ouvir-se, no contexto familiar. Julgava até que era pecado! Além disso, minha santa mãe tinha enorme cuidado em que nada manchasse o coração do menino!
Nessa data, era a munha aldeia bastante sã, embora houvesse algum exagero, uns laivos de fanatismo e algo de maniqueu, em certos lares. Coisas da época! Mais valia assim que desandar para o lado contrário.
O meio termo é que estaria certo! Por estas razões, ouvindo a sugestão da nossa avozinha, caí de muito alto, apressando-me a dizer: que minha mãe não saiba, pois de outro modo, já eu tenho decerto uma sova exemplar!
Apenas acrescentei: quando tiver os meus 17, falaremos então, a respeito disso
Episódios de longe, que marcam a vida, enchendo-a, não raro, de poesia e sonho! Havendo conversado, por algum tempo, descemos novamente em busca de sítio, para jantarmos. Preferimos aqui perto, o que
chamam " Principal", a caminho da Estação.
Depois, foram para Liaboa, e eu subi, de novo, ao 3º E. onde recordei
o que havia ocorrido, nessa formosa e bela tarde!
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Amadora
1-8-1989
Um Caso
A menina X tem nesta data, 24 anos. Nada lhe falta do que é invejável às filhas de Eva: qualidades morais e adornos físicos. Tem,
além disso, um Curso bom e meios de vida que outras, de facto, jamais alcançaram.
Atendendo a isto,iríamos dizer que ela é feliz. Pois não! Bem ao
contrário! E inditosa, de nada servindo quanto a distingue de muitas outras!
Meteu-se o diabo na sua vida íntima, segundo consta, impedindo assim a reslização de seus altos ideais.
Gostaria de orientá-la, caso aderisse e eu vivesse perto. Dói-me bastante que tudo assim vá, pois a conheço, desde pequenina, sendo vizinhos, em tempo recuado
Passo agora a expor algumas circunstâncias que chegaram até mim.
Namorava ela certo rapaz, que muito a prendia. Simultaneamente, fazia-se a ele outra donzela que, facilitando , veio a conceber rechonchudo bebé.
Este facto inesperado alertou para breve os avós da criança, que tudo fizeram para vê-los casados. Isto aconteceu, ficando a primeira em extremo desolada
Que sucede então ?! O recém-casado não abre mão dela, fazendo-lhe ver que tudo o que fez foi contrariado e que, afinal, todo lhe pertence!
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Amadora
2-8-1989 Cont,
Consequências graves desta situação.
Imprevisíveis? Quantas vezes sucede! Uma coisa, no entanto, é assaz provãvel: não haver bom fim. É uma fonte perene de funda inquietação, que perturba a vida; um remorso pertinaz que não larga a vítima; um nó perdurável, forte, violento, que força a garganta.
Do casamento havido brotam rebentos : são as crianças! Esta barreira é intransponível! Rouba-se o pai àqueles inocentes, que ficam desamparados?! Comete-se adultério, levando outra parte a igual situação)!
Como se vê, é um nunca findar... um cortejo enormíssimo de horrores e vinganças, despeito e mal-estar!
Não havendp paz, adeus felicidade! O caminho a trilhar, antes de mais, é
renunciar a tais loucuras. Afastar.se, o mais possível, não permitindo o mínimo contacto! Por outro lado, que pode surgir de tais situações, em que duas mulheres , levadas por ciume, recorrem a tudo?!
A que tiver mais senso, haja embora mais razões, é que deve afastar-se, no mínimo de tempo!
No caso exposto, há-de ser, como julgo, a que não é mãe, já que apenas ciúme despeito e vingança entram em confronto.
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Amadora
3-8-1989
Será o homem animal de imitação?
Vi-os ontem apenas, viajando no auto-carro. Eram reês. Ao que parece, hão-de ser os pais e o primeiro rebento, que andará, talvez, pelos três anos, ainda incompletos.
O meúdo, agora, vai ao colo da mãe, olhando fixamente, para o longo comboio, que chega à Estação. Enquanto o faz, aponta insistente com o indicador, comprazendo-se os pais em dar atenção e olhar também.
São todos felizes: a mãe carinhosa, que o beija enternecida; o pai, enlevado, que olha comovido a cena adorável; o ditoso petiz, que se vê acarinhado e com segurança. Eu, ali, encontrava-me perto e acompanhava atento a sequência dos factos.
As crianças encantam-me: são como feitiço, de que eu, na verdade, não posso libertar-me.! Enternecem-me, a valer, as mostras dos pais.
Enquanto me detenho, fixando o meúdo, com grande enlevo, o pai abre a boca, desmesuradamente, facto banal que não passa despercebido ao lindo petiz.
Presenciando isto, imita seguidamente o autor de seus dias.
Ora, o que veio seguidamente foi, na verdade, um "o" pequenino e mal esboçado, por não ser natural.
Apesar de tudo, era quase de magia a posição dos lábios! Jamais esquecerei aquela imitação: mais parecia uma letra maiúscula!
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Amadora
4-8-1989
" Até me envergonho de ser português!"
Isto, exactamente, dizia um sujeito, algo desesperado, junto à paragem dos Transportes Públicos.
Encontrando-me perto, quis logo saber a razão do seu dito.
Volve o cavalheiro, arrebitando o nariz, e dando à fala um tom
doutoral: " Não vê esta gente a fugir dua paragem, buscando logo outra?! Se o carro 51 não pára aqui, por que razão aqui se detiveram?!"
Eu ouvi silencioso, não aceitando, por modo cabal, a sua discordância. Pois não acontece haver dois ou mais carros que sirvam para o mesmo, tendo eles embora cifras diferentrs?! Entretanto, deixei-o desabafar, muito à sua vontade.
Para mais, era um tanto surdo! Por fim, interpelo-o, do modo seguinte: preferia, talvez ser castelhano?
--" Ai, não! Isso nunca! Deus me livrasse! É que eles são ainda mais estúpidos! Para aí, jamais! Antes ser cão!"
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Amadora
5-8-1989
Profunda razão da má vontade aos nossos vizinhos.
É corrente, em Portugal. o seguinte rifão:" De Espanha nem bom vento mem bom casamento!"A primeira parte é da própria Natureza (agentes climáticos), pois o Norte e o Leste que formam testada com a nossa Pátria,
brindam-nos sempre com ventos secos. Por esta razão. absorvem humidade, em vez de originá-la. São ventos nocivos!
Quando eles actuam, por longo tempo, geram calamidades!
A questão do casamento é já de outra ordem. Alude, por certo, àquelas desavenças, que gera sempre o temperamento, por ser diferente.Influi
também a natural discórdia, motivada em geral, por má vontade, reinante em ambos
Resta, pois, descobrir qual é o motivo deste azedume, que nasce com as gentes. Se eu bem discorro, vamos encontrá-lo na tendência absorvente do povo castelhano que se habituou, já de longa data, a acorrentar os outros povs da Península ibérica.
Foi o caso da Navarra ( país basco). em 1516; o da Andaluzia. em 1492; e assim por diante!.
Tentando fazer o mesmo ao reino de Portugal, nunca lá chegaram!
O período triste 1580-1640 iludiu os Castelhanos, aguçou o apetite, mas a rigor não tirou a independência: conservámos a língua, a bandrira e a moeda. Também não é estranha a partilha do terreno, aqui na Europa,(rixas entre irmãos) e o avanço normal dos Descobrimentos, que deram aos Lusos
fama iniversal
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Amadora
6-8-1989
Javardices.
Frente ao Museu dos Coches, aguardava eu que chegasse minha irmã,, coisa habitual. pelas 7 e 15. Emtrementes,, dilatava o olhar, pelo arredor, condrguindo assim, distrair-me um pouco, durante o lazer. Nisto, varrendo a testada, mais uma vez, na Praça Albuquerque, depara-se um homem, de costas para mim. tentando agilmente libertar o nariz, do imundo conteúdo
Era junto do gradeamento, lugsr preferido,para as gentes se encostarem.
Ora, o dito cavalheiro esforçava-se ao máximo, afim de aliviar o conteúdo do nariz, bastante oprimido. Má respiração, mal-estar e incómodo? Fosse o que fosse, ele bem puxava, uma vez e outra, recorrendo aos dedos . Debem forma de tenaz.
Debruçado ali, no parapeito metálico, deixava grosso monco , no lugar exacto, onde outros, depois, iriam encostar-se!
Deu-me aquilo no goto! Até porque , em seguida, puxou do lenço,
afim de limpar a mão ensebada! Aonde nós chegámos, já no final do século XXI?!
Apurando o olhar notei edtranho o sujeito em causa!
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Amadora
7-8-1989
Très anos e tal?
Se não era exactamene, julguei-o assim. À distância enorme, a que eu me encontrava, a meúda enxergada parecia um pigmeu. Eºe, um gigante! De facto, era tão sensível a diferença, que me chamou a atenção este caso singular! Entretanto, não foi precisamente o aspecto em causa o que mais
surpreendeu.
Isto era banal.Uma nota houve, que fundo me chocou! Brincavam os dois sobre o relvado, na Praça, Albuquerque. Uma pequena bola, feita de borracha, era o bastante, para os distrair. O pai, brincalhão, simulava corridas, para chegar primeiro e captar o objecto. Ela, no entanto, é que ganhava, sublinhando a façanha, com gritos de a legria.
O mundo envolvente não contava para eles! Eram um do outro com as almas fundidas, numa só unidade! Perante o caso, fiquei extasiado, procurando, ali, descobrir a causa desta realidade. Não foi longp, não , o
tempo de pesquisa. Encontrei-o, realmente, no factor adaptação, produto de amor e, juntamente, de psicologia..
É o que falta, nos casais, para serem felizes: adaptação constante e bilateral, ao longo da existência
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Amadora
8-8-1989
Contraste
Logo perto de mim, relaxava os nervos certo cavalheiro, a quem o facto aludido passava em falso. Quanto a idade, játeria em cima uns bons 70! Sentava-se ele muito à-vontade, alargando as pernas de maneira tal, que
ocupavam o banco, deixando-me apenas magra extremidade
Gordo e anafado, abria larga boca, frequentes vezes, dando a impressão de que estava em causa o seu apetite..
Um bom gastrónomo, um S ancho Pança, em terra portuguesa, a quem só agradava comer e beber?! Apenas a matéria ele via de bons olhos?! As coisasa do espírito, a Arte, a Beleza, o mesmo Bem pareciam realidades a que andava alheio! Pois se tinha em frente um quadro tão belo, que falava de amor, enlevo e carinho!...
Nada lhe dizia?!
Velho Sancho Pança, em terra lusitana, que é que t e enleva, nessas banhas untuosas?! Andarás tu cego, para as grandes realidades que eu tanto carinho?!
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Amadora
9-8-1989
Exploração do homem por outro homem!
Quando estava em África, ouvia, tantas vezes, dizer aos Chefes: " Vamos acabar, de uma vez para sempre, este cancro social -- ser o homem explorado por outro homem!
O tempo foi rodando, ao passo que eu, preocupado em extremo, observava atento o agir de tais líderes, alcandorados já, no trono do poder!
Eram presidentes, reis, imperadores; primeiros ministros, cúpulas do mundo!
E que foi então o que eu apurei?! Coro de o dizer! Com bem poucas excepções, notei horrorizado, que eram esses mesmos os grandes vampiros
dos povos nascentes!
Palavras mentirosas! Alcançado o poder, abusavam dele, segundo o capricho! O povo infeliz é que paga tudo, abandonado ali à triste situação,
por outra pior!
Entretanto, não julguem os Pretos que apenas os Brancos eram exploradores, em ordem aos nativos! Cá na Europa, entre elementos da mesma cor, sucede igual coisa!
É triste reconhecê-lo e mais ainda revelá-lo!
Agora, a ambição e a crueldade; o empedernimento do próprio coração; a
falta de honradez; carência de escrúpulo; escassez de piedade bem como o
abandono dos princípios cristãos fazem igualmente que o homem vil explore o semelhante, seja ele da mesma cor, profissão e credo!
Casos já eu vi que são mais espantosos, uma vez que sucederam, entre membros de família! O que é mais inteligente, astuto e sagaz, recorre a seus dons, afim de amarfanhar o pobre semelhante!
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Amadora
1o-8-1989
Bichas compridas e malas de mão.
Parece, às vezes, não haver relação, entre certos dados. No entanto, bem vistas as coisas, acha-se algures, quando menos se pensa! É o caso de agora.
Antes de mais, devo elucidar um ponto básico: não se trata afinal, de bichas que mordam: antes filas de pessoas que esoeram sua vez. No caso presente, aguadam, na verdade, que chegue o auto-carro.
Como se deslocam, dum lugar para outro, acomodam os precisos em malinhas jeitosas, que levam no braço. Qualquer peso, no entanto, sendo persistente, é causa de moléstia. Não diz isto, afinal, a máxima popular: "Saco de penas, ao longe pesa?!" É de facto assim!
Ora bem. Para descansar o braço fatigado, ou se muda para o outro ou se poisa no chão o dito objecto. A última saída é que tem preferência.
Para isso, é deveras necessário que o chão esteja limpo!
Ora, que é que sucede, ao longo das bichas? Uma coisa triste e assaz de lamentar: em frente das pessoas, avulta e perfila-se um cordão de saliva.
misturada com escarros, pontas de cigarros e outras coisas mais!
Sendo isto assim, pergunta-se então: onde colocar a pobre malita?
Vamos colocá-la sobre a lixeira?!
Que tristeza imenda e que grande atraso!
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Amadora
11-8-1989
Valerá bem a pena sentar-se alguém nos bancos de jadim? A resposta a dar é afirmativa.
Em abstracto, não vou discordar. Efectivamente, qual é o fim que mantém ali os ditos bancos. tendo por dossel a copa das árvores? É, na realidade facultar às gentes um lugar aprazível, onde haja conforto e
sombra deliciosa.
Como é agradãvel, por forte calor, passar confortado as horas escaldantes,, tendo por ajuda um livro bem escrito, que nos vá instruindo e tornado melhores! Mas, para isso, exigem-se, obviamente, certos requisitos.
É o que falta em Lisboa, onde eu, às vezes, permaneço também. durante breve tempo! Sucede, por vezes, erguer-me à pressa, barrando o vómito!
Nem falo do excremento da nocturna passarada nem do lixo abundante, ali depositado pelos pés de alguém! Há quem troque as posições, ficando mais alto, para todos verem a sua estupidez! O que mais enjoa é, na verdade, o que ali se nota, à volta de nós! Escarros e saliva, pontas de cigarros, cascas de frutos, papéis imundos, latas de conserva, restos de comida e o mais que falta!
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Amadora
12-8-1989 Cont.
Sei muito bem que a Câmara de Lisboa vem lutando pelo asseio, boa arrumação e ordem nas coisas, como nas pessoas. Entretanto,
os frutos são lentos e pouco visíveis! Está bem provado que, entre nós, portugueses, não bastam palavras! É como nas aulas, em ordem aos alunos!
Exactamente!
O nosso Camilo que era bom psicólogo, fez certos reparos e deu conselhos que merecem atenção! Observa ele, de maneira arguta, que é melhor não punir, utilizando outros meios. Apesar de tudo, acrescenta , a
propósito, que os alunos portugueses devem convencer-se e que é possível. às vezes, serem castigados.
Conhecia, a rigor o terreno que trilhava.
Seria muito bom imitar os Espanhóis que, além da campanha e das boas palavras, encarregam a Polícia de vigiar as pessoas, obrigando-as no acto a depositar as coisas no devido lugar.
Já fizeram isso a bons portugueses que atiraram para o chão as pontas de cigarros!
O chão não é, afinal, para sujar!
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Amadora
13-8-1989
Como é possível o que vi fazer?!
Diz o velho adágio: "Quanto mais vivermos mais ainda veremos!"
É isso exacto! Os factos diários vêm confirmar o velho anexim.
Se alguém me contasse o que eu presenciei, duvidaria bastante, mas se eu
próprio vi!
Era uma mulher que viajava comigo, na Rodoviária.
A páginas tantas, faz-nos surpresa: tira-se de cuidados e, sorrateira, cospe no veículo. Caí das nuvens, qiando tal verifiquei! Apurando melhor a observação, não fosse enganar-me,, fico sem fala! Era verdade!Lá estava no chão o corpo de delito! Desfazem-se as dúvidas! Fica o espanto!
Naõ será lastimoso que isto ocorra, no século XX?! Às portas já do século XXI?! Num povo famoso que é dos mais antigos, cá na Europa?!
Gostaria imenso de ver a morada, onde ela habita! Sou levado a crer que ganhou tal queda, fazendo cá fora o que pratica decerto, no próprio lar! Que javardice! Gera náusea tal agir!
Os utentes da viatura ficaram enjoados, com gana funda para vomitar!
Vamos bem atrasados, pela via do progresso! Muito ainda temos para realizar!
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Amadora
14-8-1989
Data Memorável!
Por via de regra, quando uns cantam, logo outros choram! O pior de tudo é que tal choro se faça a expensas daquele regozijo!
Estão agora no alvo Castelhanos e Lusos. Onda enorme de alegria percorre o país. de Norte a Sul, por havermos ganhado a batalha fwmosa de Aljubarrota, que assegurou com firmeza a independência do nosso. País.
Em razão disto, goi justa a nossa luta, em que bons Portugueses se bateram como heróis, cobrindo-se de glória.
É de lembrar D. João I e o nosso Nuno Álvares!
O êxito alarmante que levou a derroto a um grande exército, muito superior e mais bem armado, foi decerto humilhar os nossos vizinhos, matando assim a ambição desenfreada, que os levou, mais tarde, a integrar pela força,, os outros reinos da Hispania ( Península Hispânica ou emtão Hibérica.
Isso veio, mais tarde, criar-lhes problemas, que hoje são candentes: a
Catalunha, o País Basco.etc.
Moderem, pois, a sua ambição, procurando agir como bons vizinhos e imãos cordiais! Outro caminho só les traz dissabores!
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Amadora
15-8-198 Assunção de Maria
Levada ao Céu, em corpo e alma, pelo próprio Deus; Ascensão -- levado ao Céu em corpo e alma pelo seu próprio poder ( nosso Senhor Jesus Cristo). Por esta razão, se distingue o Incriado do ser criado ( Nossa Senhora) . Apesar de tudo, foi grande privilégio: isenção da corrupção, no seio da terra!
A crença arreigada na Assumpção da Virgem vem já dos primeiros tempos do Cristianismo. Entretanto, só neste século ( 1950) é que Pio XII
proclamou (ex cathedra) este dogma de fé.
É curioso observar que os Ortodoxos não ficam decerto abaixo dos
Católicos, na devoção àVirgem Maria. Parece-me até que dão mais pompa
às suas festividades.
Quem fica abaixo, muito em baixo, são os Protestantes, para quem a Virgem é mulher como as outras, sem distunção!
Pela Santa Escritura que eles seguem à risca, foi na verdade uma figura apagada.
Entretanto, por sua virtude e desígnios do Céu, é que Ela realmente,
viveu sem brilho nem fama universal, nos primeiros tempos.
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Amadora
16-8-1989 Chanada Telefónica.
Foi ontem o caso. Insistira, várias vezes, mas sem resultado. Já de noite, já de dia, a horas diferentes, era tudo a mesma coisa: o calado em resposta ou que não estava.
A princípio, respondia Odivelas, pelo gravador: "o número antigo foi alterado: onde está 98, ponha 93, sendo o resto igual,"
O tempo decorria, urgindo um contacto com o José Duarte. Finalmente, lá fui encontrá-lo, na sua própria casa, sita em Odivelas. pelas 21 horas ou um pouco mais.
Fiz-lhe então saber da preocupação, com o meu original, entregue à
Europress, com vista imediata à publicação, caso lhe interessasse, comercialmente..
Decorreu já um ano, sem nada transpirar!
Diz ele, por fim:" Na quarta- feira, dia 16, encontro o editor. Ficarei a saber o que está resolvido. Depois, telefono!"
Aguardo, pois, ansiosamente, que venha o resultado: negativo ou positivo.
Hoje será!
Este original, Diário vivo de 1975, escrito em Angola -- anda em consultas,vai para três anos. Creio não me enganar, dizendo, a propósito que, no mês de Outubro, iniciou ele a caminhada inglória
Vamos ver se passa, ao menos desta vez. Os outros irmãos aguardam a sorte que vai caber-lhes também. É que, saindo bem o primeiro lançado, vão compartilhar da sua vitória
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Amadora
17-8-1989
Na Rodoviária, trocavam impressões três damas lutuosas que, pelos modos, eram bem fiéis a costunes cediços. Todas concordes no assunto que as prende, figuram três peças dum só mecanismo.
O tema em discussão era certa jovem que eu não conheço, mas avaliando pelo que ouvíamos, apoiado vivamente por todo o grupo, deve ser teimosa, recalcitrante e senhora absoluta do seu nariz!
Ignoro, realmente, se ela pertence a qualquer das três. Até julgo que sim. Bom. Estando ao pé de mim, que eu o não quisesse, tinha de ouvir as recriminações, embora não fosse dado intervir no diálogo.
Dizia-se à boca cheia: " Se fosse minha filha eram logo befetadas, que empolavam as bochechas!
Sublinhava a segunda: "A importância dava-lha eu! Olha a 'desanvergonhada' Já umamulher e o que se atreve a fazer!"
Neste comenos, avança uma terceira:"Eu cá , era logo de principio! De pequenino é que se torce o pepino! Mas eu garanto: se tivesse a ousadia de levar a dela avante, nem os Santos lhe valiam! Partia-le a cara! Olha a figurona!
Assim decorreu o processo da manhã, fazendo-me lembrar os hábitos da aldeia!
Isto. assim .não é educar! Donesticar, isso sim! Processo igual se aplica aos animais! Não é pela força, mas pelo amor, a partir da convicção.
Seguindo na vida o trilho das danas, só teremos revoltados, elementos inúteis, em tudo vãos!
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Amadora
18-8-1989
Evocação!
Vem agora ao de cima o 24 de Agosto, que deixou na minha alma o perfume da infância! Com ele de permeio, surgem, desde logo. formosos vultos, que a morte cruel retirou, para sempre, dos meus caminhos, cá neste
mundo, pois que no outro espero encontrá-loser ficar para sempre em sua
sua companhia.
O S. Bartolomeu é o último dia da feira anual, que se realiza, na vila de Trancoso. Durava uma semana, o que levava, pois, a iniciá-la, no dia 17 ou então 18.
Decorreram muitos anos, mas a lembrança aviva-se em mim.
Quem marcava presença era meu pai. Como ele vibrava, em dias assim! Por via de regra, vendia e comprava. O forte dele e as suas preferências iam iam decerto, para o gado bovino, que tinha o seu auge, no dia 21 como 22.
Além disso, não punha de parte o gado equíno.
O entusiasmo do pai adorado, as grandes aspiraçõres cuidados, comunicavam-se a todos, no lar idolatrado
Nós, os meúdos vivíamos a fundo esses dias felizes,, devido às surpresas que nos aguardavam. Poe estas razões, uma vez a caminho o chefe de família, os nossos olhitos dilatavam-se breve, na extensa paisagem, até se
perderem, na linha extrema do horizonte distante...
Que funda ansiedade então nos invadia!
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Amadora
19-8-1989 Cont.
Nesses anos remotos, o percurso inteiro era feito a pé. Saía-se, pois, de Vide-Entre-Vinhas,, ao cair da tarde, para chegar a Fiães, por noite cerrada. Para trás, ficáva-nos já Celorico da Beira, a Estação do Caminho
de Ferro e os Banhos da Emília. Após estes, a subida em torcicolos, que leva da estrada à povoação se Fiães.
Aqui pernoitava aquele Pai adorável.
Comid o farnel que uma pinga de vinho ajudava a engolir, dormia tranquí-lo, em velho cabanal, onde havia muita palha.
Ao outro dia, logo cedinho, a derradeira etapa que era já breve.
Os pimpolhos e a mãe haviam ficado, no Carvalhal, Da velha casa, espraiavam-se os olhos, aguados e saudosos, vasculhando caminhos e
seguindo pela estrada que nos levava a Freches.. Ao longo dela, corriam pressurosos veículos sem conta!
Para chegar mais cedo, não viria o paizinho em um dos tais?!
Como podia ser, não havendo estrada para a velha aldeia?! Por outro lado, as novas reses tinham, por força, de vir a pé!
Tais pormenores passavam ocultos à nossa imaginação!
Cerrava-se a noite que era já segunda! Num momento qualquer havia de ele chegar! Por esta razão, fugia pata longe o sono habitual! Entretanto,
as horas sucediam~se e os olhos impotentes, da enorme fadiga, deixavam lentamente que Morfeu bondoso os pusesse em descanso!
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Amadora
20-8-1989 Aqueles Beijos.
Julgará o leitor serem, por ventura, beijos escaldantes, verificados já,
nas tele-novelas? Destes, afinal, vêem-se a montes, inúmeras vezes, em cada dia.
Toda a gente sabe qual é, de facto, a sua natureza. Artificiais e exagerados, procurando mostrar a pronta efervescência da carne em fogo e um falso amor que, de facto, não existe, caem à toa, atropelando sempre as regras da decência.
Um beijo autêntico, amoroso e leal, generoso e sincero, é sempre moderado, nunca em desdouro, fúria, destempero.
Basta ver, na verdade, como são geralmente os beijos das mães. Foi isto mesmo o que hoje observei, no cemitério da Ajuda. Uma senhora velhinha, encostada à bengala e amparada ali por duas amigas, olhava para a urna, cheiinha de angústia.
Ao vê-la aberta, avança pressurosa, enquanto vai dizendo:" Filho da
minha alma e do meu coração! Aih! Em seguida, inclina-se tremente, afim
de beijar, pela última vez, cá neste mundo, um rosto cadavérico, para ela sagrado!
Que suspiros fundos arrancava do peito! Que lágrimas ardentes brotavam de seus olhos! Que beijos amorosos, sentidos, verdadeiros ela
depunha nas faces álgidas e hirtas do filho estremecido!
E eu olhava fixamente aquele rosto de mãe, aiquebrada e torcida, que via, consternada, separar de si própria, o filho tão querido que gerara,nas entranhas!
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Amadora
21-8-1989
" Quando se tem filhos"
Ouvi eu próprio este membro de frase, na Televisão. Arranhou-me o ouvido, pelo que ntão me pus a magicar. Após isso, a dúvida aumentou,
chegando à conclusão de que não é aceitável a concordância do verbo.
Vieram logo ao de cima frases similares, melhor diria, membros de frases, tais como estas: compram-se casas;erguem-se prédios, dão-se esmolas;
renovam-se contratos; retêm-se bens; aguentam-se malogros; detêm-se malandros; contêm-se iras; têm-se maneirar que não desagrada; etc,
Vê-se claramente que o sujeito delas é o substantivo que e stá junto ao verbo
Trata-se, afinal, da voz passiva, formada ali com a palavra "se" que
apassiva o verbo: compram-se casas ou casas são compradas. O agente
da passiva fica indeterminado: por alguém; por muita gente; por poucas pessoas.
Na cláusula do topo, o verbo ter significa possuir, ter de seu.
Construindo a oração como foi ouvida, equivale ao Francês: Quand on a des enfants.
Nesta língua, porém, está correcto. Sujeito: on; predicado:a; complemento directo: des enfats
"On" deriva do sbstantivo latino "homo" (homem).
Nenhum clássico nosso abona a connstrução que se vê ao alto.
Refiro-me, claro está, aos grandes Mestres da Língua Portuguesa , como
Castilho, Herculano, Vieira,bernarde,Sousa, Garrete e outros
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Amadora
22-8-1989
"Tudo bem?"
Ouve-se a rodos esta pergunta, ao longo da jornada.
Quanto a mim, não sei porquê, nunca sucedeu cair-me em graça. Embirrava com ela, não a perflhava e até, por vezes, chegava a irritar-me..
Perante o caso, pus-me a estudá-la, fazendo então por extrair-lhe toda a substância. Uma vez assim , veio a conclusão: é uma expressão, vazia de conteúdo: hipocrisia, sim, é o que revela.
Jogos de palavras que o mundo utiliza, sem atender ao significado?
Como pode ser o que a frase encerra? Alguém haverá a quem tudo corra segundo o seu desejo?! Sendo isto assim, a que propósito vem a citada
pergunta?Não diz o anexim :" ninguém estã contente com a sua sorte?"
Razão tinha eu, para não acarinhar os dizeres referdos!
"Comment ça va?"-- como usam os Franceses ou o"hoe gaan dit" dos
Sul Africanos, ainda se toleram!
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Amadora
23-8-1989
"O prazer foi todo meu!"
Hora a hora, se ouve esta frase, mais que banal! É chapa jã gasta, como a anterior. Debrucemo-nos, pois. sobre o conteúdo,analisando-o bem. Logo à primeita vez que alguém rematou, por esta maneira, fiquei indisposto
Foi um prazer encontrá-lo aqui!
-- O prazer foi todo meu!
Perante a saída, egoísta em excesso, quase me fui abaixo! Nada para mim! Tudo para os outros! Assim, não é viver!
Se me disessem: "Para mim também!"nada objectava! Equilibravam-se as doses. Tudo por igual!
Evidentemente, querendo tudo alguém,, nada fica pwrw os outros!
Toda a gente o emprega? Não tenho culpa disso!
Entrou, possivelmente, nos hábitos da Língua? Não devia ser!
O egoísmo é um dado negativo, que devemos combater! Opõe-se ao amor! Ora, sem ele, não há felicidade!
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Amadora
24-8-1989
Ainda o " Tudo bem?"
Claro se deixa ver que é, na verdade, uma frase hipócrita! Sendo isto assim, por que a ouvimos, a torto e a direito?! Será emtão admissível que pensemos de um modo, impingindo o oposto?!
Jogar deste jeito é não ter dignidade... ser aldrabão e meter em seu jogo as outras pessoas.
Querendo provas maiores de tal falsidade, vamos encontrá-las, na Sagrada Escritura! " Omnis homo mendax" ( Todo homem é mentiroso).
Se tudo corresse bem, era o discípulo muito mais que o Mestre! Este
sofreu pelos nossos pecados e nós, em troca, gozávamos a vida?! Tomaríamos parte na Paixão do Senhor?!
Se Paulo de Tarso, inspirado por Deus, escreveu o seguinte: "Completo no meu corpo aquilo que falta à Paixão de Cristo!"
Correr tudo bem, segundo o conceito do mundo pagão, é gozar a vida, não tendo barreiras que vedem o prazer... não achando espinhos no seu
caminho nem entraves, por igual, em suas aspirações.
Como se vê, é pois anti-cristã a pergunta usual que vemos ao alto.
O Apóstolo S. Paulo tem outra frase, mais arrepiante: "Castigo o meu corpo e reduzo-o à escravidão, para que não suceda que, tendo pregado aos outros homens, eu me venha a condenar"
O sofrimento, a cruz e a dor bem como a angústia, fazem parte da vida e
ninguém, por mais pintado, é capaz de furtar-se a este plano, gizado no Céu, para nós, pecadores!
É que todos nós somos réus de culpas. Ora bem: ofendendo ao Senhor, ficamos devedores.
Que acontece a quem deve?! Tem de pagar! Ora, um dos processos de satisfazer é levar cada um a cruz da vida. Não há repontat nem tentar eximir-se. A lei é geral, estendendo-se, pois, a toda a Humanidade.
No Pai- Adão todos pecámos, A isto acrescem as faltas pessoais.
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Amadora
25- 8-1989 Deserções
A curiosidade afecta o ser humano, sendo apesar de tudo uma fonte prodigiosa de conhecimentos e fautora de progresso. Às vezes. porém. tem aspectos malsãos ou se envolve em malícia, com vista à destruição.
Não é desta última que intento falar; sim, da primeira. Vem agora a pêlo a atitude do clero ( não todo, certamente, nem a maior parte, ao menos por agora!)
Refiro-me, já se vê, aos que abandonaram o exercício das Ordens, pedindo a redução ao estado laical ou afastando-se pura e simplesmente, sem pedido à Santa Sé, para efeito de dispensa.
É de notar ainda que alguns dentre eles pediram também, sem ser atendidos. Outros ainda obtiveram parte, ficando obrigados a guardar o celibato, Situação encravada esta derradeira! Direi até inadmissível!
Bom. Prossigamos, então.
É incontestável que muitos milhres saíram das fileiras. uma vez que,da primeira leva, foram logo 8o.000! Este é um facto que ningém, por ousado, se atreve a contestar.
A sociedade olha para isto, com reacções diversas, encarando a seu modo o caso em foco.
Vou-me fazer eco de várias opiniões, já dentro já fora da Igreja Católica, para finalmenre, apresentar a minha, procurando alicerçá-la nas
Ciências Humana hoje em grau avançado, embora a Roma Papal não´dê aceitação a estas achegas de carácter científico.
As Congregações, ditas Romanas entram logo em pânico, ante esses
dados, tentando obstar ao que vai demonstrado e se torna irreversível.
Juntarei tanbém as minhas observações e bem assim a experiência adquirida, pois que, sendo atingido, me assiste o direito de argumentar,
a partir, claro está,da minha vida pessoal.
Os meus problemas somente eu os conheço e tenho de resolver! A sociedade encontra-se à margem Por isso, tenho ao que julgo, o direito
inalienável à minha integridade, no aspecto afectivo, social e psico-
lógico, humano e sexual. Foi assim, realmente, que Deus me criou!
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Amadora
26-8-1989
Interpretação nos meios católicos.
Porquê, afinal, tanta deserção?! Há várias razões,mas olho agora apenas a uma: a que tem a ver com a própria fanmilia, o amor e o lar bem como o sexo, Este, pois, o lado concreto que vou focar!
Antes de mais, ouçamos o que dizem, nos meios católicos:" É falta de fé!"
Eu contesto veemente, provando o contrário. Outros persistem e porfiam ainda, noutras razões: perda de vocação; esfriamento na vida de piedade; falta de prudência; exposição ao perigo; e assim por diante.
Num caso ou noutro, pode ser isto, no todo ou em parte, mas a causa profunda, geral e amarfanhante não se encontra aí! Muito nais longe temos de procurá-la! Situa-se ela nas próprias raízes da alma humana.
A Igreja Católica há-de confessar que errou os meios, para formar o Clero. A prova real encontra-se à vista. Obrigou os jovens a viver como velhos, de modo artificial, preparando-os logo, para viver nos Conventos, em regime de clausura.
O caso presente é deveras assombroso!Jovens ainda, com maneiras de velhos é, na verdade, artificialismo e funda punhalada no ser humano.
Antes de prosseguir, quero fazer já inportante distinção: vocaçao genuína para o matrimónio e para o sacerdócio, ao mesmo tempo?!
Não foi assim que o Fundador Celeste encarou o problema?
Que fizeram os Apóstolos, seus continuadores?
Não deram o Sacerdócio a homens casados?!
Fez Jesus Cristo algum reparo?!
O primeiro Chefe da Ugreja Católica, por Ele escolhido, não era casado?! Refiro-me a S. Pedro,cuja sogra foi curada, segundo a Escrutura.
A vocação como a Igreja a encara, é sem matrimónio.
Destas vocações que os homens criaram, procurando impô-las, à custa de tudo, é bem forçoso que haja muito poucas, uma vez que se opõem, de maneira agressiva, à condição natural do ser humano.
PERGUNTO: -- O que Deus faz pode ser aperfeiçoado pelos homens deste mundo?!
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Amadora
27-8-1989
Dizer simplesmente que é falta de fé ou perda lamentável da própria vocação é, na verdade, estribilho já gasto que não satisfaz e nada resolve! Sacudir talvez a água do capote? Não querer admitir a realidade eloquente de factos comprovados e a crueza dura das situações? Caprichar sem termo em ideias obsoletas, marginalizadas, ao longo dos séculos?
É ver somente o que escreveu Le Bras, com aquela probidade que todos reconhecem! O mesmo se passa com Rops Bardy.
Negar a evidência é ter olhos sãos e não querer ver!
O obsoleto estribilho " que ça ne se sache pas"! Foi chão que deu uvas!
Na Idade Média, ainda servia, Época de fé, o Clero Católico tinha ainda
prestígio e aura bastante, para atenuar as mazelas morais!
Que seja falta de fé? Como pode acreditar-se, vendo nos templos, esses mesmos "traidores"a dar provas claras dessa mesma fé?
Que diz o povo? " O amor e a fé nas obras se vê!" É máxima antiga!
Sim! Vejo-os ir comungando, assistindo à Missa... Fazem as leituras, ensinam a catequese; rezam o Terço; angustiam-se imenso, ante a incompreensão de certas pessoas, quer dentro da Igeja quer fora dela!
Isto não é fé?! Perderiam eles a vocação? Qual? A que Jesus exige ou a imposta à força, pelos homens deste nundo que só agravam os fardos, em vez de aliviá-los?!
Quanto a exercícios, na esfera da piedade, por via de regra, conservam o mínimo.
Casos se encontram de saturação, devido, naturalmente ao proceso errado,
seguido no Seminário. Chuva abundante que não penetrou! Erro de aplicação! Processo de trevas, segundo Condillac, o método sintéctico, na educação1
O analítico, sim! Guiar, mas não levar; dirigir, mas não forçar, como diz Garrete, no seu belo Tratado " Da Educação"
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Amadora
28~8-1989
Perguntava, sorrindo, o Dr. Dion Swart, protestante convicto e Reitor do Liceu, onde eu era profssor, em terras da Namíbia: " Por que é que os vossos padres abandonam em massa o exercício das Ordens, optando assim pelo casamento?!"
O sorriso dele intrepretava-o eu, com bastante clareza. Significava apenas que eles timham razão, há 400 anos, pois tantos já faz o Protestantismo Era realmente como se dissesse: "Vós, a rigor, é que estaid caminhando, com rumo a nós!"
Eu, por minha parte, esmerava-me então em fazer-lhe compreender que se trata apenas de questões disciplinares. Estas, realmente, podem sofrer algumas alterações, pois não fazem parte do sistema doutrinal. Até
porque o celibato não é, realmente, de origem divina.!
Os Santos Apóstolos seguiram o Mestre, no seu agir.
Perante as reacções, a voz da História, ao longo do passado. e os factos eloquentes da nossa época, tiramos conclusões que se impõem por si.
É uma corrente que não pode travar-se! Nem o Pontífice o pode fazer!
Tentando isso, ficará esmagado! É irreversível esta arrancada...
este reconhecer do logro fatal... este longo martírio que vai esboroar-se,
por ser contrário à voz da natureza, criada por Deus.: " Crescei e multiplicai-vos e dominai a Terra".
O Criador não fez excepções e dotou os seres todos de quanto precisam, para viver o amor, fundar um lar e ter família. Jesus em Pessoa teve uma família. e quando à mesa, em Cafarnaum, era ali servido pela própria sogra do primeiro Papa. Assistiu ainda às bodas de Caná. Tratava-se então dum casamento.
Os snais dos tempos são, neste mundo, a voz de Deus. É a consciência que fica iluminada, vindo porfiar em que seja criada forte oposição, logo que a Natureza sofra algum dano.
João XXIII deu o grande passo; Paulo VI imitou-o depois; João Paulo II vai recuando, mas perde o comboio. Já o não apanha!
A Natureza tem os seus direitos que são intocáveis e de respeitar.
Estas grandes certezas levaram a reflectir e a sérias conclusóes.
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Amadora
29-8-1989 Cont,
Onde mergulham as grandes raízes de taata deserção? Terão validade? Será posta em causa a formação do lar, ministrada em Portugal e bem assim a continuação, em nossos Colégios e Internatos, sejam estes Seminários? É o que vamos ver.
Não vou defender que só a imaturidade, sexual e afectiva possa justificar os casos todos. mas porfiar, sim,em que grande parte deles ( a maioria absoluta) têm de facto, ali , a sua raiz ou causa verdadeira.
As Ciências Humanas que surgiram, neste século. provam-no à evidência~.
Os casos lamentáveis que se tornaram famosos e correram mundo,
como por exemplo o do Padre Desnoyers e outros mais; aqueles muitos que ficaram ignrados; outros ainda que não chegaram jamais a consumar-se,
constituem uma prova que é exaustiva e incontestável.
É preciso descer aos recônditos da alma, examinando ali as razões gritantes que levaram muitos a deixar o Sacerdócio. Analisando as causas, quero dizer, a vida afectiva e sexual, chegamos sempre à mesma conclusão: a imaturidade, já sexual, já mesmo afectiva é que está na raiz.
Não basta dizer que perderam a fé... que foram infiéis à graça de Deus ou se intimidaram, ante as dificuldades. Não satisfaz chamar-lhes traidores ou
ainda desertores, cobardes ou monstros! É urgente pesquisar e fazê-lo com esmero, paciência, afinco.
Também não aceito que se ponham à margem, como excomungados,
pois eles. na verdade, não sáo culpados! Fê-los assim, por modo geral, o sistema vigente, quer no próprio lar, quer seguidamente nas Casa de "Formação" O termo próprio é "Deformação"
Traídos foram eles e meras vítimas de má preparação que não actuou, por ser errónea e contra-indicada.
Porque este problema é tão delicado e levou à tragédia, devemos tratá-lo com muita diligência e compreensão
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Amadora
30-8-1989 Cont.
A vida afectiva, A criança. em geral, tem fundas exigências que hão-de ser satisfeitas.
Caracteriza-se a fase pelo egocentrismo. O ser humano vive para si, exclusivamente. Tudo carreia em sua direcção:alimento e afecto. apoio e seguramça. De si, realmente, é que nada transborda!
Além do mais, não pode ser privada nem sequer defraudada, no
tocante às carências, nomeadamente o afecto. Urge proporcionar-lho naquela medida , em que ela o exige, caso contrário, dobra-se ela sobre si,
gerando situações, deveras lastimosas: o narcisismo (afecto mórbido à sua pessoa).
Em tais circunstâncias, a pobre criança, porque foi bloqueada, no todo ou em parte, desforra-se isolada, sem fonte de afecto. Tal situação origina, a longo prazo, habitual masturbação. Acostuma-se ao prazer, sem nenhum parceiro, adquirindo vícios que marcarão a sua vida. Pode ser o caminho para o grande abismo, a homossexualidade. Outros efeitos podem seguir-se: conservar, ainda, pela existência fora, traços vincados de infantilismo.
É que, na verdade, as fases da evolução não seguiram jamais o seu curso normal. A criança em causa não evoluiu. Contou anos apenas e experiência, decepções e maus hábitos: nada mais que isto! O que vem depois a caracterizá-la é, afinal,a insegurança e o próprio medo; o bloqueio total dos meios de conquista: a negação absoluta da afirmação de si mesma.
Tudo isto ocorre, porque sendo adulta, não evoluiu, acompanhando a idade e o mesmo físico, na psicologia, afectividade e sociabilidade.
Tal situação levará o rapaz à instabilidade e ao adiamento do próprio matrimónio.
Chegado o momento, em que descobre o outro, não se decide, pois estacionara, na fase anterior. De nada vale chegar à puberdade, em que é feita a descoberta dum terceiro especial, uma vez que o rapaz ou a rapariga se fixara com firmeza, estacionando, talvez, para todo o sempre ( ao menos seguramente para muito depois).
Passando quase em vão a descoberta do "outro", entra deste modo pela fase adulta, sem que os traços antigos, vincados de infantilismo, se tenham apagado.
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Amadora
31-8-1989
Cont.
Em tais circunstâncias, é um ser inepto, que não pode realizar-se: não!
Sem segurança nem liberdade nem individualidade para fazer opções: a isto o conduziu o próprio lar, que falhou o alvo, preparando um infeliz. Decisões firmes e esclarecidas, já para o Sacerdócio já para o casamento ou a vida religiosa não pode tomá-las !É incapaz! Impotente, direi, para fazer tal!
Mais! Sendo levado e não guiado; forçado e não dirigido, adapta-se a outrem, renunciando a si próprio, o que é um desastre! "Todos os conselhos tu ouvirás: só os teus não deixarás!"
Não é assim a máxima popular?! Qualquer passo que dê, não é certamente o educando em pessoa quem actua ali: são antes as pessoas que lhe insinuaram a via a seguir, repetindo-a muitas vezes, para ele se adaptar. Não foi ele, de facto quem escolheu: outros o fizeram..
Consequências más? Fatal desacerto? Se tomou compromissos, apoiado nos outros, como vai executá-los?!
Descobrindo o "outro", a mulher-esposa, já tardiamente, não pode recuar. Será responsável?! Quem foi o culpado?
Para assumir alguém a responsabilidade, é mister, naturalmente, que passe desoprimido, livre e seguro, pelas fases todas que a vida apresenta.
Daqui se vê bem que a responsabilidade cabe aos próprios pais e outros Superiores.
Eles, sim, é que urdiram a teia que envolve o infeliz, o que nem sempre acontece!
A quem aproveitarão estes seres inditosos que ninguém compreende e todos condenam?! Também Deus o fará? Julgo que não.
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Nyangana-Namíbia
\977-.09-01 Professor- charlatão.
Tem este Diário traços iguais ou, pelo menos, semelhantes a outros, que julgo haver escrito. No entanto, há certos pormenores, que o tornam diferente, Quanto a semelhanças, apraz-me, agora,
repetir o seguinte: efectuava-se em Roma a aula de Dogma, sendo
Catedrático um grande professor, eminente e culto e profundo teólogo - o Cardeal Biot.
Depois de S. Paulo e Santo Agostinho, ocupará talvez o terceiro lugar, na esfera teológica.
Ora, um dia memorável, em que o grande teólogo expunha, com brilho, o que julgava oportuno, sobre o mistério da Santíssima Trindade, Agostinho de Sousa, que era já então o urso do Colégio, pediu licença ao Mestre abalizado, para expor ali uma
séria objecção.
Autorizado que é, clareia o pensamento, deixando o Mestre em sérios apuros. Recolhe-se, pois, durante longo tempo, de braços apoiados na tribuna de professor, descansando a cabeça, amparada nas mãos.
Na ampla sala. onde havia alunos de várias nações, não se ouvia sequer o zumbir dum insecto. Ambiente pesado, de enorme expectativa e quase ansiedade se cria prestesmente! Só os olhos fulguram, levados da Agostinho até ao Cardeal!
Por fim, soa a campainha e só então é que vem à fala: " Sinceramente confesso não haver passado pela minha cabeça
objecção de tal ordem!. Peço 8 dias, para resolvê-la!"
Haverá ou não professores charlatães?! Considero tais os que nada sabem ou muito pouco, divagam e discorrem, sobre assuntos banais, para iludir e atirar poeira.!
Convido os tais a meditar, sobre este caso.
O professor "sabe tudo" ou nada sabe,,às vezes"; o charlatão é sempre ignorante.
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Nyangana
1977-09-02
Revendo agora dada Novela, que há muito iniciara, para logo abandoná-la, tenho imensa pena de não haver continuado. Efectivamente, só 12 capítulos estavam delineados.,Arrependimento, assaz extemporâneo! Lá diz o rifão:" Burro já morto, cevada ao rabo! Não há remédio!
Esta mágoa, porém, assalta-me frequente, não logrando fugir-lhe! Que eu, agora, quero rematá-la e não acho fácil! Barreiras diversas erguem-se a pique, diante de mim! Escrevo, é certo, com mais fluência; arredondo a frase e empresto-lhe ainda mais harmonia,
Entretanto, o grande problema é que sinto diferente!
Dizem os fisiólogos que todo o nosso corpo fica renovado, ao fim de 7 anos. algo semelhante, em ordem ao espírito e seus objectivos?!
Serei, na verdade, um ser diferente?! Bem parece que o seja!
Não fico surpreendido, ao reler o que pensava, meditando sobre o modo como então sentia?! Que denota. a rigor, a minha surpresa?! Fui eu, na verdade, que pus aquilo em letra redonda?! Não posso negá-lo! A vida é assim! Continua mudança!
Já o nosso poeta o havia dito: " Todo o mundo é feito de mudanças!" Só Deus não muda, por ser eterno e omnisciente!
Os seres criados são inconstantes, volúveis, efémeros! Hoje, querem sim e amanhã já não!
É tal a confusão, que nem o próprio se entende a si mesmo!
Isto que aí fica leva a concluir : só em Deus do Céu há-de pôr-se a confiança!
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Nyangana
1977-09-05
Finalizaram ontem, já pela tardinha, os Exercícios Espirituais. Foram realizados aqui na Missão. Havia sacerdotes e também religiosos de ambos os sexos. Duraram apenas 48 horas.
Para mim, é sempre alarmante e sujeita a pesquisa a maneira exacta como decorrem. Habituado como estava ao retiro fechado, mudo e pesado, faz-me impressão, aliás agradável, o modo atraente como ele se processa.
Havia alemães e alguns holandeses. Antes de mais, olhei para o horário, Tem 8 alíneas, 4 das quais para refeições, incluindo a primeira, Laudes e dejejum. As outras 4 respeitam a conferências e Eucaristia.
Deitam-se eles, à hora que lhes apraz. Durante o dia, falam normalmente, sobre vários assuntos, mesmo profanos; lêem livros, a capricho, revistas e jornais, passeiam onde querem e mais lhes agrada ; bebem e fumam. Resumo o facto nestas palavras: encontro amigável e recreativo, com breves orações, rezadas em comum.
Este modo, afinal, é tolerável, humano, atraente! Olha, de igual passo, a corpos e almas, realidades palpitantes que não podem ignorar-se. É horroroso imaginar crianças, moços ou jovens, em retiro fechado, ao menos habitual! Um horário denso, com tudo em pormenor; lábios cerrados, duranta vários dias;; leituras uniformes;
contactos proibidos; orações prescritas, em grau exagerado.
Qual o resultado? Esperar ansioso que o acto expire e criar má vontade a essas exigências. Desta maneira, vemos transformado em meio de imperfeição aquilo exactamente que devia ser caminho de alta perfeição!
Amarram-se a costumes, velhos e bafientos, impróprios da época e da pobre natureza! Quem os convence a fazer mudanças?! "Recreio espiritual", dizia com graça um padre holandês!
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Liceu Linus
1977-09-06
Está decorrendo a prova de Alemão, Standard 8. Levará
três horas, a primeira das quais, vigiada por mim: são as Frequências, que põem já termo ao terceiro período. Alguns alunos fazem seu exame que será verificado, no próximo Outubro pela Inspecção. O ano precedente, creio não ter vindo.
De amanhã a oito dias, finalizam as aulas, para haver uma pausa,que dura 11 dias. Logo em seguida, vem o 4º período, que remata, de vez, o ano escolar, em 8 de Dezembro.
Os jovens finalistas somam 19. Estão cheios de euforia, pois já melhoraram a craveira social e vêem chegada a hora feliz da independência. Como vai ser o futuro breve desta região? Deus o sabe! Estamos apreensivos e muito inseguros, Enorme interrogação se ergue ante o mundo, todo em alvoroço! Jamais foi vista igual convulsão!
Se Deus não tem dó, incutindo nos homens o respeito devido e mais sensatez, o mundo sossobra! Agora, são crimes a rodos, com violências frequentes, rapinas, extorsões, com tortura e despotismo, inveja e doblez, hipocrisia, e só mentira!
Amanhã, (quem sabe?),talvez a guerra química, destruidora da vida que só a Deus pertence! Por que intenta o homem destruir, para sempre, aquilo que não faz?! Ambição e loucura, inveja e ódio, inferno e mil diabos, que pensarão realizar, neste mundo conturbado?!
Eu tenho fé viva que Deus não dorme e se encontra vigilante.
Apesar de tudo, para que o mundo acorde e se erga prestesmente, consente, às vezes, um banho de sangue! Do mal tira o bem!
O homem de hoje parece um louco, voltando as costas a seu benfeitor, para renunciar ao belo destino a que Deus o chama!
A mensagem de Fátima é claraia comunista espalhará seus erros,
lançando a Terra em grande confusão, donde surgirá a maior desgraça! O caso triste do Império Português foi uma prova.
O mundo actual está em convulsão, Há fome de pão, fome de justiça. fome de amor! Não foi isto, exactamente, o que disse a Virgem, na Cova da Iria, há 60 anos?!
O mundo sofre, geme e agoniza mas, se não abre os olhos, vendo as coisas à luz de Deus e tirando lições, maior vai ser o castigo iminente!
Que Deus generoso mova os corações e clareie a inteligência, para que o mundo reflita e repare o mal feito. Somente
depois é que teremos paz, felicidade e bem-estar.
Rezemos, pois, e façamos penitência, por nós e pelos outros!
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1977-09-07
Nyangana
Vai Setembro em quarto! Aproximam-se as férias. Para mim, afinal, estas não existem. Não fico eu triste, batendo-me à porta?! É que, tendo aulas, absorvo-me nelas, passando o tempo, sem aperceber-me! Exercícios e lições, provas de frequência e algumas cartas não me deixam escape, em que sinta enjoo.
Aguardo as férias, sem entusiasmo, encerrado como sempre e incomunicável?! Em vez de prémio, alvoroço e repouso, é mais punição e angústia de alma!
Tudo lembra então e o passado emerge, com todo o seu cortejo de belas realidades, Pátria e família, amigos provados, lugares saudosos, que embriagam a alma, só de os lembrar; paisagens deslumbrantes, cativando os olhos... céu que enfeitiça,
ao mirá-lo ,com afecto! Tanta coisa linda, para conforto e alegria do meu coração!
Isto, porém, não encontro nem busco, em terras do Cavango!
Aqui, a solidão faz-me companhia e, logo muito perto, o soar dos canhões... Angola e Rodésia... Pode isto embalar?!
Senhor dos senhores, que governas o mundo, estás acaso dormindo?! Não vês a amargura que vai pela Terra?! Tanta desolação e gritos de angústia! Tanta lágrima escaldante!
Acorda, Senhor! Vem depressa libertar-me. Traz-nos a paz com a firme esperança de melhores dias! Move os corações
inclinando-os ao bem!
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Liceu Linus
1977-09-08
Após 4 meses, esperando ansioso pela caderneta que o Banco retinha! Chegou ontem, por fim, Veio. na verdade, mas trouxe enjoo, registando menos do que havia levado. É tudo assim, em terras estranhas! O rogado Permit ainda não chegou, quando na verdade, o fim do ano já está próximo. Prisioneiro fico, por mais uma razão.
Voltando à cdaderneta, a diferença é já respeitável! Excede os 20 contos! Amanhã, irei eu ao Rundu para lavrar o meu duro protesto, expondo o assunto, Maçada tremenda, inquietação e o meu exílio!
Ser refugiado é já um estigma! Olham para nós como entes de segunda!... cobardes e lorpas que não lutaram, pois fogem ao perigo! Só Deus entende a situação infamante e sente piedade!
O homem é mau, servil e hipócrita, egoísta e perverso!
Sacrificar-se pelos outros irmãos, renunciar ao que é seu,
embora extorquido, não é com ele. Por isso, acontece o que o mundo está vendo e o faz amargurar!: ódios e lutas, convulsões de ordem social, assassinatos bárbaros, espancamentos, violências e roubos... É mal? Sim, na verdade, mas resulta necessário, de tanta injustiça, depradação e abuso.
Quem me dera já, em solo português, onde tudo é meu e sou de facto compreendido! Psicologissa assaz diferente, costumes que não amo... idioma estranho!
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Liceu Linus
1977-09-o9
Ontem, pelas 9, desloquei-me ao Rundu. para nada obter ou melhor ainda, para convencer-me de que alguém, no estrngeiro é sombra apenas! O ex travio de dois che ques, de que eu não tive culpa fazem enervar-me, sem nad a have r lucrado, até
ao presente! Se a culpa é nossa, a ninguém nos atornamos,, sofrendo resignados o efeito necessário.
Ma s neste caso...
A viagem ao Rundu é autêntico martírio que nada pagaria! Chega-se à noite, de corpo num feixe! Tão moido eu vinha, que não pus olho, ao longo da noite!A estrada é horrorosa! Aquilo, a rigor, não é
estrada! Um caminho dos piores! Até o carro do Liceu, que afinal é sólido e bem acomodado, faz pena vê-lo e mais ouvi-lo! Parece, na verdade, um monte de latas! Nada tem que não bata!, quando em movinento!.
Além disso, devido aos buracos e largas e largas depressões, ao longo da via, é guinada para um lado, arremesso para o outro e
saltos que enervam. Doí-me a cabeça!
A niveladora passa, de vez em quando, mas é sol de pouca dura!. Os carros do exército, grandes e pesados, inutilizam breve, a precaria via! Já não falo nas poeiras que são enorme perigo e martírio constante
Chega-se ao Rundu. Impossível agora andar a pé! Asx ruas a uso, na capital do Cavango, não são alcatroadas, aglomerando-se o pó, em tal quantidade, que a gente se enterra , fazendo da marcha quase aventura! O ar é tão denso, que se corta à faca e a mesma respiração a custo se faz.
As espinheiras parecem caiadas... o calor então , é sufocante!
Isto é o Rundu! Para mais, sem pensões nem hotéis,! Fujo e enlouqueço, de pensar no assunto. Para distrair, fui ter sem demora, com a família André. O nosso diálogo , deveras animado, recordando o que fomos, levou-me o tempo, sem grande incómodo.!
Às 5 menos 15, buzinava o angolano, junto à moradia. Aqui,
durante várias horas, cavaqueámos e rimos, contando nossas l
mágoas, falando de projectos e fazendo comentários.
O Vasco André arranjou trabalho, como simples pedreiro, mas ganha bastante: 1 rande e 5o, em cada hora. Dá isto em resultado ganhar tanto como eu, no fim do mès! Afinal de contas, de que serve um Curso que dizem 'superior'?!
Ele tem apenas dois ou três anos de Escola Técnica. Frequentara as disciplinas, em Nova Lisboa..Assim vai o mundo! Que ele precisa
mais que eu! Deus o ajude e a mim não falte! Eles são 4!
Vigio, nesta hora, o Teste de Africânder, Standard 8, último ano do nosso Liceu.
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Nyangana
1977-09-10 " Esta é a minha casa!"
Em 9 do corrente, viajava para o Rundu, sendo condutor um preto angolano, de nome Abanus. Como a picada apresenta buracos, desabafou ele: "O caminho num stá bô!"
Buracos e covas, juntamente com o gado, assustam Abanus. Não admira! O azar, por vezes, origina desgraças !
Este nosso condutor fala Dirico, Língua nativa, deste lado e do outro! Também sabe Africânder e entende Portuguès. Já não é mau, para a classe dele! É refugiado, ganha dois randes, por um dia de trabalho e queixa-se muito de que o dinheiro não chega.
De facto, sendo casado e custeando as despesas, se a mulher não ganhar, há-de ter problemas e, portanto, razão!
Como dizia há pouco, íaamos avançando, caras ao Rundu
. Ele conversava, bastante animado, com um preto do Cavango que prestava serviços , no mesmo Liceu. Chama-se Christoph e é escriturário. A páginas tantas, abranda a marcha, desviando o camião para a berma da estrada.
Olho então para ele, um tanto surpreendido e, como ele notasse que eu estava interrogando, embo ra sem palavras, apressa-se a dizer:"Esta é a minha casa!"
Olho em redor, que há outra vivendas - tudo cubatas - e fico em branco! Acto contínuo, sai do lugar, encaminhando-se logo para a sua habitação.
Fico inteirado,! Serão apenas dois metros quadrados, se é que lá chega, a exígua área. Aqui se levanta o que ele, com orgulho, diz "minha casa!"
Realmente, comparada às outras, é muito diferente! Mais sólida até! Quanto a dimensões, não avulta mais! Quanto a solidez, excede as outras, sansivelmente! Ao passo que as outras mostram capim a servir de anteparo, na exígua cobertura, a do Abanus orgulha-se de zinco., a toda a extensão!
Como porta de e ntrada, não serve uma esteira, mas autêntica
porta, feita de tábuas, a qual é pintada a cores diferentes!
Logo à entrada, avulta um degrau, feito de cimento!
Como fechadura usa o Abanus um forte cadeado com chava reluzente! Caso único, no quimbo! De facto as outras portas utilizam cordas ou cascas de árvore a segurar o tapune!
Terá o Abanus razão justificada para o seu orgulho?!
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1977-09-11
NYANGANA Psicologia do Refugiado
Ser estranho é este que sofre duramente, por mais de uma razão: o drama pessoal e a aitude dos outrtros, que não viveram a grande tragédia. Vendo rir alguém, fica espantado e não acha razão, para que tal aconteça. Ele não ri: traz a alma ferida, reputando coisa estranha , se não ultrajante que alguém o faça.
Se ouve cantar, estremece fundo, pois os seus ouvidos não estão habituados. A sinfonia do costume é feita, a rigor, de sons dolentes, funéreos e macabros, entremeados sempre com o troar dos canhões, o esfuziar dos morteiros e o deflagar das granadas!.
A música sonante é esta sempre: matraquear incessante de armas automáticas... galopar furioso de carros de assalto... arrastar
,cavernoso, pesado e lúgubre dos tanques de guerra...voar sibilante e harto sinistro de caças e migues... suspirar de multidões que estão bebendo o cális da amargura!
Enquadrado neste fundo, não entende os que o rodeiam, parecendo-lhe estranhos e sem coração!. Traumatizado, um nada o faz chorar!, alegrando-lhe a alma atitudes gents, delicadas em extremo e generosas!
Se vê alguém de pé, fica logo estarrecido, pois o seu viver arrastou-se, em geral, por matagais, ao longo de muros e barreiras protectoras., Estas o livraram de ser fuzilado. Mesmo em sua casa, rastejava no soalho, debaixo de mesas ou objectos desalinhados,, desviando o corpo da metralha infernal! Outras vezes, passava o tempo encostado, entregando-se, pois, a muros protectores!
Como é triste e inditoso o pobre refugiado! Espoliado de tudo, perdeu, para sempre a alegria de viver! Vê pão e conduto, na mão do semelhante, como ele já teve, mas ao presente, se olha para as suas, nada lá encontra! Banido que foi, inconsolável e nu, Vê os filhos chorar, â míngua de pão
Se recorda o passado, erguem-se diante os vultos adorados que as armas prostraram
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Nyangana
1977-09-12 Remédio eficaz
Os colegas do Liceu levavam para as aulas a varinha do costume, dizendo eu logo não ser prerecisa, com excepção da aula de Matemática, para apontar no quadro!. Entretanto, os Sul-Africanos eram constantes, no uso da vara. Deixei passar dois anos seguidos. 76 e 77, sem que eu fizesse udo da mágica varinha.
Estando ao quadro, lembrava-me dela, mas decidir não era comigo! Apesar de tudo, lá de vez em quando, havia ruídos,, ao princíoio da aula, de modo especial prolongando-se estes, com exagero. Isto era nocivo ao proveito escolar, porque a duração ia
somente a 35 minutos, chegando o meio tempo, sem nada fazerem.
De vez em quando,, estudavam eles o que mais agradava, esquecendo o meu Inglês! Outras vezes, por motivos ignorados, não podia aturá-los!
Chegado a este ponto, examinei a questão, por maneira devida. Primeiramente, usei a persuasão, que não deu resultado, pois a maioria não fez caso disso!
Ante a minha reacção e nervosismo, deixavam-se rir,o que mais indispunha o meu espírito.
Analizando o caso, psicologicamente, cheguei então à verdadeira causa. A raiz principal do que sucedia estava no seguinte: os outros professores iam para as aulas armados e fardados. aeu
somante é que não!
Sendo isto assim, eram as minhas aulas qual derivativo, para os nervos deles, que ali se relaxavam, prazenteiramente!
Para mim, então, verdadeiro martírio que me arrasava os nervos! Conversando então com os meus botões, disse eu então: só um caminho me pode valer! A varinha mágica!
Assim aconteceu!. Ninguém já dormiu, como às vezes sucedia.
Pareceu um milagre!
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Nyangana
1977-09-13 Mais só!
Diz-se, geralmente, haver adjectivos que não admitem graus. Tais são, na verdade, os que pela natureza expressam estado,
matéria ou substância de de que é feita uma, coisa.
Se alguém á casado ou ainda solteiro, não pode ser mais ne menos do que é, na verdade!
O adjectivo 'só' inclui-se na regra. ano entanto, agora, estou mais só! O amigo padre Hermes saiu para férias. Como exil ado estou mais só! Foi Deus certamente que o pôs no meu caminho!
Como é triste a solidão! Não há portugueses nem tenho familiares! Há pessoas e Línguas, mas estrangeiras! Tudo, tudo longe de mim!
Como bom filho, não ode agora, ocupar-de mim! É natural,
compreensivo e humano! Um horrendo cancro pôs sua mãe entre a vida e a morte! Estão fazendo agora um tratameto esperançoso, a urãnio e cobalto. Costumam salvar-se 45%
Deus seja com ela!
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Nyangana
1977-09-14
Repartia-se o correio, na sala de professores. G rande ansiedade, no peito de todos, enquanto os olhos inquietos e sedentos,, estudavam os gestos, fixando as reacções dos que tinham cartas e liam confidências.
Tudo era vida, expressão, entusiasmo e esta onda subia,
transbordava até, fazendo-se riso, delírio e canto!
O que são na vida as vozes da alma, esses vínculos fortes que
nenhuma sociedade, seja ela qual for, poderá extinguir!
Foi ontem de manhã, às 7 e 15, antes das aulas.
A minha pessoa estava presente, mas agia tão longe!
Surpreendeu-me ali tamanha alegria, perguntando a mim próprio se eu era ddste mundo!... Porquê, então?!
Os Sul-fricanos tão hilariantes e eu tão pobre, alheado e só?!
Acaso o sol da alegria não surgiu para mim?!
Por que é que eu olhava, aguado e rendido, esmagado e sem vida?! Por que era excepção, quando todos, a meu lado, se julgavam felizes?!
Qual foi o me crime, para que o desânimo se pintasse no rosto, subjugando-me à dor que os outros não sentiam?!
Quem foi o culpado?! Sentirá remorsos da sua crueldade?! Vai
doer-lhe a condciência de haver sido criminoso?!
Educar alguém é ser verdadeiro, respeitando os outros!
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Nyangana-Liceu
1977-09-15 Descanso merecido
Começam as férias, para um certo repouso! Onze dias apenas! Em 27, voltamos à liça, para a quarta assentada, pondo assim remate ao ano escolar. A 8 de Dezembro, têm seu início as férias grandes. que, afinal, são pequenas! De facto, em Janeiro, 19, do mês seguinte, reabrem os Liceus.
Já vou para férias, lamentando a situação! Igual monotonia...
sempre a mesma coisa... nada que fale à alma! Se ao menos o rio fizesse desníveis, para as águas ressoarem! Mas não! O Cubango é lento, sonhador, misterioso!! Às vezes, ponho-me a olhá-lo, não sabendo, ao certo, para onde caminha!
Não ignoro, decerto, que vem da Bela Vista, em solo angolano, sendo por isso que descubro o rumo. Porquê tal mistério, à volta das águas?! Serão talvez os factos horrendos que Angola presencia?! Virá ele horrorizado, com a luta fratricida que jamais tem fim?! Ou receará o destino inglório que suas águas vão ter , no
deserto imenso do Botsuana?!
Existe alguma coisa no ddestino do rio... Que será?! Ignoro a resposta! e fico cismando, junto das margens.
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Nyangana
1977-09-16
Aproveitando um carro que vinha de Andara, deixei Nyangana, para visitar o padre Roosmalen, que é um bom amigo.
Havia conferência, na Missão do Sâmbiu, razão pela qual
achei oportuno. Fiquei satisfeito, pois ia quebrar a monotonia.
Além diso, encontrei bons amigos, no dito local: o padre Manfred, a
quem devo atenções, foi um dentre eles. Entrando em contacto,
forneceu-me, a propósito, dados valiosos, sobre o Cuangar e sua Missão. Juntou ainda que ontem, precisamente, se apoderou a UNITA de Nova Lisboa, após dura refrega.
A respeito do Cuangar, destruição e ruínas, incluindo a Missão.. O harmónio da Capela, que era tão bom, ficou numa lástima.! Custódia e cális, espalhados pelo chão! Paramentos dispersos, no meio do capim, entre a Missão e o rio Cubango!
A estátua da Virgem, com os dedos cortados, incluindo no ultrage uma das mãos! Que bárbaros! Revelam, deste modo, o que sentem na alma! e o que pode esperar-se num futuro próximo!
Outro episódio, referente ao Cuangar. Após a derrota do MPLA, este pôs-se em fuga mas, volvido algum tempo, fez novas diligências, para regressar.
Os homens da UNITA aguardaram a chegada, a 200 quilómetros , além do Cuangar, entre o Caiundo e o lugar do Sava,
destruindo ou capturando todo o material, após haver desbaratado o exército inimigo!. Tanques eram 10 e camiões 24!
A UNITA ,assm ,vai de upa em upa!
Hoje, durante a viagem, passaram por nós, carrões militares. Segundo ouvi dizer, vinham para norte, dirigindo-se ao Caprivi: UNITA e MPLA.
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Nyangana
1977-09-17 O Famoso Capuchinho
O Padre Pio, famoso de estigmas, que morreu, se não erro, em 1968, pusera esta frase, na porta do seu quarto: "Das Kreuz ist immer bereit, Es erwartet dich uberall".A cruz e stá sempre preparada; espera por ti, em todo lugar!
É curta a frase, mas extraiem-se dela pode rosas lições! Para
avaliar-se, é preciso olhá-lacom vista aguda e sobrenatural! O Comunismo não pode nem quer entender-lhe o sentido!; mund anos e gozadores não lhe acham godto; e tentam desconhecê-la; os falsos cristãos ignoram.na também.
A verdade, porém, a cer tíssima verdade é que tal frase se aplica a todos. Não é certo e provado haver Jesus Cristo morrido podo por todos?! Nõ é indiscutível haver sossobrado ao peso da cruz?!
Precisava disso?! Não! Se Ele o fez, foi por amor! Ora, sendo Ele o Mestre, devemos imitá-lO!
Demais, é fazendo assim que arranjamos no Céu um lugar de ventura, após a morte!
Que vem a ser a referida cruz?! Tudo o que aflige e causa em nós angústia de alma, durante a vida, nnão importando que a dor seja física ou então moral!. Espreita-nos ela, saja onde for e chega até nós, por vários caminhos!
É alarme e aviso; toque e rebate, para chamar a atenção!
Afinal de contas, é na verdade uma prova de amor! Ditoso aquele que sabe aproveitá-la, convertendo-a pront em chave do Céu!
Ninguém há no mundo que se exima à cruz! Todos sofremos!
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Nyangana
1977-09-18
Esta noite, por sorte, quebrei, sem de tença, a monotonia, sendo mais acompanhado. É bem verdade que ao triste exilado não basta o alimento, abrigo e vestuário!! Muito mais necessita, para suportar a dura existência! Compreensão, afecto.
aceitação, algum interesse,, além do trabalho! Problema humano, hoje candente,muito mais ainda que em tempos idos!
A frequente violação dos direitos humanos, ambição e tirania,
ingerência abusiva de potências estrangeiras, em negócios de outrem, mentira velada, rancor e fúria originaram presres milhares e milhões de tragédias e dores
Avalio, a rigor, o sofrimento do mundo, porque vi, palpei e senti a minha própria dor e a dor alheia. Como é doce o lenitivo,
quando surge alguém que nos ama e acarinha sem fins inconfessáveis, trazendo conforto, paz e alegria ao nosso coração!
Foi serão amigo, jantando fora, em plena rua, junto do Hospital.
As duas Irmãs, Rita e Maria, vieram até nós,, em fim de semana, para distrair. Elas, em pessoa me fizeram o convite que eu, muito grato, logo aceitei.
Às 19 horas, acendia-se fora, bem ao ar livre, uma bela fogueira,
alimentada com achas, há muito cortadas. À volta dela, postavam-se bancos, cadeirões e cadeiras, avistando-se, atrás. jeitosa mesinha, com talheres e bebidas, sandes e pratos.
Dentro em pouco, surgem os covivas que, afinal, somos todos. À data em curso, parte da nossa gente encontra-se fora.
Notam-se, entretanto, diversas presenças: o Irmão Van Dick, branco de Andara; o Irmão Eusebius. preto de Nyangana; as Irmãs brancas; Maria Schneider, Margaret, Maria, Rita etc e as Irmãs pretas: Constança e Rosária.
Em volta da fogueira, atarefa-se a valer a nossa Doutora (Médica alemã), activando a fogueira e pondo na grade os bifes de
cabra, que pretende assar. Após os de cabra, vêm os de porco.
Entretanto, as cervejas circulam, notando-se logo a melhor camaradagem. Há também coca-cola, e não falta, por igual., a água-ardente velha. As línguas uadas são em número de 4: Inglês e Alemão. Africânder e Dirico. A última é nativa e fala-se também do outro lado do rio (Angola),
Senti-me à-vontade, nesta companhia, Do meu peito, levanta-se viva a flama da emoção, pelo mero facto de ser lembrado! Se não fora assim, recolheria ao quarto, de paredes insensíveis, continuando a solidão, após um longo dia, passado sem alma, entre velhas paredes.
Havia já anos que não comia carne, pelo menos ao jantar, mas fiz excepção! Atirei-me a ela: estava apetitosa e não caiu mal.
Estou admirado, por não ter dores, durante a noite! Entretanto, a digestão foi lenta e um pouco difícil.
Houve muito à-vontade..Gosto imensamente de coisas informais; uns descalços, outros ainda, sem meias ou peúgas! Quase todos fumam! Só eu é que não, fazendo ali papel de membro obscuro e
desumanizado, numa sociedade em que não me integro nem me compreende.
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Nyangana
1977-09-19
Oito e quinze. Fresca manhã de céu embaciado, que anuncia,para breve,o início das chuvas. No planalto do Bié
começam em Setembro. Aqui, no entanto, segundo me parece, é
um pouco mais tarde!.
.Segndo me consta, faz excepção aquela zona, onde fica situada a
Missão de Andara.
Tais elogios ouvi tecer-llhe, que hoje não resisti: peguei de
mim e fui apreciá-la com os meus próprios olhos. É lugar
inesquecível, rincão florido , em plena desolação!
Embora a região não seja desértica, apresenta visos
semelhantes a isso: vegetação rasteira,, avultando apenas grandes
espinheiras. Algumas destas vão a 200, 300 e mais anos! Apenas
chove bem. ao longo de 3 meses, no princípio do ano. Sendo isto
assim, lamaçal nas chuvas e poeira nos calores.
Como isto sucede, agrada sobremodo estanciar umas horas,
na Missão de Andara. É lugar privilegiado, no meio da aridez, em
região semi- desértica. Vegetação luxuriante, à volta do rio; a ilha
solitária, em frente da Missão; rochedos enormes, parecend
fortalzas; plantas exóticas de alto porte; água cristalina,
ressumando ali, por toda a parte; hortas viçosas, à beira do
Cubango...
No meio de tudo isto, oculta na folhagem, à maneira exacta
.de ninho mimoso, a Missão Católica, onde lidam com afã, dois
zelosos Missionários: o padre Bauer e o padre Bonifatius.
Diferentes na cor, são iguais na caridade e nos seus ideais.
O Irmão Van Dick é deveras excelente e conhece a região, dum
extremo ao outro. Sua vida habitual decorre ao motor, nas longas
estradas, que percorrem a Namíbia
A dita região, à volta de Andara, é terra de bosquímanos,
sendo interessante a Língua que utilizam.. Para nós, europeus,
é quase impossível, pois com a língua dão estalidos, à medida que
falam. Estes ocorrem no meio das palavras. ou mesmo no fim.
Tais estalidos, feitos com a língua,apoiada no palato ou região
alveolar. equivalem a sílabas ou então a palavras.Algumas vezes
, é só um estalido; outras vezes, são dois ou mais.
Esta raça curiosa distimgue-se dos pretos. Ignora-se a origem
de tais aglomerados ( talvez da Sibéria ou do Turquestão)
São diferentes em tudo e o seu género de vida é curiosíssimo.
De pequena estatura, são argutos e hábeis, salientando-se na
caça.
Nada cultivam nem nem criam animais.Casas não têm
, Vivendo na pré- história, é difícil fixá-los!
Curam as doenças, com produtos vários, extraídos das
plantas.
A aspiração duuma jovem é casar brevemente com um bom
caçador! Peles de animais ou cascas de árvores resolvem a quertão
do seu vestuário, Alimentação: carne de animais, raízes de plantas
ou frutos silvestres,. À falta de água, extraiem-na das plantas.
Como recipientes: ovos de avestruz. Depois de arrumados,
fazem belos colares, para uso pessoal.
Assim vive este povo que, afinal, é ditoso, à margem do
progresso! São eles ainda os melhores pisteiros
Os bosquímanos de Angola eram bons amigo do povo
+otuguês.
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Andara
1977-09-20 Maria Agusta
Ontem, ao almoço, caldo de couves.! Estranhei bastante! Os
povos da área não comem sopa ou coisa no género! Os Sul-Afri-
canos, esses então, nem por sombras!
A Portuguese soup . diz o padre Bonifatius!, nativo do
Sudoeste!
Fiquei intrigado! Vendo o meu espanto, apressou-se a esclarecer:
"it's a portuguese cooker! She came from Angola!
Oh! I see, remato com agrado!
Hoje, pela manhã, regressando ao quarto, surge do lado o padre
Bonifatius, chamando bem alto a Maria Agusta." A portuguese
father!"
Aproveito o momento e didrijo-lhe a palavra, conversando
algum tempo, sobre o caso de Angola. Fala Português tão bem
como eu, o que muito apreciei! Alguns exprimem-se bem, mas
utilizam termos africanos, o que torna a Língua um tanto
desagradável.
Ela, porém, fala o idioma como se, na verdade, houvera
nascido, lá na Europa. É oriunda de Sá da Bandeira, conhecendo
apenas mais duas cidades, além daquela: Lobito e Benguela.
Casou pela igreja e serviu muitos anos patrões de Lisboa a
quem. se afeiçoara. Interrogada por mim, sobre a maneira como era
tratada, respondeu, sem demora, que tinha boas lembranças dos
antigos patrões que sempre a estimaram. Revelou muita pena de
haverem partido!
Fiquei satisfeito, de encontrar Maria Agusta e ouvir-lhe
referências que muito exaltam os bons Por tugueses. Afinal, a
propaganda malévola, que se fez longos anos, contra os Brancos
do Império, não tinha fundamento! Tenho ouvido, por cá, centenas
de testemnhos!
Pois a Maria Agusta voltará para a sua terra, quando tudo
serenar! E la como todos mostra grande pena e tem saudades
dos bons portugueses!
É certo, realmente, que a mentira lançada alcançou o
objectivo, mas com o tempo, descobre-se o jogo, brilhando a
verdade!
Sobre o padre Bonifatius, que é nativo do Sudoeste e cursou
Teologia, no distanre Lesoto, guardo óptima impressão!! Até me
parece que será bispável!
Passámos o serão falando Inglês, sobre assuntos teológicos.
Discorre muito bem, é sensato e comedido, e fala várias línguas.
com muita exactidão!
Neste campo, é de levar em conta o Inglês fluente, assim
como o Alemão e até o Africânder, em plano de iguldade.
Já nem falo agora das línguas nativas, que sabe a fundo!
Teremos aqui um futuro bispo? Deus é quen sabe, todavia palpita-
me!
Quanto ao local, isto é excelente! Hoje, de manhã,estando no
leito, notei-o, igualmente! A passarada manifestou-se ruidosa, à
primeira claridade! Como as avezinhas distinguem prestes a beleza
natural e se agrupam, diligentes, para cantá-la, em belo uníssono!
Admirável sonfonia, em louvor da natureza, pródiga aqui!
Como Deus é grande, portentoso e bom, para dar-nos mostras
da beleza infinita , que é timbre divino! Sinto-me bem ! Esta
digressão tornou-me eufórico, realizando cabalmente o fim a
que aspirava: achar carta da mana, jornais em Português e
ambiente acolhedor!
Deus seja louvado, por haver-me concedido momentos
agradáveis!
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Nyangana
1977-09-21
Regressei da visita que fiz a Andara. A minha estadia não foi desagradável: o problema reside
somente na deslocação! Chego desconjuntado ao fim da
viagem! Efectivamente, são tantos os balanços, que perdemos
a vontade! É impraticável esta 'picada'! Nem que haja
paciência, o corpo não aguenta!
Ora para a esquerda, ora para a direita! Solavanco para ali,
arremesso para além!
É Primavera, mas tão desmaiada,, que mal a notamos! Hoje,
porém, houve algo de novo: início das chuvas, coincidindo
exactamente com a estação do Outono, lá na Europa! Choveu
pouquinho, mas já bastante, afim de evitar as densas poeiras, ao
longo da estrada.
Olanos que ficam em Andara, até ao fim da guerra..
Andam muito ocupados, erguendo as palhotas,, tanto mais que as
chuvas ameaçam de perto! A Missão católica ajuda-os
prontamente, naquilo que precisam.
Oriundos, segundo eles, de Sá da Bandeira, houveram de
fugir, como tantos outros, abandonando tudo! Vivem assim,
espalhados pelo exílio, sem saber da família! nem de seus amigos!
Terrível coisa a guerra e o ódio!
Por que vivo eu, aqui, no Sudoeste?! Não tenho igual motivo?!
Segundo informaram, a UNITA buliçosa acaba de atacar
algumas cidades,.entre as quais mencionaram: Nova Lisboa, Kaala
e Serpa Pinto
Por que vivo eu aqui?! Que venha a +az, o mais breve possível,
afim de t oda a gente reg ressar a seus lares!
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Nyangaa
51977-09-22
Regressei do Rundu, para onde rumara , às 6 da
manhã.Resultado: nada a mais!.Quanto a refeição, serviu a de
ontem. Passeio e diversão também não houve, porque a via
detestável e cheia de buracos, estava alagada!
O pateta do gerente, se há-de ele trata os casos de extravio!...
Tenho para mim que foi ele o culpado! Não está certo! Depois,
mostra-se indeciso e não toma direcção!
Entretanto, vai dizendo que devo escrever, expondo o
assunto, afim de obter outros substitutos! Um belo arranjo!
Sem culpa nenhuma, em país e strangeiro,, dão esta
recompensa: passar as férias, ao longo da via,, sem nada fazer!.
Confesso, desde já que é pouco engraçado!
Em Portugal, nunca sucedia,pelo menos comigo!
O Banco Barclay reteve-me a caderneta, durante longo tempo
(4 ou 5 meses!), enquanto eu, depositário, na minha boa fé,,
mandava os cheques, para ser em registados. Ando nisto, há um
mês ou coisa que o valha, para nada obter!
!Como podem extraviar-se os ditos cheques?! A senhora da Missão
que os levou para o Rundu, garante e porfia que foram entregues...
A quem prestar crédito?! Como vinham em meu nome, apenas eu
é que posso levantá-los! Ainda assim, estão dando quezília e
maçada enorme!
Os meus problemas já eram bastantes, para ser engrossados,
na forma expressa!
Costuma dizer-se: o que não tem remédio, remediiado está!
Hoje, queria o gerente ficar outra vez, com as duas
cadernetas ( avelha e a nova).
Já opus resistência! Perguntei, de chofre: necessitando dinheiro,
num lugar qualquer. podrei obtê-lo sem caderneta?
Devolveu-me então a do balanço.
Terá ele experiência?!
Hoje, não houve pó, mas teve substituto, ainda mais
incómod:o: os poços de água! Não dá gosto nenhum ir à capital!
Apenas me agrada a conversa animada, com a família A ndré.
É realmente o que salva a minha situação! .
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Nyangana
1977-09-23
Pessoas amigas aconselham, de novo, que não deixe o
, Sudoeste, regressando a Porugal, Razões em barda apresentam
para isso: carestia de vida que assusta os Porugueses; impotência
do govefrno, para erguer e conservar a economia do País; a falta de
empregos. Ignoro até que ponto a razão chegará mas não sei
porquê, tenho confiança no governo actual.
Enganado, talvez?! O tempo o dirá! Caso seja diferente,
ficarei penalizado Francamente, não gosto dos extremos!, quer
seam direitso!, quer esquerdos também.
O Socialismo, sendo equilibrado, em regime demosrático,, é
para mim o sistema ideal!. Respeitando a liberdade e os direitos
básicos da pessoa humana,, conservando também o direito à
propriedade e, bem assim, a inciativa privada,; nacionalizando
apenas o que é essncial `a nossa economia e ao bem-estar do
povo portuguès, garante para todos um viver mais humano.
A r iqueza da nação fica repartida e as classes humildes
podem subir, partilhando, igualmente na vida política. Seria, pois
agradável que o Partido socialista, embora em rude prova, fosse
bem sucrdido, em terra portuguesa, para conforto profundo e
grande alegria do povo lusitano,.
Seria também meu vivo desejo que o Partido Comunista se
desligasse da Rússia, transformando-se logo em Partido nacional.,
ser bem acolhido por todos os Portugueses. Demais, há exemplos
disso, atravás da Europa, incluindo em tal número a mesma
Espanha. Ideais alheios nada têm a ver com os nossos ideais!
A nossa alma é bem diferente como também a nossa tradição,
costumes e origem!, O fato de outrem não me assenta bem,, por
não ser talhado, segundo os nossos contornos
Em Partido nacional, quero dizer, um movimento de cunho lusitano,
tendo sempre em vista o bem da nação, com incidência nas classes
humildes, nem os próprios inimigos poderiam contestá-lo!
Dependente como é de potências estrangeiras, seguindo os
movimentos da sua batuta, ninguém confia nele, por ser na
essência, anti-nacional Em fins de 78 ou já 79. regressarei prestes à
minha Pátria. Terei eu a sorte de a ver já erguida? Terá então
acabado a vileza e o opróbrio em que vive mergulhada?!
Terão cessado, lá fora, comentários desdenhosos, sobre a
inépcia alarmante do povo português?!Terá emudecido a língua
mordaz que aponta Portugal como faixa exígua, obscura e nula?!
Ainda haverá, na minha nobre Pátria, descendentes genuínos
dos antigos heróis?! Onde estão agora os heróis do Mar?!
Apraz-me julgar que são realidade e que, na hora ''h", sairão do
anonimato !
Bons Portugues es, a Pátria não morre, s enós todos, bem f
irmes, cerrarmos fileiras, pela sua unidade e pela verdade! Não é
desfazendo ou minimizando! A destruir, nada se consegue!
Do nosso passado, há certos valores que devemos
conservar, pois fazer de outro modo é negar Portugal! O velho país
do extremo europeu surgiu cristão e Deus protegeu-o no volver do
tempo! As suas raízes mergulham na verdade Ignorar tal aspecto
ou minimizá-lo é ser mau portugês... é negar-se a si msmo!
É servir o estrangeiro! É perder a confiança dos bons
Portugueses! Lá de fora, aproveitemos apenas o bom e aceitável.
Jamais, por fim, o que for contra Deus ou não se ajustar à nossa
psicologia como ainda ao bem nacional!
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Nyangana
1977-01-01
Mercê do Pai Celeste, mais um ano se depara. Que ele
seja, na verdade, portador de ventura, paz e alegria, um ano
jubiloso de prosperidade! Desde há tempos, jamais houve, que eu
saiba, ódio tamanho e rancor tão fundo . É o mundo um braseiro
que ameaça devorar os que nele se encontram!
Injustiça de uns, ambiçao de outros, incúria de muitos e
incompreensão fazem da vida um calvário sem fim!
Chegámos a um ponto em que nada se respeita! A vida
humana que é tão preciosa, em nada já conta! Mata-se um homem
como a vil insecto! Com razão ou sem ela, atenta-se amiúde ,
contra direitps que reputo sagrados!
Ensina-se a matar, havendo instrutores, com patente para
isso! A fome e a penúria assolam o mundo!; a incapacidade e a
ignorância, por falta de meios, nada representam!!
A receita dos povos é gasta em armas, investindo nisso
milhões e milhões! Pode até afirmar-se que o grosso do orçamento
se encaminha para aí!
Falta pão e vestuário, habitação e conforto, mas abundam os
, tanques ,os carros de assalto sem faltarem canhõea!!
Em vez de ofertarem à pobre Humanidade, vias e meios de
comunicação,, eficaz segurança e maior conforto, origina-se antes
um ar irrespirável, em que o mundo sufoca, morrendo, a breve
trecho!
Valei-nos, Senhor e moveo os corações, com o dom da vossa
graça!
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Nyangana
1977-01-02 A Ilha de Amdara.
Lembrando, uma vez mais, o passeio da semama à
Missão de Andara, apraz-me desde já fazer manção grata da Ilha
fronteiriça..
Eram 11 horas, quando o preto Laurentino se abeirou do
velho remo, para atravessarmos o rio Cubango.. O calor tropical
sentia-se em cheio , dado que o Sol, nessa hora da manhã, estava
quase a pique. Devido, porém, ao amigo padre Bauer, eu levava
chapéu que foi boa protecção!, De outra maneira, voltaria sem
pele, a ornar a cabeça!
O Laurentino é hábil remador e, para ele não há problemas!
Sabe apenas Dirico, sua língua de origem. Por isso, ali, recorríamos
mimica.Transposto o Cubango, na velha canoa,, onde estava um
banquinho, para me sentar, subimos à Ilha.
Que viço e pujança. por todo lugar! Dali, a vista da Missão é
coisa soberba! O vermelho dos telhados e o branco dos muros f
azem esgafres, através da folhagem. de um verde mimoso!
Nesse momemto, ocorreu-me Lisboa, vista de Almada. A
riqueza vegetal levou-me a Sintra!
Maravilhosa estância, para fazer poesia ou entrar a fundo, em
longa meditação!
Seguindo Laurentino, preto calculado, atravessei, pois, de
lés a lés , a Ilha fluvial.Dou-lhe um quilómetrp, a toda a largura.
O seu comprimento não pude calculá-lo, mas é enorme, atingindo.
por certo vários quilomegtros..
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Nyangana
1977-01-03 Cont,
Caminhos pela Ilha é coisa inexistente. Avstmos sendas, trilhos e
carreiros, onde muitas vezes cabe só o pé. De vez em quando,
aparecem gogos, o que traz à mente que o leito do rio já foi por ali,
em época remota. Habitações não vi nem mesmo culturas..
Entretanto, nem um palmo se divia que não tenha plantas.
Aqui e além, surgem de frente árvores majestosas, de caules
gigantescos, vendo-se amiúde outros caules enrolados, no tronco
das maiores. Chamou-me a atenção esta bela ocorrência!...
Arbustos enleados, tão unidos e firmes, que nem fortes vendavais
conseguem desp rendê-los!,
Não é curioso?! Numa África em fogo, onde tudo é instável, e
nada encontramos que ofereça firmeza, torna-se objecto de fundo
cismar! Que abraço tão forte, em longa espira, desde o colo, na
raiz, até ao cimo da planta! Que intensa união e belo convívio!
Intimidade e auxílio, afecto acrisolado e compreensão hão-de por
força. reinar ali!.
O contraste flagrante que notei, do outro lado, ( Angola!) feriu
a minha alma de angústia mortal! Quando vejo seus filhos odiar-se
de morte, a semear vastos campos de mortos insepultos,profundo
gemido se ergue de meu peito, enquanto as lágrimas irrompem
atrevidas, abundantes e quentes!
Que pena eu tenho dos pobres Angolanos!
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Nyangana
1977-01-04
Ontem, após o jantar, disse ao padre Dutman:
aufwieder sehen! A isto, sorri, dizendo em seguida: Ich gehe auch.
Já suspeitara que havia função, durante a noite.
Arrisquei, pois, no meu Inglês: Is it a party, by the sisters?
"Yes,it' s a party by the sisters."
Bom, disse eu logo para os meus botões: é outro serão, talvez igual
ao do fim do ano! Fora em Nyangana. Não está mal, embora eu
prefira o horário habitual. Deitar às 22, levantar às 6 ou um pouc
antes, havendo trabalho. Isto durante as férias, porque, em tempo l
lectivo, a coisa é bem outra!.
Vou com o padre Hermes, deixando a Missão e rumando logo
para a sede das Irmãs.Juntaram-se lá vários convivas: o padre
Bauer, da mimosa Andara; o auxiliar do Tondoro; a Irmã Rita, Any e
outras.
Não esteve mal!
Em Angola, designam por 'farras' estes serões. Houve boa pinga,
anedotas e histórias, em várias línguas, cantos e discos... grande
animação! Deu isto por efeito acamar à meia noite
Passara já o momento do sono! Bem me apercebera, mas
que fazer?! O padre Bauer, que é, na verdade, um autêntico
pândego, tira desde logo o sono a todos. Dá vida e cor a tudo o que
;expóe; junta-lhe mímica e, seguidamente, reanima tudo, com
risadas estrepitosas. Impagável!
A poética Andara. lugar privilegiado, sobe-lhe à cabeça!
Ainda bem que em zona tão árida, surgem, por vezes, momentos
assim!
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Nyangana
1977-01-05
Ontem, por volta das 13, chegámos ao Tondoro. Foi
, grato o passeio e muito aprazíve, pois de regreso, levei para
Nyangana as coisas de minha irmã: máquina de costura, fogão e
frigorífico, sem esquecer a mala das roupas.
Ajudar minha irmã, nas presentes circunstâncias, é dever
fraterno e dá-me praze. Várias razões me traziam satisfeito a este
lugar. Entretanto, ao olhar para a porta, que se abria, noutro tempo,
à minha chegada, um gelo de morte logo se instalou no meu
coração
Cerrada ficou e, na minha loucura, olhando para ela,
insistentemente,julgava ser possível um novo milagre. crianças a
correr, na minha direcção, para me beijarem... Palavras sinceras de
afecto e júbilo, que se gravam no peito, de maneira indelével! Vivo
sorriso em lábios frementes e olhos cintilantes, dardejando bem
querer! Tudo morrera! Aquela porta que estava fechada, nunca
mais se abriu nem vi uma cadeiraà sobra da árvore, para me
sentar!
Presenças amigas que me encíes de gozo, por onde
vagueais?! Que tristeza imensa infunde o Tondoro, que tanto
apreciava Nem cunhado nem irmã! Tudo se apagou!
Ficou solitário este sítio para mim!
O bom do padre Hermes p^-la em frente da porta, afim de a
não ver! !
Hoje, precisamente, vamos embora e jamais voltarei à Missão
do Tondro.!
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Nyangana
1977-01- o6
Após a alegria, vem logo a tristeza.! Não bastaria a saudade e a amargura que se registaram, no último Diário?!
Outra coisa veio que, além do mais, trouxe abatimento!
Fizemos a viagem ao Tondoro e Nyangana,vencendo a 'picada' ao
longo do Cubango, por uns 200 quilómetros! Maçadora que ela foi!
A estrada apresenta, com muita frequência, enormes buracos
e largas depressões.Em sentido transversal é toda um canulado!
Provoca isto enorme trepidação, causando mal-estar! Entretanto, o
pior não foi isto! Feito o percurso, um tanto demorado, porque
obriga a paragens, no sítio das Missões - Bunja, Rundu e Sambiu -
chegámos ao destino, por volta das 18.
Vinham muitas coisas juntamente com as minhas e outras
ainda tinham sido entregues, nas várias Missões e Hospitais
anexos. Ao chegar aqui ao nosso Hospital, o amigo padre Hermes
tira os artigos, destinados às Irmãs e, logo após vem ter comigo,
dizendo, com tristeza: Bad news for you!
Pensava eu se tratasse provavelmente de alguma avaria, aqui
na Missão ou de morte inesperada! Afinal, a máquina de costura é
que estava em causa. Não sei bem como, vinha em 3 partes. Havia
sido fixada a um dos lados, mas caíra no soalho a parte superiori e
uma peça de madeira,, sita ao meio.
Fiquei sem respiro e muit abatido!, embora tentasse disfarçar
um pouco.
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Nyangana
1977-01-07
Ontem or moite, saudei festvo o padre Bonifatus,
sacerdot nativo que agora se encamynha a Grootfontein..
Juntamente com ele, vinham dois rapazes, cuja finalidade é serem
, ordenados, em Maria Bronn. Eram, pois, três diáconos para a zona
de Andara.
O Tonoro tem 1,o Bunjia 2 e o Sambiu 1.! É uma enchente!
Analisando facto, vejo as coisas assim: os nossos presbíteros, à
maneira antiga. vão escasseando, por modo alarmante,
Dizem as estatísticas que poucos se ordenam e muitos dos
velhos pede a redução ao edestado laical.
Estas são, pois, as razões pelas quais os presbíterois se vão
apagando.
Perante o caso, a Igrja Católica toma providências. ordena
diáconos.. estes fazem quase tudo! Só não celebram nem
confessam!
Com o tempo a rodar, vai o povo cristão recebendo a ideia ,
enquanto se acomoda, gradualmente, aos diáconos casados. Nessa grande evoluão, que vai fazer a Igreja? A rresposta é
simples: confere o presbiterado aos diáconoa casados.Começará
e depois continuará, fazendo escolhas.pelos solteiros, se alguns
houve.
É natural que haja selecção!.
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Amadora
2004-04-21 Último Invasor
Em 712, Árabes e Berberes invadiram a Hiispânia (P. I.),
com forças militares agigantadas e poderosas. bem organizadas e
já portadoras duma civilização mais adiantada. Nestas
circunstâncias, apenas um caminho havia a seguir-se - o do recuo,
té que os povos da Penínsuja Ibérica se organizassem
Iniciava-se a Guerra da reconquista, voltando os habitantes
desta Península às terras que eram suas.
O ideal dos invasores era muito outro, no tocante à religião. à
bandera e moeda, trdições e usas, folclore e história, sentir e
pens
ar. Para longe pois, aceitação da Língua e da religião! Diametralmente opostas! Fusão, nem por sombras!
A arabização foi juito incompleta!, pois além do mais eram
diferentes as etnias e a língua própria não tinha afinidades com a
dos povos ibéricos, o que não acontecera na romanização. em que
as línguas e as etnias tinham afinidades, a partir já da civilização
ibero- lígure, donde procederam.
Estes idiomas originaram depos vários dialecto que. por sua
vez se turnaram línguas.
Aguerridos como eram os povos da Hispânia, todos se
uniram, lutando fortemente, contra o inimigo. Os combztes
frequentes obrigaram o inimigo a recuar, gradualmente, da
província do Algarve.
Foram 5 séculos de lutas ferrnhas.
Os nossos vizinhos prosseguiram na luta, conseguindo escorraçá-
-los 2 séculos depois.. Estava libertada a Andaluzia!
Por várias razões era dif´´icil afastar os Árabes. A lgumas
delas já foram apontadas. O plano de início era submeter a Europa
inteira, mas Carlos Martel,, na batalha de Poitiers, infligiu-lhes tal
derrota, que alteraram o plano, fixando-se na Hispânia. donde maiis
tarde foram escorraçados.
Foi-lhes muito penoso largar a Hispânia: daí a dificuldade em
os correr de cá, em tempo breve.
O novo plano, agora, é assegurar a posse da Hispânia e
defendê-la da cobiça alheia..
Pela sua dureza e trato desumano, desiludiram os povos da
Hispânia, que haviam lidado com os Romanos. de forma admirável
e cordial..As circunstâncias eram diferentes, Com os Romanos,
havia, decerto afinidades sanguínias e outros factores de
aproximação. pelas etnias. Por tudo isto, travou-se entre os povos
uma guerra de morte, até se conseguir a sua expulsão , de terras
peninsulares.
Como já foi dito, só volvido séculos, se tornou realidade, na
P.I. o fim da guerra. Cerca de 8 sécilos andaram eles por cá
Um dos grandes obreiros desta nobre empresa foi o nosso Rei,
D.Afonso Henriques.
Terminada a guerra da Reconqusta, tentaram os povos
refazer a su vida, organizando a defesa e delimitando os seus
territórios. segujndo o Direito, o pensar e sentir, a Lingua própria,
usos e costumes e velhas tradições
Os povos ibéricos libertaram a Península e julgaram-se todos
com direito igual. à liberdade e à independência. Potr isso, vão~se
definindo os vários núcleos, constituindo Distritos, Condados e
embriões de nacionalidades: Condado da Galiza; Condado de
Portugal, Reinos das Astúrias e de Leão, e assim por diante.
Estão eles todos em pé de igualdade e todos defendem e
todos defendem os seus pergaminhos.
No que respeita a nós, o nosso viver é na faixa ocidental
cujos habitantes ( os luso-portugueses) têm por igual o pensar e o
sentir, Língua e tradições, religião e costumes, a caça e a pesca
bem como o pastoreio, com o tempo a rodar.
Começa, desde logo, a manifestar-se clara a ambição
desenfreada do pequeno Reino, de nome Leão. Com tal objectivo,
intenta breve subestimar o nosso Condado, colocando-o
presesmente, sob a sua dependência. Surge pela proa o invencível
guerreiro, Afonso Henriques, autêntico "Leão", para defrontar o
outro Leão. Estão frente a frente dois leões façanhudos e
respeitáveis!
O"Invencível" é quem vai talhar o destino do Condado,
readquirindo as fronteiras que já tivera antes, quando habitado
pelos Lusitanos, antepassados dos Portugueses. Nessa data
recuada, ia a Lusitânia, desde o Algarve, ao sul, até ao Mar
Cantábrico, no extremo norte, segundo Estrabão, geógrafo
grego, no século I da era cristã..
Abrangia, pois, a Galiza actual, prolongada ainda um pouco,
para oriente.
Se não fosse o desastre de Badajoz ( perna partida),
seriam estas as fromteiras actuais do nosso Portugal
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Amadora
1004-04-22 Riscar Portugal
Alegava adita História, em língua espanola, que eram
duas, realmente, as grand es causas d e uma união ( integração?)
ibérica: uma histórica, outra de cunho geográfico. Eu contesto-as
ambas, reduzindo-as a nada! Perdoem os leitores e as minhas l
leitoras, que eu já tratei este assunto!, não há muito ainda, mas
apraz-me voltar,, vincando mais e mais a argumentação!
Comecemos já´pela primeira.
Historicamente, prova-se o contrário., pois as escavações, no alto
dos montes onde houve castros, ópidos e citânias be
como fortalezas, acrescentando o estudo das velhas necrópoles,
( cemitérios de recuadas eras), garantem o contrário da Hisyória
espanholla
Mostram os estudos, realizados por Sarmento e Alberto
Sampaio, os caracteres étnicos e antropológicos,, apurando assim
este facto notável e surpreemdente: há coincidência com os do
povo português. Segundo Estrabão, escritor grego do século I da
era cristã, que a árvore genealógica do povo lusitano é a mais pura
dos povod da Hispânia ( P,I .) ,
Daqui inferimos que não é poluída a ascendênca portuguesa.
Portanto, as nossas raízes abrangem certamente o Quaternário
médio, se não já uma fase do Terciário.
Em 1886, o arqueólogo portuguès, Carlos Ribeiro, encontrou
ferramenta do homem primitivo ou do seu precursor,nos aluviões do
Tejo e do Sado. Trata-se de machados de pedra-lascada.
A ser isto verdade, ( a pedra foi encontrada), ficava a impressão de
ser anterior a Adão e Eva, portanto contrário à Bíblia.
Ainda que seja apenas do Quaternário, médio, já essa criatura
é contemporânea dos fenómenos geológicos. Ora, a que vem tudo i
sto? Tende a provar que o povo português não apareceu fundido
no reino de Leão, mas lhe é anterior milharesde anos. em sua alma,
identidade, coração e ânimo, realizações, obras e vivència.
Nao se trata, pois, dum povo moderno, como disse Alexandre
He rculano que não conhecia os dados importantes das
excavações, feitas nas montanhas e nas acrópoles.
Vamos ao caso da Geografia.
Não há montanhas nem vales profundos como ainda um grande
caudal , mas não é isso, acima de tudo que serve de marco e
linha divisória, entre nações., como entre povos. O que sempre e
em toda a parte separa os povos, é a sua alma, os seus projectos,
a religião como a própris língua, o pensar e sentir, motivos iguais
para a dor ou o júbilo, a profissão, os de vida, as aspirações, a
Arte e a cultura, etc.
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Amadora
2004-04-23
Apesar de tudo, os meios geográficos não são
inexistentes. Que estão fazendo as linhas de água? Não somente
os rios, mas os afluentes?! O próprio regime do terreno irrigado,
sempre no curso já terminal, enquanto em Espanha se precipitam
osrios, de altas montanhas, regra geral.
Que dizer também, quanto à índole de ambas as nações?
Inteiramente diferente e, às vezes oposta .A gente portuguesa é
amorosa, sentimental, indulgente e compassiva,, avessa à
crueldade, fácil no perdão e não odienta. Não é isto verdade?!
É ver o que fazem, os Espanhóisl, em suas touradas!
E se comparamos a poesia lírica de ambas as partes?!
Voltando aos touros: os nossos vizinhos fazem delas meroa
objectos que não sentem nem sofrem!! Valem-se até da sua
impotência e da crueldade, par a se divertir!,
Que fizeram eles aos Astecas do México?! E aos Incas
do Peru?! Queimaram vivos os diversos membros das famílias
mperiais! Alguma vez os Portugueses fizeram coisa tal?! Nada
conheço dessa natureza!.
Não precisamos de vales profundos nem altas montanhas ou
rios caudalosos, para ser virem de marco, entre as duas nações!
Basta a alma! São, pois, falsos e tendenciosos os motivos
alegados pela História de Espanha!
Como tais os condeno,, repilo com ânimo e os tenho em nada!
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Amadora
2004-04-24
Alguém julgar á, por estes dizeres, que .se anicha em
minha alma, calo e rancor contra os Espanhóis! Não é verdade,mas
considero ofensivo, inadequado e censurável,para não dizer
impróprio de cristãos e bons vizinhos o que foi praticado, ao longo
dos séculos, em ordem a Portugal
Porquê? Não temos o direito de viver a nossa vida, em paz e
sossego, pondo de parte a mania incurável de quererem reduzir-nos
à inexistência?! Se Deus nos criou livres, dotados e capazes de
gerir a nossa vida e de nos realizarmos! Não é isto verdade?!
As páginas mais belas da História da Humanidade foram
escritas pelos Portugueses, nos séculos XV e XVI
A nossa Epopeia - os gloriosos Lusíadas - bem o assegura:
" Se mais mundos houvera, lá chegara!"
Qual a minha posyção, ante a nossa vizinha? Viver cada povo
em paz e harmonia, sem vistas cobiçosas,, ultrapassadas,
inconvenientes, inadmissíveis! Matar esse verme que persiste
corroendo os nobres fundamentos que asseguram a paz!
Haver boa união, convergência de interesses, ante povos
estranhos, que prejudicam; desculpar os defeitos , esquecer os
agravos; sepultar o orgulho, a soberba,vaidade e o patriotismo,
quando seja exaltado e nocivo ao próximo!
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Amadora
2004-04-25
Nos quadros parietais da minha Escola Primária
havia legendas com figuras variadas , assaz desprimorosas para os
Castelhanos, mercê de atitudes, maneiras e acções. que
prejudicaram o nosso psís. A sua eitura e reflexão despertavam
nas almas grande má vontade, contra os nossos vizinhos.
Nem outra coisa era de esperar! Este azedue perdrava e
crescia, ao lohgo da vida. Era como chaga, bastante dolorosa que
jamais nos largava!
Um dia mais tarde, chegou-me à estante um livro de Sardinha,
nome presigioso deste nosso escritor. Li-o com interesse e bastante
prazer!. Atrás dum livro, outrps mais vieram co mesmo autor. Fiquei
deslumbrado e mudei o pensar, no tocante aos Espanhóis. Era um
convertido, não para fusões ou integração, mas para criar novo jeito
de sentir!, em ordem aos vizinhos.
Mais tarde, chegou-me então às mãos a referida História,
adoptada em Espanha. Voltei quase ao passado! A culpa não é
nossa! Prefiro, no entanto, as boas rrelações, mas o exemplo deve
part ir da outra parte.
Agora, o noso ilustre Garrete, que o bom Camilo tanto
admirava : chegou a dizer que, nao havendo em Portugal um vulto
vulto insigne como Castilho, seria Garreta o verdadeiro pontífide d
as Letras Portuguesas.
Que é que se passou em sua vida, para ser chamado, neste
lugar? Uma coisa bem simples, mas interpretada erradamente!
Notemos para já esta afirmação que saiu da pena: " ´
Espanhóis somos nós todos"